Uma noite misteriosa escrita por Rebeccake


Capítulo 13
Capítulo 13: O sangue


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa pela demora, eu estou MUITO ocupada esses tempos, desculpa mesmo. Obrigada por me lembrarem de escrever, seus comentários tem um significado muito grande pra mim. Amo meus leitores do fundo do coração.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616599/chapter/13

Nellie estendeu a mão e tocou as costas largas de Henry. O garoto se mostrava tão misterioso que lhe causava uma grande sensação de que havia algo errado. A única coisa que sabia era resultado da pesquisa rigorosa que Fiske e ela realizaram, sobre cada um dos presentes na mansão naquela noite. E mesmo assim tudo estava se tornando uma catástrofe.

Ela não atribuía a culpa totalmente a presença estranha de Henry, porém, considerava que o filho de Eleanor era muito discreto em seus registros e parecia alguém quase  a margem da esfera dos Cahills. Não se mostrava um destaque em seu clã, contudo, suas maneiras denunciavam uma grande inteligência, além do evento suspeito que acabara de acontecer na sala de reuniões.

Ela conseguia relembrar e presenciar o pavor que havia subido por sua garganta, uma sensação de afogamento em medo e alerta. Henry em um momento estava com o canivete escondido sob o corpo, e no outro, saltara ágil como um felino e cravara o objeto pontiagudo em seu adversário, com um pulso perfeitamente posicionado. O que impressionou Nellie foi a assombrosa precisão e força, o canivete atravessara exatamente o pulmão direito do homem grande, um ferimento que viria a se tornar fatal.

O homem tinha um metro e oitenta e parecia ser constituído de músculos maciços e definidos, com uma careca reluzente e um terno que não escondia sua opulência. Henry mostrava ser muito mais forte do que aparentava, enquanto o homem fazia uma força sobrehumana para faze-lo soltar o pulso e consequentemente a faca, Henry mantia igual força, fazendo uma pequena torção para a direita para infligir mais dor no oponente e não ter seu pulso quebrado.

Os gemidos de dor feriram seus ouvidos, mesmo que a cena não fosse tão inusitada, tendo em vista que ela já vira algumas mortes sangrentas. Aqueles sons de transtorno entravam por sua cabeça e saiam sem serem notados, pois a sua atenção estava voltada para o grosso filete  de sangue quente e gotejante que aumentava de tamanho conforme o homem tentava segurar o próprio peito com força, apoiado no beiral da mesa.

O homem percebia que seu tempo estava quase acabado e encarava Henry da maneira mais maligna e possessa que conseguia, engasgando com o próprio sangue e cuspindo o líquido vermelho em seu próprio corpo.  Henry parecia impassível e Nellie poderia jurar que seus olhos demonstraram um pesar por poucos instantes.

Subitamente o homem não tinha mais força alguma e soltara o braço de Henry, virando para se apoiar integralmente no beiral. Henry continuou forçando o tronco do homem para a mesa, fazendo-o se dobrar na parte ferida, Nellie correu automaticamente para auxiliá-lo. Suas mãos empurraram o homem,com pressão sobre as costas largas e retesadas, ignorando os grunhidos medonhos. Ela percebeu um pequeno movimento  de Henry, o braço deste deslizou até o paletó do careca, e numa fração de segundos, uma arma se encontrava descoberta  nas mãos firmes. Ele lançou um pequeno olhar de desconforto a Nellie,e o evento seguinte se passou em um milésimo de segundo.

Ele atirou no peito do homem, um breve som de disparo reverberou pela sala, e os grunhidos cessaram. Um novo filete de sangue escorria pelas costas do paletó, a mancha pavorosa  aumentava como um fungo tomando uma fruta. Como a morte tomando um corpo.

Antes de sair da sala, ele segurou  o casaco do homem e o jogou sobre a cabeça deste, completando  um gesto aparentemente humano e apelativo, uma demonstração excessivamente sentimental.

O que esse garoto pode fazer? Por que sabemos tão pouco até perceber tarde demais?

Ela sentiu suas pernas frias como gelo e em sua mente, inconscientemente, um grande desgosto e reprovação. Sabia que a ação fora necessária, porém, a forma que Henry conduzira se mostrara tão impetuosa e direta que podia ser classificada como natural. Ele estendeu a arma para ela, e Nellie a segurou como se segurasse um objeto qualquer, sentindo o metal gelado na palma da sua mão quente.

—Ele está morto, não se preocupe.- Ao dizer isso ele apalpou o corpo e fez um leve sinal de afirmação com a cabeça. Ela olhou para a porta e cogitou correr da sala, deixando Henry se virar sozinho, desistiu do plano ao lembrar da violência de alguns minutos atrás e do fato de que a porta estava a mesma distancia dos dois.

—Não é com isso que me preocupo. Temos que ir.-Ela se perguntava se transparecera a desconfiança em sua frase, esconder suas impressões parecia impossível, até porque sua cara parecia uma massa da qual ela não tinha controle depois da tensão e entregava facilmente os pensamentos.

—Deve ter mais um. Só não sei onde.-Ele caminhou em direção a ela, tentando alcançar a porta, Nellie se esquivou com rapidez, talvez rapidez demais. Ele continuou com o olhar indiferente e saiu do cômodo o andar casual habitual, olhando em todas as direções. Nellie sentia a arma pesando em suas mãos e de novo, pensou em talvez atirar nele. Sua consciência apontou que ela não tinha a menor prova do suposto mau caráter de Henry, ou de suas más intenções, ele os protegera, se responsabilizando e arriscando a vida.

Ela mirou por um momento, visualizando o gatilho sendo apertado, a bala se alojando na cabeça de cabelos pretos. Com um balançar de cabeça, ela abaixou a arma. Devo estar louca. O meu único aliado de agora não pode ser meu inimigo. O homem que morreu naquela sala é em quem devo mirar, o homem que deve estar no próximo corredor, na próxima sala, na próxima curva ,é quem eu devo temer.

Sua pessoa sempre confiara em Fiske, sempre acreditara no quanto Fiske  era minucioso, no quanto Fiske sabia e revelava, e não havia existido uma coisa sequer que fora omitida dela, o que mostrava, por sua vez, que essa confiança não era só unilateral, ela se apresentava dos dois lados. Ele havia dito que era Henry era um garoto normal, e que no máximo recebia instruções de seus pais. Eleanor e Trevor não parecem o tipo de pessoa que forçaria um treinamento tão radical a ponto de Henry ser tão perfeitamente violento. Eles não infligiriam tamanha responsabilidade para um garoto dessa idade.

Acontece que infelizmente ela não tinha certeza, e entre a certeza e a dúvida havia um buraco que poderia causar um imenso acontecimento fatal.

Com o coração excessivamente desacelerado, ela tornou a seguir Henry para dentro da escuridão com uma letargia esquisita e repentina.

—Acho que estamos com sorte.-Nellie sussurrou.-Estamos sozinhos por enquanto.

Ele riu baixinho:

—Sorte é a única coisa que não temos.

Os dois avançavam com cuidado pelo corredor da mansão. Estavam na parte que conectava a sala de comando ao resto das salas. Uma delas tinha uma passagem para o arsenal menor. Nellie se perguntava qual exatamente seria a utilidade de ir até lá, além de revelar a localização e os próprios itens do arsenal, não tinha certeza se poderia pegar uma arma e sem Henry notar sua ausência.

Ela experimentou se afastar com lentidão para trás, dando passo após passo, sentindo cada movimento planejado se tornar realidade. Até as palmas de seus pés pareciam suadas. Desaparecendo no corredor, retornando a áreas mais familiares, a algo seguro, a uma chance de se esconder até conseguir pensar perfeitamente. Henry continuava avançando e Nellie ouvia os passos rápidos. Quando ele estava a uma distancia de mais ou menos oito metros, ela endureceu os músculos, preparando-se para correr. Seu coração voltou a acelerar de uma forma quase dolorosa e ela experimentou se virar.

No exato instante ela processou o barulho dele parando. O passo de Henry que viria a seguir, seguindo seu ritmo ligeiro não fora dado. Ela congelou em uma posição em que seu corpo estava virado a 45 graus. Correr ou ficar?

Ele pareceu se decidir por ela, enquanto movia o tronco aos poucos e virava o corpo na direção de Nellie. Seu rosto ainda virado para frente, o movimento sendo completado como um bailarino girando sobre seu próprio eixo. Henry soltou um longo suspiro, e Nellie não sabia se os seus sentidos estavam mais aguçados, porém ela quase conseguira ver o ar se mexer com a lufada. Quando o rosto dele se virou em direção a ela, o olhar parecia ser de indiferença, como aquela expressão clássica frequentemente usada.

—Não fuja. – Ele disse em alto e bom som. Nellie notara um tom forte, quase uma ordem. É claro que eu vou correr, seu esquisito.No entanto, sem saber o motivo, o seu olhar repousou sobre uma das mãos dele. Ela notou uma massa preta, e conforme essa massa ganhava detalhes, entendia o que Henry estava segurando. Uma arma. Igualzinha a que estava na mão dela, a sua estava na altura da cintura, com o cano virado de uma forma conveniente a um possível disparo.

—Não atire. – Ele disse novamente em alto e bom som. Era claramente uma ordem. Nellie notara que a arma dele estava exatamente posicionada como a sua. Apenas corra, sua idiota, corra para longe. Sua mente cobrava uma decisão enquanto o suor escorria por seu pescoço.

Ironicamente, um pensamento tomara conta da sua mente. Aquela não podia ser uma arma. A única do homem careca estava com ela. Até que um ligeiro encaixe dos fatos se formou na mente dela, com um CLIC.

Antes de sair da sala, ele segurou  o casaco do homem e o jogou sobre a cabeça deste, completando  um gesto aparentemente humano e apelativo, uma demonstração excessivamente sentimental.

Sentimental, uma ova. Ela o vira pegando o paletó e não fizera nada. Porque naquele momento ele havia olhado em seus olhos, uma distração bem simples e quase infantil. Ele havia mostrado seus olhos azuis que aparentavam tristeza arrebatadora. Ou pareciam aparentar. A mão esquerda ficara escondida quando a direita colocava o casaco na cabeça do homem, a mão esquerda devia ter encontrado outra arma no bolso e fora veloz o suficiente para escorregar até o próprio bolso de Henry, que havia tampado a visão da parte esquerda do seu corpo com a parte direita que se projetava sobre o careca.

 

Que tipo de psicopata faria isso? Uma parte da mente de Nellie gritava todos os xingamentos contra Henry, mas uma minúscula porção de seu cérebro constatara: Amy ou Dan o fariam se precisassem.

 

Amy e Dan não matariam uma pessoa a sangue frio. Ou matariam?

 

Quando Henry abriu a boca para lançar-lhe um aviso pela terceira vez, as luzes se apagaram. Um breu total tomou conta do local, deixando Nellie no pior e mais tremendo pânico, na pior  sensação de alerta que vivenciara. Era como se a própria escuridão caísse em cascatas negras dentro dela. Ela pensou no completo silencio. Até que o silencio se tornou barulho. O barulho se transformou em passos. Porra, porra, porra, cacete. Merda, o que eu faço?

Os passos pareciam ora estar longe e se afastando, ora pareciam vir em sua direção e cada vez mais perto. Parecia uma cacofonia de sons de passos sendo dados ora leves, ora pesados. Ela deu apenas um passo para trás, por instinto, quando um deslocamento de ar pareceu acontecer a sua direita. Um passo, não mais que um passo. E assim que a palma de seu pé encostou por completo no chão, ela sentiu um metal gelado encostando em seu pescoço arrepiado. Um metal que tinha a mesma temperatura que a arma que estava segurando. Eu vou morrer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais uma vez, desculpa. O próximo capítulo já está sendo feito como símbolo de que vou me esforçar pra postar mais rápido.