– Acho melhor irmos dormir – Jace disse em um tom seco, ele ainda não havia olhado nos olhos de ninguém.

– Não foi culpa sua Jace, você mesmo ouviu Luccas dizer, se ele era o único que podia estar zangado com você e não está você deveria para de sentir raiva de si mesmo – Isabelle disse.

– Ainda não me tira o direito de me sentir assim...a pior parte...é que na batalha da cidadela eu matei muitos caçadores modificados...eu matei o pai desse garoto e nem mesmo vou me lembrar de quem ele era ou de seu rosto...não vou saber quem era...eu matei todos os caçadores modificados que cruzaram o meu caminho aquele dia e nem mesmo olhei para a cara deles algumas vezes... – ele disse e se virou para subir em direção ao quarto, Clary o seguiu.

– Talvez não devêssemos ter escutado – Alec disse por fim.

– Ah você acha ? – Simon perguntou com sarcasmo em sua voz.

– E você fez de tudo para impedir Isabelle de te puxar – Alec respondeu com sarcasmo.

– Esqueçam isso, já ouvimos e nada pode mudar isso, em vês de discutirem vocês deveriam começar a treinar as suas caras de espanto para quando eles contarem, acho que não vão querer que eles percebam que estávamos ouvindo – Isabelle disse encerrando o assunto, Alec deu boa noite para ela e subiu para o quarto também.

– Eu deveria ir também – Simon disse – a não ser que queira que eu fique com você de novo...- ele disse com meio sorriso.

– Acho melhor não – ela disse e saiu, para a decepção de Simon.

Ele foi para o quarto e tomou banho, colocou uma calça de moletom e se jogou na cama. Por que tem que ser tão difícil, ele queria se lembrar, ela queria que ele lembrasse, então porque ele não conseguia, ele sabia que o beijo não iria se repetir tão cedo mas ele queria tanto. Ele dormiu antes que percebesse que estava cansado.

Era uma memória que veio em forma de sonho, Simon tinha certeza.

Ele e Clary eram crianças nesse, estavam fazendo uma guerra de bolas de neve e eles riam, junto com a memória vinham sentimentos e ele podia senti-los com toda a intensidade, depois a cena mudou e ele se viu na casa do lago que é de Luke, eles tomaram sol e um pouco depois foram nadar no lago enquanto Luke e Jocelyn observavam os dois e sorriam. Porém a cena mudou, Simon, Jace, Alec e Clary estavam em uma caverna, ele se lembrava vagamente daquilo quando eles foram outra dimensão, Alec estava desesperado segurando alguém. Isabelle. Ele podia sentir ela morrendo e entrou em desespero, porém antes de ver o que ia acontecer a memória foi sumindo até que ele acordou ofegante.

Ele tentava estabilizar a respiração, porém Luccas entrou pela porta do quarto com olhos atentos, ele também ofegava e estava todo suado, em sua camisa havia uma enorme mancha de suor e seu cabelo estava grudado na testa, do lado direito da cabeça havia um corte de onde escorria sangue e ele estava com um hematoma do lado direito da mandíbula e um em volta do olho esquerdo, pelo menos não estava inchado, só manchado.

– O que foi que aconteceu Simon – estava indo para o meu quarto e ouvi você respirando desesperado, parecia que o oxigênio do mundo iria acabar.

– Foi só um pesadelo – Simon respondeu e Luccas acenou – E porque você está todo machucado ?

– Eu estava lutando com Arya.

– Que horas são ?

– São três da manhã, eu me cansei e vim dormir, Arya continuou treinando.

– Como ela ainda tem energia ?

– Sabe como é, coisa de lobo – ele disse revirando os olhos – vou tomar banho e dormir, boa noite Simon.

– Boa noite.

Luccas saiu do quarto deixando Simon sozinho com seus pensamentos. Ele tentou dormir mas o mesmo pesadelo voltou e ele acordou com o coração acelerado, se levantou e saiu do quarto indo para o andar de baixo.

Izzy – ele chamou abrindo levemente a porta de seu quarto – eu...

– Achei que não ia vir nunca – ela disse sonolenta, ele entrou no quarto e se deitou ao seu lado passando os braços em volta da cintura dela – teve um pesadelo ?

– Sim, como você sabe ?

– Simon você está perto o bastante para que eu possa sentir o seu coração acelerado.

– Na verdade ele não está acelerado por causa do pesadelo – ele sussurrou e ela riu.

– Talvez o meu também esteja, mas eu não vou admitir o porque.

– Eu sei, um dia ainda arranco isso de você – ele percebeu que ela riu baixinho e dormiu com o som da risada dela.

Por que você tem que arrasar com o meu coração Isabelle Lightwood ?

Simon abriu os olhos vagarosamente, Isabelle estava de frente para ele, porém a cabeça dela estava na altura do peito dele, ele olhou no pequeno relógio que havia na cabeceira e viu que eram 9:00 da manhã, hoje era sábado e os treinos só começavam as 11:00 porém resolveu se levantar ele não queria nenhuma surpresa de manhã com alguém vindo acordar Isabelle e encontrar os dois dormindo. Ele à acordou comm um beijo na testa e foi para o quarto trocar de roupa, encontrou com Izzy 20 minutos depois e os dois desceram para a cozinha.

Quando se aproximaram da cozinha sentiram cheiro de comida e ouviram o barulho de alguma coisa sendo frita. Ao chegarem a cozinha viram Arya na frente do fogão fazendo omeletes, Luccas estava debruçado sobre o balcão com a cara afundada nos braços.

– Vai querer como ? – ela perguntou.

– Bacon... – ele mais gemeu do que falou.

– Oi – ela disse sem se virar.

– Bom dia – Izzy respondeu, Luccas gemeu algo quase inaudível, ela encarou por um minuto inteiro – o que ele tem ?

– Ele é um molenga – Arya disse colocando o prato na frente dele, ela puxou a cabeça dele pra cima, seus olhos estavam quase fechados e Simon pôde ver o efeito dos machucados de ontem, estava roxo em volta do corte e o hematoma na mandíbula também não estava nada agradável, em volta do seu olho a mancha roxa permanecia não inchada porém estava em um roxo vivo, além do corte na boca que ele já tinha adquirido anteriormente.

Isabelle fez uma careta olhando os machucados, Arya estava com corte curto e horizontal na maçã do rosto, havia um hematoma nas costas de sua mão esquerda e na sua mandíbula direita havia uma marca roxa que ia até o queixo.

Nesse momento Jace, Clary e Alec entraram na cozinha já sentindo o cheiro dos ovos.

– Pode dizer o quanto quiser mas não foi você que treinou até as 3 da manhã com uma meia – caçadora barra meia – lobisomem com problemas sérios de hiperatividade e acumulo de energia – Luccas disse fazendo todos rirem e finalmente abrindo os olhos. Arya deu um leve tapa na parte de trás de da cabeça dele.

– Não foi de todo ruim – ela disse.

– A que horas você foi dormir ? – Jace perguntou dirigindo – se a Arya.

– 5...talvez 6 – ela disse franzindo o cenho – Com certeza as 6.

– Você só dormiu 3 h depois de um treino de 12 sem nenhum intervalo – Alec perguntou arregalando os olhos.

– Sim – ela disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Todos ficavam esgotados depois de somente 5 horas de treinamento e quando dormiam eram necessárias no mínimo 7 horas para descansar, ela treinava mais que o dobro e dormia menos 4 horas do que o mínimo.

Clary chegou perto dos dois e tocou os seus queixos.

– Acho que vocês vão precisar de um iratze – ela disse - vou pegar a estela.

– Não quer dormir mais uma ou duas horas ? – Jace perguntou analisando Luccas, era obvio que ele se sentia pelo menos um pouco culpado pela morte do pai dele.

– Não, Isso – ele disse apontando para Arya – já me acordou.

– Por que você não come antes que eu te arremesse nas paredes – Arya disse em tom zombeteiro mas ainda assim parecia haver alguma coisa séria naquilo, pois Luccas no mesmo instante começou a comer – Bom garoto – ela disse dando tapinhas na cabeça dele.

– Você levou isso a sério ? – Alec e Isabelle perguntaram em uníssono.

– Não questione – ele falou com a boca cheia de omelete - Cadê a Clary ? – Luccas perguntou tocando desconfortavelmente o hematoma na mandíbula.

– Você não consegue sentar e esperar um segundo – Arya falou.

– Não esperei nem mesmo ter nove meses para nascer, eu nasci de sete, Clary está demorando mais do que isso – ele disse, e Jace riu do comentário.

– Vou fazer o omelete de vocês – Arya disse.

Arya foi para o fogão e começou a fazer mais omeletes, Luccas terminou o dele e levou o prato para a pia e começou a ajuda-la, um parecia saber qual era o próximo movimento do outro sem mesmo se comunicaram, todos encararam e Isabelle e Jace olharam maliciosamente para eles. Clary entrou na cozinha com a estela e Luccas olhou para Arya.

– Vai, eu já estou terminando.

Em um segundo ele já estava do lado de Clary, ela riu ao ver o quanto ele estava ansioso para se livrar dos machucados e fez o iratze, o corte na boca de Luccas começou a se fechar e ele já parecia aliviado.

Com a ajuda de Alec, Arya colocou os omeletes que tinha feito na mesa e Clary se aproximou dela segurando sua estela porém Arya deu um passo para trás e fez que não com a cabeça.

– Ah qual é, eu sei que incomoda mas não é horrível – Luccas disse.

– Mas a estela sempre incomoda, já deveria ter se acostumado - Simon falou.

– No meu caso incomoda mais do que o normal devido as minhas condições sobrenaturais – Arya respondeu – o meu corpo aguenta as marcas mas não é tão normal quanto é para vocês considerando que metade do meu corpo é feito para rejeitar isso.

– Vamos lá, não vai doer mais do que já dói – Luccas disse se aproximando, o ultimo hematoma em seu rosto já estava curando – se quiser eu faço.

– Não precisa, obrigado – ela disse e acenou para Clary que fez a marca, o rosto dela se contorceu em uma careta e ela tentou suavizar o rosto o mais rápido possível, o corte em sua maçã do rosto começou a curar – bem melhor.

Todos se sentaram e Luccas cutucou o braço de Arya.

– Temos uma coisa para falar, sobre o meu irmão, eu sei que não devem ter gostado muito de saber que eu escondi – todos pararam de comer e olharam para eles – mas antes de tudo, se querem saber as coisas só basta perguntar, não precisam ficar ouvindo atrás da porta – ela disse revirando os olhos. Como assim ela sabia que estávamos escutando ? A partir de que parte da conversa ela percebeu que estávamos lá ? Todos arregalaram os olhos surpresos e Simon pode ter certeza de que estavam fazendo as mesmas perguntas mentalmente, Luccas e Arya se apoiaram no balcão e pareciam se divertir com a expressão de todos.