Lá para as dez horas, Samantha saía da aula de matemática e andava a passos pesados em direção aos vestiários. 'Odeio educação física' - esse era um mantra que as abandonava seus pensamentos. Essa era a única aula que ela e o irmão tinham ao mesmo tempo. Os professores das suas respectivas turmas achavam importante incentivar a competitividade e o trabalho em equipe. Por isso, praticamente todas as aulas eram algum tipo de disputa entre as duas turmas do terceiro ano. Mas para a menina tratava-se de 'um precioso tempo perdido suando, quando poderíamos estar aprendendo algo de útil, aplicável de verdade no mundo real'.

Foi a ultima a chegar no vestiário feminino. Colou um pedaço de esparadrapo no buraco quase imperceptível na parede divisória com o lado masculino. Quando ouviu algumas vozes praguejarem do outro lado da parede em resposta a atitude, ainda conseguiu dar um sorriso de canto de boca, mas se trocou de má vontade.

Quando saiu para a quadra coberta da escola, logo sentiu falta do irmão, que ao contrario dela, sempre amou educação física, e não era de seu feitio cabular essa aula. Até porque a usava como mais um pretexto para se exibir. 'Como se ele tivesse culpa de ser bom em esportes... Deixa de ser boba garota, é só o jeito dele.' Mas no final, a consciência disso não tornava o irmão menos arrogante, presunçoso, orgulhoso... - '...competitivo, implicante, pedante e incrivelmente irritante'.- Conclui enfim.

Depois de intermináveis 40 minutos de um jogo de handebol que parecia não ter fim, tiveram o primeiro intervalo. Samantha caminhou cansada, até o outro lado da quadra onde, num grande isopor, aguardavam várias garrafas dágua já dispostas ali para uso dos alunos. Pegou uma e sentou no primeiro nível da arquibancada de concreto. Ainda nao havia destampado a garrafa quando sentiu um repentino um arrepio. Um peso frio estranho do seu lado esquerdo. Algo difícil de descrever, mas suficientemente forte para lhe causar pavor. Arregalou os olhos e procurou por todo canto, não sabendo bem o que procurar, mas tendo certeza que algo estava errado. Alguma coisa ali estava muito errada...

No lado norte da quadra, em frente à entrada de visitantes, que dava para o estacionamento da instituição, estavam as quatro patricinhas, lamentando a pouca sorte de Ana Clara que havia quebrado uma unha durante o jogo. Samantha agiu com urgência, mais rápido do que a cabeça pôde processar, e logo se viu de pé, praticamente correndo na direção do quarteto distraído. Agarrou os braços de Sofia e Valentina, quase as arrastando até a outra arquibancada. Victoria levou ainda alguns segundos para superar o choque pelo repentino comportamento da colega, mas logo estava atrás delas, deixando Ana Clara para trás sem saber o que fazer. Quando Vic alcançou as três colegas, abriu a boca pra tirar satisfação com a garota pálida à sua frente, mas antes que qualquer som conseguisse sair da sua boca, ouviram um estrondo, e o grande portão de ferro da entrada de visitantes caiu sobre Ana Clara, levando parte da parede junto.