Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 16
Um beijo e mais morte


Notas iniciais do capítulo

[revisado: 15/05/2016]



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Maslow não sabia muito bem por onde começar e, por isso, resolveu acompanhar o ritmo de seus irmãos. Angélica estava tão linda e estonteante que ele não foi capaz de encarar aqueles olhos de perto muito cedo. O garoto preferiu, naquele momento, observar uma Tess toda apaixonada mandar um tchauzinho para Paul, o filho de Apolo, que afinava um violão de bronze em cima do palco improvisado. Ele a correspondeu com um sorriso preguiçoso e ela ficou muito vermelha. Os instrumentos, notara Maslow, pareciam ter sido desenvolvidos pelos filhos de Hefesto, porque lembravam muito a mecânica avançada dos Touros de Colchis e o bronze era bem semelhante.

Jena já havia pego um drinque que Sam, o filho de Afrodite, havia preparado. O recipiente era um coco cortado ao meio todo enfeitado por fitas, flores e um guarda chuva em miniatura. O líquido borbulhava e possuía uma coloração rosada, que exalava um aroma de morangos e de terra após a chuva: os dois cheiros que Maslow mais gostava. Porém, depois de alguns segundos, mais um aroma se manifestou na bebida, quase ofuscando os outros dois.

O de Angélica.

Maslow concluiu que Sam havia se inspirado na poção de amor de Harry Potter ao encantar aqueles drinques. O aroma da bebida se converteria para os cheiros preferidos de cada um. Isso para torná-la atraente. Sim, Maslow já fora um grande fã da saga de livros para conseguir perceber uma referência como aquela. Contudo, preferiu não arriscar a experimentar aquela bebida. E se os efeitos fossem os mesmos?

Já estava apaixonado mesmo...

— Isso é muito bom! — gritou Jena. — Acho que estou apaixonada por esse drinque.

— É a intenção — falou Sam, sorrindo. Maslow o olhou com espanto e o filho de Afrodite percebeu no mesmo segundo, corrigindo-se. — Não, relaxa. Sou filho de Afrodite, mas não é por isso que distribuiria poções de amor.

— Hum... tá bom — Maslow sorriu e permitiu-se beber um daqueles drinques. Tinha uma textura um tanto excêntrica, mas foi o sabor que deixou o garoto assustado. Não assustado pro lado ruim, o contrário. Foi aquele susto que leva a pessoa a rir como bobo. O sabor era tão bom quanto o cheiro — Meus deuses, isso é ótimo... é tipo, uou.

— É, eu avisei — disse Sam. — Agora, se eu fosse você, ia experimentar os mezes que a Melissa preparou. Ela é ótima com queijos e azeitonas.

— Talvez mais tarde — disse Maslow.

O filho de Deméter riu e, lentamente, se aproximou da beira do mar. Uma onda quebrou lá longe e a água e a espuma vieram correndo até seus calcanhares. Não estava com frio, tampouco se importaria se estivesse. A brisa fresca da maré passou pelo rosto de Maslow e ele não pôde fazer outra coisa além de fechar os olhos, sentir aquele cheiro de praia que nunca havia antes sentido e relaxar, quase alucinado. A lua, as estrelas, a festa às suas costas... estava tudo caminhando bem.

— É impressão minha ou tem alguém dormindo em pé? — Uma voz familiar fez Maslow abrir seus olhos e virar o rosto pálido para o lado. Viu ninguém menos do que Angélica, a menina incrível que fazia sua pulsação subir. Seus olhos estonteantes e tão azuis encaravam o mar e a lua prateada refletia neles. Seus cabelos negros estavam rebeldemente soltos e estavam contidos por uma coroa de flores. Perfeita. Tão perfeita que o garoto simplesmente se calou.

Angélica se virou para ele e abriu um de seus mais raros sorrisos. Não aqueles sorrisinhos soberbos, muito menos os de sarcasmo. Era um sorriso puro, tão puro que Maslow se encantou.

Até os seus olhos sorriam.

— Você tá linda, Angélica — Para Maslow, elogiar uma garota era uma missão complicada. Sua timidez normalmente trancava sua voz e não o deixava olhar nos olhos. O fazia inferior a todo mundo. Chegava a corar tanto quanto seu amigo Dean quando uma dríade elogiou sua gaita de bambus nova. No entanto, naquele momento, era como se não estivesse ele ali. Sua voz soara firme, alta e clara.

Mas algo aconteceu. O majestoso sorriso de Angélica desaparecera.

Ela ficou em silêncio por cerca de dois segundos, pensando. Seus olhos azuis como cristal correram tão rápido para os do garoto que ele até levou um susto. Porém, o susto foi bem maior quando ela impulsionou seu rosto para o de Maslow e seus lábios se tocaram nos sete segundos mais maravilhosos que podiam já ter vivenciado.

Quando os lábios se descolaram, eles se encararam por algum tempo, sorrindo como bobos. Isso antes de perceberem que metade do acampamento os observava de longe. Angélica ficou vermelha. Maslow ficou quase roxo. De repente, Aaron tomou a retaguarda e caçoou deles um pouco, o ódio doentio transbordando por seus olhos flamejantes.

Entretanto, nenhum dos dois se importou com ele. Apenas se beijaram novamente.


Mais tarde, na festa, Maslow se divertiu bastante com seus irmãos e com Angélica. O clima na praia esquentou mais um pouco, o que tornou tudo ainda mais divertido. A música que os filhos de Apolo faziam era incrível. Uma mistura alucinante de todas as bandas que Maslow curtia.

Era como se cada acorde transmitisse um calor pacato.

— Meus deuses, meus deuses — Tess falava. — O Paul é tão lindo!

— Ele é francês! — Maslow imitou a irmã para Angélica e Jena, que quase tinham um ataque de tanto rir. — O sotaque dele é tipo, tudo! — Não demorou a Tess entender a piada e atacar um tabefe nas costas de Maslow.

— Ei, Jena, cuidado, você vai acabar tendo um coma alcoólico — discorreu Tess, franzindo a testa. Jena revirou os olhos e, sem hesitar nem um pouco, derramou o resto da bebida na areia. Ela já estava bêbada o suficiente pra iniciar uma algazarra.

Aaron e seus irmãos paqueravam umas filhas de Afrodite e elas não podiam estar mais interessadas naquele papo bobo de marombado. Angélica revirou os olhos e riu em desdém. Maslow não teve outra reação além de sentir pena daquelas garotas, tão ingênuas quanto as líderes de torcida caidinhas pelos jogadores de futebol americano do seu colégio. Aaron era tão tosco quanto um trasgo.

Do nada, os filhos de Apolo começaram a tocar uma música lenta e o coração de Angélica gelou. Ela olhou nos olhos de Maslow, desesperada.

— Eu não sei dançar — disse ela.

— Sorte a sua que eu sou um ótimo professor — gabou-se Maslow. Paul desceu do palco apenas para dançar com Tess, que ficou toda risonha. Maslow escoltou os braços sardentos de Angélica até seus ombros e guiou os próprios braços até a cintura dela. — Só me acompanhe.

— Eu sempre fui caidinha por figuras de autoridade — disse Angélica, lascando um beijo rápido no lábio de Maslow. O garoto sentiu algo se remexendo no seu estômago. Talvez fosse aquilo as famosas borboletas no estômago.

Porém, todos congelaram quando um grito ecoou pelas árvores da floresta. Ninguém conseguiu identificar aquele timbre de voz, embora fosse muito familiar para Maslow. Todos correram até a origem do som e foram, aos poucos, ficando tão paralisados quanto a figura lá longe. Uma garota chorava amargamente.

Quem é? O que aconteceu?, só isso Maslow podia pensar em meio de tudo aquilo. Foi tudo tão rápido... por um segundo Maslow estava dançando com Angélica, tão apaixonado, e no outro estava vivenciando a cena de um crime.

Maslow conseguiu identificar a figura lá longe depois de driblar alguns meio-sangues, sem soltar a mão agora gelada de Angélica. A figura era Rupert. A menina, Celine. Rupert estava congelado. Congelado de verdade, como o Capitão América ficou depois de cair nas geleiras. Talvez estivesse morto. Maslow não sabia, estava assustado demais para raciocinar.

Celine esperneava enquanto Quíron aparecia pela mata, tão chocado quanto o restante dos campistas. O Sr. D veio andando logo atrás — nem sequer teve tempo de largas as suas cartas de pinochle. Angélica afundou o rosto no peito de Maslow e começou a chorar quase na mesma intensidade de Celine. Até Aaron parecia chocado, não tinha sido ele.

Maslow sabia bem quem fora. Todos deviam saber.

Fora Monisi...

Ela era má de verdade.


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