Prisoner escrita por bitterends
Indignada sobre como o feto havia sobrevivido a todos os acontecimentos por ela provocados, Alice formulava a melhor das histórias para contar a gravidez ao marido. Pensou muito, mas realmente não queria fazer aborto algum.
O medo de estar gerando um bebê que não era de Khalil a assombrava e ela teria de viver para sempre guardando consigo o segredo da paternidade.
Perdida em seus pensamentos e na enxaqueca que estava iniciando, não viu Salim passar pelo escritório e chamá-la.
— A senhora precisa de algo, dona Alice?
— Salim! Eu… Há quanto tempo conhece meu marido?
— Toda a vida dele, senhora. - Sorriu amigável e carinhosamente.
- Acha que ele gostaria de se tornar pai, algum dia?
— Veja, dona Alice… - o homem iniciou.
— Alice.
— Alice… O menino Khalil teve uma infância complicada, que lhe deixou inúmeros traumas. Não conhece bem os sentimentos parentais. Não sou capaz de responder a esta pergunta.
— Mas ele já era uma criança muito rica, não consigo imaginar quais dificuldades pode ter vivido.
— Ausência de amor dificulta a vida de qualquer ser humano. Com licença, senhora. Ah, quase me esqueci! Khalil ligou durante a noite inteira.
— Oh! - Correu para a bolsa para verificar o aparelho celular desligado desde a tarde do dia anterior. - Meu celular não liga! Estive trabalhando tanto que não me atentei. Ligarei para ele agora mesmo, deve estar preocupado.
— Aposto que sim.
Salim sorriu e se retirou dali. Desconfiava da mulher, que estava sem sair haviam dias e ao primeiro passo de distância de Khalil, correu para fora e não retornou no mesmo dia.
Desconfiou ainda mais quando o patrão ligou outras vezes, alegando que o sogro avisou de que ela havia ido embora haviam horas.
Sentiu ainda um pouco de pena, pois a moça perguntou sobre filhos e ele sabia melhor do que qualquer pessoa o quanto Khalil não queria ser pai e quanto a mínima possibilidade o assustaria.
“ O pobrezinho, ele não tem culpa de não querer filhos. Não me arrependo sequer um minuto de ter assumido seu ato.” E foi ler um pouco, hábito que adquiriu no cárcere.
Enquanto isso, Alice ouvia a voz que ao primeiro toque atendeu ao telefone, do outro lado da linha.
— Quanta preocupação você me deu, meu amor! Por onde esteve, querida?
—Trabalhei bastante. Acabei ficando por Amalfi, querido. Não queria ficar sozinha aqui sem você.
— Ah, mesmo? - Num tom claramente desconfiado, Khalil retrucou.
— Oh, sim. Fiquei com meus pais. - Mentiu para ele.
—Meus sogros… são muito importantes. Você fez bem. - Disse num tom que a ela parecia ameno e sem desconfianças.
Conversaram mais algumas amenidades por mais dois minutos e desligaram.
Alice torcia para que ele estivesse convencido de fato de que ela esteve com os pais. Fechou os olhos e se descobriu rezando.
Em outro continente, por trás de uma mesa de mogno oval de um de seus escritórios, Khalil reclinou a cadeira grande e macia de couro, com seu gato ao encalço, acendeu um cigarro e olhava para a fumaça que soltava das baforadas, traçando estratégias sobre como descobriria por onde andou sua mulher naquela noite.
Respirou fundo, sabia que ela estava mentindo e que o estava fazendo mal, porque nem imaginou que ele teria ligado para a casa dos sogros perguntando seu paradeiro.
Disse ao nada “Minha amada, mentiu justo para mim? O que mais vem escondendo?”
Ele não fazia ideia de que não precisaria procurar muito para descobrir.
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