Defeito de Fábrica escrita por The Amazing Spider Girl


Capítulo 2
Capítulo 1 - A Life of Rejections


Notas iniciais do capítulo

Hey Little Dreamers!
Depois de uma semana, cá estou eu!
(Bom, eu sei que era pra ter postado ontem, mas, e o tempo, cadê? Por isso, quando eu não postar nas terças, postarei nas quartas ^^)
Espero que gostem!
Enjoy =*



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Capítulo 1 – A Life of Rejection

(Ponto de vista – Jessy)

Após ler toda aquela baboseira do livro decidi que não valia a pena gastar meus poucos minutos de paz antes da aula começar com aquele texto ridículo sobre a “maravilhosa história de como Bennet salvou Nova York da crise”. Tudo que ele criou foi um regime onde todos são imbecis. Imbecis com caras bonitas e corpos perfeitos, o que os deixa mais imbecis. Tudo que fazem nas Fábricas é manipular o cérebro, as opiniões e os conceitos das pessoas com a desculpa de que vão deixa-las mais bonitas. Totalmente ridículo.

Perdida em devaneios não percebi a aproximação de um grupinho. “Droga”, pensei.

– Own, olha quem tá aqui! A estranha. – Falou Susan, minha irmã postiça. – Vocês não sabem o saco que é ter essa escória sob o mesmo teto que eu. Da vontade de parar de respirar.

– Então por que não para? Vai fazer um favor à todos, docinho. – Falei dando um sorriso falso.

– Ora, quem é você para me dizer o que fazer? Alguma pessoa “importante”? – Perguntou ela fazendo uma careta tola.

– Olhe aqui, sua... – Falei levantando-me.

– Susan, por que não vai, sei lá, retocar a maquiagem ou ver se ficou mais burra do que já é, ou fazer qualquer coisa que gente do seu tipo faz? Sai daqui. – Disse minha amiga, jogando sua mochila ao lado da minha enquanto Susan a encarava com uma fúria assassina. Ana Laura era a única que podia realmente competir com Susan em quesito beleza e ainda ganhar. - mesmo todos sendo iguais, alguns ficavam mais atraentes que outros ou então sabiam como usar a beleza para chamar a atenção. Eu sei, uma droga. - Que ela realmente era mais bonita que Susan ninguém poderia negar, por isso Susan a odiava.

– Não me lembro de ninguém ter te chamado, Sommer. – Susan cuspiu o sobrenome como se fosse algo nojento de se falar.

– Isso que me faz especial, eu me meto nas conversas, baby. – Disse Ana sorrindo.

– Argh, saia da minha frente, sua inútil. – Disse ela empurrando Ana no banco, onde a mesma caiu sentada, já sem o sorriso no rosto. Susan me dirigiu um olhar de ódio e me falou, venenosamente. – Em casa conversamos.

– Conversamos o que? Quer repetir a dose de tapas que eu te dei mês passado? Por que se você quiser eu repito aqui mesmo. – Falei serrando os punhos.

– Olha aqui... – Disse ela levantando seu dedo, que possuía uma unha postiça vermelho-sangue na ponta. – Quem você pensa...

– Não entendeu ainda não, Susan? Ninguém te quer aqui, sua avulsa. – Disse Ana levantando-se e ficando ao meu lado. – Se quiser briga, é o que vai ter. Mas não vai ser fácil, querida.

Susan e suas amigas se prostraram diante de nós, ficando na defensiva, eu e a Ana éramos mais do que páreo para elas, elas lutavam como florzinhas. Eu e Ana não éramos nenhumas lutadoras profissionais, mas sabíamos alguns pequenos golpes básicos. O suficiente para colocar essas imbecis no chão. Uma pequena roda de curiosos já se formava ao nosso redor, todos sabiam que dali iria sair uma briga boa, possivelmente terminando comigo e com Ana detidas por uma noite na sede da Patrulha. Possivelmente não, COM CERTEZA terminaria com nossas detenções. Coloquei minha mão um pouco para trás, preparando-me para dar um soco, quando ouço o sinal tocar, avisando que está na hora de ir para a sala enfrentar professores que não gostam de mim.

Tenho algumas aulas com a Ana, porém a primeira, história, é a mais chata e eu não tenho companhia nenhuma para “desfrutar” do amor e carinho da professora. É claro que na visão da professora eu sou o próprio demônio que resolveu dar um passeio pela Terra, enquanto que, a maravilhosa, linda e doce Susan é o anjo da mais pura bondade e inocência. Não me surpreendi com o olhar reprovador lançado pela professora à mim e do olhar de “vítima indefesa” que Susan mantinha. Ignorei as duas e sentei-me em minha carteira habitual, a perto da janela, bem ao fundo. “Onde os professores não precisem notar sua desagradável presença” dissera a diretora aos meus pais. Ridículo, mas eu gosto daqui, desenhei nas cortinas, na mesa, na parede, na cadeira,... Sem ninguém para incomodar, exceto a Sra Nanica que dá aula lá na frente.

Essa sala me deixa enjoada, todos tem cabelos loiros claros e lisos, olhos azul-piscina e corpos esculpidos perfeitamente. Sou a única da sala que tem cabelos negros e bem curtinhos, repicados e olhos verdes. Também possuo sardas, uma pele clara como papel e um corpo magro, com algumas curvas.

Minha amiga Ana pode parecer uma Modificada de longe, mas o que trai essa imagem são seus olhos castanhos e o cabelo loiro mais escuro que o do resto.

Somos os únicos Defeitos da Queens High School. O que pode ser menos divertido do que parece. Se eu faria o Procedimento de Fabricação para me “consertar”? Não. Nunca. Já vi o que o Procedimento faz. Ele muda as pessoas não apenas externamente. Ele tira o melhor das pessoas. Tira sua opinião, suas ideias, seus questionamentos. Tira sua humanidade. Deixa apenas um vazio, que é preenchido com ideias fúteis e tolas. Tira a bondade das pessoas e deixa apenas a frieza e a gentileza automática. Transforma as pessoas em pedaços de nada. O Procedimento não salva as pessoas, ele as deixa podres.

A professora me lança alguns olhares de desprezo que deveriam fazer-me ter vergonha de ter nascido, mas apenas me fazem dar um sorrisinho cínico, o que a deixa possessa. Ela me lança um olhar maldoso e lê um pedaço do entediante texto de história

– “‘Defeitos de Fábrica’ são imprevisíveis, perigosos. Podem destruir toda a sociedade que levamos muito tempo para construir. São uma ameaça. Devem ser modificados ou então banidos.” e alguns são mais agressivos do que outros. – Disse me olhando com raiva, porém, continuou sua leitura. – “Essa é a Lei. E a Lei deve ser cumprida.”. Eu sou da opinião que deveríamos reformular o Código de Leis. Todos os Defeitos de Fábrica deveriam ser eliminados ao meu ver. – Falou sorrindo para mim, degustando cada palavra doce. – Se eu fosse a Governadora...

– Mas você não é, sabe por quê? Porque eles colocam apenas pessoas capacitadas no Governo. Não capacitadas em levantar uma chapinha, e sim capacitadas em reger um povo. Porém, nessa sala ninguém tem nem a capacidade de pensar, já que nenhum de você tem cérebro. – Falei cortando a frase da professora.

– Como ousa...! Vou comunicar este fato à direção que vai comunicar aos seus pais. – Falou sorrindo falsamente.

– Pode comunicar para o Papa. Nada vai mudar minha opinião. – Falei cruzando os braços, exatamente o gesto que fazia quando ficava de birra por alguma coisa aos 5 anos.

Ela abriu a boca para contra argumentar, mas o sinal bateu cortando qualquer que fosse o seu discurso. Todos levantaram e saíram da sala, Susan me olhou e revirou os olhos, saindo em seguida. Um garoto, o mais imbecil de todos, me olhou de lado e disse.

– Quanta atitude, Brown. Por que não sai comigo depois da aula? – Falou piscando asquerosamente para mim. Garoto nojento. Acha que sou uma oferecida.

Recolho meus materiais e saio da sala, tudo que eu menos quero é mais uma anotação por um atraso em uma aula. Pelo menos Ana está nessa também.

– Oii. – Falou Ana me abraçando. – Sobreviveu à aula de história! – Falou impressionada.

Fingi uma cara de sofrimento.

– Foi muito difícil. Ainda mais com a Sra Anã Irritada.

– Você... se meteu em alguma confusão? – Perguntou apreensiva.

– Eu... eu acho que sim. – Falei olhando para os alunos entrando nas salas. – Acho que vou ganhar uma advertência e na próxima vez... Detenção. – Falei sentindo um arrepio.

A Detenção consistia em passar a noite na sede da Patrulha mais próxima. Basicamente você era preso, mas davam o nome de Detenção para não dar um ar cruel ao ato. Dá de pensar que você fica um dia sentado em uma carteira sem fazer nada, mas é muito pior. Você passa a noite em uma cela fria e úmida, sem casaco, já que eles não permitem a entrada com casacos, sem comida, com apenas uma pia para fornecer água, uma água com gosto de cloro, e uma pequena privada, em um canto um colchão velho e puído para você dormir. Não há chance de fugir. Você apenas fica esperando o tempo passar.

– Bom... pelo menos não vai para aquele lugar. – Disse tentando me animar. Eu não poderia fazer nada errado. Senão...

– É... bom, vamos entrar, porque já viu, né. Mais um probleminha e eu vou ter que dormir naquele colchão imundo.

– Nem diga uma coisa dessas porque atrai coisas ruins. – Disse ela.

– As senhoritas vão entrar ou a conversa está interessante demais? – Perguntou meu professor de matemática, um senhor que usa lentes de contato, já que óculos são “fora de moda e horríveis” e que usa uma peruca loira penteada com gel. O problema é que a peruca sempre está caindo, o que sempre me faz levar anotações em sua aula, já que sempre faço um comentário infeliz sobre esse fato.

Tive que morder minha língua para não falar algo como “claro que está mais interessante! Qualquer coisa é mais interessante que essa sua peruca caída.”. “Calma Jessy, fique calma. Respire. Não olhe para a peruca. Acalme-se. Você não quer ir para Detenção, quer?”. Esse pensamento me acalmou, realmente eu não pretendia passar a noite na Detenção.

– Desculpe professor, não vai acontecer de novo. – Respondi. O professor piscou e me olhou como que checando se eu estava realmente bem. Eu podia ler seus pensamentos, “Jessica pedindo desculpas? Que mundo é este?”.

– Nenhum... nenhum comentário... sobre a minha peruca? – Perguntou apontando a peruca caída.

– Não, senhor. – Respondi solene. Percebi que ele arrumou a peruca e só então entendi tudo.

Ele deixava a peruca desarrumada de propósito, pois sabia que eu faria comentários sobre isso. Provavelmente a Zangada deve ter dito para ele deixar a peruca especialmente caída hoje. Eles querem que eu leve Detenção! Só então percebi várias situações estranhas em que nada havia sido minha culpa, mas que mesmo assim, eu levava a pior. Como a professora de química alcoólatra que derramou uma substância no meu experimento, fazendo o mesmo explodir. Quem levou a culpa? Eu.

– Com licença, professor, queremos passar. – Disse a Ana.

– Claro, desculpem-me. – Disse se dirigindo à sua mesa e sentando em uma cadeira confortável. – Bom... hoje veremos a... – Depois dessa frase eu apaguei.

***

– Jessy! Jessy! Acorda! Temos que ir! – Eu ouvia alguém me chamar, uma voz conhecida. Ana! Abri os olhos de supetão e levantei, assustando minha amiga. – Ai! Cuidado Jessy! – Disse ela massageando seu queixo. – Ei, que cara é essa?

– Você sabe... Pesadelos. – Sussurrei.

Ela assentiu seriamente, pesadelos eram uma coisa comum entre Defeitos de Fábrica. Não sei se todos tinham os mesmos pesadelos, porém eles pioravam se você passasse por uma experiência traumática, meu caso. O pesadelo nunca muda, sempre será o mesmo.

– Jessy, vamos. Depois me conte mais. – Disse ela olhando-me preocupada. – Tudo bem?

– Foi... foi o mesmo de sempre... – Falei pegando minha mochila e saindo enquanto pequenas lágrimas se formavam em meus olhos. Ana correu atrás de mim e ficou ao meu lado enquanto eu travava uma luta mental segurando aquelas pequenas lágrimas que queriam sair.

O resto do dia passou como um borrão, não lembrava das aulas que tive, apenas lembrava de que Ana me arrastava pelos corredores para dentro das salas. Eu parecia drogada. Drogada pelo passado. Soquei a mesa e a professora de química virou-se e me encarou.

– Algum problema senhorita? – Perguntou cruzando os braços. – Sabe que pode sair a qualquer momento não é? Sabe também que se fizer isso terei o prazer de relatar o fato à direção. – Disse abrindo um sorriso vitorioso.

– Sim senhora, claro que eu sei. – “Não sou tola como você”, pensei.

– Que bom, eu já duvidava que você fosse capaz de entender algo tão complexo. – Disse saboreando o sarcasmo. Nesse momento meus punhos estavam serrados e minha visão tinha pontos pretos, eu sentia o sangue subindo à cabeça. Estava a um passo de perder o controle.

Jessy, calma! Fica aí sentada e não faz besteira! – Ouvi Ana falar. A professora sorria e eu gostaria de arrancar o sorriso de seu rosto. Ana me deu um beliscão e eu pisquei. Os pontos pretos sumiram da minha visão. A professora parecia decepcionada e muito nervosa. Abri-lhe um belo sorriso.

– Complexo professora? Seu conceito de complexo é diferente do meu, senhora. – Falei sorrindo abertamente. Ela virou-se e voltou a escrever, com uma fúria surpreendente. Olhei para Ana e murmurei um “obrigada” baixinho.

– Não precisa agradecer, não vou deixar você ir para lá. – Disse sorrindo para mim. Ela é minha melhor amiga, com certeza.

Josh Benson virou-se para mim e me mandou um beijinho, ao qual retribui com um revirar de olhos e um “vá se danar”, o que fez Ana rir. Acho que ele não ficou tão feliz, pela forma como me olhou. Não me importando peguei meu caderno de química e abri. Apenas músicas. Matéria? O que é isso? O que mais gosto é compor músicas ou copiar músicas que amo. Não me importo com essa baboseira que o Governo tenta enfiar em nossas cabeças. Começo a escrever alguns trechos de músicas que gosto nos poucos cantos em branco das folhas.

Murmuro um “aleluia” quando o sinal finalmente bate nos liberando para a última aula, que no caso era tempo livre, já que a professora de Educação Física quebrara uma unha ou algo assim e tinha voltado para casa. Ridículo.

Ana e eu sentamos em um dos muitos bancos do pátio da escola e ficamos conversando e falando besteiras. Estávamos rindo quando percebi a aproximação de Susan e de suas amigas. “De novo? Eu não mereço...”. Susan rebolou seus quadris até o local onde estávamos, parou e nos olhou como insetos.

– Ugh, quem você pensa que é para tratar os professores daquela maneira? Deve achar que é alguma pessoa influente. Se liga Jessica, você é uma nada. – Disse ela rindo. Levantei-me e aproximei meu rosto do seu até nossos narizes quase se tocarem. Seus olhos azuis, antes maldosos, agora brilhavam assustados.

– Escute aqui, “Susy”, - Falei fazendo aspas com as mãos. – eu cansei de você e suas piadinhas maravilhosas. Sabe o lugar onde você estava antes? Volta pra lá, ninguém te quer aqui. – Falei encarando-a. Verde no azul. Ela se recompôs, bufou e deu meia volta. Revirei os olhos e sentei novamente. Ana comia um bolinho como se nada tivesse acontecido. Havia um pouco de cobertura em seu nariz, o que me fez gargalhar. Rimos bastante até que fomos todos liberados para irmos para casa. Dei um abraço de despedida na Ana e fui andando.

Estava passando por uma rua vazia até perceber um vulto atrás de mim, o que me fez parar e olhar em volta. Nenhum movimento, contudo, eu sentia que estava sendo observada. Voltei a caminhar e novamente notei um vulto atrás de mim. Parei e esperei. O vulto também parou. Respirei fundo e desatei a correr, enquanto ouvia os passos do desconhecido atrás de mim. Entrei em um beco e me escondi entre dois latões gigantes de lixo. O desconhecido entrou no beco, passou na minha frente e continuou me procurando. Não me encontrando desistiu e deu meia-volta. Soltei um suspiro de alívio, porém uma vozinha na minha cabeça perguntava “por que alguém estava te seguindo? Não parecia um assaltante.”. Decidi pegar o desconhecido desprevenido, olhei em volta procurando algo que servisse como uma arma. Em um canto distante uma garrafa espatifada havia criado lâminas de vidro impressionantes, peguei uma e segui silenciosamente até a entrada do beco. O desconhecido estava um pouco à frente. Dirigi-me furtivamente até ele, quando estava a um passo dele, pulei em suas costas.

Passei meu braço em volta do seu pescoço e com a outra mão pressionei o pedaço de vidro à sua garganta.

– Quem é você? – Perguntei entredentes. – Por que estava me seguindo?

– Calma. Eu não ia fazer nada. – Disse uma voz masculina.

Com agilidade virei-o de frente para mim e pressionei o vidro em seu peito, como um aviso. Empurrei sua toca para trás, mostrando seu rosto.

O garoto tinha cabelos negros rebeldes, claramente tingidos, e olhos azuis eletrizantes. Sua pele era branca como a minha. Ele era magro, mas era possível perceber que também era forte. Seus olhos tinha um brilho divertido, pela situação, e ao mesmo tempo apreensivo por causa da lâmina de vidro.

– Quem... quem é você? – Perguntei novamente.

– Poderia... abaixar a sua... hã... arma? – Perguntou sorrindo.

– Eu vou perguntar só mais uma vez, quem é você?

– Meu nome é Ben. Ben Silverstain. – Disse sorrindo. – Ah, quase esqueço. Eu sou como você. Sou um Defeito de Fábrica.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado!
O segundo capítulo sai semana que vem, e já está quase pronto!
Até a próxima
=*



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