The Search escrita por Ene


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Talvez ninguém leia a minha fanfic. Talvez muitos usuários leiam. Só queria avisar que a escrevi com um carinho imenso.



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Hoje o dia havia começado diferente para Amanda. Ainda não sabia ao certo o que pensar, o que sentir, o que falar… Não sabia exatamente o que fazer. Pega seus cadernos, os coloca dentro da mochila e pensa: “vou viver esse dia como se fosse o último” — pois havia uma remota probabilidade de ser. Chegaria até o colégio, teria sua aula… Iria para casa, e dormiria por quatro horas para recuperar as horas de sono perdidas na madrugada anterior.

Era tudo tão novo. O que havia acabado de começar, sua nova fase… Talvez a destruição de seus sonhos, talvez a criação destes. Talvez, um pouco de cada. Era meio engraçado de pensar em seu futuro agora. Amanda imaginava como seria quando lhe perguntassem o que queria cursar na faculdade. Faculdade? Quem sabe. Ela pretendia trabalhar em quê? Como ela iria se sustentar? Vivendo sob as contas dos pais, o que já fazia há 16 anos? Não. Não seria assim.

Amanda se encaminha para o lado de fora de casa, onde a boca do tênis de cano baixo e a calça cinza-claro levemente curta contribuíam para que as meias azuis dessem um “Olá” para o mundo. Apesar do frio, a blusa de lã escura manchava-se com seu suor ralo que misturava nervosismo, ansiedade, incerteza, esperança e um pouco de fé. O cabelo escuro e de fios extremamente finos — que atrasavam Amanda todas as manhãs para serem penteados — balançava-se com a brisa de inverno que se aproximava. Aquele era um dia normal para o padeiro, que acostumou-se a acordar sempre às cinco horas da manhã e colocar a massa no forno, para a vendedora do mercado, que precisava trazer e colocar o troco na caixa registradora antes de abrir as portas, para o pobre homem que havia dormido na rua, abandonado pela família, sem esperança de um novo dia, e inclusive para a menina da casa ao lado que divertia-se passeando com o filhote de labrador preto e que, ao chegar em casa, regava as margaridas da mãe, cuja fumava cigarros e os deixava acesos, poluindo o ar da varanda. Aquele podia ser um dia como qualquer outro para qualquer um. Mas para Amanda, seria um dia estranho.

Ao chegar na escola, dá “oi” para o namorado que aguardava no portão e encaminha-se para a sala de aula. Primeira aula, física. No primeiro ano, a escola havia feito confusão com professores, tendo trocado quatro vezes o ocupante do cargo, então estavam extremamente atrasados. Estavam revisando notação científica, o que ainda não entendiam muito bem. Amanda era muito boa em notação, o que não significava que gostava de física. Muito pelo contrário — ela odiava física. Gostava de matérias que julgava serem mais simples, como português e história. Decorar regras de crase e produzir resumos sobre o muro de Berlim era passatempo para Amanda. Mas, no momento, não poderiam ajudá-la.

A conversa que teria com Nicholas se aproximava conforme os ponteiros passavam, os sinais tocavam… E a espera até que o intervalo chegasse era boa — ou não?

Enquanto ele não chegasse, Amanda pensava mais e mais. Por mais incrível que fosse, não conseguia se concentrar em coisas que precisava pensar, como as questões de matemática que havia esquecido de resolver, a prova de literatura que seria aplicada em dois dias, a matéria perdida de biologia… Se concentrar em assuntos quando precisamos nos concentrar é extremamente difícil. Quando temos a oportunidade de pensar sem perder tempo, é muito melhor deixar a imaginação fluir. Por que as borboletas têm cores distintas? O que torna a água pura, incolor, sem gosto de nada, mas ao mesmo tempo tão saciável? Como agiria Obama se pudesse saber que o atentado de 11 de setembro aconteceria antes do mesmo acontecer? Será que a lua pode se comunicar com as estrelas?

O sinal do intervalo toca. Enquanto seus colegas saem apressados para saborear a nada saborosa sopa de feijão que é servida na cantina, Amanda arrasta-se para fora da porta, desejando ter o poder de voltar no tempo.

— Amanda! Ei, Amanda! — profere Nicholas ao ver a namorada saindo da sala de aula.

— Oi, Nick. Desculpa por não te dar atenção antes, ‘tava atrasada.

— Tudo bem, amor. Preciso te contar uma coisa. — Nicholas e Amanda entrelaçam os dedos das mãos geladas e descem as duas levas de degraus do colégio, que os levam para o pátio.

— Sério? Eu também. Mas pode falar primeiro.

— Claro que vou falar primeiro, ‘tô esperando desde ontem pra te contar!

— Por que não mandou mensagem? — indaga Amanda, sentando-se na grama.

— É muito importante pra contar por mensagem. ‘Cê não sabe como foi difícil guardar até hoje. Olha só… — Nicholas mostra a imagem de uma casa de dois andares inteiramente branca, com vidros reluzentes e telhado recém pintado de marrom escuro. As venezianas eram da mesma cor do telhado, fazendo um belo contraste. A porta chamava mais atenção do que a casa inteira: era um pouco mais clara que as venezianas e o telhado, de um marrom brilhoso e um mosaico colorido com várias formas geométricas. A casa era linda.

— É linda, Nick.

— E é nossa. Quer dizer… — corrige Nicholas ao ver a cara de susto de Amanda — Ainda não. Meu pai comprou semana passada e me mostrou ontem. Disse que ‘tá muito feliz com a nossa relação. Meu pai é demais.

— É, ele é… — sente vontade de chorar. Nick continuaria pensando dessa forma depois de levar a bomba que estava presa em sua garganta? — Agora minha vez.

— Mandy, olha o tamanho dessa casa! Cabe nós e uma dúzia de crianças!

— Você quer ter doze filhos? — Um sorriso extravia-se pela feição preocupada de Amanda.

— Não, mas… Uns dois, talvez, né? Ou você quer ter mais? Bom, ainda é muito cedo pra pensar nisso...

— Também acho cedo. Mas vamos precisar conversar sobre isso.

— Sim, óbvio, quando quisermos ter filhos.

— ‘Cê não entendeu… Esquece.

Nicholas percebe que Amanda está prestes a chorar. Sua feição é preocupada e seus olhos encharcam-se mais a cada palavra que sai de sua boca. Só de olhar pra ela, tem-se uma noção da agonia e da garganta em nó que segura.

— Não, Mandy. Agora você conta o que tinha que me dizer.

— Nicholas… Eu pensei muito sobre falar ou não falar isso. — ele a ouve atentamente — Mas esconder seria errado. Então… Você sabe muito bem que eu me cuido, cuido bem dos meus remédios, sempre tomo certinho… Não deixo um dia passar.

— Fala logo, Amanda. Não enrola.

Ela engole em seco. Seca estava sua garganta, com medo de pronunciar as palavras que viriam a seguir. Mas o que era o medo?

— Nicholas, eu ‘tô grávida.

O medo é a incerteza. Quando não sabemos o que vai acontecer. Quem tem medo de escuro, apenas tem medo do que tem no escuro, e não do escuro em si.

— Grávida. — repete Amanda.

Medo (incerteza?) era o que Amanda sentia agora. Qual seria a reação de Nicholas? Seu pai a ensinou a nunca esperar pelo melhor: só assim teremos certeza de que o resultado vai ser algo bom. Estaria seu pai disposto a continuar confiando nessa palavra própria?

— Grávida. — diz Nicholas.

Ele encara fixamente a grama com uma expressão indefinida. Nem feliz, nem triste.

Amanda cai no choro.

— Desculpa, Nick… Eu não queria fazer isso com você. Desculpa, desculpa, desculpa… Eu não tenho ninguém pra falar disso, não sei o que dizer ‘pros meus pais, não sei o que fazer desde que descobri…

Nicholas posiciona o dedo indicador direito sobre os lábios de Amanda.

— Isso é sério, Mandy?

Amanda passa a mão no rosto para limpar as lágrimas, e assente com a cabeça.

— Fiz três testes de farmácia de madrugada. Os três deram positivo.

— Mandy… Não precisa se preocupar.

— Como assim? Não me preocupar? Nicholas, joguei meu futuro no lixo! Todas as viagens que sempre sonhei, a faculdade de Letras que planejo há quatro anos, além de tudo o que poderia aproveitar com você! Acabei de jogar minha vida pela janela por um erro que cometi, e um erro que com toda a certeza vou assumir… Nick, eu sinceramente não…

Amanda é interrompida pelos lábios de Nicholas, que se aprofundam nos seus.

Para o beijo, não há uma receita, não há um gosto específico, não há um aroma, um som, um sentido que se aguça mais que outro… Mas esse beijo era diferente de todos que Nicholas e Amanda já haviam trocado algum dia. Esse tinha gosto de lágrimas, de desespero, de arrependimento. Um gosto amargo, mas ao mesmo tempo leve; e se encaixava perfeitamente ao momento.

— Eu te amo — diz Nicholas — [...] e nunca vou te abandonar.

Amanda sobe o olhar para os olhos castanhos de Nicholas.

— Mas você precisa me prometer uma coisa — continua — você vai levar essa gravidez até o fim. Eu vou ficar do seu lado, e nós vamos criar nosso filho juntos. Não posso desistir de você por algo que contribuí para que acontecesse [...] E isso não é um erro, um acidente, não é algo ruim. É um incidente. Um incidente bom. Ok?

— Ok… Eu te amo tanto, Nick.

Amanda revira-se nos lençóis de sua cama.

— Mandy… Mandy… — o nome dela é dito por uma voz masculina suave e rouca — Mandy, amor…

— Nick…? — diz Amanda, com voz de quem acaba de acordar.

— Você sonhou de novo… Vem, levanta. Preparei seu café preferido. Ovos mexidos e bacon. Bem passado, certo?

Amanda senta-se na cama. Esfrega os olhos, encharcados de lágrimas. Passa as mãos sobre o rosto, abre os olhos e mira o olhar em Thomas. Passa a mão sobre seu cabelo ondulado, em seguida descendo para o pescoço. Inclina-se para dar-lhe um beijo.

— Desculpa, Thom.

— Sem desculpas, Amanda. Já conversamos sobre isso. Você teve um passado marcado e é normal sonhar com isso.

Amanda sorri e procura mudar de assunto.

— ‘Cê disse bacon bem passado?

Thomas a segura no colo e corre com ela pela casa, passando cuidadosamente pelos três degraus que descem do corredor até a cozinha.

— O cheiro está ótimo. — elogia Amanda — a Nina já acordou?

Senta-se na cadeira e põe um pedaço do bacon pra dentro.

— Não, está dormindo. Sinto falta de ser acordado às três da manhã com o choro dela. ‘Cê não sente?

— ‘Tá maluco? — ela ri.

O riso de Amanda é interrompido por um barulho no andar de cima da casa, seguido pelo grito de uma criança.

Thomas levanta-se e corre até as escadas. Pega um guarda-chuva que estava ao lado de um armário no corredor e sobe. Não está preocupado se há ou não alguém lá, quer apenas certificar-se de que Nina está bem.

Abre a porta do quarto da criança, mas não há uma alma viva lá além da dele. Olha na cama cercada por grades — não encontra nada. Procura dentro da caixa de brinquedos, do armário, atrás da porta. Uma brisa entra no quarto e só então, pelo balançar das cortinas, nota a janela aberta.

Amanda chega no quarto ofegante pela corrida nas escadas e olha para a janela. Tem o mesmo pensamento que Thomas, mas nenhum dos dois têm a capacidade de proferir as palavras. Depois de cerca de trinta segundos, Thomas arrisca-se:

— Nina sumiu.


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Notas finais do capítulo

Essa fanfic também está sendo postada no SocialSprit, no perfil de http://socialspirit.com.br/enemarcon



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