Sakura passou bastante tempo remoendo toda aquela história de tomar uma iniciativa sexual com Sasuke e sinceramente não parecia uma ideia tão ruim assim, afinal não havia nada de errado nela ser uma mulher jovem que queria passar por aquilo. O problema era como falar isso para Sasuke.

Homens nunca são bons com indiretas, mas Sasuke tinha o dom de ser terrível. Quase tinha que escrever em neon coisas que eram simples. Enfim, depois de conversar com Kiba e ouvir coisa que ele achava legais e adequar tais ideias, estava com um plano a sua frente.

O Uchiha ia para seu apartamento para verem um filme, iam jantar alguma coisa que ele disse que levaria. Ótimo, uma coisa a menos para se preocupar. Ia deixar preparada uma boa garrafa de vinho, afinal era inverno e combinava com jantar e frio. Foram muitas idas e vindas em lojas até achar uma coisa que achasse suficientemente bom para vestir. Pena não poder ter levado Kiba, mas vê-la em peças íntimas era demais até para eles.

Tudo tinha que ser o mais despretensioso possível. Como se fosse acontecer naturalmente e não estivesse dando um empurrãozinho na natureza. Um pouco de vinho para comerem, pipoca para o filme, chocolates para ela... Podia ter algo de tomates, Sasuke sempre fica feliz com tomates. Pena que com aquele frio a fazenda orgânica está fechada para colherem.

Colocou um colchonete na sala e deixou um par de cobertas e travesseiros para o caso de fazer frio demais, a previsão estava meio incerta quanto a isso. E também rezava pra não surgir nenhuma emergência no hospital, queria chegar em casa com tempo para tomar um banho longo e verificar se tudo estava no seu devido lugar.

Olhou para a casa e tudo parecia arrumadinho, ia logo trabalhar para o dia passar rápido e parar de ficar ansiosa ou ia acabar fazendo merda. Era só sexo afinal. Todo mundo fazia.

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Foi um dia cheio no hospital e Sakura não sabia se ia sair viva, parecia que só havia ela de médica naquele lugar, todo mundo queria um pedaço do seu tempo. No entanto foi melhor assim para não ficar pensando demais e resolver desistir do plano.

Sentou na cafeteria do hospital para comer alguma coisa, meio escondida atrás de uma mesa na quina do lugar e suspirou. Férias parecia um sonho tão distante. O celular apitou e quando olhou já esperando uma mensagem de Kiba falando qualquer abobrinha se surpreendeu e sorriu. Fazia tanto tempo que não se falavam. Karin mandou uma mensagem avisando que ia passar uns dias em Konoha.  A Haruno ficou realmente feliz, as duas tinham adquirido uma boa amizade depois que salvou a ruiva.

Sem dizer que ela sempre dava uma mãozinha no hospital e agora tudo o que ela precisava era de alguma ajuda. Sem dizer que podia sair com alguém que não era Kiba e que não estava comprometida esfregando isso em sua cara como Ino. Respondeu que ia gostar muito de recebê-la.

Aquilo até parecia um sinal de que as coisas estavam para dar certo em sua vida. Tomou a caneca extra-grande de chocolate e terminou o bolinho antes de levantar para voltar ao pronto socorro, ia esquartejar aquele biscate do Hiro por faltar um plantão e nem dar sinal de vida.

Passou as mãos pelos cabelos róseos e foi caminhando pelos corredores tentando evitar se dar conta de que aquela noite podia decidir o seu atual relacionamento ou não-relacionamento, chamem como quiser, afinal nem mesmo Sakura sabia como chamá-lo.

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No fim da tarde foi uma correria para chegar em casa, tomar banho, colocar a pipoca no microondas que de algum modo quase botou fogo em toda pipoca fazendo o apartamento ficar com aquele cheiro de queimado e depois se cortou depilando a canela direita, porque tinha simplesmente se esquecido dela.

Tudo parecia perdido, mas as sete quando o jovem Uchiha chegou a porta, porque ele aprendeu a não entrar pela janela dela mais, tudo estava na santa ordem. O vestido parecia casual e as meias fofas davam um ar despretensioso, sem dizer que sem elas o pé da Haruno ia ficar tão gelado que provavelmente assustaria Sasuke.

Respirou fundo e abriu a porta.

— Sasuke... – disse num sorriso leve – Como sempre pontual...

— A gente marcou as sete. – disse segurando a sacola com o jantar deles e começou a entrar quando ela deu espaço –

— Pode colocar a comida na mesa, quer jantar agora?

O moreno olhou quando ela lhe deu as costas para toda aquela pele de fora, o lugar estava quentinho, mas por que raios ela não podia colocar um par de calças? Foi para cozinha e viu que a mesa já estava posta.

— Pode ser...

— Tem tomates novinhos que eu ganhei hoje de uma paciente, se quiser um para abrir o apetite... – disse ligando a televisão para ter algum barulho pela casa –

— Hn. – falou olhando os tomates vermelhos tão bonitos numa fruteira e pegou um – Você disse que queria falar uma coisa comigo...

A rosada quase engasgou, mas o que ela tinha propriamente a dizer era sobre ele ser sua companhia no tal casamento, no fim das contas não era nada demais. O Uchiha só tinha que por uma roupa de festa e ir com ela para não parecer a única encalhada por lá.

— Ah sim, não é nada demais, só queria um... favor... – disse voltando a cozinha – Eu vou tomar um pouco de vinho com a comida, me acompanha?

O moreno não era exatamente muito forte para bebidas alcoólicas, mas um drink socialmente não o ia fazer dar vexame, sem dizer que Sakura bebia muito bem e ele não queria parecer fraco perto dela. Na verdade ele se perguntava como alguém baixinha como ela tinha uma resistência tão boa, ou talvez ela só bebesse de modo comum e ele fosse o fracote.

— Claro, eu trouxe macarrão daquele restaurante do centro que você gosta...

A rosada sorriu, às vezes, só às vezes Sasuke podia ser tão fofo. Ia ser muito mais fofo quando eles resolvessem aquele assunto. E certamente muito mais gostoso.

— Ohhh que delícia!!

Sorriu e foi pegar a garrafa no armário. Droga de armário alto!! Teve que subir numa cadeira para pegar não se dando conta que o Uchiha viu bem mais que o alto controle dele podia esconder e se virou olhando para TV.

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Aquela foi a noite mais desastrosa da vida de Sakura. Quem disse que o fundo do poço era o pior que se podia chegar certamente não conhecia Sakura, porque o fundo do poço era bom perto daquela tragédia que era sua vida amorosa. Estava deitada no chão da sala sentindo a cabeça doer e Sasuke tinha saído pela janela.

Maldita hora que resolveu tomar uma dose daquele sake especial ganhado da mestra. Passou a mão pelo rosto sentindo toda a vergonha tomar conta de si, tudo aconteceu tão rápido e de repente tinha ligado o foda-se e decidido que ia tentar mesmo sem se importar com as consequências. Por mil infernos!!! Que tipo de garota passa por aquilo... Sasuke tinha LITERALMENTE a empurrado de cima dele com aquela cara de desespero.

Okay que o Uchiha parecia meio assustado quando sorriu e foi o encurralando na quina da parede da cozinha, mas jurava que tinha entrado no jogo. Oh céus, não, ele não entrou no jogo. Ele não queria ficar com ela! Não queria!!! Tudo se resumia numa coisinha tão simples... Sasuke não a queria.

Fechou os olhos e toda aquela vergonha ficava passando diante dos olhos... Tinha se jogado e oferecido para ele como se mais nada importasse. Usou todos os truques que aprendeu como Kunoichi e na vida nem tão ativa. Tão perto... Tão perto que podia sentir ainda o cheiro da pele dele e o calor. Nunca imaginou que Sasuke pudesse ser tão palpável, real e humano...

Abriu os olhos e soluçou. Tinha estragado tudo. Nunca mais ia ter coragem de olhá-lo nos olhos ou ficar sozinha no mesmo recinto que ele. Sentou no chão e pegou a garrafa de vinho pela metade, já que estava tudo lascado mesmo não precisava ter medo de uma ressaca.

— Parabéns, Haruno, o prêmio de trouxa do ano acabou de ganhar um dono...

Tomou um gole direto do gargalo deitando de novo.

Mil demônios!! Precisava mesmo sair correndo da casa dela pela janela??

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E como tudo consegue piorar, não importa quão criativa seja sua imaginação, a manhã seguinte foi um porre. Ou melhor, uma ressaca. Física e moral. E não sabia qual delas doía mais. Viu a mensagem da médica confirmando que cobriria seu plantão no hospital e se curvou de novo no vaso vomitando.

Terminou aquela garrafa de vinho e mais uma outra que tinha deixado guardada e agora parecia que tinha uma horda de centopéias sapateando contra o crânio e o estômago.

Nunca mais ia beber daquele jeito, nunca mais!!

Se bem que como diria Ino “Do amor e do alcool só dizemos ‘nunca mais’ enquanto dura a ressaca”, mas aquela ressaca ia durar um bom tempo, tempo suficiente para aprender a interpretar os sinais. Por Kami, tinha praticamente atacado Sasuke, estava tão perdida em seus planos e devaneios que não viu o óbvio, o que estava pregado na testa dela, o cartaz em neon!

Ele não a queria!

Certamente com os anos o Uchiha aprendeu a ter carinho e afeição, mas não era amor e muito mesmo atração. Talvez o que ele sentisse fosse obrigação. E aquela constatação doeu muito mais que um soco e a fez vomitar muito mais. Sentou sobre os calcanhares e limpou a boca com as costas na mão.

A ressaca moral definitivamente era maior que a física.

A que ponto tinha chegado? Como conseguiu levar uma pá para o fundo do posso e cavar para mais fundo? Estava tão envergonhada, achava que tinha deixado de ser aquela garotinha ‘irritante’ há anos, mas aquele quase assédio à Sasuke só mostrou que não.

Ohhh... ele deveria querer a cabeça dela. Todo respeito que conseguiu foi para o ralo em poucos segundos. Mas talvez o pior de tudo fosse a rejeição. Vendo agora parecia algo tão evidente que chegava a ser vexaminoso. Sasuke podia sentir muitas coisas por ela, mas certamente não era nenhum sentimento romântico. E nem mesmo sexual.

Mil infernos de homem! Encostou na parede e respirou fundo colocando a outra mão sobre os olhos...

— Eu nunca mais vou poder olhar para ele de novo...

Parábens, Sakura! O prêmio de otária do ano é seu... ou melhor, otária da década!

Continua...