Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 10
IX: Bide


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, tenho muito a agradecer pela atenção que venho recebendo. Comentários! Pessoas acompanhado a história! E o melhor, dando sugestões e apontando um erro ou outro que cometo! Isso me faz ter cada vez mais vontade de continuar a fic! (Não é como se eu fosse parar de escrever do contrário, mas é bom saber do que estão ou não estão gostando).

Por outro lado, senti que esse capítulo de hoje ficou um pouquinho menor do que a média. Mesmo assim, adorei escrevê-lo. Sinto que finalmente a história está fluindo suavemente pro papel, sem ter que empurrar.



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— Poochyena!

O grito de Himiko fora agudo e incômodo, de forma semelhante ao barulho causado pela horda de Whismurs que fizera a entrada da caverna desmoronar. A angústia da treinadora era visível após notar a ausência de seu Pokémon; por impulso, correu até a formação rochosa recém-criada, em uma tentativa de consertar seu erro.

— Pare, Himiko! — Futa exclamou.

A treinadora ignorou o clamor de seu Pokémon. Os Whismur já não podiam mais ser ouvidos, motivando a garota em sua tentativa de desbloquear a passagem.

— É tarde demais… — Futa insistiu. — E você ainda vai se machucar!

Himiko não estava preocupada com isso. Sua sincera preocupação com o Pokémon que ficara para trás não permitia que ela recuasse. Depois de tantos erros cometidos, prometia a si mesma que não deixaria que nada de mal acontecesse com seus companheiros; mesmo cometendo um erro como este imediatamente após, pelo qual não se perdoaria.

Somente parou quando Futa interviu, criando uma barreira psíquica entre ela e a caverna. Não queria admitir que ele pudesse ter morrido, por mais que em seu íntimo já soubesse que o pior acontecera.

— Você fez o que podia ser feito, Himiko…

 — Mas o Poochyena…

Himiko foi interrompida por algo cor-de-rosa que se agarrava a sua perna esquerda. O Igglybuff que Himiko salvara sorriu para ela, enquanto tentava abraçá-la.

Um sentimento dúbio tomou a mente da garota, enquanto ela acabava por admitir que não havia mais esperança. Mais uma vez um de seus companheiros acabara partindo em detrimento a um pokémon que ela acabara de conhecer. Ela começou a rir desesperadamente, um riso desesperado e misturado às lágrimas, percebendo a ironia da situação.

— Está tudo bem, Himiko. — Futa dizia, tirando a pokébola acinzentada da vista da treinadora — Você fez o seu melhor, não deu para salvar todo mundo mas pelo menos estamos a salvo…

A garota não respondeu, ainda absorta em seus próprios pensamentos. Não era fácil para ela superar o acontecido, não tanto quanto parecia ser para Futa. Ainda se sentia incomodada com sua incapacidade. Enquanto cogitava tentar voltar à caverna, foi surpreendida por vinhas que se enrolavam suavemente em volta de seu braço.

Himiko virou-se, encontrando seu Bellsprout carregando uma expressão séria, porém sem demonstrar raiva. Ele, também, percebia que a treinadora se sentia mal com o acontecido, abandonando sua raiva em detrimento aos pêsames. Uma lágrima deslizou pelo rosto da garota.

Taillow logo em seguida pousou ao seu lado, seguido não muito depois por um ainda arredio Beautifly; este último persistia chateado com Himiko, mas reconhecera ter se tornado minoria. Futa sorriu ao ver a cena, o desespero da treinadora frente à morte de um de seus Pokémon acabou servindo de argumento para o que ele dizia a respeito da garota.

— Vamos voltar, Himiko. — Futa disse, tentando não se emocionar com o que acabara de ver. — Você precisa descansar.


— — —

 

Himiko retornou a Rustboro não muito tempo depois, apesar da sensação ruim ter permanecido. A adição de Igglybuff ao time não era parte dos planos da treinadora, mas a insistência do Pokémon foi tamanha que fora impossível recusar.

— Não estamos longe do Centro Pokémon — comentou a garota. Futa estava caminhando a seu lado, temendo que ela tornasse a desabar em sua tristeza. Enfatizava estar com fome, o que era também um meio de distrair a treinadora. — Logo poderemos comer e...

— Himiko!

A garota ouviu uma voz conhecida lhe chamando. Olhou para trás, enquanto teve uma ligeira dificuldade em reconhecer quem lhe chamara.

— James?

— Que bom te ver bem! — o jovem exclamou, com uma expressão alegre, apesar do óbvio contraste com seu rosto avermelhado e inchado. Sua aparência, limpa, era o oposto da visão que a garota teve dele na primeira vez em que se encontraram. A camisa branca e a calça marrom, perfeitamente alinhados, eram o uniforme da Escola de Treinadores de Rustboro, como denunciado pelo brasão em seu peito. Himiko sentiu-se até mesmo intimidada com a aparência dele; suas roupas de viagem pareciam sujas perto das que o garoto vestia. James pareceu perceber o que ela pensava, e completou ironicamente, ainda que seu sorriso não fosse exatamente espontâneo. — O que foi, não me reconheceu?

Himiko sorriu discretamente. Não estava exatamente no clima para tal, por mais que tivesse achado certa graça no comentário.

— Você nem parece a mesma pessoa assim, tão bem arrumado…

— Como você está? — perguntou o garoto. — Você até desmaiou na floresta, pensei que tivesse se machucado para valer…

— Foi só um susto, eu acho. Estou pronta para outra… quer dizer, melhor não… — Himiko decidiu por não contar sobre os acontecimentos após ter acordado na estufa, já assumindo o sonho que tivera como real. — E você, tem algo de novo para contar?

— Muita coisa… — James respirava fundo, tornando óbvia a ausência de boas notícias. — Quer vir comigo? Tenho que resolver umas coisas ainda, posso te contar no caminho.

Himiko olhou para Futa, que relutantemente concordou, retornando para sua pokébola. O descanso seria uma opção melhor na opinião dele, mas podia acreditar que aquela distração fosse trazer o mesmo resultado.

Os dois caminhavam despreocupados enquanto o garoto narrava o que havia acontecido com ele.

— Minha professora tinha passado um trabalho prático na aula passada. — James dizia, não exatamente animado. — Ela queria que capturássemos um Pokémon selvagem para levarmos na próxima aula… foi por isso que eu estava na floresta naquele dia, por sinal.

Himiko logo se recordou da pokébola que voou a centímetros de sua cabeça, quase a atingindo.

— E você levou o Nincada para a aula? — perguntou ela.

— Calma, já vou chegar lá. Como eu ia dizendo, o trabalho era sobre o desenvolvimento da relação entre Pokémon e treinador, e eu imaginei que conseguindo um inseto raro eu teria uma nota melhor… já lhe falei o quanto gosto de Pokémon do tipo inseto? Eles se desenvolvem muito rápido, a evolução deles é mais rápida que…

— Hum-Hum. — Himiko resmungou. Não estava interessada em ouvir um discurso a respeito de tipos de Pokémon.

— Desculpe, eu me empolguei. — James retomou de onde havia parado. — Então, como eu ia dizendo, pensei que teria certa vantagem com um Pokémon como o Nincada. Quer dizer, ele também é do tipo terra, e a professora Roxanne tem uma paixão por Pokémon rochas e terrestres… imaginei que ela me daria uma boa nota por conta disso.

— E então, o que aconteceu pra te deixar desse jeito?

— Bem… Quando eu cheguei para a aula hoje, quem estava lá era o professor substituto. — nesse momento, James mostrou-se bastante inquieto. — E é por causa dele que estamos aqui agora.

James gesticulou para a construção à frente, de arquitetura antiga; uma fraca iluminação colorida podia ser vista de fora. Himiko não demorou a perceber se tratar de uma igreja. Ela nunca levara religião a sério, mas achou a visita conveniente, mesmo que o fosse somente para prestar as condolências a seus Pokémon que haviam partido durante a jornada. Ela olhou para James, e notou que sua expressão era de desânimo, quase tanto quanto a dela mesma.

— Como assim? — perguntou a garota.

— Bem… O trabalho era sobre a relação entre treinador e Pokémon, e para demonstrar isso, ele nos colocou em situação de batalha. — James fez uma pausa. — Não é a primeira vez que a turma batalhou, mas a professora Roxanne sempre colocava os alunos para lutar entre si e ficava observando. Mas ele fez questão de batalhar pessoalmente contra cada um.

— E o que isso tem de errado? — perguntou Himiko, inocentemente, enquanto entravam na igreja.

— Não sei se você sabe, mas o cargo de professor acumula com o de líder de ginásio, então ele tem por obrigação de ser um treinador de alto nível.

— Eu entendo, mas… ele deve ter nivelado a luta pela turma, não?

James parecia chateado com o comentário, e demonstrou isso encarando seriamente a garota.

— Se fosse a Roxanne, tenho certeza que ela faria isso. Mas não o Bugynus. Ele passou metade da aula falando do quanto ela estava sendo muito mole conosco, que a vida não passa a mão na cabeça de ninguém… aposto que aquela Butterfree dele é um dos pokémon do ginásio, nunca vi um inseto tão bem treinado… — James pegou uma pokébola acinzentada do bolso. — e aqui está o resultado da luta…

Himiko não estava preparada para ouvir aquilo. Com mais lágrimas ao rosto, lembrou-se do Poochyena que morrera mais cedo, mostrando sua pokébola igualmente cinza ao garoto.

— Eu te entendo… — disse ela.

Os dois ficaram em silêncio, após colocarem as esferas em um pequeno altar próximo a um vitral. James pôs-se de joelhos, recitando uma oração. Himiko, no entanto, não se sentia confortável para fazer o mesmo; acabou por se focar na imagem formada pelo painel envidraçado. Era possível discernir três formas coloridas, que lembravam elfos, em frente a uma caverna rodeada por um lago. Sob a imagem havia um pequeno poema gravado em pedra.

 

A espada azul, brava, colhe as nuvens do céu.
A joia rosa, pura, recolhe vida em seu véu.
O espelho flavo, justo, da alma se torna réu.
Protegei do mal aqueles em seu mausoléu.

 

Himiko não conhecia a respeito da lenda a que ele se referia, porém sentiu-se tocada pela mensagem mesmo assim. Parecia tão simples, porém carregada de significado. Decidiu por sentar-se, deixando sua mente vagar naquele momento incomum de silêncio no qual as frases soltas começaram a passar pela mente da garota.

“Enquanto você estiver se guiando por esse desejo de vingança, você nunca vai conquistar a confiança de algum Pokémon.”

“Uma equipe precisa de um líder, não de alguém que fica dando ordens!”

“Vai bancar a criança agora e sair para disputar a liga?”

Himiko começou a pesar tudo o que ouvira a respeito de sua jornada. Tinha seus motivos para ter feito as coisas daquela maneira. Tinha suas convicções, fortes o bastante para correr todos aqueles riscos para ter seu primeiro pokémon. Por outro lado, ela não se sentia preparada para lidar com essa nova fase de sua vida, principalmente quando tantos haviam sido contra.

“Seu Zigzagoon… ele já se foi. Não há nada que eu possa fazer por ele.”

“Você fez o que podia ter feito, Himiko. Não deu pra salvar todo mundo…”

Eu sou uma despreparada, pensou a garota. Não tenho capacidade para tanto…

“Eu tenho certeza de que ela será uma excelente treinadora…”

Himiko se sentiu incomodada ao se lembrar do voto de confiança dado pelo professor Birch. Ele fora talvez a única pessoa que lhe apoiara até então, por mais que não soubesse qual seu real objetivo. Foi a minha vontade de ajudar que fez ele me ver com bons olhos…

Hmph. E eu querendo me acovardar, agora que já estou aqui… Não posso desistir agora. O que ela iria pensar de mim?

A treinadora levantou-se de súbito, sentindo uma coragem incomum até mesmo para ela. Observava James ainda de joelhos. Sentiu que era hora de fazer alguma coisa por alguém, e retribuir um favor que havia recebido parecia uma ótima oportunidade para tal. Ela foi até o altar novamente e apoiou a mão em seu ombro, no que ele se virou quase que imediatamente.

— Esse professor substituto… ele ainda está na escola?

James demorou alguns segundos para responder. Claramente havia se surpreendido com o questionamento.

— Sei lá, acho que sim. Por que você quer…

— E aonde ela fica?

— No quarteirão de cima… você não está pensando em…

Himiko saiu correndo do templo, deixando James confuso e preocupado para trás enquanto rumava apressada em direção à escola.


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Notas finais do capítulo

Tretas e mais tretas. Acho que posso resumir assim. Pra bom entendedor, meia dica basta. Algo muito importante está para vir no próximo capítulo, e não é só uma batalha de ginásio. Algum palpite?

Ah, deu trabalho fazer esse vitral do link. Espero que gostem desse pequeno momento de imersão.

Notas do in-game.
Com um membro a menos e um substituto, passei bem mais tempo no grind do que sinto que deveria. Yelp. Espero que valha a pena.

Status do time:
Pokémon: 6
Ralts Lv. 17; Bold, Synchronize.
Bellsprout Lv. 18; Bold, Chlorophyll
Taillow, Lv.21; Mild, Guts
Beautifly, Lv.18; Serious, Swarm
Hoppip, Lv.15, Lax, Chlorophyll
Igglybuff, Lv.15, Bashful, Cute Charm

Mortes: 2 +0 = 2



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