Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais


Capítulo 8
Capítulo Oito




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Regina observa sua filha deitada sobre a cama do casal. Brinca com seus dedinhos e canta baixinho para atrair a atenção da menina. Recebe o mais lindo sorriso banguela que alguém pode receber. Tudo tão doce e delicado!

Não havia conversado com Vasco desde que ele tinha retornado do escritório. Apenas o observara de longe, banhando, alimentando e deixando a menina sobre a cama para organizar as roupinhas dela nas gavetas. Ele era perfeccionista em suas atividades e aquilo começava a encantar Regina. Emociona-se com a possibilidade de perdê-lo.

– Vasco...

Ele a olha com atenção e não responde. Apenas a olha.

– Venha até aqui, por favor.

Deixando sua tarefa, o homem atende ao pedido e vai sentar-se ao lado da esposa.

– Acha que estou sendo egoísta? Um monstro?

– Não. Está apenas perdida em seus próprios desejos. Quer ser feliz com o homem que você ama, porém não quer deixar o homem que ama você. O seu desejo era ter um homem que a amasse incondicionalmente e eu surgi. Nada dizia que você amaria este homem.

– Vasco, como pode determinar os meus sentimentos?

Ele sorri e acaba com as defesas de Regina. Aquele sorriso era perigoso demais!

– Não estou sendo rude a este ponto, meu amor. Apenas sendo realista! Você é loucamente amada, mas não me ama com o mesmo fervor. – ele toca o ombro de Regina de maneira absolutamente formal e respeitosa. – Estou facilitando a sua vida, porque a quero feliz. Lembre-se de que o único amor que dura pra sempre, é o materno.

Regina se aproxima do marido e beija-lhe demoradamente os lábios.

– Minha vida está perfeita, Vasco. Não quero perder você e Yasemine.

– Você não perderá Yasemine. Ela ficará sempre em sua vida, mesmo que eu vá embora. Vou sofrendo por ter de abandonar nosso matrimônio, porém ficarei feliz sabendo que você estará nos braços do homem a quem foi destinada. A história de vocês estava escrita e mesmo a página tendo sido arrancada, continua escrita. Mesmo que a página seja queimada, o conteúdo já foi escrito e é conhecido.

– Robin tem família...

– Marian não o quer mais. Ela será independente e eu irei ajudá-la para isso. Darei a ela todo o apoio que precisar para recomeçar a vida longe de Robin. Ela é uma mulher bonita, inteligente e elegante, bastando ser lapidada. – ele desfaz o sorriso. – Você pode ficar em paz com seu amor, porque eu ficarei bem.

Outro dia surge na cidade.

Regina acomoda-se naquele banco de madeira nas docas e aproxima Yasemine de seu peito, aconchegando-a ali em seus braços. Beija os cabelinhos escuros da garota e sorri com aquela felicidade momentânea.

Por que deveria abrir mão daquilo tudo? Por que deveria permitir a partida de Vasco, mesmo sabendo que receberia o amor de Robin? Por que deveria abrir mão de todos os cuidados oferecidos por Vasco, para ser tratada como uma mulher comum? Por que uma vez em sua vida, não poderia ser frágil e protegida? Por que tinha de ser o escudo para todas as situações de ataques?

Ela havia criado Vasco e estava confortável em sua felicidade fantasiosa. Não deveria sentir-se culpada por ser amada e estar em um momento radiante como mãe e esposa. Por que fugir desta realidade e enveredar por uma vida que não lhe daria realização completa?

Ao olhar os olhinhos de Roland, sempre encontraria ali uma cobrança implícita, e mesmo que o menino não a acusasse agora pelo afastamento dos pais, essa situação aconteceria mais tarde. Ela seria feliz e amada ao lado de Robin, porém, teria de fechar os olhos para a infelicidade de Marian e Vasco. Seria justo com todos os envolvidos na situação?

Ah, Robin! Amor de sua vida! O homem com o leão tatuado no braço, o guerreiro, o homem apaixonado e apaixonante! O homem viril, protetor e valente, além de amado! Ela o queria em seus braços e em seu corpo como havia acontecido antes, numa época de felicidade fugaz e mentirosa. Egoísmo ter aquele homem de volta? Por que pensar nos sentimentos alheios, se ninguém nunca havia respeitado os seus? Nem mesmo sua mãe, que pela ordem biológica da natureza deveria ser sua protetora, mostrou consideração com o que o seu coração dizia!

Ah, Vasco! O dono do amor que ela recebia! O homem surgido de suas fantasias e desejo de proteção! Com ele, toda a solidão havia partido e o medo de um final sombrio tinha ido embora de vez. Vasco era a encarnação do homem perfeito, o Cavaleiro Inexistente sem a armadura reluzente, mas com o dever de amar e proteger! Vasco havia lhe dado Yasemine e assim provado ser um homem real, um amante fogoso e um marido provedor em todos os aspectos. Mas ela não amava o homem real e amava o homem que havia vindo em atendimento aos seus pedidos noturnos.

Desta vez, ela iria ouvir cada som emitido pelo seu coraçãozinho, que graças a Vasco e Yasemine, estava perdendo aquela tonalidade escura e assustadora. Ela seria uma pessoa serena novamente e pouco se importava em entrar para o time dos heróis, se sua alegria e felicidade estivessem caminhando lado a lado em sua existência.

Tomaria sua decisão consciente e focada no que seria melhor para sua alma e para sua pequena filha. Ambas eram as pessoas mais importantes no mundo, naquele momento e não permitiria interferência naquilo que resolvesse para os seus dias futuros.

Desta vez, ela se via completamente nua e desarmada em uma floresta escura e assombrada, diante de uma estrada com bifurcação. O que fazer?


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