Corações Perdidos escrita por Syrah


Capítulo 29
29. Um visitante útil


Notas iniciais do capítulo

AYO hunters ^_^

Boa leitura! ♥



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WEST RIVER ACABOU sendo bem maior do que eu esperava.

Quando Sam nos contou sobre o lugar, imaginei que estivesse falando de uma daquelas cidades de interior pequenas e aconchegantes, onde todos os moradores se conheciam porque bastava andar umas cinco quadras e você já dera uma volta completa em todos os bairros. Bem, ali era de fato uma cidade de interior bem aconchegante à primeira vista, mas passava longe de ser pequena.

— Pra que lado fica esse hotel, pousada ou sei-lá-o-quê, Sam? — Dean perguntou alguns minutos após adentrarmos a cidade. Eram suas primeiras palavras desde que havíamos deixado Sioux Falls.

— Hum? Ah, um segundo — o moreno ligou o tablet que levava no colo e deu uma olhada no GPS. — Vire à esquerda no próximo cruzamento, duas quadras adiante.

Dean assentiu, fazendo o percurso enquanto cantarolava uma música do Guns 'N Roses que tocava no rádio naquele momento. A viagem até ali havia sido bem calada, nenhum de nós conversara muito, exceto Sam, que vez ou outra dava ao irmão algumas orientações de atalhos. Eu não estava muito no clima para papos depois da conversa nem um pouco agradável de mais cedo, portanto apenas encostei a cabeça no vidro da porta e observei a paisagem até chegarmos a pousada.

Não demorou muito. Chegamos lá bem no horário de almoço — assim como Sam dissera — e tivemos uma recepção ótima. Um senhor de idade, usando um suéter engraçado e oclinhos de meia-lua nos atendeu, pedindo a uma das serviçais que nos mostrasse nossos aposentos. Peguei um quarto separado dos garotos, prometendo aos dois que os encontraria depois de comer alguma coisa. Sam concordou com um sorriso, enquanto Dean não se pronunciou sobre o assunto.

— Pearl Jam e Bryan Adams — o senhor olhou para Dean e Sam respectivamente, então se voltou para o computador e digitou mais algumas coisas — quarto 201. Boa estadia, senhores.

Olhei para Sam, desacreditada.

— Cantores de rock dos anos 80? Sério? — sussurrei.

O moreno abafou uma risada.

— Não foi ideia minha — se desculpou. — Além disso, é divertido — sorriu.

Revirei os olhos, enquanto ouvia o senhor Oclinhos chamar meu nome — bom, meu falso nome.

— Amy Sullivan — ele abriu um sorriso gentil, digitando algo em seu computador e voltando a me encarar — quarto 207. Boa estadia, senhorita.

Agradeci enquanto recolhia a chave do quarto que me fora designado. O senhor Oclinhos aproveitou o horário para nos dizer que a pousada servia almoço aos hóspedes, o que estava sendo feito naquele momento, na ala principal. Então ele nos orientou sobre como chegar lá e também indicou uma lanchonete umas duas quadras dali, para o caso de não estarmos com tanta fome assim.

— Obrigada — agradeci outra vez, enquanto a serviçal e seu ajudante recolhiam nossas malas e nos mostravam onde ficavam nossos quartos.

Meu quarto ficava no fim da ala leste, enquanto o dos garotos ficava na entrada da ala norte. Disse a eles que ia até lá dentro de duas horas, dando tempo de me arrumar e tomar banho, além de procurar algo para comer por ali. Sam assentiu (Dean ainda se recusava a olhar para mim) e nos despedimos. Wendie — este era o nome da serviçal que me acompanhara junto dos meninos até nossas respectivas alas — me deixou na porta do meu quarto e prometeu voltar dentro de algumas horas para ver como tudo estava. Assenti, agradecida, enquanto ela se afastava, provavelmente indo atrás do cara que a ajudara com as malas.

Entrei no quarto e rapidamente deixei minhas malas de lado e me joguei na cama. Nem me dei ao trabalho de reparar no quanto o lugar era bonito, queria apenas aproveitar a maciez daqueles lençóis por alguns segundos.

— É pra isso que falsifico cartões de crédito, santo Deus — murmurei, a voz abafada pelo colchão super confortável.

Mandei uma mensagem de bom dia à Moira, aproveitando para checar a caixa de mensagens e o histórico de ligações. Haviam algumas ligações da loira e uma mensagem de um remetente um tanto incomum.

Ally C.: Soube que esteve em L.A., estou chateada por não ter sido informada. Justin andou te procurando, mas acho que já sabe disso. Estou resolvendo um caso importante e não devo ficar muito por aqui, mas espero que nos encontremos em breve. Ah, Dyl mandou um beijo! Até mais, Em. xoxo

Allison Chermont. Uma prima com quem eu costumava caçar quando mais nova, em casos que nossos pais julgavam "adequados a garotas da nossa idade". É claro que isso nunca nos impediu de ir atrás de perigos maiores uma vez ou várias. Allison era uma das melhores caçadoras que eu já havia conhecido e costumávamos manter contato frequente até algumas semanas depois do meu primeiro encontro com os Winchester, então ela ficou distante de repente por motivos que desconheço. Não fiz perguntas, Ally também não forneceu respostas. Desde então mantivemos assim.

O que ela estaria fazendo em Los Angelles nessa temporada? O clima não é dos melhores e não há muita coisa a se visitar. E ela andara se encontrando com Justin... e havia ainda mencionado algo sobre uma "caçada importante". No que Allison estava metida desta vez? Resolvi mandar uma breve mensagem em resposta.

"Ei, o que houve? A última vez que um Chermont pisou em L.A. o Diabo estava à solta, literalmente. Estou bem, apenas em outra caçada como sempre. Mande notícias, Ally, nos vemos em breve."

Deixei o celular de lado e permaneci estática por mais alguns minutos, refletindo sobre a mensagem que recebera por um bom tempo, antes de decidir me levantar e ir tomar um banho. Já havia se passado pouco mais de uma hora desde que havíamos chegado à pousada e eu prometera encontrar os garotos em duas. Acho que teria que me preocupar com a comida no caminho para o sanatório. Demorei alguns bons minutos no banho — que estava divino, devo dizer, os chuveiros desse lugar são ótimos — enquanto murmurava alguma canção aleatória e pegajosa.

Desliguei a água e me enrolei em uma das toalhas, ajeitando o cabelo e deixando-o solto para secar. Estava prestes a sair do banheiro quando ouvi um barulho estranho, que pareceu vir de dentro da suíte.

Congelei imediatamente. Se não estava enganada, aquele estalido significava que alguém acabara de entrar no meu quarto pela janela, e eu duvidava muito de que um dos garotos fosse fazer isso tendo como opção a porta da frente. Permaneci estática, praticamente sem ousar respirar. Quem estaria ali e, ainda, por quê?

Depois de alguns poucos segundos, ouvi outro barulho. Desta vez foi inconfundível o som de passos. Quem quer que fosse, devia achar que o lugar estava vazio.

O mais silenciosamente que pude, caminhei até onde minhas roupas estavam penduradas e remexi a calça, dando graças por encontrar minha pistola presa no cós. Peguei-a e destravei o gatilho, indo até a porta e abrindo-a devagar. O momento pareceu durar uma eternidade. Meu visitante agora parecia ter certeza de que estava sozinho, pois seus passos estavam mais altos e impacientes, diria que até desleixados. Aproveitei a chance para pega-lo de surpresa, escancarando a porta do banheiro e apontando a arma em todas as direções possíveis.

Não demorou até que eu o avistasse.

— Parado aí! — gritei, a arma firme em mãos. — Quem é você e o que pensa que est... — Parei assim que ele se virou e pude ver seu rosto, totalmente surpresa. — Mas o quê?

Não era um invasor nem nada do tipo. Na verdade, era uma visita um tanto peculiar, até. Abaixei a arma, me permitindo um segundo para retomar o fôlego.

— Olá, Emma — ele cumprimentou tranquilamente, como se eu não tivesse apontado uma arma para seu rosto dois segundos antes.

Suspirei.

— Caramba, Castiel! — exclamei, abismada. — Quantas vezes eu já te disse pra anunciar sua entrada? Merda, eu poderia ter atirado!

O anjo se mostrou um tanto confuso com a minha reação.

— Essas balas não me feririam — anunciou o óbvio. — Achei que já soubesse disso.

Castiel estava, como sempre, impecável. Usava as mesmas roupas desde a última vez em que eu o vira — já fazia um tempo desde então —, mas estas pareciam novas em folha, como sempre. Seu rosto carregava uma expressão tranquila que eu sempre lembrava de nunca associar com sua personalidade, pelo menos não quando ele estava irritado.

Revirei os olhos, impaciente.

— E eu sei! Mas não é isso, a questão é que... — Balancei a cabeça, decidindo deixar o assunto de lado. Considerando o que eu sabia até então sobre esse anjo, uma discussão não levaria a nada. — Ah, esqueça. O que você quer aqui, afinal?

Castiel ajeitou a gravata antes de falar.

— Vim falar com vocês. Achei que pudessem precisar de ajuda no... novo caso — disse. — Bobby me contou que vocês vieram até aqui resolver o mistério por trás dos assassinatos.

Assenti, colocando minha arma sobre a cômoda ao lado da cama.

— Não deveria falar com Sam e Dean sobre isso? Eles estão em outro quarto, posso te levar até lá.

Ele negou com um aceno.

— Não há necessidade, Dean está vindo se encontrar com você nesse instante — falou, me pegando de surpresa. — Sam fez um desvio para comprar comida, mas já está a caminho.

Eu havia dito aos garotos que os encontraria mais tarde em seu quarto, não entendi porque resolveram vir até o meu. Entretanto, apenas acenei em concordância, já que não havia muito o que fazer quanto a isso.

Senti meu corpo tremer por conta do ar frio e instintivamente esfreguei minhas mãos nos braços.

— Preciso me trocar. Um minuto. — Pedi. — Fique à vontade.

— Como quiser — respondeu Castiel, mantendo-se onde estava.

Dei de ombros e deixei-o ali, voltando ao banheiro. Foi o tempo certo de eu terminar de me vestir e alguém bateu na porta. Peguei minha arma e a pus de volta no cós da calça, então fui atender.

Dean entrou sem cerimônias ou convite, não se incomodando por estar aparecendo tecnicamente de surpresa.

— Sam foi comprar comida, já que o horário de almoço daqui acabou — ele me encarou, começando a falar. — Enquanto isso, acho que nós precisamos... — ele parou de falar ao reparar no anjo de pé ao meu lado. — Cas? — o loiro pareceu confuso. — Eu não esperava... é... hum... Desde quando está aqui? Quanto tempo.

— Ei, Dean — Castiel cumprimentou. — Cheguei há alguns minutos.

— Ele diz que quer nos ajudar no caso — complementei.

O anjo assentiu.

— Lá em cima está consideravelmente tranquilo... por agora — disse, fazendo uma careta ao dizer as últimas palavras. — Enquanto isso, pensei em dar uma mãozinha a vocês.

Dean piscou, parecendo surpreso.

— Isso é estranho — falou, mas logo em seguida abriu um sorriso amistoso. — Mas qualquer ajuda é bem-vinda, cara. Valeu.

Castiel sorriu de volta.

— Já estou por dentro do caso — anunciou, parecendo satisfeito com si mesmo. — O que vocês pretendem fazer quanto às mortes?

— Pesquisamos um pouco mais a fundo sobre o assunto e descobrimos uma lenda sobre o lugar e duas pessoas que podem estar ligadas ao caso — explicou Dean. — Infelizmente uma delas, Samirah Langdon, morreu há alguns anos, mas achamos que seria bom investigar o local onde ela passou seus últimos dias. Sam vai atrás da outra testemunha, um policial que se responsabilizou pelo caso na época, enquanto eu vou dar uma olhada na mansão Axefire.

— Posso acompanhar um de vocês — Castiel sugeriu.

Assenti.

— Acho que você pode vir comigo, Cas. Sinto que posso precisar da sua ajuda. — Ele concordou com um sorriso.

Nesse momento, mais alguém bateu à porta. Dean abriu, com Sam passando por ela com um ar meio afobado e segurando algumas sacolas.

— Tudo bem, cara? — Dean perguntou, ao que Sam parecia um tanto confuso e exasperado.

O moreno assentiu, colocando as sacolas sobre o balcão que ficava próximo à cama.

— Acho que sim. A hóspede do quarto ao lado desse me confundiu com algum ator de hollywood e ficou me perseguindo por um autógrafo — contou. Eu e Dean caímos na risada. — Não é engraçado, ela parece maluca. — Ele respirou fundo e se sentou, não demonstrando  surpresa ao reparar em Castiel de pé no meio do quarto. — E aí, Cas?

— Sam. — O anjo cumprimentou de volta. 

Tiramos uma hora para repor as energias com a comida que Sam trouxera (lembrei de agradecê-lo infinitamente por isso), que por sinal estava ótima. Repassamos o plano uns com os outros, combinando de nos encontrarmos no quarto dos garotos às oito da noite em ponto com as informações que cada um coletara.

Sam alugou um carro para ir até a delegacia sob o pseudônimo de agente, enquanto Dean iria como turista à mansão. Eu não precisaria de carro já que... bem, Castiel era Castiel.

Era por volta de três da tarde quando decidimos partir. Todos já estávamos prontos com nossos respectivos falsos distintivos e quantas armas fôssemos capazes de esconder sob nossos casacos. Eu estava prestes a sair, quando Dean me interrompeu.

— Emma — ele chamou, ajeitando a camiseta e se aproximando. — Antes de ir... tem um minuto? 

Assenti, embora um pouco apreensiva. Disse a Castiel que o encontraria na saída do hotel em alguns minutos, o anjo concordou e deixou o quarto numa de suas familiares saídas teatrais.

— Algo de errado? — perguntei a Dean, quando Sam e Castiel já haviam saído do quarto.

O loiro fez que sim. Ficou em silêncio por alguns minutos, então se sentou na cama, gesticulando para que eu fizesse o mesmo. Me sentei ao seu lado, esperando um pronunciamento.

— Sobre hoje cedo... — ele começou, me pegando um pouco de surpresa, já que não esperava a abordagem do assunto. — Acho que exagerei um pouco.

Balancei a cabeça.

— Acha?

Ele sorriu.

— É, eu sei. — Dean me encarou. — Eu sei o que disse mas... quero que saiba que independente do que aconteça, ainda vou te ajudar com Adam. Você sabe que sim...

— Obrigada.

— ... mas eu ainda quero que diga a verdade. Toda a verdade.

Revirei os olhos.

— Esse assunto de novo, hein? — repliquei. — Por que está tão curioso com relação a isso?

Ele balançou a cabeça, negando.

— Não estou curioso, estou preocupado — disse, me olhando fixamente. — Está guardando algo pra si mesma que pode te causar problemas mais tarde, tudo porque acha que consegue aguentar o tranco sozinha. Sei disso porque está fazendo algo que eu mesmo já fiz mais vezes do que consigo contar.

Permaneci em silêncio, pensando. Odiava admitir, mas o Winchester estava praticamente me convencendo àquela altura.

— Teremos bastante tempo para discutir isso quando voltarmos, não é? — foi tudo o que respondi, sentindo-me mais seca que de costume.

Dean pareceu prestes a argumentar, ou apenas discordar de mim como de costume, mas aparentemente algo o fez voltar atrás em sua escolha de palavras.

— É, nós teremos, sim — foi o que ele respondeu, sem que eu conseguisse ler a expressão em seu rosto. — Bom, era só o que eu tinha a dizer. Boa sorte naquele lugar. Se precisar de ajuda...

— Eu ligo desesperada pela ajuda dos meus queridos Winchester, não se preocupe — o loiro revirou os olhos. — Eu sei me cuidar, Dean.

Dean assentiu.

— Sei que sabe — ele pegou seu casaco e ambos saímos do quarto.

Fui até a entrada da pousada, onde Castiel devia estar me esperando. Encontrei o anjo conversando com uma garotinha, sendo que os dois se despediram assim que notaram minha presença. Pude jurar ouvir Castiel dizer um "até logo, Hannah" antes de a menina sumir de vista, sem sinal de seus pais por perto.

Castiel então se aproximou, a mesma expressão tranquila de sempre estampada em seu rosto.

— Podemos? — ele sorriu, estendendo as mãos. Assenti, sorrindo de volta.

O anjo tocou meu ombro, causando aquela não tão familiar assim sensação de náusea, e um segundo depois nós estávamos em um beco que ele afirmara ser atrás do sanatório.

— Isso nunca fica menos estranho — falei enquanto saíamos do beco e entrávamos na rua principal, levando um segundo para recuperar o equilíbrio.

— Era o que Dean costumava dizer — Castiel comentou, ajeitando o sobretudo. — O que fazemos agora?

Encarei o enorme prédio à minha frente, com um letreiro azul-claro onde se lia "Instituição West River: Saúde mental e corporal" — bem brega, se quer a minha opinião. Cerrei os punhos, respirando fundo. Apenas mais um caso comum, porém, o último.

— Agora nós conseguimos respostas — falei.

Castiel assentiu e, juntos, nós entramos no prédio.


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Notas finais do capítulo

Ei galera, o que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado ♥ Aventuras picantes aguardam vocês nessa saga "filler", que por sinal é a última (o final se aproxima, haha). Deixem suas reações nos comentários.

No próximo capítulo: Descobertas interessantes aguardam por Emma e Castiel nesse episódio, ao passo que um novo personagem surge para confundir nossa dupla e apimentar as coisas. O que há de tão oculto por trás do caso Axefire? Enquanto isso, Castiel parece mais interessado que de costume no passado de Emma, o que não parece agradar a garota nem um pouco. Por que será?

Até a próxima, babies, amo vocês!



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