Abra Cadáver escrita por Lúpulo Lupin


Capítulo 4
Capitulo 3




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Veela Café, duas e meia da manhã, Tom acaba de entrar no inferninho. Foi fácil localizar o seu grupo, o local estava deprimente e vazio, e ninguém impediu a sua entrada.

No palco não havia nenhuma dançarina, não foi dessa vez que o pequeno Tom viu uma mulher nua ao vivo, embora ele não demonstrasse tanto interesse nisso. Ao piano, um homem muito magro vestindo um terno preto surradíssimo que já viu dias melhores, tocava uma marcha fúnebre, enquanto, atrás do balcão, uma velha de maquiagem extravagante lavava os copos. Perto do palco estavam os três em uma mesa, visivelmente alterados.

Ed quase dormia em frente a sua caneca de cerveja, Joana estava descabelada e resmungava, Adryan olhava fixamente para o nada.

Tom suspirou tenso. A noite provavelmente foi um fracasso. Não sabia o que havia ocorrido desde que se separaram.

Isso porque, quando deu onze da noite, Slughorn disse que era muito tarde para um menino de doze anos estar no Três Vassouras, por mais genial no xadrez bruxo que fosse (ganhou as três partidas disputadas), e o arrastou consigo de volta para os terrenos das escola.

No entanto, ao chegarem próximo do castelo um bêbado Slughorn chegou a brilhante conclusão de que pegaria muito mal se o vissem perambulando com um menino do segundo ano na calada da noite, e então disse a Tom:

– Olha, você entendeu o esquema, não podem nos pegar, espera aqui uns dez minutos, tempo pra eu chegar aos meus aposentos e depois vai pro seu dormitório, tá bem?

Tom concordou e esperou o velho bêbado entrar no castelo. Aguardou um tempo para ver se o professor iria se arrepender e voltar para buscá-lo, o que não ocorreu. O garoto então girou os calcanhares e foi furtivamente em direção ao alçapão que ligava Hogwarts a Hogsmead.

Demorou um pouco mais que da primeira vez, pois não lembrava direito do caminho: nem para o alçapão, nem da descida da montanha para Hogsmead, nem dentro de Hogsmead para o Três Vassouras, de modo que, quando finalmente chegou, o bar já estava fechando e a atendente Bierta, que fica mais linda a medida que a noite avançava e os copos enchiam, varria a entrada do bar e empilhava as cadeiras em cima das mesas vazias. Assim que viu o menino, chamou sua atenção:

– Garoto, você não deveria estar aqui. O Professor Slughorn te levou de volta pra escola, não quero ter que tratar com o Dippet depois.

– O professor que me mandou de volta! – mentiu - ele disse que esqueceu aqui... suas luvas, e me pediu para pegar.

– Ah é? Esqueceu as luvas? E que horas que ele deu falta delas? São quase duas da manhã. Desse jeito, você não me deixa escolha garoto, vou mandar uma coruja agora pro Profes-

– Petrificus!

Bum.

Pobre Bierta, nem viu o menino sacar a varinha. O corpo enrijeceu, e a mulher tombou pra frente.

E agora?” pensou Tom, e sentou no traseiro da mulher. “Essa imbecil precisa esquecer que me viu, senão vai me entregar, e aí já era pra mim, não posso ser expulso”, concluiu.

Suspirou.

Depois de pensar um tanto - e dar umas palmadinhas no traseiro de Bierta com a varinha - lembrou das aulas Defesa Contra as Artes das Trevas e Poções, e pensou alto enquanto se levantava “Não vai dar pra preparar uma poção agora, e nem sei qual seria, mas lembrei do feitiço”. As pupilas de Bierta tentavam ir ao limite do canto do olho para ver a cara do rapazinho, que falava tudo com calma.

– Tomara que dê certo. Não quero ser expulso - e apontou a varinha para a mulher. – Obliviate!

Bierta teve um sobressalto. Instintivamente, Tom sacou o chapéu de bruxo das vestes e o colocou. Tentou afundar a cabeça ao máximo e puxar as abas pra frente.

Aguardou quase um minuto de apreensão, e então prosseguiu:

– Finite Incantaten – murmurrou em direção a Bierta, e observou o corpo da mulher relaxar, liberando-a do feitiço da petrificação, afinal o do esquecimento não havia como voltar atrás.

Demorou alguns segundos para ela se levantar do chão frio, e olhar pro garoto.

– Quem é voxêee? - perguntou a bartender, enrolando a língua.

– Um viajante, e você quem é? - respondeu o garoto forçando uma voz grossa e escondendo o rosto.

– Num sei!... Sei!... Não... Pera..

– Para de babar e responde sua burra ignóbil – ralhou.

– Asso que... Vierta é o beu dome.. exe lugar... eu goto daquiee.

– Tá bom, tá bom, entra aí e fica na sua.

– E voxê? Quer um dlink? Eu faço ixo, eu silvo dlinks... Tem celveja, visque e,

– Wingardium Leviosa.

– Estou... flutuando... é lindo – disse Bierta maravilhada, ainda dopada pelo feitiço de esquecimento.

Tom conduziu Bierta pelo ar até o balcão e a deitou lá, cuidadosamente fechou a porta do bar, o que foi um alívio, menos um problema. Sua intuição dizia que o colegas não voltaram para Hogwarts, senão Bierta mencionaria algo do gênero.

Então, quando o garoto entrou no Veela e viu os três colegas, não fazia a menor idéia do que havia acontecido com eles desde às onze da noite.

Tão logo se aproximou da mesa despejou uma sacola de veludo na frente de Adryan, a quem ele tinha como líder do grupo.

O rapaz de 16 anos tomou um susto, não havia reparado no menino.

– Ô, meu amigo! Como é que você tá? - disse calorosamente, com a cara toda vermelha.

– Normal, olha, ganhei minhas três partidas de xadrez. Tá aí o resultado das apostas.

Adryan esfregou o rosto, abriu o saquinho de veludo e, lá de dentro caiu um vidrinho com um líquido dourado dentro.

– Que isso?

– É pra gente [arroto] beber? - perguntou Joana entrando na conversa.

– Não! Não agora, pelo menos. É uma poção.

– Que faz...? - perguntou Adryan.

– Não sei, não me falaram. Mas o cara que eu venci gostou de mim, da maneira que venci as partidas, aí na última me deu isso. Depois vou levar a poção pro Slughorn e descobrir, ou procurar um livro de poções mais avançado e descobrir por mim mesmo. Agora não sei se deveria ter mostrado isso a vocês.

– Ô garoto, você só veio aqui por causa da gente, seja mais agradecido, seu pirralho – ralhou Joana.

– Ei – acordou Ed – como você apostou? Fiquei pensando nisso depois que a gente se separou e cada um foi pra sua mesa. – E tirou o cachimbo do bolso.

Tom refletiu se contaria ou não, achou melhor contar.

– Pois é, eu pedi pra jogar. E lógico que não me deixaram, falaram que era mesa de apostas. Pra mim não fazia diferença, por mais que o Slughorn dissesse que eram bons, eu sabia que poderia ganhar daqueles caras, não sei como, só sentia que iria ganhar.

Ed soltou rodelas brancas de fumaça pela boca. E Tom continuou.

– Aí o Slughorn entrou na brincadeira, disse que iria me cobrir, ele tava muito bêbado e apostou 2 galeões em mim.

Nessa altura Tom já tinha a atenção dos três colegas.

– Aí umas rodinhas de bruxos em volta pararam pra assistir a partida, que eu ganhei em menos de três minutos.

– Pera, como? O Slug não é burro, se ele falou que os caras eram bons, eles deviam ser bons – ponderou Joana.

– É, o cara jogava direitinho, mas eu meio que conseguia antever os passos dele, como se eu pudesse entrar na cabeça dele, saber a estratégia, o que faz o xadrez ficar bem mais fácil. - Naquele momento, Tom achou que não deveria ter falado isso, como se tivesse deixado escapar um segredo seu.

Tom prosseguiu e explicou que, com a primeira vitória de barbada, os bruxos em volta se empolgaram, e Slughorn também, e as apostas aumentaram para a segunda partida. O professor fez apostas individuais com cada bruxo, não apenas com o adversário de Tom. E a segunda partida foi mais rápida que a primeira. Desse modo, Slughorn colocou um bom dinheiro no bolso, mas conseguiu a desconfiança dos bruxos que acharam que tudo era golpe.

– Então, um bruxo mais afastado pediu para jogar comigo, mas sem apostas. Disse que não iria apostar num jogo com uma criança, mas falou que se eu ganhasse iria me dar um presente. Não vi seu rosto, estava de capuz o tempo inteiro. A partida foi realmente difícil, ele escondia bem sua men... estratégia, e eu ganhei depois de um tempo considerável. Assim que a partida acabou o cara se levantou e me deu esse vidrinho, mas disse que com o meu talento eu talvez nunca fosse precisar.

– Que bizarro! – exclamou Joana. – Porra, bem melhor que a minha noite. Achei que ia ouvir o velho Slug contando histórias, mas ele foi pra jogatina, aí fiquei na minha bebendo umas cervejas e jogando conversa fora com a Bierta. Olha só que fim de carreira, mas para uma quarta-feira até que tá bom.

– Bom, só digo uma coisa – disse Adryan estalando os dedos magros enquanto se espreguiçava – tem dias que a gente ganha, tem dias que a gente perde, e tem dias que a gente só falta perder a cueca. Hoje o dia foi assim, me depenaram. Fui bem até uma da manhã, aí bebi, me empolguei, comecei a perder, a perder pra caralho, me emputeci, mas no fim consegui ainda um troco pra salvar a saidera, mas o prejuízo foi mais feio que o Ed quando toma um balaço.

– Ei! Faz tempo que não levo um!

– Você tá no time? - perguntou Tom.

– Por incrível que pareça, essa baleia fumante joga quadribol superbem! – gargalhou Adryan.

– Acho que lembro vagamente de você no time, não curto tanto esportes – disse Tom indiferente.

– Bom, só pra dizer que ganhei uns trocados hoje também. E sim, sou o melhor artilheiro da Sonserina.

– Então, são quase quatro da matina agora. Vamos embromar mais um pouquinho pro álcool baixar, que teremos uma caminhada legal pela frente e, se bobear, chegamos com o café já servido no salão principal – sentenciou Adryan.

Os três concordaram. Ed se recostou para pitar seu cachimbo, Joana foi bater mais um papo com a bartender gorda e descolar um drink por conta da casa, Adryan tirou um baralho do bolso e começou a embaralhar apenas de diversão. Tom, de maneira discreta, recolheu o vidro com a poção e o colocou no seu bolso.


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