Relatos de 11 de Setembro escrita por Kikonsam


Capítulo 11
Liz - 2


Notas iniciais do capítulo

Como eu prometi outro dia que teriam dois capítulos e não twve, resolvi colocar dois hoje! :)) espero que gostem...



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Abro a porta de madeira velha da minha casa do Condado de Arlington. Não parece que eu estou viva. Neste momento me sinto como um zumbi vagando pelo Condado de Arlington, Virginia. Ainda consigo ouvir o barulho enorme do avião que colidiu contra o lugar onde eu entrego café. Não me sinto bem, nem por uma fração de segundo consigo me sentir viva. Nem por um segundo, consigo sentir que ainda estou neste mundo. Minha mente está em um paradoxo constante, e não sinto meus dedos. Me sinto mal, muito mal. Acho que acabei de chamar o Josh, por que consigo ver meu filho correr na pequena sala em minha direção antes de eu me sentir caindo por cima do meu sofá com a capa cheia de buracos rasgados.
Acordo, e consigo sentir que estou em cima da minha cama de casal pequena com um edredom roxo empoeirado. Vejo meu filho sentado na cadeira de madeira ao lado da minha cama.
– Mãe - diz ele - Você está bem? Desmaiou no sofá assim que chegou.
Não excito, nem penso antes de ser sincera com meu filho:
– Não, Josh, não estou bem.
Vejo que ele não parece muito espantado.
– São que horas? - pergunto, me sentando na cama.
– Três da tarde.
– O que aconteceu com O Pentágono?
Percebo que meu filho trava.
– Josh - insisto - o que aconteceu?
– Não aconteceram muitos danos ao Pentágono não, mãe. Mas as Torres Gêmeas em New York, elas caíram.
Sinto as lágrimas caírem automaticamente dos meus olhos, e me vejo na pior situação que qualquer pessoa pode passar na vida: ser um sobrevivente. Sobreviver não necessariamente quer dizer que você será feliz pelo resto de sua vida por ter sobrevivido a provavelmente o maior atentado terrorista da história, mas sim você se lamentar até o fim de sua vida ao pensar que todas as pessoas com quem você trabalha provavelmente morreram.
– Ligue a televisão, Josh - digo, ao tentar achar o controle remoto na minha cama e não conseguindo encontrar.
– Mãe, não... - ele tenta me impedir.
– Josh, não foi você quem quase morreu hoje. Ligue a merda da televisão.
Vejo meu filho pegando o controle ao lado da cadeira, e ligando a TV nova do meu quarto.
A primeira coisa que eu vejo é a pior imagem que eu podia ver em toda minha vida:
As Torres Gêmeas, do World Trade Center de New York, as mesmas que eu visitei ano passado quando foi virar o milênio no ano novo de New York, de 1999 para 2000, soltando fumaça, ambas. Num close de imagem dá para ver as pessoas se jogando dos prédios, imagino que no desespero por ar.
Numa outra imagem vejo o meu local de trabalho também soltando fumaça, enquanto bombeiros tentam a todo custo apagar as chamas inacabáveis do Pentágono.
– Pode desligar, filho - digo.
A pequena televisão se apaga na minha frente.
Penso no quanto eu desvalorizei a vida, em quanto eu brinquei de viver e o quanto eu não teria aproveitado nada desses meus 36 anos na terra. Em como eu amo o Josh, e em como eu desvalorizo as poucas amizades que eu tenho, como a Linda...
– Linda! - falo, ao me lembrar dela. - Josh, sua tia Linda, teve notícias dela?
Percebo que meu filho fica em estado de choque ao ouvir falar o nome da Linda. Não esboça uma emoção.
– Mãe... - ele começa a falar, e percebo as lágrimas grossas caindo de seus olhos - A tia Linda, ela apareceu na lista de mortos mais recentes no site do governo.
Meu mundo acabou de desabar. A Linda, minha única amiga verdadeira no mundo, a quem eu confidenciei todos os meus segredos, preocupações, e ajudei nos seus momentos difíceis assim como ela me ajudava nos meus momentos difíceis, acabou de morrer. Acabou de sair da minha vida e eu ainda nem tive a oportunidade de declarar que eu amo a nossa amizade, amo nossa relação, que eu a amo de um jeito como só uma irmã ama a outra.
– Não - ouço as palavras saírem de minha boca - Não! - percebo que estou gritando, e sinto as lágrimas escorrerem de meu rosto. - Não, Josh, a Linda não! Não!
Meu filho se levanta da cadeira, chorando, andando pelo piso de madeira rangendo, e me abraça na cama, enquanto nós dois berramos de chorar, falando o nome da minha única amiga, que acabou de morrer.


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Notas finais do capítulo

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