Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais


Capítulo 7
Capítulo Sete




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Vasco limpa a boca de Yasemine e a posiciona em seu ombro para a corriqueira sessão de arrotos. Era seu momento preferido, porque a menina costumava emitir sons engraçados.

– Vasco, há alguém querendo falar com você. – a voz do funcionário tira o homem de seu devaneio prazeroso.

Ele se vira para encontrar o homem acompanhado por uma mulher morena, vestindo roupas grosseiras e uma capa sobre os ombros.

– Por favor, sente-se! – Vasco gesticula apontando a cadeira e depois agradece ao funcionário, com um sorriso. Em seguida, termina sua tarefa e acomoda a filha no berço num dos cantos do escritório. Volta-se para a visitante e sorri lindamente. – Em que posso ajudá-la?

A mulher sorri timidamente.

– Eu sou Marian e fui orientada a pedir auxílio ao senhor.

– Por quê?

– O senhor é casado com a nossa prefeita e informaram-me que os serviços sociais ficam por sua conta. É seu encargo.

Ele sorri discretamente e move rapidamente o rosto para afastar a franja da testa.

– Seria meu encargo se eu tivesse alguma função na prefeitura. Mas como a senhorita por ver, sou um microempresário e não me envolvi com os assuntos da prefeita.

– Mas eu preciso de ajuda.

– Sim, talvez eu possa ajudá-la, mas não como funcionário da prefeitura. O que deseja?

Marian mexe nos próprios dedos e mostra-se nervosa.

– Meu filho passou por uma consulta e foram encontrados alguns problemas. Precisaremos submetê-lo a alguns exames que são muito caros. Pensei que o senhor poderia ajudar-me.

Um sorriso sarcástico surge na boca pequena de Vasco. Ele poderia aproveitar-se da situação.

– A senhora é a esposa do ladrão. O atrevido que está interessado em retomar o romance com minha esposa. Ele a enviou aqui?

– De forma alguma! – ela se levanta. – Acha que é fácil vir implorar ajuda a um desconhecido?

– Sei que não é, Marian. Mas há de convir que é estranho.

A mulher controla sua respiração e tudo o que desejava era chorar, chorar e chorar.

– Preciso de ajuda, Sr. Vasco. Não tenho a quem recorrer... os exames são caros e o que ganho na lanchonete é pouco para nossas necessidades.

– Certo, vamos comer algo e conversar.

Desta vez, Marian estava como cliente na lanchonete. Era a convidada de Vasco.

– Vamos dar uma guinada em sua vida. Creio que a primeira atitude é resolver o problema do pagamento dos exames. Depois precisaremos encontrar um bom lugar para que você e Roland morem. Vamos conseguir roupas adequadas para vocês dois e um emprego decente para você, com bom salário de onde eu possa descontar o que será pago nos exames.

Marian sorri.

– O restante será com você.

– Eu não sei ler e tampouco mexer com essas bugigangas que as pessoas usam neste reino.

– Eu a ensinarei, porque preciso de uma pessoa confiável para cuidar de minha filha. Ela não pode ficar comigo o dia todo, em meio às minhas viagens, reuniões e naquele escritório. Tampouco quero que ela fique numa creche. – ele bebe um gole de café. Percebe um olhar admirado em Marian. – A senhora é uma pessoa confiável, espero.

– Pode buscar informações com quem conviveu comigo. – ela arrisca um sorriso e começa a sentir-se mais à vontade com aquele homem.

– Vou conversar com o Dr. Victor, para que ele se encarregue do tratamento do menino. Enquanto isso, liberarei um crédito em uma loja, para que adquira roupas para você e Roland. Quero os dois bem arrumados para causarem boa impressão.

– O senhor sabe que Robin...

– É seu marido? Sim, eu sei. Mas isso não será empecilho para que você trabalhe para mim. Estamos os dois no mesmo barco e conhecemos o sofrimento um do outro. Por que não sermos solidários?

Marian exibe um sorriso tímido. Ser solidária aquele homem seria uma forma de proteger-se, amparar Roland e ainda mostrar ao mundo que tinha alguma utilidade e que estava viva.

– Seremos amigos, Sr. Vasco! – ela estende a mão e a sorri ao ver o homem retribuir o cumprimento. – Não terá melhor amiga do que eu!

– Posso apostar nisso, porque não tenho amigo algum. – ele se levanta e deixa algumas notas para pagar o lanche. – Tenho de retornar ao meu serviço e cuidar de coisas pessoais. Sei que nos veremos em breve. Boa sorte!

Marian sorri e concorda com um movimento de cabeça. Observa-o apanhar o descanso onde estava o bebê e retirar-se dali. Por segundos deixa-se embebedar pela beleza daquele homem.

Ela acompanha o trajeto dele até sua saída da lanchonete. Era um solitário, temido, odiado ou talvez muito admirado, mas solitário. Sorri diante de seus pensamentos maliciosos, sonsos, mas talvez possíveis. Por que não divagar em sonhos? Afinal, sonhar era a única coisa livre de impostos e cobranças.


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