Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais


Capítulo 21
Capítulo Vinte e Um




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Ainda com os olhos baixos, Vasco tenta responder sem provocar dor em si mesmo.

– Eu amo uma mulher. Ela é um fantasma em minhas lembranças. Amo um fantasma. – ele encara Marian. – Seja franca comigo porque estou muito confuso. Você foi a minha primeira esposa? Yasemine é a sua filha comigo?

Marian não contém a gargalhada.

– Eu poderia tirar vantagens disso e produzir muito sofrimento em Regina e Robin. Porém, não seria justo com você, Vasco. – Marian segura as mãos do homem. – Aprendi a admirar você não abriria mão de nossa amizade por nada. Confesso que desejei unir forçar com você para destruirmos o amor dos dois amantes, entretanto, decidi agir sozinha quando vi que você se afastou para dar espaço para as decisões de Regina.

Vasco tenta sorrir.

– Meu plano era adormecer os amantes e quando despertassem, nenhum dos dois iria recordar um do outro. Mas você bebeu o vinho destinado à Regina! Perdeu as memórias sobre seu amor, mas não perdeu o amor. Sabe que ama alguém, contudo, não sabe quem. Eu poderia tirar proveito disso, mas seria covarde demais com alguém tão valioso como você.

– Perdi minhas memórias e não perdi meu amor. Então, o fantasma sem rosto, a mulher sem rosto que amo...é Regina?

Marian dá de ombros.

– Sim.

– Regina é a mãe de Yasemine?

– Sim. E você sempre soube disso. Apenas não queira assumir a verdade. – ela sorri. – Penso que essa situação foi excelente para que Regina amadurecesse e percebesse que não é Robin o verdadeiro amor dela.

– Não consigo transferir o amor que sinto pelo fantasma, para Regina.

Marian sorri suavemente e toca o rosto do amigo.

– O que está impedindo a transferência é o seu orgulho ferido. Você sabe que Regina iria deixá-lo para viver com Robin e essa troca o ofendeu como ofendeu a mim. Eu amo Robin, mas digo a mim mesma que ele não merece receber o meu amor. – ela dá de ombros. – Talvez, você sinta o mesmo que sinto.

Um sorriso tímido emoldura a boca pequena de Vasco.

– Regina e eu estamos dividindo a mesma cama.

– Sinto uma inveja sadia. Pode existir inveja sadia?

– Algumas vezes desejo entregar minha vida para Regina...

– Eu quero que você se entenda com sua esposa. Assim, ela deixará Robin livre e talvez ele repense em nosso casamento. Eu o amo e perdoaria esse deslize dele. Mas caso isso não ocorra, já percebi que em Nova Iorque há outras e muitas opções.

Vasco estava radiante depois da conversa com Marian. Tinha deixado a amiga na lanchonete da viúva Lucas e ido ao escritório organizar as coordenadas para o dia. Não queria esperar até a hora do almoço para encontrar-se com Regina, porque seu desejo de ter aquela mulher em seus braços era muito grande.

Ele tinha acesso livre à Prefeitura e à sala de sua esposa. Mas naquele dia, a secretária surge como uma leoa defendendo a cria, para impedi-lo de entrar no gabinete e aquela atitude faz ferver o sangue de Vasco.

Pela primeira vez em sua vida, ele se torna rude e agressivo, forçando a entrada na sala e quase atropelando a funcionária. Algo estava errado naquele lugar e ele iria descobrir.

Não. Ele não deveria ter descoberto. Ao abrir a porta de supetão, Vasco depara-se com a esposa sentada em um dos sofás segurando as mãos de Robin e olhando com tanta ternura, que poderia sentir o cheiro do sentimento.

Dois pares de olhos suplicantes viram-se na direção do invasor e exibem-se úmidos pelas lágrimas. Era a visão mais triste que Vasco já havia presenciado. E naquele momento seu coração escorre dentro de seu peito.

Incrédulo e humilhado, Vasco não se sente na obrigação de conter seus sentimentos e emoções. Deixa as lágrimas correrem pelo seu rosto e formarem uma cascata cristalina.

Regina solta as mãos de Robin e levanta-se do sofá. O homem faz o mesmo e enxuga os olhos com a manga do casaco. Haveria uma explicação.

Envergonhado, Vasco sai dali. Pensa ter recebido a mensagem final para seus conflitos.

Quando Regina chega em casa, a encontra completamente vazia de sons e de presenças. Pelo menos pensava assim, quando a babá surge da cozinha e sem o bebê nos braços. A jovem sorri.

– Onde está Vasco e Yasemine?

– Ele veio pela manhã e apanhou a menina. Não me disse para onde iria.

– Estou tentando falar com ele, mas não atende ao celular.

A jovem aponta com o dedo para um móvel.

– Ele deixou ali. Apanhou outro aparelho e saiu.

– Você viu se ele estava nervoso?

– Nervoso não. Muito triste e com os olhos vermelhos pelo choro. Não me disse palavra alguma. – ela tenta ser serena.

Regina tinha de encontrá-lo porque precisava conversar e esclarecer aquela cena vista em seu gabinete. Seu coração estava tranquilo porque não sentia culpa alguma, por não ter traído a confiança de Vasco. Tudo seria explicado com uma conversa, caso ele a quisesse ouvir.

E mesmo que não quisesse, iria ouvia-la, mesmo que para isso tivesse de amarrá-lo e amordaçá-lo.


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