Por Trás da Seriedade escrita por Lilly Belmount


Capítulo 16
Capítulo 15




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Nos dois dias seguintes Jared, Trevor e Evan resolveram passear no parque com as garotas. O clima favorecia e ambos gostavam de ter esse contato com a natureza. Crianças corriam de um lado para o outro animadas. Não havia nada que pudesse as preocupar. Cindy ainda estava para baixo depois de ouvir tantos depoimentos. Um mais forte do que o outro a fazia pensar na existência de novos seres. Muitass garotas estavam na mesma situação que ela, mas a forma como os pais de cada uma aceitaram foi mais fácil. Sua mãe jamais a compreenderia.

Estavam todos sentados embaixo de uma imensa árvore, Cindy estava sentada entre as pernas de Jared, sua cabeça estava apoiada sobre o peito dele. Seu olhar caminhava pelo vago espaço de seu pensamento. Tantos pensamentos a deixavam confusa que manter o foco de algo se tornava impossivel. Todos conversavam empolgados, mas Trevor foi o que mais percebeu o silencio da garota.

— Cindy? — Chamou ele quebrando o olhar perdido da garota.

— Oi!

— O que houve? Está muito quieta

— Ah...não é nada. — Ela disse por fim levantando-se.

Jared a acompanhou. Andavam de mãos dadas, Cinsy se sentia bem ao segurar a mão dele. Sempre achou bonito segurar na mão de alguém que você possa se sentir segura, que lhe fazia bem. Era assim que os dois se sentiam, seguros um com o outro. Admiravam a paisagem, falavam algo significante e trocavam beijos rápidos. Cindy contou a ele, que sua mãe estava começando a desconfiar. Não literalmente, mas sempre tinha de contradizer o que sentia. Não estavam conseguindo ficar andando de um lado para o outro em meio a a aquelas pessoas. Despediram-se dos outros e foram para casa. Logo depois os rapazes também foram.

Jared havia deixado Cindy em casa, já que ela não estava com vontade de continuar andando, entendia e respeitava as vontades da garota. Sentiu que ela estava longe durante a ida e a volta até o Central Park. Mal sabia ele que, a cabeça de Cindy passava coisas inacreditáveis. Sua mãe estava cada vez mais ficando desconfiada, pelo menos em aspectos. Manter-se sã parecia ser o correto, mas nada a ajudava nem mesmo a leitura de um bom livro a ajudaria num momento tão delicado.

Permaneceu no seu quarto,indisposta, querendo apenas ficar sozinha em silêncio tentando colocar a cabeça no lugar. Acabara pegando no sono. Nem mesmo nos seus sonhos a garota poderia ser feliz, estava tendo pesadelos freqüentemente com Mellody, com sua mãe e com Jared. Era um pesadelo que fazia parecer realidade. Cindy despertara daquele pesadelo com o toque do telefone. Era Mellody:

— Parabéns, mamãe vadia! —Ela gargalhava — Já soube da noticia... saiba que eu não estou nem um pouco feliz com a idéia de você estar levando uma criança dentro desse seu útero. Não vou perder meu tempo, gastando saliva com quem não carece. Agora... — Cindy começava a desesperar-se — Acho melhor você achar uma forma de perder essa criança em até uma semana ou senão sua mamãezinha vai ter que descobrir tudo através de mim e eu tenho uma leve impressão de que você não deseja isso... Decida entre a criança e os seus pais...

E o telefone fora desligado. Quanto mais pensava em se livrar de um problema, a vida vinha e lhe trazia outro. Jared estava feliz por saber que seria papai, aliás ele nunca estivera tão feliz. Cindy não conseguia se imaginar tirando a alegria dele. Queria criar a criança com ele, ser feliz ao envelhecer ao lado de quem ela sempre amou.

**********

Todos os dias no colégio, Meloddy pedia para que alguém entregasse algum bilhete para Cindy. Tratava-se de uma contagem regressiva, pois o prazo de Cindy estava acabando para ter uma decisão. Tinha de ser rápida. Durante dois dias seguidos ela não comparecera ao colégio, o que fez com que sua amiga estranhasse, pois era raro Cindy faltar.

Em casa Cindy evitara passar o dia perto da mãe ou de qualquer pessoa que lhe pudesse atrapalhar em suas decisões. Não saiu do quarto. Sabia o que realmente queria e que teria que agir, mesmo que isso lhe custasse a vida. De qualquer forma estaria arriscando. Seus pais eram mais importantes do que tudo na sua vida. Não queria decepcionar as pessoas com quem estava convivendo tão bem, que antes de tudo eram amigos fiéis. Chorava ao imaginar como seria a reação de cada uma das pessoas, principalmente de Jared que acabaria odiando-a para sempre.

Depois de tantas idas e vindas quanto a sua decisão final, Cindy decidiu esperar até o entardecer. Momento que Jared e Roberta estariam sozinhos em suas respectivas casas. Decidiu ligar primeiro para a amiga.

— Roberta, liga pro Jared e fala que eu tenho que falar algo muito importante...mas tem que ser com vocês dois juntos.— A voz dela era falha, sinais que chorara.

— Tudo bem, mas o que houve? Sua voz está péssima.

— Lá eu explico.

Desligaram. Respirar fundo era mais doloroso que um corte no pulso. Olhou-se no espelho antes de sair de casa. Seu rosto não negava que passara horas chorando.

Jared e Roberta estavam aflitos de tanta espera. Sentiam que não poderia ser coisa boa. Mesmo após Jared ter levado-a para fazer outros exames, Cindy não tirava a idéia de abortar, principalmente pelo fato de magoar e mentir para sua mãe. Não queria perder a confiança daquela mulher que sempre lhe ajudou em tudo que precisara na vida, tinha de fazer de um jeito ou de outro. Sua mãe sempre foi apegada as questões religiosas e não aceitava o fato de que sua filha tivesse uma criança sem estar casada.

Trevor e Evan estavam na casa fazendo os últimos ajustes no instrumentos, o que piorava a situação. Principalmente pelo fato de que fora solicitado apenas Jared e Roberta.

Ouviram a campainha tocar, Jared e Roberta estavam na cozinha tentando acalmar o nervosismo, no entanto Evan foi quem atendeu a porta animadamente ao vê-la.

— Como vai a minha cunhada? E esse bebê do titio? — Evan alisava a barriga ou a quase barriga de Cindy.

Logos os três aparecerem. Sorriu levemente, mas não fazia sumir os sinais de que ela havia passado horas chorando. Entreolharam-se durante um tempo, até que Trevor deu uma cotovelada em Jared. Havai se esquecido dos bons modos.

— Sente-se!

— Obrigada! — Agradeceu ela.

Tomo ficou conversando em particular com Roberta enquanto Evan brincava com Cindy. Jared observava tudo em silêncio, desejando que seu irmão e seu amigo de banda saíssem logo de casa. Aquela demora toda,estava deixando-o muito apreensivo e nervoso. Passado alguns minutos Evan e Trevor já se encontravam fora de casa.

O clima ficou tenso e pesado. Os três se encaram continuamente. Roberta começou a conversar com Jared, envolvendo sempre Cindy no meio, mas o pensamento da garota estava bem longe daquela conversa, no entanto Roberta foi a primeira a perceber.

— Cindy o que você tem? Está pensativa demais, o que foi? — Perguntou Roberta olhando fixo para a amiga.

— Eu ando muito confusa e... — Fez uma pausa olhando para cima tentando evitar lágrimas.

— E? — Indagou Roberta.

— Lembra Roberta, quando minha mãe disse que não perdoaria uma gravidez minha?

— Sim. E?!

— E que eu não quero perder a confiança dela... minha mãe, não vou saber viver sem ela me apoiando. E eu acho que, eu vou... — Ela olhava pra cima, mas ainda assim uma lágrima rolou em seu rosto.

Ambos estavam muito atentos a tudo o que ela dizia, principalmente Jared.

— Pensando no que? O que foi Cindy? — Perguntaram em uníssono.

Fez um silêncio tentando realmente dizer o que queria sem medo e sem lágrimas. Tinha que ser forte.

— Eu vou abortar! — Disse ela em exatidão — Eu sei que é errado, mas não tenho saída...

— Como assim? — Os dois exclamam juntos e surpresos.

Jared acreditava no que ouvia. Suas mãos pousava em seu rosto, incrédulo. A preocupação e a tensão espelhavam em seu rosto,visivelmente naquele momento em que tentava dizer e em seguida continuou:

— Você não pode é meu, é... é o nosso filho. Independente do que seja, nós iremos cuidar bem dessa criança, dar o amor que ela merece, mas não faça isso.

"Nosso filho", era tudo o que ela não precisava ouvir naquele momento tão difícil. Queria a criança, mas muita coisa estava em jogo, não poderia voltar atrás. Isso seria errado. Não estava pronta.

— Eu sei...mas e a confiança que minha mãe depositou em mim? Não posso magoá-la, como também não quero magoar vocês. Principalemente você Jared que tem sido a pessoa mais encorajadora nesse mundo.

Lagrimas escorriam pelo rosto delicado dela. Segurar tudo dentro de si complicava tudo, talvez fosse como se o governo quisesse esconder um grande segredo da população, mas sabia que um dia teria que dizer tudo, para que as pessoas pudessem viver sem se sentirem culpadas.

— Mas, eu e a Rô estamos aqui com você, e sei que é complicado mas... — Ele tentava falar quase que em soluços, segurando suas lágrimas — Mas, sua mãe, pode ter uma reação negativa só no começo... — Roberta o interrompe.

— É Cindy, você é filha dela, ela não iria aguentar ver a filha dela sofrendo, sozinha sem o apoio de uma mãe, por um simples erro cometido e sem retorno.

— Ela não fala com meu irmão até hoje, e eu não quero que se repita de novo eu...

Cindy abraça a amiga e deixa as lágrimas se intensificarem, como um rio que corre forte. Tinha de estar ao lado dela, ela estava frágil, abalada. Jared respirou fundo e juntou-se as garotas em um abraço triplo. Ela se afasta procurando se conter.

— Queria muito não ter que fazer isso, mas ela já está desconfiando.

— Droga! — Jared sussurra, virado de costas para Cindy, respira fundo e vai em direção a ela novamente. — Amor, olha, eu e a Roberta vamos... vamos conversar com ela e ela vai entender. Você é filha dela, única filha, mesmo que seu irmão esteja longe. Você é a única filha que ela tem por perto.

Tentando controlar as lágrimas, Cindy o olha nos olhos de uma forma suplicante deixando claro o seu medo.

— Por favor, não façam nada.... eu quero um tempo pra poder falar com ela e se ela não mudar de ideia... a decisão está tomada.

— Bom, fazer o que né? — Roberta põe a mão no ombro de Jared e conclui — Acho que, só nos resta esperar, não é?

Jared queria fazer de tudo para que ela mudasse de ideia, ele estava feliz com a novidade de ser pai e de repente a alegria estava sendo retirada dele.

— Cindy, por favor...pense melhor, não tire conclusões precipitadas. Vou estar do seu lado e seus pais não poderão fazer nada. Eu prometi assumir as minhas responsabilidade e assim irei cumpri-las.

— Por que vocês fazem tudo ser mais complicado? — Dizia ela limpando o rosto.

— Não, só somos realistas, e queremos o melhor pra você.

Sempre brincando. Era por esse e outros motivos que Roberta se tornara especial na vida de Cindy. Não ter aquela garota por perto tudo se tornava um desastre. Percebendo que aos poucos tudo estava ficando mais calmo, sentiu que poderia ir para casa. Não era costume ficar até tarde fora de casa, mas quando tratava de sua amiga, nada a fazia ficar em casa.

— Bom, eu...vou deixar vocês um pouco a sós. Amiga — Roberta a beija no rosto e a abraça — Fica bem tá ? — Sussurrava ela — Vou pra casa. — Dirigia-se a ele — Tchau Jared, cuida dela — Despediram-se e ela saiu.

Ela não parecia aquela Cindy que Jared havia conhecido tempos atrás, essa garota em sua frente estava muito frágil, parecia uma criança que precisa dos cuidados da família. Pensar na mãe, fazia-a chorar mais, no quão brava ficaria.

— Eu juro que não queria ter que pensar nisso, mas eu não entendo minha mãe.

Ele a abraça, acariciando os cabelos dela. Sentia o forte pulsar do coração dela. Tremia de medo. Apoiou a cabeça dela em seu ombro e sussurrava palavras reconfortantes:

— Vai ficar tudo bem, vamos deixar o tempo passar um pouco, mas...olha aqui amor...me promete — Ele direciona os olhos dela aos dele — que não vai fazer nada sem falar comigo antes?

Antes que ela respondesse o silêncio reinou entre os dois.Ele queria ter a certeza de que ela não faria nada de errado e que poderia sempre estar ao lado dela.

— Prometo.

E ele calmamente a beija entregando-se ao momento. Ele sentiu as mãos geladas dela tocarem seu rosto deixando-o mais preocupado. O momento estava tenso, mas Cindy, não queria mais sair dali dos braços de Jared que tanto lhe acalmava. Estava preocupada com o que ocorreria em seu mundo dali pra frente. Tudo o que Cindy mais desejava era ficar nos braços dele, queria que o tempo parasse e simplesmente congelasse e que o mundo caísse sobre os dois, mas nem mesmo a força da natureza, poderia impedir que a dor se alastrasse dentro da garota.

As situações estavam tomando o seu eixo. Até um celular era contra aquele momento perfeito em que apenas dois corações pedem um momento único. Em meio aquele beijo envolvente, o amor estava ali, dois corpos, dois corações que se aceleravam conforme o tempo passava naquele momento em que Cindy desejava que nunca acabasse.

O beijo foi interrompido pelo toque do celular de Cindy, que olhou em direção ao objeto indignada. Olhou para Jared, respirando fundo o atendeu.

— Alô! — Sua voz quase não saia.

— Filha! — Do outro lado era Brenda nervosa.

— Mãe?

— Eu preciso que você venha agora — Sua voz era de fúria.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ela estranhamente.

— Venha pra casa imediatamente,isso não é hora de garota de família estar na casa de outras pessoas.

— Ok mãe, eu... — Ela engoliu em seco — To indo já.

— Acho bom! — E desligou.

Cindy pode ouvir o barulho do telefone ferozmente colocado no gancho,espantada desliga o celular.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ele curioso.

— Minha mãe... estava estranha, nervosa, quer que eu vá para casa, já é tarde!

— Eu te levo — Ele se ofereceu.

— Não, acho melhor eu ir só, é quase aqui do lado. — Ela dá um leve sorriso — Eu vou indo, minha mãe não está muito em seu estado de espírito bom hoje.

— Depois dessa acho que não conseguirei dormir.

— Que é isso. Eu sei domar a fera — Ela riu levemente indo em direção a ele e o beija e se despede — Se cuida.

— Se cuida você e não faça nenhuma besteira.

— Pode deixar! — Ela sorriu docemente.

E foi para sua casa, temendo que sua mãe já estivesse esperando-a na porta de casa. Nunca vira sua mãe daquele jeito e tudo era muito estranho. Talvez ela tivesse descoberto que Cindy estava grávida? Não, não poderia ser, pois os exames estavam bem guardados, em um lugar onde ninguém poderia encontrar, nem mesmo Sherlock Holmes seria capaz.

Entrou na sua casa e viu sua mãe sentada de braços e pernas cruzadas, balançando-as de tanto tédio.

— O que houve mãe? — Perguntou Cindy quebrando o silêncio.

— Sou eu quem faz as perguntas nessa casa. Sente-se. — Brenda estudava sua filha milimetricamente.

Com os olhos arregalados a garota obedeceu.

Temeu que poderia ser algo bem pior do que imaginara, mas sua mãe andava muito mais estressada nos últimos dias.

— Que história é essa que você ficou com nota vermelha em álgebra?

Um suspiro aliviado foi muito mais que bem vindo. Ainda bem que sua mãe não havia perguntado nada sobre o fato dela estar estranha, qualquer coisa que saísse em relação à sua gravidez.

— Mãe...eu posso explicar.

— Acho bom mesmo! — A fúria aumentava — Eu não te entendo mais, sempre foi tão boa nessa matéria. Espero que tenha uma boa explicação pra essa nota.

Cindy rolava os olhos incrédula. Como ela descobriu? Fazia umas semanas que tinha se detonado na matéria.

— Mãe... eu estava com dor de cabeça e não consegui me concentrar, foi isso.

— Está de castigo até melhorar essa nota.

Cindy ia negar o castigo. Um castigo agora não seria nada comparado ao que teria de enfrentar as consequências quando sua mãe descobrisse a gravidez. Um tempo afastada seria até bom para reorganizar os pensamentos e principalmente suas decisões.

O tempo do castigo fora até bom, pois Jared e os rapazes tinham shows para fazer. Era bom ter de pensar nas coisas certas e erradas. Cindy foi para o quarto. Chegando no mesmo se jogou na cama, cobrindo o rosto com travesseiro.

Não estava com cabeça para abrir o livro de álgebra. Mas no dia seguinte iria começar com os estudos. Estava tensa e precisava relaxar, mas a sua mente não permitia, sempre voltava à questão do aborto. Jared e Roberta sempre estavam ali para ajudá-la no que fosse necessário e o melhor de tudo foi ouvir que ele queria a criança tanto quanto ela. Tudo o que ela um dia sonhara em ouvir, havia se tornado real. Um sonho.


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