Gone escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 10
Capítulo 09 - Lágrimas




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No outro dia, pela manhã, Michael estava na casa de Victoria, sentado na cama dela enquanto ela guardava algumas roupas em algumas gavetas do armário, sentada no chão.

– Você vai ficar bem aqui sozinha? – Perguntou ele.

– Vou – Respondeu ela – Já estou acostumada.

– O que o Hector fez com você?

– Eu não quero falar sobre isso.

– Não precisa ficar com medo ou vergonha.

– Eu não tenho, só não gosto de falar sobre isso.

– Mas se você se abrisse mais...

– Não! – Exclamou ela, abaixando o tom de voz – Por favor, foram os piores meses da minha vida, eu não quero falar com isso.

– Então tá, tudo bem – Falou ele, sentando na cama.

Um silêncio constrangedor.

– Desculpa – Disse ela – Eu só não gosto mesmo de tocar nesse assunto, com ninguém.

– Você se tornou uma pessoa tão fechada.

– Só não gosto de falar meus problemas pra todo mundo.

– Eu não sou todo mundo, Victoria, sou seu namorado.

– Você tem que aceitar que eu sou assim.

– Mas você não era assim.

– Pois é, aquilo ficou no passado, o tempo passou, nós terminamos e você parou de se importar, e daí?

– Eu não acredito que ainda guarda ressentimentos.

Ela ficou em silêncio.

– Você foi a primeira a apoiar quando eu falei que iria viajar.

– Eu só não queria ser uma vadia que te impede de seguir seus sonhos... Agora me diga – Ela se levantou e olhou para ele – Você desistiria se eu tivesse dito para você ficar?

Desta vez ele ficou em silêncio.

– Claro que não, Michael, ninguém faria isso.

– Não, Victoria, você não faria isso – Ele retrucou – Mas existem pessoas que se importam com os outros! – Michael aumentou o tom de vez.

– E eu não me importo?! Eu tentei fazer essa droga de relação dar certo, mas você não tinha tempo!

– Eu estava estudando!

– Eu sei, mas não cobre nada de mim quando foi você o primeiro a desistir do nosso namoro!

– Você me aceitou de volta, disse que havia me perdoado, mas eu não consigo ver isso.

– Eu não sei se eu deveria ter aceitado você de volta!

Ele diminuiu o tom de voz.

– Você quer terminar? – Perguntou.

– Não, eu não sei, preciso pensar um pouco.

– Ah, foda-se – Falou Michael – Eu vou embora.

– É, você sempre faz isso – Disse Victoria, já com poucas lágrimas nos olhos.

Ele parou na porta e olhou para ela. Em seguida continuou andando. Segundos depois, ela ouviu a porta batendo forte.

Victoria sentou em sua cama e desabou em lágrimas.

***

Minutos depois, Michael estava em seu quarto, deitado em sua cama. Não chorava, mas tinha um olhar fixo na TV desligada e sua mente estava longe, pensando em Victoria. Ela sempre o deixava sem palavras, por isso nunca conseguia ganhar uma discussão. Desta vez ele achava que estava certo. Ela me perdoou, pensou ele, aquilo foi há oito anos, pelo menos ela deveria ter perdoado.

Ele não queria acabar assim, não mesmo. Naquela semana eles haviam revivido os melhores momentos do namoro adolescente que tinham dez anos atrás, a pior coisa que poderia acontecer naquele momento seria tudo acabar.

Ligou a TV para tentar se distrair um pouco, estava passando “O Exorcista” em uma sessão de clássicos.

***

Victoria estava sentada em sua cama, havia parado de chorar, mas seus olhos ainda estavam vermelhos e ela ainda estava triste. Ela não se sentia como antes em relação a Michael, sentia como se ele tivesse pena dela, apesar de ele não ter demonstrado. Ele sempre havia se saído melhor na vida, tinha uma família perfeita, foi para a faculdade e tinha dinheiro, enquanto ela foi pelo caminho contrário, com seu pai alcóolatra e sua mãe submissa, por isso não pôde ir para a faculdade e terminou trabalhando em Springfield, na cidade onde sempre viveu e que de onde nunca sairia.

A culpa não era dele, ela sabia, mas não podia deixar de se sentir desconfortável com aquilo. Talvez tivesse sido dura demais, mas era melhor esperar a poeira baixar.

Ouviu a porta da frente se abrindo, então fechou a do seu quarto, que estava aberta, pois não queria que sua mãe a visse chorando e provavelmente ela iria apenas entrar em seu quarto e dormir.

***

Michael não conseguia parar de pensar em Victoria, não achava que estava certo, mas não queria brigar, então o que achava sensato no momento seria pedir desculpas.

Ele saiu do quarto e sem avisar a ninguém apenas saiu e entrou no carro de Heather. Dirigiu até a casa de Victoria.

Minutos depois, estava em alta velocidade pela estrada para sair da cidade, cercada por florestas. Estava vazia, com exceção de um carro que vinha na direção contrária com os faróis altos. Estava em alta velocidade também. Quando os dois veículos se aproximaram, ele percebeu que era o carro de Hector. A julgar pela pressa com que ele dirigia, Michael imaginou que estava nervoso. Além disso, poderia estar vindo da casa de Victoria, então ele ficou assustado e aumentou a velocidade para chegar mais rápido.

Quando chegou em frente à casa dela, encontrou tudo normal, as luzes acesas, as janelas fechadas e a porta também. O local estava em silêncio, como sempre, e o carro de Victoria estava estacionado no local de sempre.

Ele desceu e caminhou até a porta, tocando a campainha logo em seguida. Alguns segundos se passaram e ninguém veio atender, então ele tocou novamente.

Novamente ninguém atendeu. Ele girou a maçaneta e estava aberta. Michael colocou metade do seu corpo para dentro da casa e chamou por ela.

– Victoria?

Ela não respondeu, então ele resolveu entrar. Caminhou pelo corredor perto da sala e viu que todas as portas estavam fechadas, até mesmo a de Victoria, que ela costumava deixar aberta. Ele bateu na porta do quarto dela.

– Victoria?

Ela não veio atender e nem falou nada, então ele tentou novamente.

– Queria pedir desculpas – Disse ele – Victoria?

Michael abriu a porta lentamente e se deparou com o quarto vazio, mas se assustou quando viu a porta do banheiro arrebentada e a luz acesa. Entrou no cômodo ficou chocado.

Havia sangue por todo o local e Victoria estava se apoiando na pia para se levantar, mas não conseguiu e caiu no chão. Michael correu para ajudá-la, colocou a mão sob a cabeça e viu que o sangue estava concentrado no tórax, sujando sua blusa azul marinho.

– Oh meu deus – Disse ele, aterrorizado – Eu vou ligar para a emergência, aguente firme.

Ela tossia sangue.

– Michael – Disse ela, com uma voz fraca – Michael.

Ele estava com o celular na mão.

– Desculpa – Disse ela – Eu te amo.

– Não, não pense nisso agora, só fique comigo.

Tremendo, ele discou 911 no celular e esperou alguém atender.

– 911, qual é a sua emergência? – Perguntou uma mulher do outro lado.

– Minha namorada está muito ferida e precisa de ajuda! – Respondeu ele, desesperado.

– Senhor, preciso que fique calmo, me diga o endereço e uma ambulância vai chegar a qualquer momento.

– O número da casa é 122, na beira da estrada de Springfield, próximo à entrada da cidade, eu não sei o endereço exato.

– Tudo bem, as informações são suficientes, uma ambulância está a caminho.

– Obrigado.

Ele desligou e colocou o aparelho no chão. Victoria estava fechando os olhos, muito fraca.

– Quem fez isso com você, Vic? – Perguntou ele – Eu preciso que me diga.

– O quê? Eu não... Eu acho que não sei.

Ela estava confusa por causa da perda de sangue, quase não conseguia deixar os olhos abertos.

– Foi o Hector?

Ela olhava para os lados, em silêncio.

– Vic, por favor, quem fez isso com você?

– Hector... Ele estava com uma faca, doeu tanto – Ela começou a chorar, mas logo parou de responder. Seus olhos focavam o nada, com uma lágrima saindo deles, e a vida se esvaía.

– Victoria! – Ele balançou um pouco a cabeça dela – A ambulância está chegando, não vá agora, por favor – E começou a chorar – Não me deixe, não agora!

Tarde demais, ela já havia partido.

Ele abraçou seu corpo sem vida e chorou mais.

***

Depois do assassinato de Victoria, Michael viveu os piores dias de sua vida. Começou a beber demais, todos os dias acabava com uma garrafa de uísque barato, voltou a fumar (Havia começado em Londres e parado lá mesmo, dois anos antes de se formar) e não apareceu no enterro dela, não conseguiria olhar seu caixão ser enterrado para sempre.

Enquanto um pequeno grupo de reunia no cemitério para lamentar a morte da garota, Michael estava no porão da casa de sua mãe. A porta estava trancada, a velha lâmpada fluorescente iluminava com um tom esverdeado o cômodo e ele estava sentado no chão, sem camisa, encostado na parede com uma garrafa do seu uísque barato na mão e o revólver que seu pai escondia no porão sobre a calça jeans. Seu olhar era uma mistura de tristeza e ódio.

Ele deu mais um gole na garrafa de uísque e olhou para a arma. Estava com medo, mas precisava fazer aquilo.

***

Heather, Patrick e Cecilia chegaram em casa no fim da tarde, quando a cerimônia acabou. O garoto correu para o seu quarto, Cecilia subiu as escadas também e Heather foi até a cozinha, à procura de Michael. Não estava lá, então olhou na sala, também não estava. Subiu as escadas e caminhou até o quarto dele, batendo na porta.

– Michael? – Perguntou ela.

Ele não respondeu nada, então ela a abriu lentamente. As luzes estavam apagadas e a TV também. Heather acendeu a lâmpada e ele estava em sua cama, dormindo. Coitado, pensou ela, então fechou a porta e o deixou dormir. Havia passado por um turbilhão de emoções naqueles últimos dias.


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