Perigo Real e Imediato escrita por SWD


Capítulo 48
Capítulo 48: Tristan




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/61678/chapter/48

O filme começava a mostrar a terceira tentativa de Tristan de ocupar o corpo de Kai. Claro que o fantasma não podia ser captado pela câmara. A câmara mostrava apenas Kai.

Começava mostrando a garota serena, fazendo o exercício de respiração. Logo, a sensação de serenidade desaparece, substituída por movimentos que sugerem um desconforto cada vez maior e até medo. Uma tentativa brusca de se levantar da banqueta, alguns espasmos, e novamente serenidade.

Vó Lang e Nascha, angustiadas, desviam o olhar da projeção cada vez que Kai dá uma demonstração de sofrimento, mas a curiosidade é maior. Deixariam para desmaiar depois.

Os olhos da garota passam a mostrar perplexidade e estranheza. Claramente não eram os olhos de Kai, a expressão mudara de forma sutil. Nascha não mais reconhece sua filha naquele rosto. Vó Lang vê a sobrancelha se arquear, os olhos ganharem o toque suplicante e a boca meio abrir no sorriso triste tão característico de Tristan. Vó Lang, emocionada, chora silenciosamente.

Kai olha então para as próprias mãos, estica os braços, se toca. Então levanta com muito cuidado, sentindo o espaço, estranhando o ângulo de visão. Kai era mignon e tinha uma postura que a fazia parecer ainda menor. Tristan tinha 1,90 m e era espaçoso. Durante vários minutos, a câmera filma Kai-Tristan explorando o escritório, olhando os títulos dos livros nas estantes, os objetos de decoração e finalmente um porta-retratos com outra foto de Jason e vó Lang.

Tristan então relembra o tanto que tem para dizer e a urgência dos assuntos e volta a se aproximar da câmara e a sentar na banqueta. Hesita antes de falar. O “oi” que emite o assusta por sair na voz suave de Kai. Respira fundo e fala olhando para a câmara.

- Vó Lang. Jason. Kai. Sou eu, Tristan. Obrigado por essa chance, Kai, eu precisava falar. Sinto você aqui, lutando para me expulsar. Eu vou sair, está sendo difícil me manter. Tão ou mais difícil quanto me manter aqui, neste plano. Mas esta é a primeira e talvez a única chance que eu tenha de me comunicar e eu tenho muito a dizer.

Nascha, vó Lang e Kai fazem instintivamente menção de se aproximar da câmara, para melhor escutar o depoimento do homem morto.

- Eu não sei para onde vou quando não estou aqui. É um lugar estranho. Lá estou permanentemente envolvido por uma névoa espessa. Lá eu estou sozinho. Nunca vi ninguém nem ouvi nenhuma voz. Não é um lugar ruim, mas, ao mesmo tempo, é o pior lugar que se possa imaginar. Eu não desejaria isso para meu pior inimigo.

Agora não era só vó Lang. Nascha e Kai também choravam ao escutar a história de Tristan.

- Uma parte do tempo eu passo aqui, nesta casa. Não sabia que eu tinha um irmão. Porque a senhora nunca me disse que eu tinha um irmão, vó? Quando eu descobri, fiquei furioso. Ele parecia tão feliz nas fotos e eu era tão infeliz lá em Harveyville. Me senti roubado. Culpei esse irmão que eu não conhecia pela minha infelicidade. Sinto muito por aquela noite no quarto. Desculpe se te assustei, irmão. É difícil controlar as emoções quando se está do outro lado.

Antes, eu culpava meu pai. Mas, agora vejo que não era culpa dele. Ele era, e é, apenas um homem muito infeliz. Não se recuperou da morte da mãe. Nunca se interessou de verdade por outra garota. Me arrependo de querer feri-lo, de tê-lo ferido. Digam a ele que já o perdoei e gostaria que ele também me perdoasse.

O choro de vó Lang mistura agora emoção e culpa. Muita culpa.

- Eu fui morto não por um homem. Fui morto por uma coisa. Um tipo de monstro. Vi, de fora do meu corpo, ele me devorar com uma boca mostruosa, cheia de dentes, e, depois, sua pele se abrir como a de uma lagarta, e de dentro dele sair um outro, igual a mim. E esse outro, que se parecia comigo, voltou a fazer o mesmo com outro homem. Eu vi o rosto deste outro homem. Ele está próximo, em San Jose.

Nascha se encolhe, tampando os ouvidos. Não queria ouvir nem ver mais nada. O monstro era real. O que os velhos da aldeia contavam era verdade. As histórias que as mães contavam para assustar as crianças eram verdadeiras. E ele estava perto. Nascha volta a sentir o medo que sentira quando tinha 4 anos e, em frente a uma fogueira, numa noite fria e escura, uma velha da aldeia contara a história da maldição dos skinwalkers, amaldiçoados e enfeitiçados depois de matarem um parente de sangue. Não conseguiria mais ficar e assistir ao filme. Precisa sair daquele quarto para respirar.

Com a agitação, acharam melhor interromper a projeção até que Nascha se acalmasse.

 

Não chegaram a escutar a frase seguinte.

- Meu irmão suspeita de quem ele seja. Eu estava perto dele quando marcou pelo telefone uma reunião para amanhã às 4:00 da tarde. JASON, NÃO VÁ. Você não sabe o que está enfrentando. SE VOCÊ FOR, VAI MORRER. Ele vai matá-lo.

 

Eram 15:00 h e Jason, de banho tomado e vestido como executivo deixa a propriedade dos Lang e segue para o prédio da SPN.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perigo Real e Imediato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.