Sem nem olhar pro Tom, seguro na mão dele e corro em direção à beira-mar, parando só quando já estou com a água batendo no joelho. Só percebo agora que ele ficou pra trás, nem senti sua mão se desprendendo da minha.

– Vem logo, medroso! – provoco, me virando para a areia e encarando Tom, que estica a perna e com muito cuidado toca a água com a ponta dos dedos do pé. Começo a rir dele, meu senhor, parece até que ainda é um gato. – Tom, larga mão de ser doido e vem pra cá logo! – exclamo, fazendo um movimento com as mãos para que venha mais rápido.

– Você sabe que minha relação com água não é das melhores, Ali – fala, adentrando a água com uma cara fechada.

– Miss estressadinho, não era você que tinha gostado de nadar lá no parque aquático?

– É, mas mar e piscina são coisas diferentes! – fala, me encarando.

– Isso é o legal do mar! – exclamo – Olha isso! – enquanto falo, viro-me de frente para as ondas e, encarando-as, grito a plenos pulmões, provocando o mar como se fosse uma pessoa:

– VEM MONSTRO! – fecho os olhos e fico de costas, sentindo a onda se quebrar em meus ombros e me impulsionar pra frente. Assim que abro meus olhos, encaro o espaço á minha frente, onde estaria Tom, se ele não tivesse sido derrubado pela onda e ficado sentado, sem reação, com o cabelo escorrido sobre os olhos.

– ISSO. NÃO. FOI. LEGAL! – reclama ele, levantando com a minha ajuda e se virando para o mar – QUAL É! ESSE É SEU MELHOR TRUQUE OCEANO?! PODE VIR! – grita, apontando para uma onda que vinha aumentando cada vez mais. Nervosa, seguro a mão dele e tento puxa-lo dali, mas seus pés estão fincados na areia.

– VAI TER VOLTA! – provoca ele, finalmente aceitando que deveríamos voltar pra areia por um tempinho.

– Esse mar é muito sem noção, derrubando os outros! – resmunga ele, se enrolando em uma toalha que pegamos no carro.

– Você não vai entrar de novo? – pergunto triste com a perspectiva de ficar no meio da água sozinha. Ele vira o rosto pra mim, e me encarando solta calmamente:

– Voltar pra água eu volto. Mas não vamos para o fundo, ok?

– Ok! – falo, aliviada – Ei, quer beber alguma coisa?

– QUERO COCA! – exclama, e fica repetindo ‘’Coca! Coca! Coca!’’ enquanto bate com uma das mãos no joelho.

– Você e sua estranha obsessão por Coca-Cola – falo, rindo um pouco – espera aqui que eu já volto com sua preciosa Coca.

– Você é a melhor! – exclama.

– Eu sei!

– convencida!

– É eu sei disso também!

Deixo Tom, que começou a rir loucamente, pra trás e vou em direção a um quiosque. Chegando lá peço uma Coca e uma Sprite.

Enquanto volto, abro minha latinha e bebo um gole. Assim que chego, percebo que Tom está observando um cara e uma mulher andando junto com uma garotinha.

– Por que está encarando aquela família? – indago, aproximando a latinha da boca para mais um gole.

– Eu queria ter filhotes também... – assim que ele pronuncia essas palavras, cuspo o refrigerante com tudo.

– Filhotes... Ah, filhos você quer dizer? – pergunto, temendo a resposta.

– Isso, ‘’filhos’’.

– Ah, bem... – começo constrangida – você.... Sabe, né?

– O que? – pergunta, mas para na metade da frase, ficando vermelho – Ah... Sim, sim. Sei – fala, e volta a olhar pra família, que já está a alguns metros à frente – O que eu quis dizer é que deve ser legal, sabe? Ter uma família e tal.

– Sim, deve ser, ahn, bem legal – falo, relaxando os braços.

– Minha Coca vai esquentar! – exclama, puxando a latinha das minhas mãos e abrindo, pra depois beber como se precisasse daquilo mais do que precisa de sangue para viver.

– Tá parecendo um primo meu, que bebia uns 4 litros de Coca por dia! Ainda bem que ele parou se não ia ficar com os ossos todos estragados.

– Ossos... Estragados? – pergunta, imobilizando-se como uma estátua, a latinha na mão á caminho da boca.

– É, danifica um pouco os ossos, mas só se você beber todo dia.

– Nossa, que susto! Achei que, sei lá, tinha um BURACO nos meus ossos! – exclama, e continua o movimento, levando a latinha até a boca e bebendo.

– Não é pra tanto! – arregalo os olhos e depois começo a rir – Bem, eu não posso falar nada, você com a sua Coca e eu com a minha Sprite! – falo, dando uma piscadinha.

– Concordo. Ei, onde estão a Bia e a Gabi?

– Elas foram pra pousada, a pé mesmo. É bem pertinho. Daqui a pouco devem chegar.

Ficamos em silêncio, bebendo nossos refrigerantes por cerca de vinte minutos. Bia já chegou falando:

– Temos uma má notícia...

– Má? É uma ótima notícia! – fala Gabi, colocando as mãos na cintura.

– Independente de ser boa ou má, a questão é que a) tem dois dormitórios e b) só tem cama de casal, uma em cada quarto.

– VIU? UMA ÓTIMA NOTÍCIA! VOCÊS DOIS VÃO DORMIR JUNTOOOOOS AEEEEEEEE – grita, assustando um cara que passava por ali vendendo sorvete.

– Não, espera. Não é uma ótima notícia não! – exclama Tom, encarando Gabi.

– É SIM! – exclama ela, jogando o cabelo loiro (se é que podemos chamar de loiro, com tantas tonalidades de castanho espalhadas pelos fios) pra frente e prendendo em um rabo de cavalo – e se você reclamar, eu mando vocês do... – ela é interrompida por Bia, que tampou a boca dela com força.

– Manda vocês dois nada, fica quieta! – reclama Bia, retirando a mão com rapidez de perto da boca da Gabi e esfregando nos cabelos, antes pretos e secos e agora com baba da Gabi – E NÃO SE ATREVA A LAMBER MINHA MÃO DE NOVO!

Gabi apenas mostrou a língua e continuou a falar do apartamento:

– Bem, tem esses dois dormitórios, dois banheiros, a sala com TV e uma mini-cozinha. Não é grande mas dá pra ficar por dois dias de boa.

– Depois a gente vê isso, VAMOS NADAR! – grito, e Tom me acompanha enquanto corro em direção ao mar, seguido de Bia e Gabi. Corremos em direção a água, sem nem nos importarmos com as várias pessoas ao redor, nos encarando como se fossemos loucos.