Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais


Capítulo 17
Capítulo Dezessete




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Regina e Vasco acomodam-se deitados um de frente com o outro. Ela se movimenta e entrelaça sua perna na perna dele, criando um clima de plena cumplicidade.

– Você tem conhecimento sobre sua criação, Vasco?

– Tenho.

– Você sabe por que veio para esta cidade?

– Sei que fui criado pelas fantasias noturnas de uma mulher solitária e que minha função era amar e proteger essa mulher.

– Essa mulher quis alguém que a amasse incondicionalmente, sem questionamentos e sem condenação pelos seus atos no passado. E então, em suas fantasias ela criou você e foi presenteada com sua chegada à vida dela.

Vasco pisca pesadamente e depois sorri.

– Essa mulher tornou-se sua esposa e não soube apreciar o amor oferecido a ela, a delicadeza e a admiração com que seus dias foram enfeitados. Desse relacionamento nasceu Yasemine e isso provou que o homem que ela havia imaginado, realmente existia.

Vasco estreita os olhos, atento na fala daquela mulher encantadora.

– Mas ela não aceitou ser plenamente amada e continuou acreditando que seu deveria esperar pela volta do homem a quem havia sido destinada. Porém, o homem estava com a esposa dele e o filho, numa outra cidade. E um dia, esse homem retornou, deixando esposa e filho para trás, a fim de viver um louco amor com essa mulher.

– Com a minha esposa...

– Sim. Ela e o homem pensavam que tudo iria se resumir ao espaço de seus abraços e ao contorno de seus lábios. Mas o mundo era além disso. Pessoas foram magoadas para que a felicidade dos dois ficasse completa.

Sem esboçar reação, Vasco continua atento à narrativa.

– Uma das pessoas ofendidas e magoadas não quis apenas observar a felicidade do casal de amantes e decidiu que teria sua vingança. Envenenou o belo homem criado pela fantasia da mulher sonhadora e com isso provocou a morte dele.

As lágrimas começam a queimar os olhos de Vasco e ele luta pata contê-las.

– Ao ver a sua linda criatura sem vida, a mulher sonhadora percebeu que não poderia viver sem aqueles olhos celestes. Ela beijou aqueles lábios pequenos e conseguiu trazer de volta a vida ao corpo do homem e também trouxe à superfície, o amor que ela desconhecia.

Vasco pisca e as lágrimas começam a escorrer.

Aquelas palavras o perseguem por dias.

“Sua primeira esposa morreu, de fato. Ela se foi quando você morreu naquele hospital. Quando a morte desceu naquele quarto, não levou somente sua vida, mas a vida dela também. E quando você retornou da morte, não retornou sozinho. Trouxe uma nova mulher ao seu lado e hoje ela está deitada em sua cama, desprovida de vaidade e arrogância. Sua primeira esposa morreu sim, mas aqui está a sua nova esposa.”

As palavras de Regina ainda latejavam dentro da cabeça e da alma de Vasco. Ele havia chorado muito enquanto ouvia a declaração de amor daquela mulher desconhecida. Embora as palavras tivessem atingido em cheio a sua alma e o seu coração, ele ainda não reconhecia aquela dama, como sendo a dona do amor que pulsava em suas veias e corria pelo seu sangue.

Ele sai da cidade e vai a busca de respostas imparciais. Ou nem tanto, porém respostas que pudessem ser comparadas com as que tinha ouvido anteriormente.

Marian alarga um sorriso quando encontra Vasco parado em pé diante de sua porta. Ela gesticula para que ele entre e sente uma pontada de alegria ao vê-lo depositar sobre a mesa, alguns sacos de papel trazidos de algum mercado. Era um sinal de que ele se sentia à vontade ao seu lado.

– Desculpe-me pela bagunça da sala, mas acabei de chegar do serviço. Roland veio mais cedo trazido pela babá e fez esta festa com os brinquedos. Tudo é novidade para ele.

Vasco sorri e porta-se elegante como sempre.

– Eu deveria ter avisado que viria, mas decidi de última hora. Eu preciso de respostas e confio em você como minha amiga.

Marian apanha os sacos de papel com os mantimentos e dirige-se até a cozinha. É seguida pelo homem. Começa a preparar a bebida que aprendera a tomar quando estivera naquela cidade com Robin, pela primeira vez.

– Vamos tomar um café fresco e conversar. Tem onde ficar?

– Ainda não procurei.

– Pode pernoitar aqui comigo e com Roland. Ele irá adorar quando acordar.

– Marian, poderia me contar o que sabe sobre minha primeira esposa?

A mulher olha-o com curiosidade e imediatamente recorda-se do efeito do envenenamento.

– Você nunca teve outra esposa além da Rainha Má, amigo.

Empertigando-se, Vasco é tomado de surpresa.

– Você se casou unicamente com ela. Regina foi sua primeira e única mulher, como você me contou em nossas conversas.


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