Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 1
Touro de Bronze


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por ler!



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Era muito tarde quando o garoto fora acordado, em desespero, por seu pai. Ele provavelmente nunca tinha o visto daquela maneira, com seus olhos azuis inchados por lágrimas, sacudindo o garoto para que se levantasse o mais rápido possível. Confuso, pousou seus pés sobre o assoalho, trocou as vestes e seguiu o homem até sua velha picape. Foram poucas palavras até que ambas as portas fossem fechadas.

— O que tá acontecendo, pai? – indagou Maslow, passando os dedos pelos olhos cansados.

— Algo terrível, terrível – respondeu o pai, o que deixou Maslow ainda mais confuso. Não era isso que ele queria saber. Aquelas palavras eram poucas para descrever tudo o que estava acontecendo. Queria um motivo para ser acordado no meio da noite e ter sido praticamente jogado para dentro da caminhonete. O garoto apenas suspirou, e o pai não parou de dirigir.

Maslow não demorou para concluir que estavam viajando. Pensava em mil possibilidades para o que podia estar ocorrendo. O pai estava endividado? Estava fugindo de alguém? Tudo deixou o garoto totalmente irritado. Por que ele não falava nada?

— Pai, defina terrível! – exclamou o garoto. Quando o pai percebeu que a pausa era longa demais, decidiu responder.

— T-tudo bem. Não sei como te dizer isso, mas... sabe a sua mãe, que prefiro não falar sobre? – Maslow concordou com a cabeça, em silêncio. Não sabia como se sentir a respeito disso. – Então, isso tem certa ligação. Desculpa por não ter te contado tudo antes, mas ela me dizia coisas estranhas como "meu filho será um garoto diferente", "ele fará coisas estranhas". Eu não entendia até ela própria, bem, fazer coisas estranhas.

— Que tipo de coisas estranhas? – O menino virou o rosto e arregalou seus olhos. O pai permaneceu com os olhos na estrada, produzindo um longo suspiro antes de continuar a falar.

— Ela era uma deusa, filho. – disse o pai. Maslow deu uma longa risada, mas percebeu que o homem não rira. Ele não podia estar falando sério. Uma deusa? Como aquelas divindades mitológicas que estudara nas aulas de história?

— Como assim?

— Uma deusa. Uma deusa grega – O pai finalizou. Podia, enfim, seu pai estar louco? O Sr. Aharkov, aquele cara que forçava um sotaque texano, muito embora tivesse vindo de uma família inteiramente russa, poderia então ter endoidado? – Do Olimpo!

Maslow bateu os pés várias vezes no chão do carro e sentiu uma ardência na cabeça. Não. Aquilo não podia estar acontecendo. Seu pai o acordou no meio da madrugada, o colocou dentro de um carro e falara que sua mãe era na verdade uma deusa do Olimpo?

— Pai. Isso não pode ser verdade, é uma brincadeira... – Maslow olhou para ele – Você está bem?!

O Sr. Aharkov concordou com a cabeça e o garoto pôde ver, quando o farol de um carro iluminou ligeiramente o seu rosto, uma lágrima cair de um de seus olhos. Ele logo concluiu, vendo o pai daquela maneira, que ele não podia estar mentindo. Era verdade. Seu pai namorou mesmo uma deusa. Então, Maslow na verdade era...

— Um semideus – murmurou Maslow. – Eu sou um semideus.

— E é pra lá que estou te levando – O pai disse lentamente, e Maslow virou a cabeça tão rápido que seu pescoço estalou.

— Ao Olimpo? – indagou o menino, quase desesperadamente.

— Não. Ao acampamento de semideuses – respondeu o Sr. Aharkov de imediato.

O menino sentiu seu rosto corar. Não sabia se era de medo ou se era de raiva. Sua mãe o havia abandonado e agora... agora seu pai faria o mesmo! Ele o largaria em um acampamento cheio de pessoas estranhas e renegadas por conta de ser filho de uma deusa.

Foi quando escutou um barulho na caçamba da picape. Um barulho que se parecia ao de um animal. Como se algum animal tivesse dado um coice na lataria. O pai não pareceu ter nenhum tipo de reação, o que fez Maslow ficar ainda mais preocupado.

— O que foi isso? – gritou Maslow.

— Ah, é seu amigo Dean – respondeu o pai automaticamente. O garoto abriu a janela, colocou o corpo para fora e conseguiu ver, praticamente deitado na caçamba da picape, seu amigo deficiente da escola, cujas pernas eram esquisitas e, consequentemente, não andava direito.

— Mas... o que ele faz aqui? – gritou outra vez, dessa vez ainda mais confuso.

— Ele me avisou que estavam atrás de você. Claro que acreditei. Sua mãe me disse que um dia um cara me procuraria e diria que devo ir a uma tal Colina Meio-Sangue.

— E você sabe onde fica isso? – Maslow estava quase tonto.

— Aqui mesmo.

O pai encostou sua picape em um monte consideravelmente alto, onde uma plantação de morangos se destacava em toda sua volta. Era um lugar lindo, perfeito, exatamente o lugar onde um acampamento ficaria. Com a escuridão, qualquer claridade podia ser altamente detectável. Por isso podia ver, mesmo que quase cegamente, a iluminação alaranjada de possíveis tochas.

— Vamos – disse o Sr. Aharkov, empurrando a porta do carro devagar. O filho fez o mesmo. Pousou sua bota de agricultura na estrada, espreitando os olhos para ver o que acontecia. Dean saltou para fora da caçamba e parecia andar normalmente, embora de um jeito bem esquisito, quase em saltitos de carneiro.

— Tudo bem, Maslow, não se assuste – disse Dean. Maslow fez praticamente o contrário quando o garoto arrancou as calças e, no lugar de pernas, existiam pelos castanhos. No lugar dos pés, tinham cascos. Ele era... metade bode?

Maslow ficou sem palavras, sua cabeça estava prestes a explodir. Mas não pôde endoidar depois de ver, a quase vinte metros de distância, um touro enorme soltando fumaça. A sua temperatura alta era visível e parecia ser feito de bronze.

— Maslow, precisamos ir, rápido! – Dean o puxou pelo pulso e começaram a subir o mais rápido que podiam a colina. O pai se endireitou com os seus joelhos trêmulos e pulou para o declive. Seus olhos pareciam que partiriam das órbitas.

Uma estrutura grega se manifestou aos olhos de Maslow. Era um grandioso portal de mármore sobre um caminho de terra, infestado de detalhes e escrituras. Sua dislexia embaralhou cada letra como de costume, mas, ao invés de atrapalhá-lo, permitiram que ele lesse Acampamento Meio-Sangue. Estava, afinal, a salvo daquele touro estranho?

Dean e Maslow passaram pelo letreiro de mármore, mas o pai pareceu ter batido em uma parede de vidro. Ele não conseguia passar. Maslow tentava de todos os modos puxar o pai até o letreiro, mas era impossível. Uma força desigual o empurrava para fora e o touro de bronze estava próximo o suficiente para avançar na direção do pai.

— Dean, eu não posso deixá-lo! – gritou Maslow. Ele correu até o pai e Dean concordou com a cabeça, quase em desespero. O touro começou a trotar na direção dos dois, mas foi interceptado por um vulto que passou tão rápido que Maslow não conseguiu vê-lo. Segundos depois, ele passou outra vez, mas agora empacou logo na frente do animal de bronze, puxando o cordel de um arco. Mirava a flecha com tanta precisão que nem foi possível vê-la pousar na estrutura do touro e cravar no bronze. Foram precisas outras três para o animal explodir em uma luz dourada.

— Isso foi incrível, Sr. Quíron! Mééé — Dean exclamou, dando uma risada esganiçada que mais parecia um bode.

Foi aí que Maslow conseguiu ver melhor o vulto. Era quase tão alto quanto o touro de bronze. Era na verdade um homem. Ou metade homem. Ele estava frente a frente com um cara com bunda de cavalo. Conseguiu se lembrar da palavra politicamente correta. Centauro.

Uooou! Espera aí! Você é um... você é um centauro? – exclamava Maslow. Estava prestes a ter um derrame, mas o pai estava ainda mais em choque do que ele. – Eu estou vendo um centauro e um... um centauro e um sátiro! O que era aquele bicho?

— Era um Touro de Colchis – disse o centauro Quíron. Tinha um cabelo grisalho e sua parte de cavalo era a de um corcel branco. Ele trotava elegantemente, e parecia ser muito inteligente enquanto explicava sobre os touros – Foram criados pelo próprio deus Hefesto.

O deus Hefesto?

É tudo verdade. As aulas de história contavam a verdade!


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