Reféns de um segredo escrita por magalud


Capítulo 8
Serenata para um cuco




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Mia tentou não esquentar a cabeça muito, mas era impossível. Havia algo errado com Severus, mas ele fugia dela mais do que o diabo da cruz. Sem perceber o que fazia, ela viu que terminou contando todas as suas dúvidas ao casal Lupin, numa noite quente. Remus e Tonks a convidaram para tomar um chá de hortelã, e entre uma mordidinha de biscoitinhos amanteigados, Mia deixou escapar suas angústias:

– ...e ele me pareceu até estar com dores, Remus. Sabe de alguma coisa sobre isso?

– Não faço idéia, Mia. Aliás, eu não fazia idéia de que a coisa estava assim tão feia entre vocês.

– O pior de tudo é que ele não diz nada, e jura que eu sei do que ele está falando.

Tonks serviu Remus de uma nova xícara (derramou grande parte, claro) e ofereceu a Mia, dizendo:

– Tem certeza de que não sabe do que é?

– Faz 25 anos que eu não o vejo. Como posso saber?

– É mais provável que se trate de algo feito há mais de 25 anos.

– E ele ainda estaria guardando essa mágoa depois de todo esse tempo? Nós éramos crianças! Ele tem que ter esquecido.

– Estamos falando do mesmo Severus Snape?

– Existe outro?

– Não, mas parece que você já se esqueceu como ele é. Se é que alguém pode guardar uma mágoa anos a fio, esse alguém é Severus Snape, concorda?

Mia teve que concordar. Mas com isso, porém, ela teve uma outra idéia:

– Ai meu Deus, Remus. Será que foi alguma coisa que Sirius e James fizeram com Severus?

Ele deu de ombros:

– É possível. Você sabe como eles eram.

– Mas Severus jura que eu sei do que se trata. E eu não faço a mínima idéia!

– Sirius passou a pregar peças ainda mais pesadas em Severus depois que vocês se aproximaram. Não sei se ele gostava de você, mas ele odiava Severus. Aí ele passou a fazer coisas escondidas de você, Mia. De você e de James também.

– De James? Por que ele esconderia alguma coisa de James?

– Porque James já estava namorando Lily, e se ela descobrisse que eles continuavam pegando no pé de Severus, isso ia dar problema. Mas claro que isso nunca impediu Sirius de continuar azucrinando Severus.

– Eu queria tentar esclarecer isso com Severus, mas ele sequer me deixa chegar perto dele.

– Sem mencionar o que você iria ouvir... Severus não é uma pessoa que exatamente seja especializado em reprimir seu desprazer.

– Isso não me preocupa. Conheço Severus e sei como agiria. Mas não saber está me matando.

Tonks soltou um sorrisinho por trás da xícara:

– E vocês namoram muito tempo?

– Só alguns meses.

– Meses?! – Remus se espantou. – Não foram só alguns encontros?

Mia não pôde evitar enrubescer.

– Oh, foram mais do que isso.

– Mas você ainda gosta dele, não gosta?

A pergunta pegou Mia em cheio, mas, com sua habilidade profissional, ela conseguiu manter a pose, respondendo:

– Francamente, no momento estou mais interessada em conseguir uma boa convivência com meus colegas de trabalho. Como enfermeira, preciso trabalhar diretamente com o Mestre de Poções, que é quem fornece os medicamentos para os alunos.

E ela esperou fervorosamente, que Tonks se satisfizesse com aquela explicação.

Mia voltou a seus aposentos certa de que tinha encerrado um assunto e deixado os amigos apenas intrigados com o que estava irritando Severus Snape. O problema é que Mia não conhecia Nymphadora Lupin, née Tonks.

Mas Remus, que se casara com a moça, sabia que isso não era bem assim. Naquela mesma noite, antes de dormir, ele puxou assunto:

– Dora, querida?

– Sim, Remus?

– Você não está elaborando qualquer plano na sua cabecinha mirabolante, está?

Ela olhou para ele, o retrato da inocência em pessoa:

– Plano? Que plano?

– Não se faça de desentendida. Você nunca foi sutil. Eu vi seus olhos brilhando e o jeito como perguntava se Mia ainda tinha interesses em Severus.

– Remus, você viu? Eles se amam, depois de todo esse tempo. Isso é tão romântico! Temos que ajudá-los a ficarem juntos.

– É melhor não se meter nisso. Você pode entrar para a lista negra de Severus.

– E daí? Ele não tem uma lista boa, mesmo.

– Não, mas ele tende a ignorar quem não está na lista negra. Você gostaria de se arriscar a não ser mais ignorada?

– Eu aprendi que o amor sempre vale a pena.

– E eu lhe digo que não se cutuca alguém como Severus com vara curta. Nunca se sabe em que demônio ele pode virar.

Remus não fazia idéia do quanto aquelas palavras eram sábias.

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Poucos dias mais tarde, o Banquete de Boas-Vindas se realizou num clima de grande emoção. Embora a mesa de professores estivesse completa, certamente havia ausências de profundo significado, começando por Albus Dumbledore. Também nas quatro mesas das Casas de Hogwarts havia ausências e espaços vagos, mas as presenças e reencontros eram emocionados. Reencontros de sobreviventes, de vítimas, de pequenos soldados.

O número de novos alunos, no final, não era muito menor do que normalmente entravam em Hogwarts todos os anos. Se alguns pais não tinham mandado seus filhos por medo de que o lugar não fosse tão seguro, outros tinham mandado os filhos que não puderam entrar aos 11 anos. Então, havia alguns alunos começando sua educação bruxa aos 12 ou 13 anos.

O discurso de Minerva McGonagall também foi extremamente eloqüente, e muitos discretamente tentavam enxugar as lágrimas. Entre os alunos mais tocados por suas palavras, estava o primeiro e único Harry Potter, com seus amigos Hermione Granger e Ron Weasley. O Profeta Diário tinha chamado os três de Caça-Horcruxes. Junto com Severus Snape, eles tinham mandado o Lorde das Trevas para o outro mundo, sem passagem de volta. No discurso, McGonagall tinha deixado claro que não esperava tratamento diferenciado para nenhum dos envolvidos na derrota de Lord Voldemort. Ou seja, nem Harry deveria ser tratado como o Rapaz-Que-Derrotara-o-Mal-Reincarnado, nem Snape deveria ser crucificado como ex-Comensal e espião inconfiável.

Mais fácil dizer do que falar, claro.

Mia foi formalmente apresentada a Harry Potter por Remus e Tonks, de quem o rapaz e seus companheiros eram bons amigos. Ele pareceu encantado em conhecer alguém que tinha convivido com seus pais tanto quanto Remus, e o contato resultou em convites para uma xícara de chá na ala hospitalar.

Com o canto do olho, Mia viu Severus, no fim do corredor, acompanhando o encontro de duas gerações de Marotos. Aquilo só atiçou a curiosidade da enfermeira.

O que Severus escondia? Que mágoa ele podia carregar depois desse tempo todo?


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