Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 3
O presente da Náiade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615589/chapter/3

– Que foi? – perguntou a filha de Nêmesis, levantando uma sobrancelha. Maslow não demorou a perceber que estava a encarando. Seu rosto corou e desviou o olhar para o horizonte no mesmo momento, mesmo que a garota já tivesse reparado.

Ela recuou alguns passos, mas virou o rosto para Maslow antes de ir definitivamente embora.

– Te vejo na Captura à Bandeira então – disse. Maslow apenas concordou com a cabeça e foi andando, sem querer pisando na mão do garoto da lança, que deu um berro de dor. Todos os campistas deram risadas em coro e, alguns minutos depois, um cara baixo com uma camisa havaiana e sandálias parou na frente de Maslow, estreitando seus olhos na sua direção.

– Que foi? – disse Maslow, quase rindo.

– É o moleque novo? – respondeu o cara de modo antipático.

– Sou. Quem é você?

– Sou o Sr. D. – disse em alto e bom som. – Diretor do acampamento.

No mesmo momento, Maslow engoliu em seco e endireitou a postura. Não sabia o motivo, mas não se sentia muito bem perto de diretores, por mais que fossem coroas baixinhos e parecessem estar de férias no Havaí.

– Ah, foi mal – continuou Maslow, coçando a nuca. – Achei que o diretor fosse Quíron.

– Quíron é diretor de atividades – respondeu o Sr. D., com uma expressão impassível no seu rosto carrancudo. Fingiu que alguém o chamou e foi andando lentamente para longe de Maslow, sem dar um único sorriso ou demonstrar emoção pelo garoto novo.

O menino foi andando pelo acampamento lentamente, não reconhecendo nenhum rosto. O único rosto que conseguira reconhecer, lá longe, foi o de Dean, conversando com o centauro Quíron. Quíron coçava sua barba desalinhada e quando viu Maslow aparecer entre eles, deu um largo sorriso – muito diferente do diretor que acabara de conhecer.

– Olá, Maslow – disse o centauro.

– E aí – respondeu Maslow. Dean deu um sorriso e cumprimentou o garoto com um aperto de mão. Era estranho para Maslow descobrir que seu amigo deficiente era na verdade um sátiro. – Quíron, posso te fazer uma pergunta?

– Acabou de fazer – respondeu em um sorriso.

Maslow ficou confuso, mas deu uma risada lerda depois de entender a piada do centauro.

– Duas, na verdade – continuou o garoto. – A primeira... bem, eu queria saber como é essa tal de Captura à Bandeira que uma garota comentou. E a segunda é sobre essa garota, bem, aquela filha de Nêmesis. Quem é ela? – finalizou em um sorriso preguiçoso.

– Captura à Bandeira é o nome dado a uma atividade do acampamento em que dois times, o azul e o vermelho, lutam pela posse da bandeira. O time vencedor é aquele que capturar a bandeira inimiga. A filha de Nêmesis é Angélica. Você gostou dela?

– Se tiver gostado, pare de gostar. Ela iria acabar contigo em um piscar de olhos – exclamou Dean, quase exasperado.

Maslow ignorou o comentário de Dean e, com timidez, assentiu com a cabeça para Quíron.

– Ah, e outra pergunta! – exclamou Maslow de repente. – Qual é daquele Sr. D.?

– Vejo que já conheceu nosso anão invocado – murmurou Quíron. – Bem, ele é um deus. Dionísio. Por isso o D.. Afinal, ele teve algumas confusões com uma ninfa e por isso teve como castigo cuidar das crianças do acampamento e, como se já não fosse o suficiente, foi proibido de beber vinho. Ele é meio amargo, mas se o conhecer melhor ele pode ser uma boa pessoa...

– O deus do vinho foi proibido de beber vinho? – perguntou Maslow, surpreso.

– Exatamente – Quíron observou a sua volta e coçou sua barba desalinhada novamente. – Bom, boa sorte na sua primeira atividade, garoto.

Maslow concordou com a cabeça e se espreguiçou – por mais que tivesse descansado por horas, ainda havia fagulhas de cansaço pela noite anterior. Não era todo dia que tinha que acordar no meio da noite para viajar a um acampamento de semideuses. E, lá longe, conseguiu avistar a filha de Nêmesis, muito embora não tivesse um pingo de coragem de ir até lá. Ainda mais depois da propaganda que Dean fizera da garota.

O garoto foi andando outra vez pelo campo. Mesmo que não conhecesse ninguém e nem tivesse a mínima ideia de como funcionavam as coisas por ali, o lugar tinha tudo para se tornar um lar. Um centauro simpático, um deus carrancudo encarregado do cargo de diretor, seu amigo Dean, o verde das árvores, o lago de canoagem e até mesmo a filha de Nêmesis pareciam ser ótimos motivos para Maslow ficar naquele lugar. Mesmo que existisse o garoto da lança, que Maslow não sabia ao menos o nome. Não sabia o seu nome e já se tornara um inimigo.

Quando Maslow se aproximou do lago, conseguiu visualizar um par de pés se batendo rapidamente nas marolas do lago, mas não conseguiu identificá-los direito. Minutos depois, quando ele sentou no trapiche, uma garota de cabelos loiros apareceu de dentro da água. Mas apenas seu rosto até o ombro, e parecia estar nua. Maslow sentiu um pouco de vergonha, não se sentia muito confortável com pessoas nuas logo na sua frente.

– Olá – A garota disse, virando o rosto para o lado levemente. Maslow conseguiu ver, próximas do maxilar da garota, guelras esverdeadas, e nos seus ombros até o fim de seus braços, escamas da mesma cor. Ela não era humana – É novo por aqui? Qual é seu nome?

– Sou – Maslow disse. – Meu nome é Maslow, e o seu?

– Nyalia – respondeu a garota. O garoto começou a balançar seus pés no ar e bateu algumas vezes em uma coluna do trapiche. A menina se agitou e estreitou os olhos verdes para ele. – Ei, cuidado com os mariscos da coluna!

– Ah – exclamou Maslow. – Desculpe.

A garota deu um sorrisinho e submergiu outra vez. Seus pés se chocaram contra a água quando mergulhou, provocando mais marolas. Maslow não entendeu muito bem, mas sorriu de volta, mesmo que não tivesse tempo de ela ter visto.

Mas o garoto não saiu do trapiche e nem pensou nisso. Não foi ali por curiosidade, para ver o que eram aqueles pés. Fora ali para observar a paisagem do lago, tão belo quando o sol refletia nas suas águas. Que verão glorioso.

Porém, a menina voltou para a superfície.

– Olá novamente – disse. – Tome isto. – Ela esticou o braço e, na palma de sua mão, tinha uma pérola singela e brilhante.

– Valeu, Nyalia! – Maslow ficou muito surpreso, não era acostumado a receber presentes, ainda mais como aquele. A garota assentiu com a cabeça em um sorriso sereno e mordeu a ponta do lábio inferior. O garoto a pegou lentamente da mão de Nyalia, com todo o cuidado possível; ainda mais por ser considerado desastrado. – Hum... se me permite dizer... o que você é?

Nyalia o encarou um pouco e, calmamente, respondeu:

– Eu sou uma náiade, Maslow.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Child of Nature" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.