Maria chegou à empresa com alguns minutinhos de atraso, quando passou por Ana Rosa a secretária a cumprimentou como de costume

–Sra. Mendes (sobrenome de Otavio), o Sr. San Roman esta te esperando na sua sala.

–Ana Rosa a partir de agora eu prefiro que me chame de Sra. Fernandes

Maria disse calma.

–Por que você permitiu que o Estevão entrasse na minha sala?

Maria pôde ver a ponta de desespero no suave rosto de Ana Rosa.

–Me desculpe Senhora, mas vocês trabalharam juntos na mesma sala por tanto tempo que eu não imaginei que haveria algum problema.

Ana Rosa disse tentando se justificar.

–Não tem problema Ana Rosa é que eu não esperava vê-lo tão cedo.

Maria disse tentando não demorar muito, queria ver Estevão e saber qual desculpa ele teria para a existência de Sophie.

Quando entrou na sua sala o moreno estava encostado na sua mesa com um semblante cansado.

–O que faz aqui San Roman?

Maria perguntou colocando sua pasta em cima de sua mesa tentando ignorar Estevão.

–Eu vim tentar entender o que esta acontecendo?

Estevão disse pegando Maria suavemente pelo braço e puxando-a para sua frente tomando toda a sua atenção para si. Maria reparou nas olheiras dele e como ele estava realmente cansado.

–Você passou em casa antes de vir pra cá?

Maria perguntou se esquecendo por um segundo de sua raiva por ele, deixando que sua preocupação por ele tomasse lugar.

–Não, eu vim pra cá direto do aeroporto.

–Você esta horrível Estevão. Precisa descansar.

–Eu faço isso depois do trabalho, mas você ainda não me disse o que esta acontecendo e porque me tratou daquela maneira no mínimo estranha quando te liguei ontem.

Maria se recordou então de sua raiva pelo moreno.

–Eu te tratei como sempre San Roman.

Estevão bufou cansado com a teimosia da Morena.

–Isso tudo é por que eu tive que ir pro Cansas e não tive tempo de te avisar?

Estevão disse tentando resolver logo tudo isso.

–Por que eu me importaria se você foi ou não pro Cansas?

Maria perguntou cruzando os braços novamente.

–Por tudo que nós já vivemos, pela ultima noite que passamos juntos, pelos sentimentos que temos um pelo outro.

Maria forçou uma gargalhada teatral.

–Quem te disse que eu tenho sentimentos por você San Roman, seu convencido.

Estevão sorriu de lado antes de perguntar.

–E não tem?

Maria ficou repentinamente mais séria enquanto tentava desviar o olhar de Estevão.

–Claro que não.

Maria disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

–Você vai acabar me tirando do sério sabia, é melhor dizer logo o porquê daquela hostilidade quando te liguei.

Maria sorriu irônica.

–Não está acostumado a ser tratado assim San Roman?

–Na verdade, não.

Estevão disse curioso pra saber aonde Maria chegaria com tudo isso.

–Não é assim que a Sophie te trata?

Maria perguntou, mas se arrependeu no mesmo instante, pois agora o moreno saberia que tudo isso era apenas uma estúpida crise de ciúme, mas ela não conseguiu entender nada quando Estevão sorriu aquele seu sorriso lindo e verdadeiro e a abraçou.

–Eu estou tão aliviado que isso é apenas ciúme.

Maria tentou se soltar do abraço de Estevão, mas foi em vão, pois ele a mantinha bem presa ali.

–Isso não é ciu...

–Eu vou te explicar tudo ok.

Estevão disse interrompendo a morena.

–Você pra casa comigo hoje e eu vou te explicar tudo que você quiser, inclusive sobre a Sophie.

Ele segurou o rosto de Maria e selou seus lábios aos dela, mesmo que ela tenha tentado firmemente resistir.

–Senti sua falta.

Ele disse com suas testas encostadas e selou novamente seus lábios e depois simplesmente saiu da sala da morena, enquanto ela continuava em pé e confusa com tudo aquilo.

***

Fabiola se balançava inutilmente para frente e para trás em sua cadeira enquanto sua mente trabalhava a mil a fim de achar um jeito de separar Estevão e Maria. Ao que parecia ela teria que pensar em tudo sozinha, pois Otavio não parece o tipo de pessoa que pensa e sim o tipo que age e seria assim que ela se livraria de qualquer desconfiança que Estevão viesse a ter por ela, se a culpa fosse cair em alguém que fosse em Otavio e seu temperamento hostil.

Fabiola se perguntava em que momento ela permitiu que sua vida saísse tanto do rumo que ela havia planejado pra ela desde criança. Ela fechou s olhos e se permitiu viver novamente aqueles momentos que ela tanto sentia falta.

Flash Back.

–Estevão, não. Você sabe que eu tenho medo de minhocas!

Fabiola disse correndo com suas pequenas pernas, mas como sempre acontecia ela caiu e mais uma vez ela estava com o joelho esfolado e as lágrimas logo vieram também.

–Fabiola, como você consegue cair tanto.

Estevão perguntou ajudando Fabiola a se levantar.

–A culpa é sua.

Ela disse tentando se soltar de Estevão.

–Eu só quero te ajudar, não sabia que você ia cair.

Ela pode ver nos olhos do seu melhor amigo que ele estava arrependido, então ela permitiu que ele a levasse até o riacho e limpou o seu joelho e a entregou uma pequena flor amarela.

–Você vai me desculpar, não vai?

Estevão perguntou enquanto a olhava apreensivo.

–Você é meu melhor amigo Estevão é claro que eu te desculpo.

Fim flash back.

Fabiola sentiu as lágrimas se formando em seus olhos, mas não permitiu que elas escorressem, as secou logo com o lenço, antes que elas borrassem sua maquiagem.

–Eu sempre te amei Estevão.

Fabiola disse quase num sussurro apenas para ela mesma, mas logo outras lembranças vieram à sua mente, dessa vez mais velhos e com os sentimentos mais maduros

Flash Back

A festa de aniversario de casamento dos pais de Estevão era sempre um acontecimento onde eles moravam. Fabiola estava com seu melhor vestido e Estevão estava num terno que com certeza havia custado caríssimo, mas estava o mais lindo da festa, Rodrigo se vestia de forma muito parecida, mas havia algo de diferente em Estevão, amor, era o sentimento que ela nutria por ele que o fazia diferente.

Ela percebeu no brilho dos olhos dele que ele também sentia algo por ela, eles já não eram crianças que brincavam e corriam pela fazenda, e Fabiola sentia um extremo ciúme quando via as garotas do colégio admirando seu Estevão.

–Você esta linda Fabiola.

Estevão disse admirado.

–Não seja bobo Estevão, é você que esta chamando a atenção aqui.

Estevão sorriu bobo e a puxou para um canto da casa enquanto seus pais faziam o tradicional discurso, mas aquilo já estava ficando entediante e ao que parece Estevão também achava aquilo, pois pegou em sua mão e eles saíram devagar tentando não chamar atenção no meio das pessoas.

–Eu já não estava mais aguentando ouvir meu pai falar.

Estevão disse assim que saíram para os fundos da casa.

–Eles falam a mesma coisa todos os anos.

Fabiola disse enquanto eles caminhavam para cada vez mais longe da casa.

–Você está muito linda Fabiola.

–Você já disse isso Estevão.

Fabiola disse sorrindo tímida e Estevão demorou um pouco a responder, pois não conseguia tirar os olhos dela.

–Eu sei, mas é que quando eu olho pra você, não sei mais o que dizer, além disso.

Fabiola abaixou o rosto envergonhada, mas percebeu a rápida aproximação de Estevão que logo ergueu seu rosto.

–Me deixa ver você, não desvie o seu olhar, eu amo os seus olhos.

Fabiola sentiu sua garganta secar e a sua respiração acelerar, mas dessa vez não desviou os olhos dos de Estevão.

–Principalmente quando eles estão olhando pra mim.

Fabiola sentiu as mãos de Estevão em sua cintura e percebeu que ele assim como suas próprias pernas tremiam. Ela o viu se aproximando, mas não viu mais nada apenas sentiu os lábios macios dele tocando os dela, e naquele momento Fabiola se sentiu no céu.

Fim Flash Back

–O que eu fiz, o que eu fiz conosco Estevão.

Fabiola disse secando suas lágrimas que já haviam lhe borrado a maquiagem.

–Pode ficar tranquilo Estevão eu vou consertar tudo isso.

***

Estevão já estava no limite do seu cansaço, seu corpo já estava no limite, mas o alivio por saber que o único problema com Maria era ciúme de Sophie já o deixava mais tranquilo, mesmo que a preocupação com a saúde da filha não o deixasse relaxar por inteiro.

–Estevão, eu não imaginava que você fosse vir para o trabalho hoje.

Disse Rodrigo entrando na sala do irmão.

–Eu não quis parecer anti profissional e faltar mais um dia ao trabalho.

Estevão disse enquanto passava as mãos no rosto cansado.

–Como está a nossa garotinha?

Rodrigo perguntou tentando esconder um pouco da preocupação com a sobrinha.

–No hospital, mas ela é forte e não vai ser uma infecção que vai derrubar minha filha.

–Com certeza não vai ser mesmo Estevão, ela é forte como você, mas além de querer saber noticias da Sophie eu também to querendo saber quando é que o seu AP vai desocupar?

Estevão estranhou que o irmão estivesse tocando nesse assunto logo agora, tão cedo.

–Tá acontecendo alguma coisa Rodrigo? Você não parecia estar com tanta pressa pra se mudar a ultima vez que conversamos sobre esse assunto.

Estevão estava até um pouco preocupado com o irmão.

–Não é nada grave sabe cara, mas eu não quero mais morar por muito tempo com a Fabiola.

Estevão deu um meio sorriso irônico antes de continuar.

–Logo você Rodrigo, que sempre defende ela de tudo e de todos. Aconteceu alguma coisa entre vocês?

Rodrigo não gostou muito do tom do irmão, mas preferiu ignorar.

–Eu nem queria te falar sobre isso, pois eu sei que você ta se afastando dela, mas ela ta meio obcecada Estevão, ela não esta aceitando muito bem o fato de perder você de vez e ela não parece gostar nenhum pouco da Maria.

–Eu já percebi que ela não gosta da Maria, mas eu posso te garantir que esse sentimento é recíproco, Maria não sente nada de bom por Fabiola, mas é isso que esta te assustando?

–Eu não estou assustado, to cansado e estressado com toda essa situação.

Disse Rodrigo já um pouco estressado com o irmão.

–Mas você nem esta ligado diretamente a tudo isso.

Agora foi a vez de Rodrigo sorrir irônico.

–Sou eu quem vai pra casa e encontra Fabiola com a cara emburrada e estressada todos os dias e acredite não é nenhum pouco prazeroso conviver com alguém assim.

–Eu imagino que não mesmo, mas esqueçamos a Fabiola então. Eu ainda não sei quando é que eu vou sair do AP, mas eu espero que não demore muito, eu quero trazer a Sophie pra cá o mais rápido possível, eu vou entrar em contato com um corretor de imóveis o quanto antes e assim que eu tiver respostas concretas eu te aviso.

–Tá ok. Nos vemos no almoço?

Rodrigo perguntou enquanto abria a porta.

–Hoje não. Vou pra casa tomar um banho. –Ok.

Rodrigo disse antes de sair.

***

Maria não esperou que Estevão a chamasse para irem embora no fim do dia, ela não havia engolido toda aquela encenação, mas não esperava encontrá-lo esperando ela do lado de fora de sua sala.

–Eu imaginei que você talvez fosse tentar fugir sem mim.

Ele disse sorrindo novamente daquela maneira linda.

–Eu não vou pra sua casa.

Maria disse passando por Estevão como se ele não estivesse ali e indo para o elevador.

–Por que tanta teimosia?

Estevão estava se divertindo com aquela situação e queria ver até onde ela iria com o ciúme.

–Não se faça de idiota San Roman.

Ela disse quando eles entraram no elevador.

–Sabia que eu estou me divertindo muito com tudo isso.

Estevão disse quase sussurrando no ouvido de Maria.

–Você esta se divertindo com isso por que você é um safado Estevão San Roman.

Maria disse nervosa.

Quando a porta do elevador se abriu e Maria tentou fugir de Estevão ele a segurou pelo braço enquanto eles caminhavam até o carro.

–Me larga.

Maria disse baixo, não querendo chamar atenção das pessoas ali.

–Você vai pra casa comigo esqueceu.

–Não, eu não vou.

Maria disse tentando se soltar.

–Maria para com o ciúme.

–Não é ciúme, mas se você quer tanto ir pra casa acompanhado, poderia chamar a Sophie ou então até mesmo a Fabiola.

Estevão quase gargalhou enquanto abria a porta do carro e empurrava Maria para o banco do carona.

–Sabe a Fabiola eu não chamaria não, mas a Sophie por que não?

Estevão disse piscando para Maria enquanto dava partida no carro.

–Seu safado, para esse carro agora.

Maria disse já sem conseguir controlar sua raiva

–Como eu pude cair nessa sua conversa, seu conquistador barato.

Estevão apenas ria enquanto dirigia para casa.

–Eu sou uma idiota.

Maria disse enquanto escondia o rosto nas mãos.

–Eu acho você uma pessoa de muita sorte.

–Eu não estou entendendo por que você tá rindo, por um acaso eu sou motivo de diversão?

Maria perguntou alterada.

–Pra falar a verdade, nesse momento você esta sendo.

Maria já estava no seu limite.

–Para o carro San Roman, eu não vou a lugar nenhum com você.

–Você vai pra minha casa Maria, eu ainda tenho muito a te explicar.

Estevão disse agora sério, pois viu que Maria estava realmente nervosa.

–Eu já ouvi o suficiente Estevão, não pense que eu vou ficar aqui ouvindo suas mentiras, não me tome pela idiota que eu não sou, eu mandei você parar o carro agora!

–Não vou parar.

Estevão disse tão sério quanto Maria.

–Confie em mim Maria, você vai entender tudo, eu prometo a você que não vai se arrepender.

–Você já disse tudo Estevão.

Maria disse irredutível.

–Muito pelo contrario, eu ainda não disse nada.

Estevão disse enquanto estacionava o carro.

–Vamos subir e eu te explico tudo.

Estevão disse enquanto tentava tirar Maria do carro.

–Não vou subir Estevão, acabou. A verdade é que nem começou.

Maria disse se afastando de Estevão.

–Maria pelo amor de Deus, Sophie é minha filha!

disse enquanto observava Maria se distanciar.

–Sua filha?

Maria disse se virando novamente para Estevão.

–Sim, minha filha de três anos.

–Você não tem filha Estevão.

Maria disse o encarando com raiva, mas Estevão sorriu de leve.

–Como não? Eu já sou pai há algum tempo Maria.

–Pois eu não acredito em você, você nunca me disse nada sobre ter uma filha.

–Maria antes da ultima noite que passamos juntos nós ainda não tínhamos nada concreto então eu não via necessidade de te falar isso, mas sim eu tenho uma filha, uma filha linda.

Estevão disse buscando no celular uma foto de Sophie ao seu lado para mostrar à morena, mas mesmo depois de ver a foto Maria continuou com a mesma cara emburrada.

–O que foi você ainda não acreditou em mim?

Estevão disse já sem saber o que fazer para que Maria acreditasse em suas palavras.

–É claro que eu acredito, ela é sua cópia.

–Então por que essa cara?

Estevão perguntou confuso.

–Por que você ainda tem muita coisa pra me explicar Estevão San Roman. ...