Relatos de 11 de Setembro escrita por Kikonsam


Capítulo 12
Liz - 3


Notas iniciais do capítulo

Outro pra vcs gente, desculpa postar tão tarde. Quero que mantenham a mentalidade que a Liz passa por uma depressão pós-traumática muito alta, então essa é a pessoa/parte mais depressiva de toda a história, e pelo que eu estou preparando será a mais emocionante também! Espero que gostem.



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Meu mundo caiu e agora eu não estou tentando juntar os pedaços. Eu era apenas uma copeira numa base militar dos Estados Unidos, e agora aqui estou eu em cima de uma cama com o mesmo edredom roxo e bufento que me deixa com alergia as vezes, vendo a cada segundo no noticiário ser confirmada a morte de mais uma pessoa. Quatro aviões. Dois contra as Torres Gêmeas, um conta O Pentágono e outro que só não atingiu a Casa Branca pela coragem de pessoas que, ao contrário de mim, enfrentaram a situação do momento com maturidade. Enquanto eu estou aqui, lamentando pela morte de pessoas que provavelmente nem sabiam da minha existência. Mas apenas uma pessoa, a Linda, foi capais de me deixar neste estado. Não me levanto da cama, meus acessos de choro são constantes. Já urinei duas vezes na cama nesses dois dias. Meu filho é um santo, e agora, que eu deveria valoriza-lo ainda mais, tenho consciência que o renego e evito falar com ele. Que mãe horrível eu sou, que mulher horrível que eu sou, que depois do provável maior atentado terrorista da história não aprendeu o valor da sua própria vida. Mas aí vai uma pequena verdade: a vida não é como nos filmes. Você não vai aprender o valor da vida ao se tornar um sobrevivente. Aliás, ser um sobrevivente é a pior coisa que se pode acontecer com uma pessoa. Não sei o que está acontecendo comigo, mas nem andar direito eu estou conseguindo. Crises de choro constantes são comuns. Nunca pensei que algum dia fosse viver para acontecer isso. Eu, que sempre me considerei uma mulher forte, a frente do meu tempo, batalhadora, que não se abala com pouca coisa, estou sofrendo por uma pessoa no meio de muitas que só queriam de mim uma xícara de café expresso. Não sei, talvez eu devesse estar morta.
– Mãe? - ouço meu filho me chamando, sentado na mesma cadeira em que ele me disse que a Linda havia morrido.
Demoro um pouco a responder. Estou ainda com os olhos semicerrados para a televisão pequena no meu quarto. Olho para ele, e tento pensar em uma pergunta, uma resposta, um discurso que seja para dizer o quanto eu o amo e o quanto ele significa para mim. Mas não.
– Oi - falo, friamente.
– Mãe, você escutou o que eu estava dizendo? - pergunta meu filho.
Sinto mais lágrimas escorrerem de meus olhos, sem saber o motivo. Meu rosto já está molhado de lágrimas do dia todo. Acho que meu filho nem se comove comigo ainda. Ele não espera eu responder que eu não ouvi nada do que ele disse. Simplesmente fala:
– A sua irmã, a tia Claire, ela vem para cá.
Não me comovo com o fato de minha irmã vir me visitar. Ela deve estar preocupada. Não é de se surpreender. Apenas me preocupo em uma coisa:
– Ela vai dormir em que quarto?
Percebo que meu filho fica sem reação á essa pergunta totalmente fria que eu faço. Mas eu não dou a mínima.
– Ela pode dormir no meu, eu durmo na sala.
– Eu não vou limpar a sujeira dela - falo, mais friamente impossível.
Vejo meu filho se levantar da cadeira e falar alto para mim, com jeito de raiva que lembra seu falecido pai:
– Mãe, ela vem lhe dar apoio no meio de uma situação dessas! E você nem se preocupa em dar a volta por cima! Se eu estivesse no seu lugar, eu...
– Mas você não está - falo, com firmeza. Nunca gostei do meu filho levantando a voz para mim assim como seu pai fazia. Tenho que aquietar ele. - Josh, você não está no meu lugar. Você não tem ideia do que é saber que por um atraso, você não ser esmagado por um avião. Você não sabe o que é perder uma pessoa que você considera sua família, já que a sua própria família lhe deixou num orfanato bebê. Você não sabe o que é isso, e você não tem ideia do que eu estou passando. Com licença, saia do meu quarto.
Vejo o rosto negro como carvão do meu filho ficar sério de uma vez. Em seguida, vejo-o se levantar com calma da cadeira, e parar a poucos passos antes de sair do meu quarto, se virando para mim, e dizendo:
– Pensei que você fosse ser mais forte.


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Notas finais do capítulo

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