Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 33
33. Precisamos falar sobre Adam


Notas iniciais do capítulo

NOTAS RETIRADAS DO WATTPAD:

Gostaria de deixar uma coisinha clara antes da leitura de todos: chegamos em um ponto da história onde várias coisas... particulares, podemos dizer assim, irão aparecer. Vocês começarão a ver alguns termos e grupos criados por mim exclusivamente para a história e que não foram de maneira alguma mencionados na série até o momento. À medida que os capítulos forem seguindo, todos esses termos serão devidamente explicados, prometo. Espero que gostem desse meu pequeno surto de criatividade e aproveitem, porque a fanfic está prestes a mostrar pra vocês um pedacinho particular do universo de Sobrenatural... inventado por mim! :3

Sem mais delongas, boa leitura a todos! ♥



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O SILÊNCIO NO cômodo era constrangedor.

Me posicionei no vão de entrada da sala de Bobby, apoiando as costas na parede e cruzando os braços enquanto sentia o olhar curioso de Dean queimar sobre mim. Sam também me encarava, provavelmente surpreso demais com a cena que se estendia à sua frente para dizer qualquer coisa.

Sara estava sentada no enorme sofá de couro que ocupava uma pequena parte da sala, parecendo extremamente deslocada ali. Em suas mãos havia um copo d'água já vazio, oferecido por Sam momentos antes. Mesmo estando claramente surpreso e confuso diante da situação, assim que desceu as escadas e se deparou com a garota, acompanhada por seu irmão e eu, o moreno se pôs a colaborar com a situação, embora deixasse claro pela expressão que me direcionava que seria bom eu lhe explicar tudo ordenadamente assim que possível.

Eu o agradeci silenciosamente com um sorriso enquanto voltava minha atenção para Sara, que permanecia em absoluto silêncio desde que havia entrado, apesar de ter se mostrado grata por eu não tê-la deixado plantada na porta de entrada da casa.

Sam se sentou em uma das poltronas de couro reforçado de Bobby, enquanto Dean e eu permanecemos de pé, um em cada lado do cômodo, de modo que ambos estávamos de frente para a garota. Ela tinha total atenção sobre si naquele momento, mas não parecia muito confortável com isso, sendo sincera.

— Certo. Acho que você nos deve algumas explicações — a voz de Dean quebrou o silêncio, dando vida aos meus pensamentos e fazendo com que Sara o encarasse por um momento, sem demonstrar qualquer interesse verdadeiro. Ela apertou o copo vazio que tinha em mãos, pressionando os lábios de forma apreensiva. O Winchester continuou: — Sara Ross, né? — a garota assentiu lentamente, como se avaliasse o peso de seu nome naquela frase. — Pois bem, Sara. O que você sabe sobre o pai de Emma e, mais importante, quem é você?

Sara respirou fundo, parecendo refletir por um segundo a ordem de suas palavras. Sam me olhou chocado; em sua expressão havia uma pergunta clara, embora silenciosa: "Por que essa garota saberia algo sobre Adam?". Encolhi os ombros enquanto o encarava de volta, esperando que ele entendesse que eu estava tão perdida quanto qualquer um ali, com exceção da garota, é claro.

Dean permaneceu estático em sua posição, aguardando tranquilamente por uma resposta. Sara curvou os lábios, como se não gostasse do que estava prestes a dizer. De qualquer forma, acho que ela não tinha muita escolha, e estava bem ciente disso.

— Olhem, hum, eu sei que isso provavelmente vai parecer loucura, mas, honestamente, nem sei direito por onde começar. — A garota ajeitou os próprios óculos em seu rosto, um gesto que ela mesma havia repetido diversas vezes desde que chegara, mordendo os lábios antes de continuar: — É provável que quando eu começar a esclarecer alguns fatos mais... complexos, digamos assim, as dúvidas de vocês se acumulem umas nas outras. — Ela me encarou mais uma vez, extremamente calculista em seu diálogo. — Principalmente as suas, Emma.

Apertei os dedos ao redor dos braços cruzados, direcionando o peso do corpo para a outra perna. Os olhos da garota, que eram de um tom claro de castanho, continuavam a me fitar insistentemente, mas não fui capaz de articular uma resposta.

— Bom, você pode começar respondendo à minha pergunta — Dean disse secamente e eu imediatamente o repreendi com um olhar mortal por ser tão rude. Quem sabe se Sara continuaria sendo tão suscetível caso ele continuasse com aquela postura desnecessariamente agressiva?

O Winchester deu de ombros, sem parecer notar a tensão no ambiente, ou talvez apenas ignorando-a como de costume. Eu apostava na segunda opção.

— Certo. — Sara assentiu, não demonstrando estar sequer abalada pela insensibilidade de Dean. — Eu não sei se vocês dois — ela se referiu aos irmãos com um aceno de cabeça — vão entender o que eu estou prestes a dizer mas, se pelo menos Emma compreender, e eu sei que ela vai, já é suficiente.

Nós todos assentimos enquanto eu lançava um olhar significativo a Sam e Dean, indicando que os explicaria qualquer coisa complexa demais que Sara dissesse assim que tivesse a oportunidade. A garota colocou o copo que tinha em mãos sobre a mesinha da sala, voltando sua atenção para mim.

— Basicamente, eu sou um prêmio de ouro para um Clã de Raça. Um dos piores, aliás — ela fechou os olhos por um momento, balançando a cabeça. Era surpreendente que, apesar de estar visivelmente apreensiva, a garota não hesitava nem por um segundo em sua atitude. — Estou sendo caçada pelos Remanescentes e Adam Grace é o atual responsável pela minha captura.

Comecei a me sentir impaciente, batendo os pés no chão em um sinal claro de irritação.

— Eu sei de tudo isso — falei, notando que a atenção dos garotos havia instantaneamente se voltado para mim. — Assim como sei que estão mantendo sua busca na surdina, apesar de estarem oferecendo uma certa recompensa pela sua captura. Viva. — Enfatizei a última palavra.

Sara me encarou profundamente. Senti como se ela estivesse tentando enxergar através de mim. Era estranho, mas eu passara os últimos sete dias tentando reunir o máximo de informações possíveis sobre aquela garota, sem de fato conseguir as mais cruciais. Eu sabia bastante, era verdade, mas infelizmente não o suficiente.

Sabia, por exemplo, que Sara estava na cidade há pouco menos de duas semanas e que os Remanescentes estavam atrás dela, designando meu pai para sua captura, como a mesma havia mencionado. Sabia também que ela era alguém extremamente inteligente, ou, pelo menos, devia estar em conjunto com uma pessoa que fosse, porque havia sido capaz de se manter fora do radar por meses, tanto dos Remanescentes quanto do meu pai — algo que era um feito e tanto não só com um deles, mas ambos.

A razão de uma adolescente como ela ser um prêmio tão valioso para um Clã de Raça como o dos Remanescentes? Esse, somado ao motivo que levara meu pai a se envolver nessa história toda, era um dos tópicos que eu não havia sido capaz de descobrir nessa última semana de investigações. E isso só servia para me deixar cada vez mais ansiosa.

Honestamente, eu não conseguia pensar em nada que fosse um motivo plausível. Dinheiro? Não, eu tinha certeza de que meu pai não estava fazendo isso pela dita recompensa. Nós nunca havíamos tido problemas com relação a isso. Objetos valiosos ou colecionáveis podiam ser facilmente encontrados onde quer que estivessem, e nem preciso mencionar que minha família sempre evitou ao máximo criar laços com esse tipo de organização — se bem que, pensando melhor, essa sempre foi uma tentativa falha. Olhando para o passado, eu e meu pai estávamos envolvidos até o pescoço com essa gente.

Naquele momento, havia uma dúvida que me atormentava insistentemente: o que os Remanescentes tinham de tão valioso a ponto de fazer com que o até então inacessível, Adam Grace, saísse de seu covil em LA e fosse à procura de uma mera adolescente que se encontrava praticamente do outro lado do país? Considerando tudo o que eu sabia sobre eles, qualquer possibilidade era no mínimo arrepiante.

Eu também tinha a leve impressão de que a garota sentada à minha frente sabia a resposta para essa última questão, ou pelo menos me levaria até ela. De qualquer modo, eu estava disposta a pagar para ver.

— Sei disso, obrigada. — Sara suspirou. Ela olhava para o copo de vidro repousado sobre a pequena mesa da sala como se esperasse que ele tomasse alguma outra forma ali diante de todos. — Se ao menos você conhecesse toda a história... — ela balançou a cabeça, acenando afirmativamente quando notou meu olhar sobre o seu. — E sim, eu estou aqui para esclarecer essa parte. Mas suponho que não preciso perder tempo com apresentações, afinal, você sabe muito bem quem eu sou, não é? — Sara me ofereceu um pequeno sorriso enquanto eu acenava afirmativamente à sua pergunta.

Sim, todos já haviam percebido quem ela era. Inclusive eu, no exato instante em que ela mencionara que meu pai estava em seu encalço. Devo admitir que em um primeiro momento fiquei bastante surpresa com a descoberta de que Sara era o Alvo que eu tanto buscara por dias, sem sucesso. Mas, afinal, quem mais ela seria?

Isso, junto ao fato de ela ter respostas pelas quais eu tanto procurava, era o único motivo para eu estar sendo paciente com uma garota que havia literalmente se materializado na porta de Bobby com informações a respeito do meu pai e — aparentemente — em busca de ajuda.

Sara deu um sorriso convencido enquanto me observava, provavelmente ciente do que se passava na minha cabeça. Era óbvio. Quanto a mim, preferi não abordar o fato de que ela já sabia que estava sendo investigada. Não era uma surpresa, levando em conta as coisas que eu havia encontrado a seu respeito na última semana.

Apoiei as costas na parede, cruzando novamente os braços e dando um longo suspiro enquanto encarava o teto.

— Afinal, o que você quer de mim, Sara? — a pergunta soou um tanto pretensiosa, apesar de não ter sido a intenção. A garota me encarou, parecendo refletir por um momento se deveria ou não responder. Mais uma vez, reparei que ela fazia questão de calcular bem tudo o que dizia. Eu não sabia dizer se isso era algo bom ou não.

Finalmente ela pareceu se decidir. Sara deu de ombros, como se aquela fosse uma questão muito simples em toda a nossa conversa.

— Eu quero a sua ajuda — disse enquanto afastava alguns fios de cabelo do rosto. — E pra isso estou disposta a oferecer o mesmo em troca. — Essa declaração me arrancou um sorriso.

Chegava a ser irônico. Eu havia passado a semana inteira na cola do Alvo, tentando ao máximo descobrir tudo o que podia sobre ele e sua ligação com os Remanescentes. Agora ela estava diante de mim, pedindo por ajuda e propondo me entregar respostas pelas quais ansiei por meses. Era quase bom demais para acreditar.

Dean, que havia permanecido em silêncio por um certo tempo, resolveu se pronunciar. Ele havia passado a maior parte da conversa apenas observando, sem se intrometer, algo que já era um feito considerável de sua parte. Eu me perguntava o que se passava em sua cabeça naquele instante.

— Olha, não leva a mal. Toda essa sua vibe de boa samaritana em busca de ajuda é realmente tocante, legal e tudo o mais — ele disse com um toque ligeiro de sarcasmo em sua voz, fazendo com que Sara revirasse os olhos. — Mas ainda temos uma questão pendente, certo? Enfim, por que Adam está trabalhando para os Remanescentes por sua causa? Pelo que entendi de Emma, a relação entre ele e esse tal clã não é das melhores. Não faz sentido que unam forças agora por uma simples adolescente.

Sara ergueu as mãos em sinal de rendição e balançou os ombros, como se dissesse: "Estou tão perdida quanto você nisso, amigo".

— O que podem ter oferecido a ele para que topasse um contrato é um papel em branco pra mim — ela suspirou, ponderando a questão por um momento. — Os motivos são muitos e você se surpreenderia com o quão persuasivos eles podem ser, sério.

Dean parecia um pouco confuso com a explicação, como se houvesse algo que ele não pudesse compreender, por mais que refletisse o assunto.

— Eu entendi essa parte — disse enquanto coçava a nuca em um gesto de impaciência. — Os caras são tiranos, ruins e chantagistas. Ok. — Dean ergueu o rosto, como se procurasse algo. Seu olhar cruzou com o meu por um segundo e ele hesitou antes de continuar: — Mas por que Adam? — eu mordi o lábio diante da pergunta, abaixando os olhos e balançando a cabeça. — Por que não um caçador de recompensas ou um mercenário qualquer? Não é como se fosse raro achar um desses hoje em dia.

Dessa vez foi Sam quem se pronunciou. Ele também estivera quieto durante toda a discussão, de modo que sua intromissão repentina na conversa realmente me surpreendeu.

— Acho que tenho uma ideia do porquê — disse para o irmão, recebendo um olhar interrogativo em resposta. — Depois que Emma nos contou sobre o desaparecimento do pai e nós concordamos em ajudar, eu resolvi fazer algumas pesquisas a respeito de Adam, de modo que descobri algumas coisas — de repente o Winchester me encarou, erguendo uma sobrancelha. — Você já sabia, né? Sobre ele, digo.

Acenei timidamente, concordando. Dean nos observava com uma expressão confusa estampada no rosto.

— Como assim? — ele perguntou, sem entender. — Sabia sobre o quê?

Eu dei de ombros, como se a resposta não fosse grande coisa. E realmente não era, pelo menos não até um tempo atrás. Agora, considerando o envolvimento do meu pai com os Remanescentes, isso talvez fosse algo que podia — e devia — ser analisado.

Sara fez uma pausa ao notar que Dean não estava acompanhando o raciocínio da conversa. O Winchester permanecia alternando o olhar entre Sam e eu, esperando por uma resposta.

— Certo, então eu vou explicar — a garota se ajeitou no sofá, adquirindo uma postura menos curvada e nos oferecendo um breve resquício de um sorriso. — Vou tentar ser breve, ok? — acrescentou. — Digamos apenas que você — ela fitou Dean diretamente, como se estivesse dando uma aula de história super importante — está diante da filha de um dos maiores rastreadores do nosso país — Sara deu um breve aceno em minha direção. Fiz uma careta ao ouvir o título, já que não gostava muito dele. — Não quero me gabar, mas, eu dou um trabalho e tanto para aqueles desgraçados. Faz sentido que coloquem o melhor dos melhores na minha cola. E este, meu caro, seria o papai Grace.

Dean me encarou, sua expressão era uma mistura quase engraçada de choque e confusão. Sam não esboçou reação, provavelmente porque aquela não era uma declaração nova para ele.

— Espera aí — o loiro disse. — Por que parece que eu sou o único aqui que não sabe o que diabos é a merda de um... Rastreador? — ele fez uma careta, como se não soubesse se aquele era realmente o termo correto a se usar.

Sara ergueu uma sobrancelha, parecendo achar graça da situação, enquanto eu me limitei ao silêncio. Foi Sam quem respondeu.

— Rastreadores são o tipo de caçador mais requisitado no nosso "ramo" — ele fez aspas com os dedos enquanto explicava. — São chamados assim porque são capazes de localizar qualquer coisa. Tipo, qualquer coisa mesmo. Desde um artefato antigo que estaria supostamente perdido há anos, até um ninho de criaturas que está dando trabalho demais — Sam suspirou. — Eles são basicamente caçadores experientes demais, o tipo que realmente dá conta do assunto. É sério que você não sabia sobre isso?

Dean negou, dando de ombros.

— É algo totalmente novo pra mim — respondeu. Ele ponderou por um momento, antes de acrescentar: — Se eles são só caçadores experientes demais, isso faz do Bobby um Rastreador?

Balancei a cabeça, negando.

— Não. Rastreadores são caçadores que se mantém excepcionalmente na ativa — expliquei. — Atualmente, Bobby está mais pra um Bibliotecário que um Rastreador.

Ele me olhou confuso outra vez. Era realmente adorável a cara de cachorrinho perdido que Dean fazia, exceto que eu começava a me sentir exausta de tantas explicações por causa daquilo.

— Bibliotecário? É um termo também? — perguntou.

Eu sorri pacientemente.

— Sim, é — respondi. — São como os rastreadores, só que esses são responsáveis por estudos e criptografia complexa. Quase como... — hesitei na resposta, franzindo o cenho. "Quase como os Homens das Letras", era o que eu ia dizer, mas duvidava que Dean tampouco conhecesse o termo. Era provável que nem Sam soubesse o que o título significava. Afinal, até onde eu sabia eles estavam extintos nos Estados Unidos há anos. A comparação só serviria de estopim para outra série de dúvidas desnecessárias. — Ah, deixa pra lá.

Ele assentiu, entendendo que era melhor não insistir.

— Existem muitos desses caras?

Desta vez, foi Sara quem respondeu.

— Sim. No nosso país, mais especificamente, existem vários — disse. — Mas só três são de fato reconhecidos, os outros basicamente só se autodenominam assim. Esses de quem eu falo foram, acho que você pode dizer dessa forma, "proclamados" rastreadores — ela fez aspas com os dedos, ressaltando a palavra.

Dean assobiou baixinho, parecendo de fato impressionado.

— Caramba — murmurou. — E quem são eles?

Sam esboçou um pequeno sorriso para a pergunta do irmão.

— Nosso pai era um. — Dean o encarou como se duas antenas e um par extra de olhos houvessem acabado de brotar em sua cabeça. Eu até sentia certa empatia por ele naquele momento. De repente, parecia que as revelações do dia eram todas dedicadas ao Winchester mais velho. — Um bem requisitado, aliás. Por isso me surpreendeu que você não soubesse sobre a parada do Rastreador. — Sam fez a habitual expressão de quando ia falar algo que ninguém mais sabia. A diferença ali era que eu também tinha conhecimento de toda a história. Acabava por se tornar algo maçante após passar praticamente dezoito anos de vida ouvindo a mesma coisa. — O pai de Emma também é um, obviamente, mas pelo que sei ele se limita a resolver apenas alguns casos em Los Angeles e raramente se afasta da Califórnia — ele suspirou, meio frustrado. — Bom, pelo menos foi assim que viveu nos últimos anos.

Ele me lançou um olhar de desculpas, como se fosse o culpado por todas aquelas informações. Eu esbocei um pequeno sorriso na tentativa de tranquiliza-lo. Dean assentiu para o irmão, finalmente compreendo parte dos detalhes.

— E quem é o último? — ele perguntou com um ar interessado.

Sam deu de ombros.

— Um tal de William Chermont — declarou. Sua expressão dizia que não havia muito mais o que revelar a partir dali. — Eu não sei muito sobre ele, exceto que é irmão de Adam e não costuma ser do tipo que deixa rastros, muito menos alguém que se provoca sem um plano em mente.

Dean assobiou baixinho, me direcionando um olhar estranho. Ele parecia quase... impressionado. Aquilo me surpreendeu.

— Sua família inteira é caçadora? — perguntou. Havia uma estranha expressão de admiração em seu rosto que me deixou momentaneamente sem reação.

Não era como se eu quisesse falar disso naquele momento, então apenas concordei e procurei mudar de assunto o mais rápido possível.

— Por parte de pai, sim. — A outra parte da minha família, a que pertencia à minha mãe, era um pouco mais, digamos... peculiar. Eu não tinha certeza se era uma boa ideia falar daquilo naquele momento, apesar de saber que toda essa tensão envolvendo os Remanescentes eventualmente me levaria a isso. Portanto, decidi simplesmente dar a conversa como encerrada, pelo menos por enquanto. — Nós os Grace somos tão antigos quanto vocês, Winchesters, só não tão famosos.

— Eu posso discordar disso — Sara replicou com um sorriso discreto, nos interrompendo em uma tentativa de voltar a atenção para o que realmente lhe interessava. — Mas a questão não é essa. Será que podemos retomar o assunto principal?

Nós todos concordamos, cientes da importância daquela conversa. Entretanto, Dean tinha um ar pensativo ao observar Sara — uma expressão quase enigmática, eu diria. Seus olhos adquiriram um brilho diferente ao encarar a garota outra vez.

— Então esse tal clã, os Remanescentes — ele começou, atraindo a atenção dela instantaneamente —, eles colocaram um Rastreador atrás de você e uma recompensa tatuada nas suas costas — Sara assentiu. Eu o encarei com uma expressão confusa, não entendendo onde Dean pretendia chegar com aquelas perguntas. — Mas por qual razão, afinal? Essa é uma questão bem importante, se é que me entende.

Ah, pensei, é isso. Foi impossível não ler as entrelinhas de sua frase. Estava clara a insinuação de Dean sobre a garota.

De repente, Sara adquiriu uma postura nova, ficando obviamente na defensiva.

— O que você quer dizer com isso? — ela se virou para Dean, parecendo ofendida e ao mesmo tempo desconfiada.

O Winchester deu de ombros.

— Sinceramente, minha cara, você não espera que acreditemos que você surgiu do nada como uma boa alma em busca do bem aqui, né? — ele respondeu ironicamente. — Você nos disse que eles estão atrás desse seu lindo pescocinho. Eu só me pergunto o motivo.

Franzi o rosto. Era verdade, Sara mencionara que meu pai estava atrás dela a mando dos Remanescentes, mas não havia explicado a razão por trás daquilo.

De repente, a garota parecia nervosa. Ela pressionou os lábios em uma linha reta, aparentando estar um tanto quanto acuada ali, diante de nós.

— E também — Sam acrescentou, mais uma vez me surpreendo e parecendo só então ter reparado em algo aparentemente crucial —, por que veio pedir ajuda justo a nós, digo, à Emma? — ele fitou Sara, que parecia repentinamente mais pálida. — Isso não seria o mais arriscado a se fazer, considerando que o pai dela está atrás de você?

A garota se apressou em negar, balançando a cabeça veementemente enquanto respirava fundo.

— Não! — ela respondeu imediatamente. — Eu sabia que ela não faria isso, ok? E nem pode. Acha que eu me arriscaria vindo até aqui sem saber com quem ou o quê eu estou lidando?

Sam ponderou a resposta em silêncio e Dean se limitou a dar de ombros. Sara os encarou, disposta a convencer ambos de que falava a verdade. Ela prosseguiu em um tom determinado:

— Eu descobri tudo o que podia sobre Emma antes de vir pra cá, Adam praticamente me forçou a isso! — ela começava a soar um pouco alarmada, tropeçando nas próprias palavras. Senti um nó no estômago; algo não parecia certo. — Ele está perto. Mais perto do que qualquer um que eles mandaram atrás de mim já esteve. Se as coisas continuarem como estão, não vai demorar que me encontre e, finalmente, que me entregue para aqueles desgraçados. — Sara me encarou, seus olhos claros estavam suplicantes e em seu rosto havia uma expressão genuína de desespero. — Eu falei a verdade quando disse que precisava da sua ajuda, Emma. Vir até você era a minha última opção, a mais extrema. Eu juro que não faria isso se tivesse outra escolha — ela se levantou, dando alguns passos em minha direção, que automaticamente recuei, surpresa. O rosto da garota se retorceu em uma careta, Sara parecia ter levado um soco diante da minha reação. — Você precisa acreditar em mim! — ela disse com urgência, aparentando não saber mais como lidar com tudo aquilo. Então sua voz se reduziu a um simples sussurro, enquanto seu olhar vagava pela sala, perdido. — Por favor, só... acredite em mim.

Eu engoli em seco, totalmente deslocada. As palavras de Sara haviam me deixado bastante perplexa — em parte, eu estava surpresa por sua coragem ao desafiar Dean, que ia se mostrando um ser extremamente difícil, além de sua determinação em convencer a nós três. Por outro lado, eu estava de fato incomodada com algo; aquela garota havia confessado ter investigado todo o possível sobre mim antes de finalmente se convencer a nos encontrar. O que ela havia descoberto, afinal?

Devo dizer que as possibilidades não me deixavam nem um pouco tranquila, pelo contrário.

— O que você sabe sobre mim? — perguntei a ela, levemente desconfiada. O ar havia se tornado repentinamente opressor e, apesar de ser dia, era como se o cômodo de repente houvesse ficado bem mais escuro.

Sara deu de ombros, desviando o olhar e mordendo o lábio nervosamente ao falar:

— Eu... eu sei tudo sobre você. — Ela respirou fundo, fechando os olhos por um instante. Então seus olhos se abriram e a garota me encarou, parecendo se sentir culpada. — Sei, por exemplo, sobre a sua história envolvendo Alice e os Remanescentes. Sei sobre sua mãe, morta por um demônio quando você e sua irmã eram só crianças — a sensação de ouvir aquilo era quase a mesma de levar um soco, e eu me encolhi diante daquelas palavras. De repente, senti olhares queimando sobre mim, o que só tornou toda a situação ainda pior, se é que isso era possível.

Eu ainda não havia contado aquela história a Dean, e obviamente Sam não sabia mais sobre aquilo que o irmão. Céus, eles sequer sabiam que eu tinha uma irmã. E sinceramente? Eu nem sei se teria contado alguma coisa, caso Sara não tivesse arrancado a verdade de mim tão abruptamente.

A garota hesitou por um momento, como se percebesse que acabara de dizer algo que não deveria. Seu olhar vagou sobre o meu, extremamente culpado. Acenei para que ela continuasse — era melhor que as ataduras fossem arrancadas todas de uma vez —, fazendo questão de ignorar o olhar de Dean e Sam, que naquele momento continuava me perfurando incessantemente, como várias adagas minúsculas e incômodas.

Sara pigarreou, retomando sua fala:

— Eu também sei que você está há meses atrás do seu pai, desaparecido após uma caçada aparentemente comum em Denver, e que eles — ela apontou para os dois irmãos, que permaneciam em silêncio absoluto, alternando o olhar entre nós duas — estão te ajudando nisso há varias semanas. Inclusive, é por isso que sei que você não vai me entregar para Adam assim que possível.

Deixei escapar uma exclamação, baixinho. Era realmente surpreendente o quanto ela sabia sobre... bom, tudo. Aquela garota tinha literalmente feito um dossiê completo da minha vida e resumido alguns dos principais acontecimentos dos últimos anos em menos de cinco minutos.

Eu cruzei os braços, encarando-a curiosamente.

— O que isso quer dizer? — eu me referia a sua afirmação convicta de que eu não a entregaria ao meu pai. Não que eu tivesse motivos para isso, de fato, mas gostaria de ouvir suas conclusões.

Sara deu de ombros.

— Sem querer ofender, Emma — ela começou, enfiando as mãos nos bolsos da calça e inclinando a cabeça para o lado, me observando atentamente —, mas sua busca nas últimas semanas têm sido um considerável fiasco. Eu sou sua melhor chance atualmente se quiser encontrar seu pai — a garota deu um pequeno sorriso, como se ambas de repente estivéssemos compartilhando uma piada interna. — Resta saber o quão disposta você está.

Franzi o rosto para aquelas palavras, incomodada. O quão disposta eu estava? Apenas o suficiente para percorrer quase toda a faixa do país duas vezes em menos de uma semana, enfrentar Wendigos e vampiros e, especialmente, aturar uma adolescente com um complexo de auto-confiança irritante me dizer que meu trabalho dos últimos meses tinha sido praticamente inútil.

Abri a boca para responder, irritada, mas fui interrompida. Dean se aproximou de Sara, a mesma carranca desconfiada que mantinha desde o início da conversa ainda decorava seu rosto. Ele olhou a menina de cima a baixo, cruzando os braços antes de falar:

— Como você pode ter descoberto tanto sobre cada passo dela nas últimas semanas? — seu tom era acusatório e um pouco mais duro do que antes. Tive a impressão de que Sara tremeu por um momento, mas quando a observei melhor, seu olhar sob o de Dean continuava firme como nunca. — Não é como se deixássemos um cartão de visitas em cada cidade pela qual passamos. Não um com nossos nomes reais, pelo menos.

Com isso, Sara deu risada, surpreendendo Dean. Ela parecia realmente espantada com a situação, para não dizer totalmente surpresa. Você não é a única, pensei.

— Os meus pais cuidaram para que eu soubesse me virar em situações de necessidade — ela sorriu, orgulhosa de si mesma, mas sua expressão rapidamente foi substituída por um muxoxo triste. — Me tornar uma hacker não estava na lista de profissões prediletas da escola, mas é um trabalho necessário quando você eventualmente se torna uma fugitiva para os Remanescentes. Como acha que sua caçadora ali teve tanto trabalho conseguindo informações minhas nos últimos dias? — ela me fitou com um olhar sabichão e irritante, depois sorriu. — Você é boa Emma, mas nesse quesito, devo dizer que eu sou melhor.

Eu revirei os olhos, contrariada, enquanto notava Dean dar um sorrisinho debochado ao meu lado. Traidor!

— Ela é como você — ele comentou com um ar divertido. — A diferença é que o complexo de superioridade a atingiu mais cedo.

Dei um olhar irritado ao loiro enquanto Sara lhe oferecia uma piscadela, sem perder a pose. Suas íris incrivelmente verdes de repente mergulharam nas minhas, e senti outra vez um frio desagradável na barriga. Eu me sentia mal por ter escondido as coisas dele até o momento — não porque elas fossem importantes para o caso, pois não eram, mas porque se tratava de um gesto de confiança que eu neguei a dar. Eu havia jurado a mim mesma que confiava em Dean e Sam, e ainda assim não tinha sido capaz de ser totalmente transparente com eles. Ainda era uma questão de privacidade, mas não deixava de ser uma mancada considerável. Era a droga de um dilema que eu definitivamente não sabia solucionar.

Balancei a cabeça, buscando afastar aqueles pensamentos e desviei o olhar. Franzi o rosto, então me lembrando do que Sara havia dito antes.

— Você disse que seus pais te ensinaram o que sabe? — questionei, ela assentiu. — E onde estão eles?

Eu já tinha uma ideia, considerando toda a situação em que a garota se encontrava, mas precisava ter certeza antes de qualquer coisa. O olhar que Sara me deu foi a confirmação que eu precisava. De repente, os olhos dela pareceram faiscar de raiva e seu tom se tornou sombrio:

— Mortos — respondeu secamente. Aquela palavra parecia arranhar o caminho para fora de sua boca. — Os dois. Tudo obra deles.

Eu entendi imediatamente que o "eles" significavam os Remanescentes.

— Por que eles te querem morta? — perguntei, não entendendo o sentido daquilo. Não de tudo, pelo menos. — Não é do feitio dos Remanescentes saírem por aí praticando carnificinas. Eles podem ser cruéis, mas não criam vítimas sem antes ter um bom motivo.

Sara suspirou. Ela parecia repentinamente cansada, como se relembrar o que quer que fosse que estava lembrando no momento a deixasse exausta e consideravelmente deprimida.

— Pela única coisa que aquele clã estúpido preza, é claro — ela me encarou com frieza evidente em suas íris castanhas. — Liderança. Mataram meu pai por sua posição e minha mãe morreu para que eles não me levassem após isso. Se não fosse por ela, eu provavelmente seria só mais um nome riscado do livro de visitas.

Eu senti um aperto na garganta diante daquelas palavras. Eu não tinha um bom pressentimento sobre aquilo. Novamente, algo não parecia certo.

Dean e Sam nos observavam em silêncio, porém com atenção. O fato de Sam não ter dito mais do que algumas frases durante a conversa me deixava apreensiva, visto que ele era quem sempre tinha um observação na ponta da língua para dizer. O silêncio de Dean também me incomodava, principalmente porque eu sentia que ele me fitava o tempo todo, sem prestar muita atenção em Sara. Algo me dizia que o Winchester ainda estava pensando sobre o que a garota dissera a respeito da minha família, e eu não sabia se gostava disso ou se apenas ficava ainda mais preocupada.

Eu me inclinei na direção de Sara, observando a expressão de incômodo que se sobressaía em seu rosto. Resolvi que minha próxima fala seria dita de maneira cuidadosa, embora firme:

— Sara — eu a encarei profundamente, deixando claro em meu tom que era melhor que ela fosse sincera em sua próxima resposta. — Quem são os seus pais?

Sara respirou fundo, fechando os olhos por um momento. Era isso, tínhamos chegado no ponto-chave de todo aquele diálogo. E algo me dizia que eu não ia gostar das próximas revelações.

— Maxwell e Linda Ross.

Foi como se todos os meus instintos entrassem em alerta imediato, causando uma reação em cadeia por todo o meu corpo. Endireitei a postura na hora, arregalando os olhos instantaneamente, incapaz de esconder meu choque. Sem. Chance. Aquela garota não poderia ser filha daqueles dois. Impossível.

Sara pareceu perceber minha reação, mas não disse nada. Ela me observava em silêncio, aguardando algum tipo de pronunciamento ou qualquer sinal de resposta.

— Você é filha do Max?! — perguntei, e meu tom deixava claro a incredulidade presente em minhas palavras. Sara assentiu. Só podia ser brincadeira.

Encarei a garota, esperando por uma explicação mais completa. Ela devia ter mais a dizer do que aquilo, precisava ter. Não era possível que justo o Alvo ia me dizer algo assim e agir como se não fosse nada de mais.

Contudo, quando seus olhos fitaram os meus timidamente, tudo o que ela disse foi:

— Eu posso explicar.

Balancei a cabeça, incrédula. Ok, aquilo definitivamente era uma piada. E de muito mau gosto, aliás.

— Explicar? — eu perguntei chocada. Uma risada de escárnio escapou de meus lábios, Sara se encolheu outra vez. — Isso é o mínimo que você pode fazer, explicar. Vai me dizer que é uma brincadeira agora, né?

Sara balançou a cabeça, negando insistentemente. Eu ri outra vez, certa de que estava enlouquecendo.

— Emma? — ouvi Dean chamar meu nome, cauteloso. — Qual é o problema?

Suspirei, fechando os olhos e balançando a cabeça. Os irmãos me encaravam confusos, claramente sem entender nada. Eu não os culpava — nem mesmo eu estava acompanhando todos os fatos.

Sara abaixou o olhar, como uma criança que é pega fazendo algo de errado. Eu respirei fundo, me virando para Dean, que me encarava à espera de uma resposta.

— O problema — falei sarcasticamente — é que Maxwell Ross é ninguém menos que o atual líder dos Remanescentes — falei, arrancando um suspiro de choque de todos ali, com exceção da própria Sara, que parecia implorar mentalmente para que um buraco surgisse no chão e a engolisse ali mesmo. — E aparentemente nós estivemos diante da filha dele esse tempo todo, mas ela só lembrou de mencionar esse pequeno detalhe agora.

Dean encarou Sara, parecendo não acreditar no que acabara de ouvir. Sam estava pasmo, realmente surpreso. Era a primeira vez que eu o via esboçar uma reação de fato desde que o diálogo começara. Quanto a Sara, ela simplesmente permaneceu em silêncio, ciente de que qualquer coisa que dissesse ali iria apenas piorar sua situação.

Eu respirei fundo. Aquela conversa seria mais longa do que eu imaginara. Sara me encarou, o rosto livre de expectativas, mas novamente com uma postura apreensiva. Dúvidas e mais dúvidas preenchiam seus olhos. Ela parecia estar qualquer coisa naquele momento, exceto confiante.

— Você tem muito o que explicar — falei em um tom frio enquanto a encarava. — Muito mesmo.


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Notas finais do capítulo

NOTAS RETIRADAS DO WATTPAD:

Vocês por acaso notaram que os Homens das Letras foram mencionados nesse capítulo? Pois é.

Como vocês já sabem, Emma passou a vida praticamente toda se limitando a caçar só em Los Angeles, então ela obviamente não conhece tantas coisas — mais especificamente, tantas criaturas — quanto os Winchester. Contudo, é claro que existem algumas coisinhas que ela conhece e eles não, e nesse ponto da "linha do tempo", os Homens das Letras se encaixam nessa lista. Muita gente não lembra, mas a fanfic se passa logo após a sexta temporada da série e antes da sétima — em uma espécie de brecha entre essas duas seasons —, então Sam e Dean ainda não fazem a menor ideia do que esse termo "Homens das Letras" significa. A nossa caçadora, por outro lado, sabe bastante sobre eles. E antes que perguntem, não, ela não é descendente deles, haha.

A cena em si foi só uma referência, e não pretendo me aprofundar no porquê de a Emma conhecê-los. Porém, se vocês quiserem, posso abrir um tópico pra explicar essa curiosidade futuramente. Fica a critério do povão, hihi.

Era só isso mesmo pessoal, obrigada pela paciência ♥

No próximo capítulo: Sam e Dean parecem bem surpresos com a revelação de que Sara é filha do líder dos Remanescentes, e a garota ainda vai precisar dar muitas explicações ao nosso trio. É provável que mais um clã apareça nessa sequência, alguém é capaz de dar um palpite sobre as criaturas ele representa? Hihi. E, ah! Vocês sabem o que é um Clã de Raça? Não? Pois então estão prestes a descobrir...



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