Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais
– Vasco, este é Robin, de quem lhe falei.
Sem modificar sua expressão facial, Vasco continua encarando o visitante.
– Esta é minha filha, Yasemine. Minha e de Vasco. – Regina tenta tirar a garota dos braços do pai, mas ao encontrar resistência, desiste. – Robin retornou para nossa cidade, com a esposa Marian e o filho Roland.
– É...eu retornei. – ele se volta para Regina. – Casada?
Vasco abre espaço com a força de seu corpo e sai da casa, totalmente mudo, assim como havia chegado.
– Você se casou, Regina? Pensei que me esperaria!
Ela acha graça nas palavras do homem.
– Fizemos a nossa escolha, Robin, pelo bem de seu filho. Abri mão de minha felicidade para evitar que Roland crescesse longe de você e para proteger Marian. – ela se mostra nervosa.
– Você se casou! E já tem uma filha?
– Um dia, Vasco me disse que aqueles que dizem me amar, preferem ver a minha dor e minha solidão. Você é um deles, Robin?
– Claro que não! Mas você sabia que eu retornaria!
– Sabia? E isso iria acontecer quando? – ela cruza os braços diante do peito para esconder seus tremores. – Eu teria de ficar sentada em minha cadeira de balanço, fazendo tricô e esperando a sua volta triunfal?
Robin leva a mão à testa e começa a andar de um lado ao outro.
– Inacreditável! Então, você não me amava como dizia!
Regina aproveita a porta aberta e indica a saída da casa, para o homem.
– Poderemos conversar em outra hora. Agora tenho reunião e ainda preciso conversar com meu marido.
– Estamos na Pensão da Vovó. Por favor, venha conversar comigo!
Quando Robin passa pelo portão, observa Vasco parado em pé ao lado do carro, com a mesma expressão de pedra em seu rosto. O homem tinha ótima aparência, era jovem e estava suprindo completamente a sua ausência. Não conseguia digerir a novidade: Regina casada e mãe de uma menina!
Os homens encaram-se por segundos e depois cada qual segue seu destino.
O dia não havia sido fácil para Regina. Sua cabeça estava confusa e seu coração dividido por dois amores. Jamais imaginaria viver uma situação como aquela.
Depois do almoço, dirige-se para o escritório de Vasco e o encontra trabalhando em seu computador, tendo ao lado o descanso do bebê. Ele não queria babás e estava disposto a cuidar da menina ao longo do seu dia, até que ela ficasse mais forte e pudesse ser entregue aos cuidados de profissionais.
– Olá! – Regina aproxima-se do marido e beija seus lábios. Em seguida apanha a garota risonha e vai sentar-se num sofá. – Peço desculpas pelo constrangimento ocorrido esta manhã.
– Eu vi o beijo que ele deu em você.
– Fui pega de surpresa... – Regina tenta mostrar naturalidade.
– Mas não refutou. Deixou que ele continuasse tocando você. – Vasco vira-se na cadeira e olha a esposa. – Poderia ter afastado seu corpo, assim que foi atacada por aquele animal.
– Robin e eu vivemos uma história intensa demais para ser apagada com um simples gesto.
Vasco arqueia as sobrancelhas e volta-se para a tela do computador.
– Caso você não deixe claro que não o quer mais, ele virá outras e outras vezes. A menos que você queira que ele retorne.
– Vou ignorar a sua provocação. Sei que é por ciúmes.
Um som abafado e risonho é a primeira resposta de Vasco.
– Você terá de pôr um ponto final nas esperanças desse ladrão. Você sabe que mesmo sendo perdoados, erros são erros. E sabe também, que não assimilo bem os erros alheios.
– Claro! Eu me esqueço de que você é a perfeição, o modelo com código de honra.
– Sabe que sou. Preto é preto, branco é branco e não deve haver cinza em nosso casamento. O que é certo é o que deve prevalecer.
Regina move a cabeça negativamente e acha graça.
– Não estou disposto a fazer concessões. Você está?
– Não. – Regina beija as bochechas da filha. – Vou conversar com ele, logo mais, na Pensão.
– Faça isso, meu amor. Ou eu farei e minha origem não me permite apenas batalhas no campo verbal. Jamais se esqueça disso!
Em sua alma, Regina sabia que aquela situação deveria ser completamente destruída. Robin era passado e deveria ficar teoricamente no passado, mas seu coração latejava dizendo o contrário e provocando as mais diversas lembranças.
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