CAPÍTULO 02 – APENAS O NECESSÁRIO.

Os sapatos pretos estalam ao tocar o piso daquele chão empoeirado. Andava com as mãos no bolso, em direção a segunda porta á esquerda. Chegou onde queria, e sem cerimônia, entrou no simples apartamento ao qual morava.

E, como era esperado, lá estava ele sentado desleixadamente no sofá.

- Grande, Sasuke! - gritou o seu companheiro de moradia, Suigetsu. - E aí? O que achou de seu novo trabalho?

- Nada de outro mundo. Apenas terei que tomar conta de uma garota. - respondeu simplesmente, retirando a jaqueta preta dos ombros.

- Mas não é uma garota qualquer... - Suigetsu se levantou, andando de fininho até ele. - É a sobrinha da nossa futura presidente, Tsunade!

- Isso não tem importância. - deu de ombros, andando a um pequeno espaço que chamava de cozinha, incorporada com a sala de estar. De dentro da geladeira, retirou uma caixa de suco que começou a beber.

- É... Pelo menos com o seu salário, você poderá sustentar nós três.

- E quem disse que farei isso? - o olhou do canto dos olhos negros.

- Encare a realidade, Sasuke. - riu, voltando para o lugar onde estava.

- Alguém me ligou? - perguntou o Uchiha se aproximando.

- Não, não. Hoje esqueceram de você, Sasuke.

- Hmm... Vou dormir.

- Mas já? O Jugo foi comprar o nosso jantar...

- Não estou com fome.

- Argh. Você não muda. - murmurou o azulado.

E sem se importar, Sasuke se trancou em seu quarto. Deitou na cama, cobrindo os olhos com as costas das mãos. Não estava cansado, mas também não queria conversar com ninguém. Apenas queria ficar sozinho.

Esse trabalho... Por que Suigetsu ficou tão empolgado...? Não passa de um idiota!

Não há nada nesse emprego que o agrade. Incrível que, aparentemente, muitos desejariam estar no lugar dele. Mas ele, Sasuke Uchiha, não vê tantas vantagens. Talvez tenha sido por isso que fora contratado... Por sua falta de interesse, não o fazendo transparecer um louco qualquer.

Era sua única opção. O dinheiro, que não era pouco, o ajudaria. Além da ajuda dele, que provavelmente também estava se esforçando.

Em alguns meses, com toda a certeza, ele alcançaria o que desejava.

- Só mais um pouco...

~o~o~o~

- O que você achou do Uchiha, Sakura? - indagou Tsunade, sentada a mesa com a sobrinha.

- Ele é... legal. - respondeu sem olhar para a tia, revirando o jantar em seu prato. - Só é um pouco sério. - um pouco?

- Isso é de se esperar. Ele é o seu segurança; não o contratei para ser seu amigo. - a loira se mostrou séria.

- Eu sei... Desculpe. - e era real o susto que Sakura sentia ao ouvir o tom de voz de Tsunade.

A beleza, às vezes, esconde características perigosas. Tsunade era a prova viva disso.

Muitos diziam que Sakura se aproximava muito da personalidade da tia, porém, até agora, a rosada ainda não havia notado semelhanças tão fortes entre elas. Tsunade poderia ser assustadora, com toda certeza!

- Não se preocupe, Sakura. É só até as eleições terminarem, eu prometo. - ouviu a tia lhe dizer.

Olhou-a por alguns segundos, em pleno o silêncio.

- Sabe... A Ino gostou dele. - comentou em meio a um sorriso.

- E isso é novidade? - Tsunade arqueou uma sobrancelha.

A ironia estava amostra, o que fez as duas sorrirem cúmplices.

- Sakura, somente lhe peço que não faça nenhuma besteira. - parou de sorrir. - Qualquer escândalo ligado a alguém próximo a mim, me causará grandes problemas. Além de trazer pontos para a concorrência, o que não seria bom para ninguém. - e não estava enganada a utilizar um tom bem abrangente.

- Não se preocupe, Tia Tsunade. Lhe asseguro que irei me comportar.

E por traz daquele sorriso, havia a resposta mais convincente e racional.

Como faria algo, se uma 'sombra' a perseguia?

Ressaltando que jamais agiria de forma imprudente. Respeitava Tsunade, e para ela, daria todo o apoio que estivesse em seu alcance.

~o~o~o~

Era mais uma manhã de quinta-feira. As duas primeiras aulas passaram lentamente, como se em algum momento houvessem diminuído a velocidade do filme que acontecia perante de seus olhos.

- É, vamos esperar, porque agora é a aula do Kakashi-sensei. - murmurou Ino, da cadeira atrás da sua.

- Será que ele vai demorar...? - comentou Hinata, na cadeira ao lado.

- Tomara que ele se atrase uma hora!

- Espero que ele nem venha... - disse Sakura em meio a um suspiro.

Isso não era algo normal, então as duas mulheres a fitaram curiosas.

- Er... Sakura... Você está bem?

- Não é nada. Eu só quero ir pra casa. - sussurrou, encostando a testa no próprio caderno.

- Ah, para com isso, Sakura! - Ino tentou anima-la – Levante essa cabeça e aguarde o Kakashi-sensei conosco, como sempre fazemos. Olha, até o Shikamaru parece mais acordado!

- Isso é porque a Temari está do lado dele. - não reagiu.

- Pois eu estou aqui do seu! Anda, deixa eu fazer uma trança nessa sua cabeleira.

- Tá, tudo bem. - e como sua única opção, Sakura ergueu a cabeça, ficando em uma posição melhor para que a Yamanaka pudesse tocar em seus longos cabelos.

- E o seu segurança, Sakura? - a tímida Hinata perguntou.

- Deve está parado aí na porta.

- O que eu daria para ser uma abelha e voar pertinho daquele. - a loira suspirou nostálgica – E então? Já descobriu alguma coisa dele? - os olhos brilharam de ansiedade.

- Acredite, é mais fácil falar com a parede do que com Uchiha Sasuke. - entortou o canto da boca ao lembrar daquela expressão tão séria. Nos últimos dias, teve que conviver com ela.

- Mas até as paredes tem ouvidos, querida.

- Por que você não o convida para a festa? - Tenten, que estava próxima a elas, resolveu se intrometer.

- Ele já vai comigo. Esqueceram que eu não saio sem ele?

- Ihh. É verdade... Melhor ainda, não é? - sorriu.

Concordou, virando levemente o rosto para o lado.

Será que elas não percebiam? Ficar ao lado de Uchiha Sasuke era torturante. Não pela beleza, que muitas enxergavam nele, e que para ela parecia algo normal. Não, não era isso.

O incomodo se encontrava no fato de ele agir como se ela não existisse.

Falar com ele, ou até dar uma simples ordem, era o mesmo que tentar arrancar palavras de uma porta. Algo que não daria resultado, e que a tornava uma perfeita idiota.

- Vamos tentar falar com ele?

E ouvindo essa sugestão, viu a possibilidade de alguém se juntar a ela em suas tentativas inúteis.

- É brincadeira, não é? - teve que ter certeza.

- Eu pareço estar brincando? - e Ino se mostrou séria do que propôs.

- Pra mim tudo bem. - Tenten apoiou.

Elas ficaram malucas?

- Meninas, vocês não vão conseguir. O melhor é deixar-

- Não se preocupe, Sakura. Um dia você irá nos agradecer. - sorriu. - Agora, vire para a frente, se não a trança irá ficar toda torta.

- Mas, Ino... - não pode terminar.

E dessa vez, foram os passos de Kakashi que a interromperam.

- Desculpem o atraso, meninos. Um cachorrinho indefeso estava perdido e eu tive que ajudá-lo.

- Essa foi a desculpa da semana passada, Kakashi-sensei. - alguém disse bem alto, e provavelmente essa pessoa fora Kiba.

- Sério...? - dessa vez não funcionou. - É porque foi o irmão desse cachorrinho, que também estava perdido, mas agora ele está bem, já que eu o ajudei.

Foi inevitável uma gota escorrer pela testa de quem se encontrava na sala.

Entretanto, apenas uma ficou excluída dessa reação.

O que lhe preocupava?

Isso, nem Sakura conseguia responder. Ou... não queria acreditar?

Mas afinal, não havia problema algum em falar com ele, não é verdade?

Bobagem. Não tinha o que se preocupar.

~o~o~o~

No intervalo, ela ainda acreditava que não tinha motivos para se preocupar. Sendo assim, porque sentia-se tão nervosa?

Talvez fosse porque sabia que não havia como falar com ele.

Começando que, agora, apesar de ele estar a pouquíssimos metros, Sasuke aparentava estar totalmente indiferente ao que acontecia ao seu redor.

Não tinha como.

- Psiu. Sakura.

Ignorar não era uma saída, então teve que olhar para as amigas que estavam junto a ela.

- O que foi? - se fez de desentendida.

- Vai lá. E chama ele. - Tenten lançou o desafio. Bem, era um desafio para ela.

- Ele está ocupado, meninas. - tentou.

- Olhando de cara feia para os outros?

- Coragem, Sakura. - Ino interveio. - Você só tem que chama-lo para cá. Só isso.

Havia escapatória?

- Okay. - suspirou pesadamente, colocando-se de pé.

De imediato, percebeu a reação dele ao vê-la fazer isso.

Sasuke acompanhou cada mínimo detalhe do andar da Haruno, até ela ficar em frente a ele. Era admirável o seu comportamento perante os olhares que, constantemente, recebia de qualquer um que estivesse naquela área de refeição.

Sakura, ao receber aquele olhar tão impenetrável, não questionou a vontade incontrolável de apenas fitar o chão, como sempre fazia ao estar perto dele. Pelo visto, as garotas do colégio possuíam mais atitude, com certeza.

Respirou fundo.

Ele aguardou que ela falasse.

- Er... Sasuke... - ainda olhava para o chão. - Você precisa de alguma coisa?

Ele estranhou a pergunta, mas permaneceu imóvel.

- Não. - foi curto ao responder.

Alguns segundos de silêncio, até que ela resolveu continuar.

- Tem c-certeza? - porém, o nervosismo não cooperava. - Não está com fome?

- Não.

- E cansado? Talvez queira sentar? Ou esteja... com sede?

Nada.

- Se você quiser, eu posso comprar algo para você comer. - não desistiu. - Eu não me incomodo. E também, você não tem que ficar em pé o tempo todo. É cansativo e-

- Por que você está falando comigo?

Ela ficou surpresa pela primeira vez ouvir respostas além do 'sim' e do 'não' naquele dia.

No entanto, o tom dele era o mais notável.

- É... É que... Eu acho... - o que responder? - Não vou mentir pra você. - talvez a verdade? - Minhas amigas querem te conhecer e me pediram para vir até aqui. Eu falei que não rolava, mas elas não me escutaram. Me desculpe. Sei que você deve achar-

- Pare de falar.

Ela arregalou os olhos. Ele...?

- O que disse? - olhou para ele.

Sasuke, por incrível que pudesse parecer, tinha as sobrancelhas franzidas, com o olhar dirigido a ela. Sim, á ela, Sakura..

Uma corrente correu por todo o seu corpo, sentindo-se presa naquele simples gesto indiferente.

- Você não precisa falar comigo. - ele continuou. - Eu apenas estou fazendo o meu trabalho. Não preciso ter um contato direto com você, apenas em caso de perigo. Por essas condições, é que aceitei estar aqui.

Ela se viu sem palavras, o olhando estática.

- Além de que sua voz é irritante. Por favor, só fale comigo quando for necessário.

E tudo começou a parecer irreal. Os olhos verdes, por pouco, não saltaram das órbitas. A boca, levemente aberta, transmitia a incredulidade.

O tom tão seco, foi como uma droga que paralisou totalmente todo o seu corpo e qualquer raciocínio.

Era como se tudo o que havia conquistado, que pretendia se tornar algum dia, fosse riscado de seus planos mais íntimos, que nem mesmo conhecia.

Piscou algumas vezes, tentando compreender o que acontecera.

Estaria enganada? Ele... Ele a chamou de... irritante?

CONTINUA...