–Ele não passará desta noite, senhora Mellark. –disse a enfermeira para Katniss Everdeen, a destemida e corajosa Katniss Everdeen, que se tornou o Tordo, uma chama de esperança para toda Panem, mas, nesse momento, ela não possuía algum vestígio de que um dia havia sido tão forte e brava. Ela estava mais fraca e indefesa do que sua filha, que agora já tem filhos, quando nasceu, assim como seu filho mais novo, que também pai. –Eu sinto muito. –Katniss levou uma de suas mãos enrugadas pela idade a maçaneta de seu quarto na vila dos vitoriosos, maçaneta que lhe trazia, todas as vezes que a tocava, lembranças boas e más, mas assim como nos filmes educativos, o bem sempre o vencia o mal, e ela deu um singelo sorriso, abrindo a porta, e lá estava ele, Peeta Mellark, o garoto do pão, a única razão dela estar viva com uma idade tão avançada e inimaginável quando tinha seus nada saudosos 16 anos, sentado na cama com um sorriso torto, que acentuava suas rugas causadas a velhice, para uma foto de toda sua família.

Na foto tinha ele, com sua filha aos cinco anos e Katniss com o mais novo, recém-nascido nos braços, e todos estavam radiantes, até mesmo o pequeno bebê que mal sabia como indicar que sentia fome.

Katniss caminhou com passos lentos, que já foram muito rápidos, até a cama, e seus olhos eram a única coisa que não tinham mudado nada desde que nasceu, em um cinza impressionante, um cinza que mostravam para Peeta que ele não estava perdido, que sempre haveria um Sol por trás das mais densas nuvens.

Ela estava com os olhos molhados, e se continha para não começar a chorar, então, ele entendeu que era isso. O fim. Mas não se apavorou. Chegaria cedo ou tarde, assim como cegará para todos nós.

Ele se lembrou de tudo. Das duas tranças. Do pão. Da colheita. Das entrevistas. Da caverna. Das amoras que mudaram o rumo de uma nação. Do Tordo. Da revolução. Das pinturas como uma forma de fugir de seus pesadelos. Dos beijos. Das noites em claro fazendo diversas juras de amor para ela. Dos filhos. Dos netos. De sua vida maravilhosa, melhor do que ele jamais poderia imaginar. –Fica comigo, por favor, Peeta! –ela pediu chorando desesperadamente, ao pé da cama, e ele levou uma de suas mãos enrugadas pela idade e passou delicadamente a ponta de seus dedos por sua bochecha, que, mesmo com as bombas, com diversos processos que precisaram enfrentar para que suas peles pudessem voltar ao normal, continuaram macias, e nem o tempo conseguiu apagar isso, assim como a delicadeza de suas mãos, pelo menos para Katniss, que também se lembrava de tudo. Ela fechou os olhos, inclinando o rosto, apreciando aquele toque, que ela sabia que nunca mais sentiria.

O braço de Peeta caiu ao lado de seu corpo magro, porém muito conservado para sua avançada idade, para todos os traumas vivenciados e o tempo sem piedade, ele estava sem forças para puxar sua amada para um abraço forte que ele desejava dar.

Ele se lembrou do sorriso de Katniss ao pegar a primeira filha deles no colo, Willow, e nunca a viu tão radiante em sua vida, tanto que ela quem insistiu para que tentassem ter um segundo, e assim veio Rye, o garotão. O dente-de-leão, indicando que a vida pode voltar a ser boa mesmo depois de tanto sofrimento, lembrando-o para não desistir de lutar, lutar por ela, lembrando-o que se não há uma razão pela qual viver, encontrar uma pela qual vale a pena morrer, e, aqui está a prova.

Tudo voou perante seus olhos azuis, que agora estavam ficando enegrecidos, aumentando o desespero de Katniss, que não conseguia pronunciar uma palavra, apenas segurou a mão de seu marido, que pronunciou –Sempre. –e essa foi a última palavra dele, então, ele fechou seus olhos para sempre.