Por Trás da Seriedade escrita por Lilly Belmount


Capítulo 26
Capítulo 24




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Já estava na hora de Cindy retornar para a sua casa. Fora para o aeroporto bem cedo. Queria que a viagem fosse tranquila e chegasse em Londres bem antes do horário que Jared pudesse estar na rua. Chegaria em silêncio sem fazer alarme. Amelie a compreendeu durante aquelas semanas e adorou o fato de que a sua sobrinha estivera ao seu lado. Se sentia leve em ouvir suas músicas. Nenhuma delas lhe traziam lembranças. Voltar para casa seria prazeroso. Seu mundo voltaria a ser como antes.

Ela chegou bem cedo a sua casa. Não fizera barulho algum, pois queria fazer uma surpresa muito grande para os seus pais quando eles acordassem, mas infelizmente os seus planos não foram como desejava. Eles já a esperavam na sala. Amelie deveria ter ligado enquanto ela estava no avião.

— Oi meu bem! — Abraçava George — Fico feliz que tenha voltado.

— Posso ver que essa viagem te fez muito bem... está mais corada. Sentiu alguma dor ou enjoo?

— Não! Está tudo em ordem. Só preciso ficar no meu cantinho.

— Pode ir. Não falaremos nada a ninguém.

Deu um beijo em sues pais e foi para o seu quarto. Não comunicou a ninguém sobre a sua chegada. Tudo o que ela precisava era manter-se calma e positiva. Duas semanas ao lado de sua tia foram como calmantes. A França foi um dos lugares do qual ela sentia falta de um ombro amigo. Passar o dia andando pelas belas cidades era maravilhoso, pois a vida dos franceses pareciam calmas, mas quando a noite chegava o clima de romance se espalhava, e no entanto Cindy preferia ficar em casa, pois não queria lembrar de Jared ou sequer do clima romântico que já vivenciara.

Brenda ficou feliz com o retorno de sua filha, mas Cindy sabia que uma bola de neve ainda estaria por rolar. Logo mais haveria pessoas indo procura-la.

Roberta todos os dias comparecia à casa dos Harttman’s para obter alguma notícia.

— Tia, por favor, me diga que a Cindy voltou!

Brenda sorriu consentindo.

No mesmo momento, a garota subiu as escadas correndo. Havia muitas coisas a serem conversas. Em duas semanas aconteceram tantas coisas que guardar mais um pouco dentro de si poderia deixar Roberta maluquinha. Bateu na porta e entrou rapidamente puxando Cindy para um abraço apertado. Naquele abraço, Cindy se permitiu deixar que os seus sentimentos fossem expostos. Começou a chorar intensamente, sentia as lágrimas quentes deixarem rastros em seu rosto.

— Ei, Cindy não chora. Agora estamos juntas, era para você estar feliz.

Cindy se afastou para melhor observá-la.

— Roberta, senti muitas saudades de você.

— Também senti muitas saudades ti minha amora. Preciso que você se recomponha para me contar as novidades da França

Cindy sorria docemente para a sua amiga. Aos poucos ela foi se recuperando daquele momento de saudades e choro. Estar de voltar ao lar fazia com que ela se sentisse bem melhor. Havia muitas coisas na qual Cindy poderia pensar para ficar na França, mas se afastar só para fugir de seus problemas não era a solução. Tinha de ser madura o suficiente para lidar com a traição que sofrera, mesmo que isso signifique que ela tenha de ser fria em relação a Jared. Lembrar daquelas cenas a deixava mal, não que ela quisesse estar sempre se lembrando, mas ao ouvir uma simples músicas dele, tudo vinha a tona. Sentimentos, lembranças e tudo o que pudesse se relacionar a ele.

— Como foram as coisas lá na França? — Perguntou Roberta ansiosa.

Cindy respirou fundo.

— Tranquilas...do tipo calmas até demais.

— Conheceu algum francês gato, por lá? — Insistia Roberta.

Cindy riu suavemente. Só Roberta conseguia fazê-la rir daquele jeito doce e delicado.

— Conheci bastante, até mesmo alguns brasileiros que foram até a loja da minha tia. Completamente diferente do que se parecem, são simpáticos e muito animados.

— Que legal, Cindy.

Cindy notou que ela ia continuar a falar, mas a sua hesitação fora tão grande que ela se deixou levar. Deduziu que tinha haver com o Jared, mesmo ainda estando magoada saber de notícias não lhe fariam mal algum.

— Aconteceu algo? Só se quiser me contar. Não quero que se sinta forçada.

— Você sabe como é, Cindy. Todos os dias ele vinha me procurar. Queria saber como e onde você estava. Implorou para que eu desse o endereço da casa da sua tia.

Ela revirou os olhos.

— Precisava ficar longe daqui, Rô. Mesmo que o meu coração esteja partido em milhares de pedaços e que tudo esteja perdido, eu amo o Jared. Pode parecer idiota, mas essa é a verdade. Ele conseguiu fazer com que a minha vida se tornasse mais leve.

— Que fofo. Mas e o que vai fazer? Aceitar facilmente as desculpas dele e fingir que nada aconteceu?

— Infelizmente não é assim. Ele me traiu, Roberta. Não tem como aceitar tão facilmente. Quero e preciso de um tempo para pensar acerca do que aconteceu. Tenho de me manter focada no colégio, logo, logo essa barriga vai crescer ainda mais e tudo estará perdido.

— Compreendo, minha amiga. Sei o quanto deve ser difícil para você estar nesse lado da situação. — Roberta sorria encantadora — Agora, alguns franceses se interessaram por ti?

— Sim, mas a minha tia falava um monte de barbaridades que me levavam a crise de riso. Nessa hora eu me lembrava de você.

As duas se abraçaram fortemente.

— Na próxima vez quando decidi viajar, me leva contigo. Londres não é a mesma coisa sem você. Eu não sou a mesma.

Roberta recebera um tapa leve no braço direito que a fez rir sem parar.

— Agora quero saber das novidades do colégio.

Como falar dos acontecimentos do colégio? Demoraria um pouco de tempo para que ela conseguisse se adaptar novamente. O colégio estava uma loucura, todas as garotas só queriam saber a respeito de alugar vestidos ou quem seria seus pares. Obviamente que Roberta iria com Evan. Ela detalhava o máximo de cada dia que Cindy passara fora.

— Tem certeza de que vai acontecer esse baile? — Indagava Cindy.

— Obviamente que sim. As meninas estão loucas correndo atrás do vestido "ideal".

— O Evan vai te levar? — Perguntou Cindy curiosa.

— Vai. — Roberta estudava a amiga — Adivinha quem quer te levar?

— Não faço a mínima ideia.

Roberta fez uma pausa dramática. Correu até a penteadeira da garota e pegou um escova. Cindy já começava a rir. Uma breve transformação começou, os longos cabelos foram substituídos por um coque frouxo, apenas para mudar seu semblante. Uma escova redonda magicamente virou um microfone. Não sendo o bastante para Roberta, subiu na cama da Cindy se pôs a anunciar:

— Senhoras e senhores! Essa noite tenho a honra de anunciar quem será o par de Cindy Louise Harttman no baile de outono. Peço a todos vocês um minuto de silêncio, olhem bem para essa doce criança. A garota mais bela do mundo merece um par a sua altura, infelizmente não será o grande amor da sua vida a levá-la para o baile, mas Peter McIntosh.

Cindy ficou boquiaberta. Desconfiava que ele nutria algum sentimento por ela, mas não a ponto de querer levá-la para o baile, principalmente por saber da gravidez. Muitas pessoas a ignorava, mas pelo jeito Peter não desistia fácil.

— Serio mesmo, Roberta? — Indagou Cindy indignada.

— Sério. Queria mentir, mas essa é a verdade.

— Por mim tudo bem. Desde que ele não venha com gracinhas pro meu lado.

— Relaxa, conversei com o Evan para ficar de olho em vocês, no Peter na verdade. Sei que ele pode ser um pouco louco quando se trata de você. Afinal, nada melhor do que o seu cunhado para nos acompanhar.

Cindy parecia confusa.

— Não sei se vou, Roberta. Não estou preparada para tantas emoções ou sequer algum tipo de envolvimento com alguém do sexo oposto.

Roberta entristeceu.

— Por favor, vá. Preciso recuperar o nosso tempo perdido.

— Tudo bem — Declarou Cindy se dando por vencida — Eu irei, mas se eu me sentir mal naquele lugar irei embora.

— Como quiser, mas desde que você vá comigo lá no Starbucks.

Roberta decidiu levar Cindy para ir tomar algo na loja do Starbucks. Precisavam de um momento delas apenas. Ao sair de sua casa, Cindy congelou completamente. Viu Jared conversando com uma garota. Ele no entanto logo pareceu se sentir culpado pelo o que ela vira.

— Tudo bem? — Perguntou Roberta.

— Claro. Vamos antes que eu desista. Preciso ficar em casa por um bom tempo. Se possível, nunca mais sair dela.

— Relaxa, meu amor.

Roberta estendeu o braço para Cindy enlaçar o dela ao seu. As duas garotas logo se apressaram para sair dali. Tudo o que ela menos desejava era ter de ser parada para conversar com alguém. No fundo seu coração ainda sentia as dores da traição. Notou que Jared logo dispensou a garota com quem conversava e se aproximou de Roberta e Cindy.

— Posso falar com você, Cindy?

Ela nada respondeu. O encarava furiosamente.

— Cindy, por favor! — Implorava ele.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Não temos nada para conversar. — Respondeu ela friamente.

— Me dê apenas uma chance de me explicar. Só isso que eu lhe peço.

— Saí da minha frente. — Murmurou Cindy puxando Roberta para bem longe.

Cindy se sentia machucada por tratar as pessoas com frieza, mas ela não poderia fingir que nada de errado havia acontecido. Presenciara um dos atos mais difíceis de serem esquecidos, mas dali para frente seria mais forte do que todos os seus problemas.

Enquanto curtiam o passeio, Cindy contava para Roberta sobre Pierre e Andreas. Haviam se tornado amigos e a aceitação dos pais quanto a sua orientação sexual foi mais do que o esperado. Ela não imaginava que pudesse se apegar tanto a novas pessoas, novos conhecimentos. Gostou da forma como pode ajudar ele a se descobrir, de como a família o aceitara sem dificuldades. Lembrara-se de como foi complicado lidar com a aceitação de sua mãe, mas o importante é que ela aceitava e ajudava no que precisava, se preocupava profundamente.

A sua relação familiar havia melhorado bastante desde então e se sentia grata por Amelie ter lhe dado os melhores conselhos para levar a sua vida em diante. Quando retornasse para a França levaria Roberta consigo e assim a bagunça seria melhor.

**********

Depois de alguns dias completamente isolada do mundo, do colégio e das pessoas, Cindy decidiu que era o momento de escolher um vestido para o baile. Não havia nenhum ânimo de sua parte, mas não iria decepcionar Peter, ele não possuía culpa alguma por ela estar mal com Jared.

Na loja de vestidos, Cindy procurava por algo que combinasse com o seu estilo. Todos os que ela vira anteriormente fugiam dos seus padrões, precisava de algo apropriado para a sua gestação. Preferira ir sozinha, já que Roberta já havia comprado o seu vestido. Ficar sozinha fazia bem a ela. Talvez não estivesse tão sozinha quanto imaginara.

— Oi Cindy! — Cumprimentou Jared — Faz um tempo que estou querendo falar com você!

Ela nada disse.

— Até quando você vai me tratar assim? Eu sei que eu errei, mas tem de acreditar que foi tudo uma armação da Mellody.

Cindy apenas o encarava com a sobrancelha erguida.

— O que você realmente quer? Me responda!

— De um lugar para melhor conversarmos.

— Vamos ser sinceros um com o outro Jared. Não dá para seguir em frente, vamos deixar do jeito que está. Não vamos ficar dando murro em ponta de faca. Não quero mais me machucar.

— Acha que eu gosto de te machucar, Cindy? Você está esperando um filho meu. — Sussurrou Jared nervoso.

— Não quer dizer que eu tenha de viver com você, posso me virar.

Jared olhou para os lados para certificar-se de que ninguém o observava. A empurrou para dentro do provador.

— Para com isso, Jared. Alguém pode te ver e chamar a polícia.

— Eu não quero saber, não me importo com nada que possa me acontecer.

Cindy o olhava assustada.

Jared aproximou-se mais do ouvido dela e começou a sussurrar. Ela teve de fechar os olhos para não perder o controle, tentava ser forte, mas ele sabia como provocá-la. A tirava da sua zona de conforto.

— Entenda que o meu mundo não é mais o mesmo sem você. Sei o quanto luta para se fazer de forte, mas no fundo quer se entregar.

Jared a prendia na parede enquanto brincava com o lóbulo da orelha dela causando-lhe um arrepio intenso. Os olhos dele se dilatavam diante daquele prazer interminável que era ter Cindy colada ao seu corpo. Ele traçava um trajeto com a língua até chegar perto dos lábios da garota, a respiração ofegante denunciava o quanto ela o desejava. Jared brincava dentre mordiscadas leves.

— Jared... eu...para! — Pediu ela com a voz fraca.

Ele sorria enigmático.

Cindy reunia forças para afastá-lo de perto de si.

— Não estou brincando... — Murmurou ela afastando-o — Eu quero seguir a minha vida. Ela já foi muito bagunçada.

Uma voz aguda chamava por ele. Tinha de ser a garota que ele iria levar para o baile.

— Pode aproveitar a sua vida. — Disse ela com pesar — Faça tudo aquilo que sempre quis. Vai, antes que a Suzy decida arrumar confusão na loja.

— Você ainda vai ser minha! Vamos criar essa criança juntos. Serei apenas seu...até você se cansar de mim.

Ela sorriu fraco.

— Eu não faria tantos planos, Jared. A vida é uma caixinha de surpresas.

— Sou muito mais.

Aproximou-se mais uma vez dela dando-lhe um beijo de tirar o fôlego. Não havia como fugir dali, primeiro porque ele bloqueava a entrada e segundo a força com que ele a segurava era grande demais. De todas as maneira ela lutava para não se render aos seus caprichos, não precisava sofrer ainda mais.

— Me solta! — Ordenava ela — Não ouse me tocar novamente. Não é me agarrando que irá me conquistar novamente. Não me faça sentir ódio.

— Não seja tão rude, Cindy.

— Não estou sendo rude, Jared. Apenas realista. Quer que eu volte contigo, me conquiste. Não vou ser como as outras que passaram na sua vida. Não sou assim.

— Falo sério, garota. Vou lutar para te conquistar todos os dias.

— Não sofra por isso Jay.

Cindy saiu do provador indo direto ao encontro de Suzy. Jared saiu logo em seguida.

— O que você estava fazendo com ela dentro do provador? — Perguntou Suzy irritada.

— Relaxa, só pedi para que ele me ajudasse a fechar o zíper. Nada mais. Somos apenas amigos.

— Ah qual é, Cindy? Até parece que eu não te conheço.

— Garota se toca. Até parece que eu vou ficar discutindo por causa de alguém. Se contente com o seu par.

Cindy saiu da loja a passos largos irritada. Não poderia dar a chance de qualquer outra vê-la completamente desestabilizada. Nenhuma delas a veria assim. O baile de outono iria marcar o resto de sua vida estudantil. Não poderia se dar ao luxo de pensar no quanto Jared havia mudado. Ele estava muito irritada em seu carro, tentava controlar a sua respiração para manter-se calma. Voltaria mais tarde quando a loja estivesse mais tranquila de movimento. Só queria um minuto de paz.

**********

Todos os alunos do colégio Bennington estavam ansiosos para o grande baile. Carros e mais carros passavam em frente a casa dos Harttman com som no último volume. Brenda queria que a sua filha estivesse animada com o baile, mas parecia tranquila demais. Ela cuidava de seu penteado com calma. Não era algo tão simples, mas exigia um pouco mais de concentração. Ora contemplava o seu doce rosto ora alisava a sua barriga. Ficou com a suas mãos pousadas ali enviando seu amor e carinho para a criança. Sua maior surpresa foi ao sentir uma movimentação em sua barriga. Seus olhos marejavam de felicidade.

Brenda entrou no quarto discretamente sem fazer barulho, ficou emocionada com o que vira.

— Precisa de ajuda?

— Estou bem, mas vou precisar de uma pequena ajuda para colocar o vestido — Murmurou Cindy.

Brenda foi até a cama e ajudou Cindy a se vestir. Um vestido lindo cravejado em pedras cristais no tronco, com um tom bem leve de salmão. A mãe não parava de contemplar a beleza de Cindy.

— Quando foi que você cresceu? — Perguntou Brenda passando a mão no rosto de sua filha carinhosamente.

— Não cresci tanto mãe, apenas estou vivendo uma nova fase da minha vida! Uma fase assustadora.

— Não pense assim... depois de uma tempestade sempre surge um arco íris.

— Espero que essa tempestade passe logo.

Ouviram a campainha tocar.

— Deve ser o Peter... — Brenda olhou em seu relógio — Ele é bem pontual.

Cindy deu de ombros. Logo estaria longe de casa curtindo a vida ao lado de seus amigos. O baile era o momento mais aguardado na vida de qualquer adolescente.

Ao ir para a sala Cindy notou que seu pai conversava entusiasmado com Peter. Ele era dono de uma beleza única, mas não o suficiente para que a fizesse se apaixonar. Poderia tter se envolvido com qualquer outra pessoa, mas acabou por tendo noites maravilhosas com o seu ídolo. Peter estava todo empolgado com o baile, por Cindy ser o seu tão sonhado par.

Peter estendeu o braço para que ela pudesse tocá-lo. O carro os aguardava. Despediram-se de Brenda e George e logo estariam a caminho do colégio Bennington. No carro eles nada conversaram. Os pensamentos de cada um deles estavam perdidos em algum lugar do espaço desconhecido.

O ginásio do colégio estava encantador. Belas flores enfeitavam a porta de entrada. Casais se divertiam ao som de músicas muito animadas. Até ali, Peter se comportava como um verdadeiro príncipe. A conduziu para algumas das mesas disponíveis. Cindy não queria se sentar, precisava se mover, extravasar um pouco de suas emoções. Ainda acanhada, ela começou a arriscar alguns passos de dança, Peter a acompanhava. O sentimento de liberdade gritava dentro de Cindy e logo já não havia como conter toda aquela alegria dentro de si. Se sentia completa consigo mesma. Se perguntava se Roberta de fato iria ao baile, só faltava ela para a sua noite se tornar ainda melhor.

Um murmúrio muito grande e alto tomou conta do espaço. Peter sabia quem era e no entanto pediu para que Cindy se mantivesse calma. Ela deu de ombros, não queria saber de nada, nem de ninguém. Por mais que tentasse não olhar na direção da aglomeração se tornava impossível. A luz do canhão refletor foi direcionada ao palco montado.

— E agora com vocês a banda mais aguardada da noite.... The Fallen.

Jared, Evan e Trevor subiram ao palco animados, mas notou que o olhar de Jared estava sem brilho algum, perdido na vasta imensidão. O som da guitarra de Jared ecoava pelo ginásio. Palmas faziam coro para a banda. Jared evitava olhar muito na direção de Cindy, por isso acabava olhando para o chão ou para qualquer outra pessoa que pudesse. Se sentia mal por ver que ele tinha culpa por ser tratado daquele jeito. Quando a primeira frase foi pronunciada um arrepio percorreu o corpo de Cindy por inteiro. Conhecia aquela sensação.

Bastava fechar os olhos para sentir a música penetrar em suas veias a ponto de disparar-lhe o coração. Jared era único em cima dos palcos. Seduzia as pessoas sem ter intenção. Lamentava pelo fato de estarem tão longe e ao mesmo tempo tão perto. Não dava para adivinhar como seria o seu futuro.

Suzy de vez em quando repreendia Cindy com o olhar. Não iria dar chance alguma para que ela se aproximasse de seu par. Virava a sua atenção para Peter e num curto intervalo de tempo tudo ficava bem. Cantaram bastante músicas até que Dj tomasse conta da pista novamente.

Evan, Trevor e Roberta se aproximavam do casal.

— Está linda Cindy! — Elogiava Evan.

— Vocês estão um arraso. Quero ver a minha amiga feliz, hein Evan!

— Se ele não fizer isso, arrancarei o bem precioso dele.

Evan arregalou os olhos amedrontado.

— Curtiu o nosso som? — Perguntou Trevor animado.

— Bastante. Uma vez fã sempre fã.

Jared assistia Cindy dançar animadamente com Evan, Trevor, Peter e Roberta. Sua vontade era de aproximar-se dela e do pequeno grupo, mas Suzy não permitia que ele saísse de perto dela e para piorar a sua situação ela conversava bastante com Mellody. Não aguentava os olhares intimidadores das duas. Talvez se começasse a beber acabasse esquecendo o que acontecia ao seu redor. Foi até mesa de bebidas e se serviu. Precisava de apenas uma única oportunidade para desaparecer por completo daquele baile. Bebia sem parar e as pessoas ali não se importavam com nada.

Entre uma música e outra os olhares se encontravam. Segundos suficientes para que se sentissem bobos. Depois de algum tempo conversando com outras pessoas do seu circulos de amigos, Cindy perdera Jared de vista.

Com o sumiço de Jared, a garota havia ficado preocupada. Rezava para que ele não fizesse nenhuma besteira. Não desejava o seu mal. Nunca seria capaz de pensar dessa forma. Exceto quando estava com raiva. Continuou curtindo o baile com os amigos da melhor forma que poderia.

**********

Cindy se sentia cansada de tanto dançar, precisava voltar para casa o quanto antes. Suas pernas doíam e ela achava que estava surda devido ao som muito alto. Pediu para que Peter a levasse de volta para casa. Ele não queria ter de sair logo da festa, mas já que era um pedido da Cindy, não iria recusar. Permitiu que ela despedisse de seus amigos e a conduziu até o carro. O caminho para casa fora tranquilo demais. Peter fez com que o retorno para casa fosse tranquilo, colocou músicas calmas para tocar no carro. A mente de Cindy se tranquilizava com as melodias chegando a ponto de quase adormece-la.

Ao estacionar o carro Peter correu para ajuda-la a descer.

— Saiba que eu me diverti muito com você — Elogiava Peter — Sempre que puder irei te convidar para sair comigo.

Ela gelou ao pensar na possibilidade de ter outros encontros com Peter. Infelizmente seu coração não queria saber de outras pessoas, tudo o que ela mais desejava era saber como Jared estava. Nunca o vira beber tanto daquele jeito.

— Agradeço a companhia, Peter. Nós vamos conversando. Se parecer algo quem sabe, podemos marcar. Agora tenho de ir, preciso descansar. Esse salto está acabando comigo e a criança aqui — Alisava abarriga — Precisa relaxar um pouco.

— Boa noite! — Despediu-se ele.

Acima de tudo ela havia se divertido bastante. Evan e Roberta a fizeram rir como nunca na vida. Apenas lamentava pelo fato de ver o estado em que Jared se encontrava. Sentia-se culpada em partes por deixá-lo daquela forma. Jared estava vulnerável, sensível. Um lado que Cindy nunca conhecera.

Cindy caminhava calmamente para a sua casa, quando um barulho chamou a sua atenção. Seu coração se apertou ao ver Jared caído no chão. Correu o mais rápido que pode até ele. Infelizmente ele havia feito um corte na testa.

— Jared? Está tudo bem?

Demorou até que ele olhasse em sua direção.

— Fala comigo, por favor — A voz de Cindy tremia de pavor.

— Tenho cara... de quem... está bem?

Cindy se controlou para não rir.

— Cindy, você...está uma...gata. Quer namorar... comigo?

Teve de respirar fundo para se manter calma. Ele não falava nada com sentido.

— Vem aqui! — Ela o ajudava a se levantar — Vou te levar para se recompor.

Por mais bêbado que estivesse, Jared sabia exatamente o que estava fazendo ou melhor para onde estava indo. Com um pouco de esforço a garota conseguiu abrir a porta de entrada.

Tudo estava tão diferente. Ela o conduziu até o quarto. Sentia como se a situação tivesse acontecendo de outro modo. Antes fora ele quem a ajudara a se manter de pé até chegarem ao apartamento. Mas agora ela o estava ajudando. Era o mínimo que ela poderia fazer.

— Jared, sente aqui. Vou procurar o kit de primeiros socorros. Preciso limpar esses cortes...

Jared quase não conseguia ouvi-la direito, mas tentou ajudá-la

— Em cima...do...armário.

Cindy correu o mais rápido que pode. Acreditava que Jared lutava para se manter forte, mas infelizmente não conseguira. Mesmo depois de ter ido à França, ter passado bons dias ao lado de sua avó, nada fazia com que Cindy conseguisse apagar as cenas de sua mente. Não conseguia acreditar que fora traída. Se pudesse faria uma lobotomia para esquecer, mas assim haveria a possibilidade de toda a sua vida desaparecer.

A vida continuava. Cindy tentaria seguir a sua vida, mesmo que isto lhe obrigasse a se afastar de Jared.

Pegou o kit de primeiros socorros e logo voltou para o quarto.

A roupa que Jared estava completamente errada, os botões estavam fora do lugar.

— Nossa...essa camisa...está...apertada demais...Acho que estou gordo.

Cindy se controlou para não rir.

— Ela não está abotoada direito.

— Me ajuda?

Cindy deixou o kit de lado e se pôs a ajudá-lo, mas ele também tentou, mas suas mãos pareciam atrapalhá-la. Com seus belos olhos azuis, ele a estudava cautelosamente. Não havia um diálogo entre eles. Provavelmente ela ainda estava com raiva.

— Como foi... o baile?

Cindy nada respondeu.

— Se divertiu? — Insistiu ele.

— Sim — Respondeu ela friamente.

E nada mais disseram. Cindy começou a limpar os cortes. Jared permaneceu quieto durante todo o processo. Algumas vezes ele espalmava suas mãos sobre o corpo da garota quando sentia um ardor muito grande. Cindy sorria docemente por dentro. Acima de tudo ele tinha seu lado infantil. Pegou um copo d’água e um analgésico e os deu para que ele pudesse tomar.

Ela sabia que Jared estava mal, nunca o tinha visto daquele jeito.

— Dorme um pouco, Jared. Sua dor de cabeça logo passará.

Um desespero crescente tomou conta de Jared. Segurava fortemente a mão da garota.

— Você vai estar aqui quando eu acordar? — Sua pergunta era quase uma suplica.

Cindy respirou fundo.

— Apenas durma.

Ela o ajudou a se deitar. Ficou sentada a seu lado. Depois de tomar o analgésico, Cindy notou que o corpo dele estava ficando mole, mas ele lutava para se manter acordado. Queria continuar olhando para o rosto angelical daquela que habitava seu coração. Tinha medo de não poder vê-la nunca mais.

— Cindy... — Sussurrava Jared — A culpa é da Mellody... eu...eu não queria. — Ela o interrompeu.

— Shii...dorme um pouco. Depois conversamos.

Cindy deu um beijo em sua testa e outro em sua mão. Não queria vê-lo fazendo esforço naquela noite. Só queria que ele descansasse. Ficou tocada ao ver que seus belos olhos azuis brilhavam intensamente, prontos para despejarem lágrimas. Com um pouco de esforço Jared se sentou e a puxou para um abraço. Havia uma urgência naquele abraço, parecia que o mundo ia acabar de uma hora para outra e só o abraço poderia salvar. Cindy permitiu que ele desfrutasse daquele momento. Significava mais para ele do que para ela. Os braços dele começaram a ficar moles ao redor de seu corpo. Ela o conduziu até que estivesse totalmente deitado. Aos poucos as pálpebras foram ficando pesadas até que ele caísse completamente no sono.

Retirou os sapatos a fim de não fazer barulho. Uma parte de Cindy pedia para que ela fosse para casa, mas outra insistia em permanecer ao lado dele. Cindy não se imaginava deixando-o. O admirava enquanto ele dormia. Haviam sinais em seu quarto de que os últimos dias não haviam sido fáceis. De fato, uma traição conseguia acabar com um belo relacionamento.

A noite estava fria, mas Jared suava intensamente. Talvez não fosse uma simples dor de cabeça. Afastou-se dele e sentou-se numa poltrona vermelha que havia ali no quarto. Se ajeitou cuidadosamente e deixou que a noite a embalasse. Não havia muito que ela pudesse fazer, senão esperar que amanhecesse. Mesmo em seus sonhos, Jared não deixava de habitar.

Em sua mente, as cenas se repetiam intensamente. Para a sua falta de sorte, tivera de conhecer um lado mais frágil de Jared. Vê-lo daquele jeito lhe partiu o coração. Cindy aos poucos foi deixando que seu corpo se sentisse mais leve. Seus olhos foram ficando pesados e logo não se viu mais nada. Caiu em um sono profundo.

As horas passavam e os ventos fortes assustavam Jared. Acordou assustado temendo que o mundo estivesse desabando do lado de fora. Sua cabeça doía bem menos, olhou o quarto todo e viu Cindy dormindo na poltrona vermelha. Aquilo não era um bom lugar para ela descansar. Levantou-se e caminhou até ela.

— Vem pra cama — Chamava Jared calmamente.

— Estou bem aqui... pode voltar pra lá.

Jared coçou a cabeça e pegou no colo.

— Jared para com isso. Não precisa se preocupar comigo.

— Você se preocupou comigo. Tenho que te ajudar, está esperando um filho.

Cindy deu de ombros.

— Tudo bem.

Ela não disse mais nada. Ajeitou-se na cama da melhor maneira que pode. Logo Jared se ajuntou a ela. Cada um virado para o lado oposto do que estavam. Jared desejava toca-la, mas teria de se controlar para o seu próprio bem. A noite seria longa.

**********

Raios de sol invadiam o quarto, iluminando o rosto de Cindy. Começou a se remexer e teve a visão de que estava deitada sobre o peito de Jared. As mãos dele seguravam a sua com firmeza, provavelmente com medo de que ela pudesse ir embora a qualquer momento. Cuidadosamente, ela tentou se afastar, mas não obtivera tanto sucesso, Jared acabara acordando assustado.

— Cindy? Você já vai?

Ela arrumava os cabelos despenteados.

— Só ia ao banheiro, me arrumar. — Explicou ela.

— Peço desculpas se te dei trabalho.

Ela sorriu encantadora afagando-lhe os cabelos.

— Não. Não deu trabalho algum. Só.... — Ela fora interrompida.

— "Só" o que?

— Nada... esquece. — Disse ela se retirando.

Jared levantou-se da cama num sobressalto.

— Vou preparar o café.

Cindy continuou a se arrumar no banheiro, depois iria para casa trocar aquela roupa. Colocaria algo mais confortável.

Jared estava distraído quando a campainha da casa tocou. Não imaginava que pudesse ser alguém tão desprezível.

— O que você quer aqui? — Perguntou Jared furioso. Não queria saber de sua presença.

— Oras! Vim fazer uma visita e saber se curtiu a visita da Maya.

— Não! Eu não gostei! Ela me drogou e fez a Cindy ficar com raiva de mim. Eu não mereço passar por isso.

— Para de drama! A Maya me custou muito caro, poderia ter pedido para qualquer outra vagabunda fazer esse pequeno serviço.

O som de palmas foi invadindo a sala.

— É uma pena, não é? Não consegue fazer nada sem a ajuda das pessoas Mellody? Você é um verdadeiro fracasso, nunca irá conquistar nada na sua vida. Segue a vida, filha. Um dia alguém que te ame irá te fazer feliz.

— Eu ainda não acabei com você, Cindy. — Urrou Mellody saindo.

Cindy virou-se para Jared arrependida.

— Me perdoa! Eu não acreditei em você...

Ele a puxou para um abraço.

— Tudo bem...apenas confie mais. É tudo o que eu te peço. Não quero te machucar, Cindy. Nunca tive esse propósito.


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