Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 30
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Após tantos anos... Isso foi tudo, pessoal!
Boa leitura!



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 Khalil acordou naquela madrugada pensando no intrigante perfume de banho recém-tomado e o silêncio tinha um aspecto diferente. Alice não estava na cama.

Levantou um pouco o corpo e viu pela janela algo branco esvoaçar para baixo do desfiladeiro que dava para o mar em sua casa. Não conseguiu discernir o que era e pensou que fosse um pássaro fugindo da tempestade prestes a chegar. 

Um som ensurdecedor de trovão acordou Hathor, que chorou a plenos pulmões. "Garoto saudável", pensou orgulhoso, ao juntar a criança a si e se levantar para chacoalhar seu colo na tentativa de acalmá-lo.

Avistou o bilhete na penteadeira e soube naquele momento que o que viu não foi um pássaro. Foi Alice.

 

Entrou em contato com equipes de resgate, mas ninguém foi ajudar por conta do início da tempestade, prometeram procurar "pelo corpo" depois. Ele ficou indignado por aquelas pessoas terem certeza que encontrariam um corpo e não sua esposa viva, porém sua consciência sabia que estavam corretos. Mesmo que ela houvesse sobrevivido à queda, morreria afogada com a forte tempestade que durou dois dias.

 

Foram buscas intensas pelo corpo dela, mas só encontraram o robe que ela usou manchado de sangue, o que os fez deduzir que ela havia caído sobre as pedras e afundou inconsciente.

 

Desde essa noite, já haviam se passado sete anos.

 

***

Em Punta Del Leste, no Uruguai, todos conheciam os gêmeos de cabeça prata: dois pirralinhos terríveis de apenas quatro anos. Cabelos claríssimos como os do pai e os olhos azuis, feito o mar.

A comunidade os viu nascer, filhos dos donos de um restaurante próximo a Casa de Pablo, o rapaz, Miguel, era cozinheiro e a moça, Luna, trabalhava no caixa do próprio restaurante. Eram alegres e muito apaixonados, aparentemente.

Luna estava grávida novamente, desta vez esperavam uma menina.

O casal tinha um sotaque forte e os moradores sabiam que não eram dali, também não tinham família, eram só os dois e em seguida, vieram as crianças, o que deixou a vizinhança completamente próxima deles.

Os dois gostavam reciprocamente dos vizinhos, que nunca perguntaram do passado deles.

 

"— Vamos, garota. Meu amor. Acorde! Por favor, acorde. 

Choramingava o rapaz enquanto fazia respiração boca a boca e massagem cardíaca na mulher, torcendo para que o ferimento na cabeça dela fosse irrelevante. Ficou aliviado quando ela voltou a respirar.

— A tempestade está começando, preciso sair daqui ou nós três morremos.

— Está tudo bem agora, podemos ir. Daqui ninguém nos escutaria fugir.

Quando a moça acordou, estava aquecida e seca numa cama, olhou para o lado e havia um homem ali. Gritou de espanto e o acordou.

— Calma, fique calma. Sou eu, meu bem.

— Você voltou para me buscar! Você veio… "

Luna nasceu neste dia. No dia seguinte em que Alice morreu e Lorenzo se tornou Miguel havia pouco mais de um ano.

Quando a tempestade finalmente chegou, ambos estavam seguros, no meio do nada em uma cabana.

— Estou feliz que conseguimos. - Sorriu ela.

— Ainda não conseguimos, só quando sairmos do país é que saberá que conseguimos.

— Você cortou os cabelos… Nunca pensei que veria isso.

— Precisamos fazer o mesmo com você agora… Tudo está aqui. - Lorenzo apontou para a mala ao lado.

 

Cortou os cabelos de Alice com lâmina de navalha bastante curto, como ela nunca teve antes e a ajudou a tingir numa coloração ruiva. Haviam lentes de contato para ela e as roupas de ambos era em estilo hippie.

A documentação foi arranjada por um colega que o rapaz conheceu na faculdade, talentoso e extremamente inteligente, mas que fazia trabalhos sujos com o privilégio de trabalhar num órgão público para facilitar seu acesso e usava seu talento, inteligência e influência para não ser pego.

Levaram vinte dias para Lorenzo e Alice deixarem a Europa rumo ao Uruguai. 

Agora, sete anos depois, tudo era sombra. Eles tinham uma família, amigos e estavam como sempre deveria ter sido.

Já não tinham mais medo de serem encontrados, porque ninguém mais os procurava. Estavam mortos, afinal. Eram Miguel e Luna.

 

A condição de ficarem juntos, de todos os planos, era que Luna se tratasse psicologicamente de seus distúrbios emocionais, para que pudessem desfrutar da vida que escolheram juntos e tivessem alguma paz. Ela aceitou.

Com as gestações, não podia ser medicada, mas continuou fazendo acompanhamento, progredindo mesmo enquanto escondia grande parte de sua história e seu passado.

 

Saindo da sessão com o psiquiatra, passou em frente a uma banca de jornais e olhou a sessão Internacional. Na capa de uma revista de negócios chocou-se com a imagem: Khalil, quase nada envelhecido, com um garotinho de cabelos negros e olhos azuis como o mar agarrado a uma de suas pernas. A mão dele pousada, insinuando um afago, nos cabelos da criança. A manchete dizia "O homem mais rico do mundo, pai solteiro, inaugura este mês nova ONG para auxiliar pessoas depressivas e com tendências suicidas". Curiosa, abriu na página da matéria.

 

"A iniciativa é em memória de sua esposa, Alice Abdu, que há sete anos cometeu suicídio, deixando o único filho do casal órfão. A intenção é que sejam tratados também familiares e pessoas próximos às vítimas de suicídio, pois segundo o bilionário, "A culpa que sentimos por não percebermos os sinais, ou mesmo os preconceitos que temos antes de saber que a pessoa é realmente capaz de tirar a própria vida faz com que seja muito difícil aceitar a situação e remoemos que poderíamos ter feito algo para impedir". Ele não se relacionou com outro alguém desde então e dedica-se aos negócios e ao filho de seis anos. "Hathor é uma criança incrível, inteligente e eu o amo acima de tudo. Ele é tudo o que me restou de Alice e eu peço todos os dias para que esteja fazendo um bom trabalho como pai, quero que ele cresça sem traumas maiores e que sinta empatia ao ouvir sobre sua mãe e toda pessoa que possa vir a conhecer que esteja passando por problemas difíceis."

 

Finalizou a leitura sem levar a revista para casa. Sentiu um ódio surdo se formar em seu peito.

 

Era menos Luna agora.

Alice estava querendo renascer.

 

Ainda não era o fim.

Um dia, um grande dia, ela iria atrás de Khalil e o faria pagar por tudo. Do momento que a conheceu até a última surra que a deu.

Iria tirar Hathor dele, já que era a única coisa que ele parecia se importar de verdade.

Um dia, um grande dia… que ainda não era aquele. 

Ela não tinha pressa. Poderia esperar mais uns bons anos, para comer bem frio o prato da vingança.

 

Entrou no restaurante, sorrindo docemente para seu marido, que por sua vez não desconfiou que a esposa nunca tinha deixado de ser prisioneira de Khalil.

Uma prisioneira em condicional, esperando pela condenação final, livre ou em prisão perpétua.

Prisioneira da raiva e da revolta.

Tudo escondido num doce sorriso e no amor que fizeram na cozinha, depois que o restaurante fechou.

 


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