Filip tentava não escorregar enquanto corria. Ele estava até rápido demais para o corredor encerado da escola. Sentiu falta do diretor que a pouco corria ao seu lado. Diminuiu a velocidade sem parar e olhou para trás.

— Corre garoto, vai logo! Avisa que eu to chegando.

A voz daquele senhor de meia-idade era forte. Mais forte que seu corpo, que tentava a todo custo acompanhar o ritmo do adolescente, mas era óbvio que não conseguiria.

Os dois estavam tendo mais uma dessas conversas de homem pra homem, sentados na poltronas perto da janela, quando viram o carro da Sra. Gonzales, a professora nativa de espanhol, chocar-se com tudo na parede da quadra poliesportiva... Não demorou nem dois segundos para Filip ficar aliviado por não estar na aula de ed. Física. E só mais dois, para se lembrar que Samantha estava lá. Então, saiu em disparada pelo corredor mas ainda a tempo de ouvir o diretor lhe gritar. Sem olhar para trás, respondeu que a irmã estava lá... Ela estava na quadra! Sr. Marcus correu para junto do garoto e o mandou correr com toda energia que não parasse até encontar a irmã. Filip gostava do diretor. Era um cara legal. Às vezes se sentia até um pouco culpado das encrencas que arrumava. Mas sua culpa durava pouco...

Ao chegar na quadra, constatou que todos pareciam estar bem. Assustados sim, mas não feridos. Os dois professores presentes acudiam a mulher que estava ao volante, inconsciente. E viu também, sob a poeira, a irmã ajoelhada perto da parede derrubada. À sua esquerda, havia uma menina de cabelos longos e negros que parecia olhar algo embaixo do portão. Do outro lado, duas loiras em pé. A de cabelos curtos, chorava copiosamente abraçada a outra, que tinha cabelos longos e lisos, e estava, aparentemente, ignorando a histeria da primeira.

Devagar, chegou mais perto, ainda em tempo de ouvir um gemido abafado, e sua irmã nervosa dando ordens:

— Vocês duas aí bem que podiam da uma força aqui, eu e Sofia não vamos conseguir sozinhas...

— AH, PELO AMOR DE DEUS, ELA É AMIGA DE VOCÊS TAMBÉM!!! - gritou a morena ajoelhada que devia ser a tal Sofia. 'Uau, que gata!' foi a conclusão fácil que Filip chegou. Então ele ouviu de novo. Um gemido, um choro, e não era das meninas ali, vinha de baixo. 'Do chão?'... 'Ho não!'

Com os olhos arregalados apertou o passo até chegar atrás da irmã.

— Tem alguém aí embaixo ?

— Filip, aqui, nos ajude... Tem uma garota presa aqui. Pede socorro. Rápido!

Mas ao invez de se afastar e buscar ajuda, Filip fez algo que ele mesmo não pôde explicar depois. Aproximou-se do portão, colocando-se entre sua irma e Sofia, segurando firme a pesada extrutura de metal flexionando os joelhos.

— Afastem-se. - disse com voz firme.

— Filip, esse troço deve pesar uns duzentos quilos no mínimo, e...

Mas o rapaz já levantava o portão. Até o joelho. Na altura da cintura. Até o peito.

— Vão logo! Tirem ela de lá. Ele não vai aguentar muito tempo...- diz Victoria finalmente. Samantha e Sofia voltam à realidade com o grito agudo da loira, se abaixam e arrastam a garota ferida, arrepiaram-se com os gritos de agonia da menina. Uma vez que todas estão a salvo, Filip larga de uma só vez o portão, fazendo muito barulho e finalmente atraindo a atenção dos professores.

Sofia segurava, apoiada sobre as pernas, a cabeça de Ana Clara, enquanto a pequena chorava de dor. Valentina abaixara perto das duas e também chorava muito. Victoria e Samantha encaravam boquiabertas um Filip que ainda recuperava o fôlego.

— Vocês dois - sussurrou Victória para os gêmeos, enquanto os professores socorriam Ana Clara - tem muito o que me explicar.