Luke estava parado ao lado da chama-mestre, na verdade ele estava com ela em suas mãos. Sua expressão era de deboche. Mas uma coisa martelava na minha cabeça.

Como ele saiu do Tártaro? Ele estava morto a menos de um ano, não seria possível ele se reerguer tão rápido.

Eu encontrei seu olhar e desejei profundamente não ter feito aquilo. Seu olhar, praticamente me deixava viver cada dia no Tártaro, cada momento, cada tristeza.

- Então, finalmente, nos encontramos, novamente. Como você está, Percy? – Perguntou Luke. Ele estava exatamente da ultima vez que o vi. Sua cicatriz não mudara, seu rosto não mudara. Ele era o mesmo, o mesmo que tentou me matar, o mesmo que tentou matar a Annabeth. – Ah, Annabeth, querida! Como está?

- Cale a boca, Luke! – Gritei. Ele simplesmente sorriu. Um sorriso de deboche. Sim, ele estava rindo de mim. De repente, eu desejei sair dali e esquecer minha vida. Matar o Luke mais uma vez, seria muito mais doloroso. – O que você faz aqui?

- Eu roubei a chama-mestre de Héstia, o por que, nem eu sei, só senti uma enorme necessidade de roubá-la. Talvez, seja por que eu queria que você viesse nessa missão, para sair mais machucado. Ou, seja também, por que o Olimpo ficou muito parado, de repente. Eu quis dar uma balançada. E vejo o que eu consegui, além disso, consegui, sem fazer nada, com que você e Annabeth terminassem.

Quando Luke disse isso, meu corpo ficou rígido sobre os meus pés, não me atrevi a olhar para Annabeth, não consegui me mexer. Queria ir lá e socar o Luke, mas eu sabia que aquilo não iria tirar a dor que eu estou sentindo, tampouco a raiva e muito menos, trazer Annabeth de volta.

- Devolva a chama, Luke, agora! – Gritou Clarisse.

- Calma, eu irei devolver. Primeiro, quero que todos saiam daqui e me deixem com Annabeth e Percy. Depois, o meu assunto é com eles.

No começo, Clarisse ficou desconfiada em nos deixar sozinhos com Luke, mas depois de eu disser que tudo ficariam bem, eles foram. Assim que eles estavam longe o suficiente, levei minha mão ao meu bolso, ficando alerta a qualquer movimento que nos colocaria em perigo, eu imediatamente, pegaria Contracorrente.

Infelizmente, Luke, pareceu perceber o meu plano e olhou para mim.

- Não, não, Percy. Deixei sua espada bem ai. Nem se atreva a pegá-la. – Ele disse. – Bom, agora vamos aos nossos assuntos. Percy, como se sentiu quando soube da missão? O que pensou, quem poderia roubar a chama-mestre de Héstia? Você precisava ver a cara da baixinha quando soube que tinha perdido a sua chama. Ela enlouqueceu.

Luke riu. Mas, riu tanto que eu poderia jurar que a caverna tinha tremido. Ao meu lado, Annabeth soluçava, parecia estar chorando. Não sabia se era por que estava com saudades de Luke, ou por que estava com medo. Não, Annabeth não é de sentir medo. Não quando é em relação às missões.

- Luke, por favor, nos entregue a chama, queremos ir embora. – Disse.

- Annabeth, por que tão calada? – Ele olhou para ela com cobiça. Tentei de todos os jeitos ignorar a facada de ciúmes, acabei por deixá-la refugiada no fundo do meu coração. – Ele te magoou, não foi? Eu sabia que isso um dia iria acontecer.

- Luke! Por favor, nos deixe levar a chama. – Annabeth disse. Ela levantou seu rosto e eu pude ver que ela estava chorando.

- Eu estava esperando por isso. Ele não te quer. Pelo menos não tanto quanto você o quer. – Disse Luke, depois olhou para dois minotauros e assentiu, e eles vieram em minha direção.

Cada um pegou meu braço e me levou até Luke, deixando Annabeth para trás, soluçando, um deles me deu um soco no rosto, no começo doeu, depois a dor foi embora e pude me lembrar que eu era imortal.  Eles me deixaram cara a cara com Luke, meu rosto a centímetros do seu.

- Por isso, ele resolveu abrir as portas para Rachel, não foi? – Perguntou Luke, parecia mais para mim.

- É mentira, Annabeth! Você sabe que eu te amo! – Gritei, tentando sufocar o choro que me infernizava querendo sair.

- Ah, Percy, por que isso? Todos nós sabemos que isso – ele apontou para Annabeth, - não passa de diversão para você.

- Mas que droga, Luke! Você sabe melhor que eu, que Annabeth é a coisa mais importante pra mim.

- Não. Eu, honestamente, não sei. Quando eu descobri que Annabeth era tremendamente apaixonada por você, eu senti que um ciúme demoníaco se apossou de mim. Eu sabia que ela te amava, mas não a mim. Eu queria de todas as formas fazê-la mudar de idéia, mas pelo o que tudo indicava, ela estava condenada a te amar. Quando eu a perguntei se ela não me amava, na ultima vez que nos vimos, e ela me disse que não, eu sabia que não morreria feliz, e que faria de tudo por ela.

- Mas então você morreu, destruiu sua vida por Cronos. Ele não valia a pena. Ela sim. Eu daria minha vida por ela. Eu daria o ar que respiro para salvá-la, ao contrario de você. 

- Parem vocês dois! – Gritou Annabeth.

- Querem saber? Eu não sabia ao certo o que fazia, eu só sabia que tinha que fazer, mas agora que eu, misteriosamente, consegui sair do Tártaro, vou fazer da minha promessa, realidade. Vou te matar, nem que eu tenha que te furar em todos os lugares para achar o seu ponto fraco, mas você morrerá e ela será minha.

- Jamais!

- Veremos. – Disse Luke.

Luke se afastou de mim e colocou a chama dentro do que parecia uma panela de ferro redonda. De repente, uma estranha sensação de dejá vú aconteceu. O meu sonho iria se realizar e eu não sabia o final. Infelizmente.

Os minotauros me soltaram e eu pude ver Luke se armando, sua espada era de bronze celestial e material humano. Eu não morreria. Não morreria sabendo que Annabeth não me perdoara.

Luke tentou cravar sua espada na minha barriga, eu desviei, e tentei colocar minha espada em sua perna, com a finalidade de deixá-lo impossibilitado. Eu errei. E com esse erro, caí no chão, enquanto Luke fazia um corte no meu rosto.

Eu não queria chegar ao final daquela luta. Eu sabia que, se os meus sonhos estivesse certo, Annabeth logo estaria gritando para não matar o amor de sua vida. Queria de qualquer maneira, não ouvir aquilo. Queria terminar com a luta agora.

E com esse pensamento, finquei minha espada no coração de Luke, que começou a gritar, e Annabeth também. De repente, meus olhos ficaram embaçados e eu soube que estava chorando. Eu não consegui discerni o que era que Annabeth estava gritando. Meu cérebro estava tentando afugentar aquilo. 

- Pela segunda vez, você conseguiu acabar com a minha vida. Pela segunda vez, voltarei ao lugar onde nunca quis ter ido. – Disse Luke, e eu finquei mais ainda a minha espada em seu coração. – Eu nunca queria ter passado pro outro lado. Perdoe-me Annabeth.

E com seu ultimo pedido, ele se desfez em pó e os dois minotauros, também. O que eu achei realmente estranho. Annabeth ainda estava olhando para mim enquanto eu guardava a minha espada, seu olhar não era mais de tristeza, era de ódio. Talvez por que eu tenha matado o Luke, novamente.

Ela veio correndo pra mim, enquanto eu levantava, fechou seus punhos e começou a me bater no peito. Ignorei as correntes elétricas que passavam pelo meu corpo quando sua mão me tocava. Depois de alguns segundos batendo em mim, Annabeth parou de me bater e descansou suas mão no meu peito, enquanto chorava.

- De novo, Percy. De novo. – Disse Annabeth. – Eu nunca poderia imaginar isso.

- Calma Annabeth. Vamos para casa. Tudo vai ficar bem. Eu prometo.

- Isso é sério? – Perguntou ela.

- Sim. – Respondi sorrindo.

- Você vai fazer com que tudo fique bem?

- Claro. – Bem, era quase verdade.

- E se eu quisesse ficar com o Luke? – Ela perguntou olhando nos meus olhos.

- Eu não te deixaria ir. Por mais que me machucasse não ver você feliz, eu não te deixaria ir. Você sabe melhor do que ninguém, eu te amo, eu sou seu e você é minha.

Seu rosto estava a centímetros do meu, separado apenas por uma faixa pequena de ar, e eu fiz com que essa faixa acabasse, colando seu corpo ao meu. Senti Annabeth ficar rígida a minha aproximação súbita. Seus lábios estavam entre abertos, e os meus olhos estavam vidrados neles.

Queria acabar com essa distância, fui me aproximando lentamente, quase tocando seus lábios, quando ela se afasta. Cedo demais, eu pensei.

- Não, eu ainda não posso. – Disse Annabeth.

- Tudo bem, me desculpe. Mas saiba de uma coisa: eu ainda te terei de volta. Nem que eu tenha que morrer, você voltará para mim.

- Me prove isso, então. Tente, de novo, conquistar o meu coração.

Não respondi, me virei e fui para fora da caverna levando comigo a chama-mestre.