Jane e Maura estavam sentadas no sofá, lado a lado, um filme passava na TV mas nenhuma das duas pareciam estar prestando atenção, sempre desviando o olhar do filme pra olhar uma para a outra, sorrisos eram trocados sempre que seus olhos se encontravam, as mãos enlaçadas nunca perdendo o contato. Da janela aberta entrava o vento frio, apesar do dia quente que fazia mais cedo. Maura ameaçou levantar para fechar a janela, mas Jane se recusava a soltar a mão da outra. A loira voltou a sentar e disse:

— Está frio, só vou fechar a Janela.

— Não vai não – Jane contornou a loira com os braços – Eu te esquento.

Maura sorriu abertamente, encostando sua cabeça no ombro da morena, se sentindo incrivelmente confortável. As duas haviam ultrapassado a linha da amizade há muito tempo, mas agora que ambas se entregaram para esse sentimento novo apenas agora que desfrutavam dos novos toques, os novos atos, os novos apelidos. Maura se xingava internamente por ter esperado tanto tempo, por ter deixado um homem entrar em sua cabeça e a convencer de que não era o suficiente.

— O que Sam disse a você? – Maura disse suavemente.

Jane demorou um momento para processar a pergunta da amiga-não-tão-amiga. Sem desviar o olhar da TV, a morena respondeu calmamente.

— Ele me contou tudo que meu pai fez, e disse que eu merecia estar com alguém que me amasse verdadeiramente, disse que se arrependia de ter participado do plano do meu pai, e que não era homem suficiente para mim. Sam me aconselhou a correr atrás de você, a não desistir do nosso amor não importando o quanto demorasse para aceitarmos.

Maura se impressionou com o que Jane dizia, as palavras de Boucher o fazia parecer menos horrível, e a legista sabia que no fundo Sam era apenas um rapaz apaixonado que fez coisas erradas pra conseguir o amor, mas era um bom rapaz que merecia amar e ser amado, Maura não o odiava pelas coisas que ele fez, odiava Frank por tê-lo convencido de que fazer o errado era a única opção, odiava ter se convencido de que não era o bastante, mas agora ela era o bastante. Olhou para cima esperando encontrar os olhos de Jane, e sorriu quando encontrou, Jane podia ver nos olhos da loira o que ela queria dizer, ou o que estava sentindo, e tudo o que a morena via nos olhos esverdeados era felicidade, um brilho apaixonante não via há meses, sem resistir Jane se aproximou de Maura e lhe roubou um beijo calmo, e longo. Maura jamais se cansaria de beijar Jane, já estava viciada em seu beijo, em seu toque, em sua presença, ela estava completamente viciada em Jane, ou talvez a palavra certa seja apaixonada. Assim que os lábios se separaram, Maura juntou suas mãos às da detetive novamente e se deitou em seu ombro, que agora era seu segundo travesseiro favorito, o primeiro era o peito de Jane.

As duas planejavam passar o dia inteiro dentro de casa, no sofá vendo filmes e aproveitando a companhia uma da outra, o tempo sozinhas era incrível, Jane jamais ficara tão feliz por sua mãe não estar em casa. Mas a mesma já estava ficando um pouco cansada de ficar vendo filme. Olhou o relógio em seu pulso e os ponteiros marcavam 17:34, foi então que teve uma ideia.

— Maur? – a morena chamou.

— Sim?

— Você quer sair comigo?

— Sair com você? – Maura podia sentir as mãos de Jane suando nas suas.

— Sim, em um encontro.

— Acho que já aceitei esse pedido antes – sorriu com o pequeno nervosismo da mulher.

— Sim, mas antes era uma possibilidade, agora eu estou te pedindo.

— Bom, então eu aceito.

Elas sorriam sem desviar o olhar do rosto uma da outra. Então Jane levantou-se determinada e disse:

— Okay, você tem até às seis pra se arrumar.

— O que? – Maura perguntou confusa – Me arrumar?

— Pra o nosso encontro. Eu tenho uma ideia em mente.

— Tudo bem – ela sorriu desconfiada – então eu vou me arrumar.

— Seis e vinte eu passo aqui okay?

— Okay.

— Então eu vou me vestir também – Jane pegou seu celular na mesa de centro, e apressada depositou um beijo na bochecha de Maura – Até daqui a pouco.

Maura sorriu com o toque dos lábios da morena em seu rosto, e observou Jane abrir a porta para sair.

— Espera, Jane – a loira disse – O que você está planejando?

— Surpresa.

— Como vou saber o que vestir?

— O que quiser, você sempre está linda de qualquer maneira.

A legista corou com o comentário, e novamente sentiu o rosto queimar quando Jane lhe deu uma piscadinha. Assim que a porta se fechou, Maura correu para o andar de cima para tomar um banho, antes de ligar o chuveiro observou as roupas em seu armário, tinha acordado cedo para desfazer as malas e desempacotar algumas coisas, as caixas que sobraram ela pôs no quarto de hospedes. Respirou fundo e pegou um de seus vestidos que nunca teve a chance de usar, ele era vermelho rendado, simples, mas elegante, deixou-o em cima da cama, e voltou-se ao seu armário de sapatos, e escolheu um salto bege que usara poucas vezes, o colocou no chão, ao lado da cama, e então foi ao banheiro e ligou o chuveiro. Enquanto a água esquentava ela pegou seu celular e ligou para seu Tenente Cavanaugh, avisou-lhe que ficaria e que gostaria de ter seu emprego de volta se possível, o homem mais que feliz aceitou a legista na BPD, lhe devolvendo seu antigo cargo.

Assim que terminou seu banho, Maura voltou para seu quarto trajando apenas lingerie e um roupão, vestiu o vestido delicadamente para não haver nenhum dano com o tecido, e virou-se para o espelho, gostou do que viu, o vestido não era longo, acabava acima do joelho, mas isso não a deixou desconfortável, não desta vez. Olhou no celular e eram 17:50, apressou-se para fazer sua maquiagem leve, e arrumar seu cabelo em um coque desleixado, porém arrumado. Olhou novamente no espelho e sorriu com o resultado, colocou os saltos e então ouviu a campainha tocar, Jane chegara. A legista sem muita pressa desceu as escadas, ao chegar na porta, alisou o vestido com as mãos e então abriu, fitando a bela morena parada em sua porta.

Jane perdeu o ar por um momento, a loira estava deslumbrante, se impressionava cada dia mais com a beleza de Maura, o mesmo passava pela cabeça de Maura, a morena estava magnifica em um vestido cinza simples, e saltos pretos. Ambas boquiabertas fitando uma a outra, Maura balançou a cabeça como se saindo de um transe, e disse:

— Você está... incrível.

Jane fechou a boca que estava entreaberta e piscou rapidamente tendo noção do que a loira disse.

— Você... você está... maravilhosa.

— E então? Onde vamos? – Maura perguntou com a esperança de receber alguma resposta.

— Surpresa.

Maura bufou e Jane sorriu com o comportamento da loira, elas entraram no carro, durante o trajeto nada era dito, o rádio estava desligado, e as duas apenas apreciavam a noite, e a companhia. A legista de repente se esticou no banco franzindo a testa, olhou para os dois lados observando o caminho, ela conhecia aquele trajeto, já passara por ele diversas vezes, nenhuma com a companhia de Jane, que não gostava desse tipo de coisa. A morena percebeu a reação da legista e deixou um sorriso escapar. Ao chegar no local, Jane estacionou o carro, e observou o brilho nos olhos da legista.

— O que acha? – a detetive perguntou,

Maura estava sem palavras, abria e fechava a boca, mas nada saia. Em sua cabeça, achava os planos de encontro da Jane era um restaurante, uma praia, talvez até o Dirty Robber, mas nunca imaginou que a morena a traria para o museu.

— Espere aqui – Jane disse saindo do carro. Deu a volta no automóvel e abriu a porta de Maura.

— Obrigada – A loira agradeceu corando, e achando exagerado o cavalheirismo da “amiga”.

Elas caminharam até a porta do museu, mas não entraram, na porta havia uma placa dizendo que o museu havia fechado mais cedo por causa do fim de semana.

— Jane, o que está fazendo? – Maura perguntou ao ver a morena vasculhando a bolsa.

— A chave, estou procurando.

— Chave? Do museu? – se espantou.

— Sim, longa história. Um importante do museu estava me devendo um favor, achei a oportunidade perfeita... – Jane olhou para o horizonte – Até que não é tão longa – voltou a mexer na bolsa. – Achei!

A detetive encaixou a chave na fechadura e abriu a porta, elas entraram e Jane se certificou de ter fechado a porta novamente.

— Vamos passar nosso primeiro encontro vendo “chatices históricas” como você chama? – Maura perguntou enlaçando seu braço no da detetive.

— Não exatamente. Me acompanhe.

Jane as guiou pelos corredores escuros, Maura não conhecia muito bem aquele caminho. Entraram numa sala completamente escura, havia apenas uma luz ao lado de um aparelho que Maura não reconheceu. A legista se assustou quando sentiu pisar em algo fofo, o caminho todo fora em piso de madeira, deu um pulo para trás com o susto.

Jane riu.

— Ta tudo bem, é só uma coberta que eu pedi pro meu amigo pôr.

— Coberta? Pra que?

A cada segundo que passava Maura ficava mais intrigada, ainda mais com Jane fazendo suspense. A detetive tocou a mão da loira e a puxou delicadamente para que não tropeçasse.

— Aqui, sente-se.

— No chão?

— Tem uma coberta Maura, senta.

— Okay. Mas onde estamos? Por que está tão escuro?

— Porque é pra ser escuro – Jane respondeu se dirigindo para o aparelho cheio de botões que não sabia mexer, mas seu amigo a ensinara quais botões apertar – Estamos na única sala do museu que me interessa.

Maura riu com o comentário, esticou as pernas no chão e as cruzou, olhava para o lado conseguindo ver o rosto de Jane perto da única luz que iluminava o local, e não iluminava completamente. Se assustou quando estrelas e galáxias se projetaram no quarto o cobrindo por inteiro. A loira perdeu o folego por um momento, olhou ao redor para a incrível visão que tinha do universo, seu coração batia rapidamente.

— O que achou? – Jane perguntou sentando ao lado de Maura no cobertor.

— Isso é... mais que incrível, eu nem sei o que dizer.

— Pode dizer que é o melhor primeiro encontro que já teve – disse sorrindo, Maura riu.

— É de longe o melhor primeiro encontro.

Elas se olhavam serenamente, nenhuma preocupação nos seus olhares, podiam dizer que era o momento juntas que mais amaram. Seus rostos lentamente se aproximaram, e um beijo lento foi trocado, o dia estava sendo perfeito para as duas, do começo ao fim, nada podia dar errado. Seus lábios desgrudaram quando o ar fez falta, mas a proximidade não se desfez. Jane não conseguia parar de pensar no quão sortuda era.

— O próximo encontro é por sua conta – Jane disse rindo.

— Não vou conseguir superar esse.

— Vai ter que se esforçar então.

Outro beijo foi dado, esse mais urgente, a mão direita de Maura acariciava a nuca da morena enquanto tentava se apoiar de lado com a esquerda. Jane a segurava fortemente para perto de si, queria mais contato, mas não o faria, hoje era o primeiro encontro e tentaria não ultrapassar os limites que impôs para si antes de sair de casa. Maura se afastou do beijo sentindo que se o beijo durasse mais tempo se entregaria para algo a mais. Deitou-se observando as estrelas no teto, não sabia muito sobre astrologia.

— Para o que estamos olhando? – Maura perguntou curiosa.

— Vê aquele aglomerado de estrelas pequenas perto do grande? – Jane apontava para os pontos reluzentes.

— Sim.

— É a Ursa Maior.

— Sério? – Maura olhou interessada.

— Não faço ideia. Pode ser que seja.

Elas riram e Maura se aconchegou no peito de Jane que a abraçava forte.

— Desculpa ter demorado tanto tempo – a legista disse arrependida.

— Está tudo bem... Valeu a pena esperar. E eu não me refiro só a essa noite.

Maura a olhou com os olhos brilhando, não demorou para capturar os lábios finos da morena aos seus. Os lábios que tanto amava, e desejara por muito tempo, e agora eram finalmente seus, podia tocá-los sempre que quisesse. Jane era sua, mesmo sem ter tido nenhum pedido ela sabia, Jane era dela, e ela era de Jane.

E assim seria.