Quando a minha mão se soltou, confesso, eu me vi caída no chão, lá em baixo, com meus braços e pernas virados em ângulos estranhos. Mas rapidamente eu voltei minha mão à parede e me concentrei em encaixar ela nas fissuras, enquanto respirava fundo.

ㅡ Vamos lá, uma fissura de cada vez… ㅡ murmurei, encarando a parede.

Eu sentia a respiração de Tom mais leve, então provavelmente ele dormia quietinho, sem nem perceber nada.

Continuei subindo, até chegar no buraco do teto.

A abertura que Phill fizera não era exatamente perto da parede, mas também não era no centro do teto, então eu fui me aproximando ainda mais lentamente, com um medo enorme de cair dali de cima.

Passei um braço pela abertura, depois o outro, então parei de apoiar os pés na parede e por segundos fiquei pendurada apenas pelo peso que eu coloquei nos braços. Engolindo em seco, me puxei pela abertura, colocando os cotovelos do lado de fora do teto. Assim que coloquei a cabeça pra fora da abertura, olhei em volta e constatei que já deveria ser uma hora da tarde.

ㅡ Calma Alice, você consegue. ㅡ falei pra mim mesma enquanto segurava com as duas mãos um pedaço de concreto que tinha sido arrancado do teto e jogado pra fora, provavelmente quando Phill cortou o teto.

Usei toda a força restante que eu tinha em meus braços para segurar aquele bendito concreto e me puxar ainda mais pra cima.Quando percebi que já podia sair dali e ficar em pé no telhado, respirei fundo, bastante aliviada.

Então senti um ardor na barriga, e quando olhei pra baixo me espantei ao ver pequenos pontos de sangue espalhados pela blusa de Tom, que eu estava usando no momento. Com receio subi a blusa um pouco e me aliviei ao perceber que não era nada grave, apenas arranhões feitos provavelmente enquanto eu passava pelo buraco no teto. Passei o dedo pelos arranhões avermelhados, que apresentavam minusculas concentrações de sangue.

Então comecei a rir sozinha, como uma louca.

ㅡ Conseguimos! ㅡ gritei, levantando os dois braços e sentindo os ventos jogar meu cabelo para trás, enquanto eu apenas ria ㅡ Tom! Nós saímos da sala! ㅡ afirmei, me lembrando que ele estava no bolso da blusa. Coloquei os dois braços, que por sinal também estavam arranhados, para dentro da blusa e a ‘’girei’’, logo em seguida tirando Tom de dentro do bolso com cuidado.

Olhei em volta depois de o colocar no meu ombro esquerdo, procurando agulma uma forma de descer dali.

ㅡ Caramba, ainda bem que tem essa escada de incêndio aqui ㅡ falei, enquanto descia pela escada que tinha ao lado do préd… ㅡ Mas que raios foi isso? ㅡ soltei, encarando o espaço vazio na minha frente. Assim que eu coloquei os dois pés no chão, a escada sumiu. O prédio sumiu! ㅡ O que foi isso? ㅡ murmurei, perplexa.

Tom também encarava o vazio, como se tivesse perdido alguma coisa importante no ar. Então chacoalhou a cabeça e pareceu relaxar. Girei nos calcanhares e continuei andando, determinada a sair logo dali. Mas assim que saí do beco, parei na calçada e percebi que eu não fazia a mínima ideia de como voltar pra casa.

Tirei Tom dos meus ombros e o coloquei no chão. Entendo a deixa, ele saiu andando calmamente enquanto eu andava ao seu lado.

[...]

ㅡ Aliceeeeeeeeeeeeeeeeeee! ㅡ gritou Gabi assim que me viu passar pelo portão de casa ㅡ Menina, eu a Bia ficamos preocupadas! ㅡ começou ela, me puxando pelo braço até a porta, onde Bia estava sentada jogando no seu 3DS ㅡ Você vai ter que me explicar o que raios foi aquilo de você ser uma Gata, no sentido literal. E também não pense que esquecemos de você, Tom. O que raios foi isso? ㅡ questionou ela, franzindo as sobrancelhas e alternando seu olhar entre mim e Tom.

Respirei fundo e falei:

ㅡ Olha, eu passei metade do dia de ontem sendo uma gata, e depois que voltei a ser humana, tive que sair de uma sala estranha pelo teto. Então eu acho que eu mereço um banho e algum tempo de descanso.

ㅡ Tudo bem ㅡ falou ela, e logo em seguida murmurou ㅡ Super esclarecedor…

Tom foi correndo pra sua caixinha de areia, que eu ficara com muita preguiça de retirar após ele ter virado humano, e eu fui tomar um banho, pra tirar a sujeira do corpo e tentar relaxar um pouco.

[...]

ㅡ Ok, vamos começar do começo... ㅡ falei, e logo em seguida expliquei tudo à elas: desde os experimento e ideias loucas de Phill e a minha reação um pouco exagerada quando Tom apareceu aqui em casa como humano, até o dia em que nós voltamos da praia e, chegando em casa, demos de cara com o Phill, que nos mandou para o seu ‘’laboratório’’ e nos fez virar gatos.

Ao fim do ‘’relato’’, as duas me encararam, completamente perplexas. E depois começaram a observar Tom enquanto ele tomava o seu ‘’banho de gato’’, lambendo uma das patinhas. Era estranho ver ele fazer isso, me lembrava que ele também era humano, e a imagem dele sendo humano e lambendo uma das mãos me fez rir.

Me levantei do sofá onde estávamos sentados até agora, obviamente explicando que eu precisava dormir um pouco. Elas se despediram de mim e fizeram um carinho na cabeça de Tom.

Caminhei em direção ao quarto com Tom em meu encalço, miando para mim. Entrei no quarto e me joguei com tudo na cama, fechando os olhos de tanto que era bom poder me deitar na cama macia.

ㅡ Parece que faz séculos que não deito em uma cama confortável, mas foram apenas dois dias! ㅡ falei, rolando até a ponta da cama e, dali de cima, estiquei os braços e tirei Tom do chão, o colocando do meu lado. Ele se deitou e fechou os olhinhos felinos, parecendo igualmente cansado. Distraidamente eu fiquei fazendo carinho nas costas dele enquanto olhava a foto de mim com cerca de sete anos, e meus pais ao meu lado… Estávamos na praia, e eu sorria como se estivesse no paraíso. Fiquei observando os meus cabelos curtos, cerca de três dedos acima dos meus ombros. Então tive uma ideia: por que não fazer uma pequena homenagem à eles? Está mesmo muito calor, e é difícil ficar cuidando de cabelo comprido… Está decidido: vou cortar o cabelo! Mas amanhã… Mesmo agora sendo duas da tarde estou cansada demais, então vou dormir…

ㅡ Bom sono, Tom ㅡ murmurei antes de me deitar e dormir.