Paraíso escrita por lovemyway


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Claro que eu deveria estar dormindo, mas como a inspiração bateu... uahuahuahuahuaha

Caso alguém leia, espero que goste!

Boa leitura :D



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Olhos castanhos encontram os meus.

Há quanto tempo foi?, penso para mim mesma, observando-a atentamente. Ela está tão diferente. A idade pesa em seu corpo de aparência frágil, e seu rosto entrega seu cansaço. Tempo demais. Quando a conheci, sua pele era lisa e macia; seu sorriso era grande e caloroso, e sua vitalidade me atraía até ela, como se eu estivesse solta entre o tempo e o espaço, e ela fosse a única coisa que me impedisse que ficar flutuando à deriva.

Costumava-me me perguntar se todas as pessoas entram em nossa vida por um motivo. Agora, eu sei que sim. Tão pequeno somos quando o relógio corre contra nós, e cada grão de areia que desce na ampulheta significa uma respiração a menos. Tão limitados são nossos pensamentos. Às vezes ainda me pergunto o motivo. Às vezes ainda tento compreender o que talvez não seja compreensível. Por que perdemos tanto tempo? Nós o desperdiçamos com coisas pequenas, sem significado, e a areia se acumula no outro lado da ampulheta. Batalhas perdidas, e ainda assim não aprendemos a valorizar o que temos.

"Eu estive esperando", ela sussurra, e estica sua mão para tocar meu rosto. Sua pele não é mais lisa ou macia, mas enrugada, áspera, marcada. Ainda é quente, embora. O mesmo calor que me lembro quando costumava entrelaçar seus dedos nos meus e assistir o quão ordinários pareciam ser quando separados, e o quão belos ficavam quando estavam juntos. Será que é por isso que amamos? Para aprender a ver a beleza? Ou vai ver a beleza só existe porque somos capazes de amar.

"Eu sei", sussurro, e fecho os olhos por um momento, permitindo-me sentir seu toque. É tão familiar, tão confortável, e eu o desejei muito. Seu toque, seu sorriso, suas risadas, seus beijos, seus abraços. Eu a desejei com intensidade, com saudosidade, com medo e com tristeza. Eu a desejei. Eu a desejo.

"Pareceu durar uma eternidade", ela diz, e sua voz soa tão pequena. Abro os olhos, e sinto meu peito se encher com o mesmo carinho e amor que se enchia há muitos anos, quando éramos jovens e inocentes.

"Eu estou aqui, meu amor", asseguro-lhe, e estico minha mão para tocar em seu rosto. É tão bonita a forma como seus olhos se iluminam. Ela é tão bonita. Deixa-me sem fôlego. Sempre deixou. "Desculpe-me pela demora"

"Você está aqui. Nada mais importa"

"Sempre estive aqui", digo-lhe, e sorrio. "Eu prometi, não foi? Você sabe que cumpro minhas promessas"

"Até o suspiro final", ela concorda, e um sorriso surge em seu rosto.

"Não", nego, com um aceno de cabeça. "Até muito além disso"

Ela sabe. Está escrito em seu rosto, em sua postura, em seu olhar. Ela sabe como me sinto. Sabe como sempre me senti. Sabe que estive esperando pacientemente por ela. Sabe que estou aqui, que estive aqui o tempo inteiro, que cumpri a promessa que lhe fiz quando tinha dezessete anos, e o tempo deixou de ter significado. Ela soube melhor. Por minha causa, ela aprendeu a não desperdiçar. Pela dor que sentiu por mim, ela aprendeu a se reerguer. Pela perda, ela aprendeu a ganhar.

Ela está pronta, ou tão pronta quanto alguém pode estar. Então abro meus braços, acolhedora, e ela envolveu seu corpo no meu, preenchendo-me com sua luz, com o seu amor, com a sua esperança, com a sua tristeza, com as suas lágrimas, com as suas derrotas e suas vitórias. Aperto-a com força contra mim, e fecho os olhos.

Ela suspira, e nós recomeçamos.

~

É um lindo dia de verão.

Estou sentada debaixo de uma árvore, com as costas contra o seu tronco, e ela está entre meus braços. Sua cabeça descansa contra o meu peito, e suas mãos pequenas e macias estão entrelaçadas nas minhas. Nós estamos em um parque. Só nós duas, as árvores, as flores, o céu azul, e o canto dos pássaros.

Os olhos dela estão fechados, e sua boca está ligeiramente aberta. Seu peito sobe e desce de acordo com sua respiração, e ela nunca me pareceu tão tranquila ou tão feliz. Esta expressão em seu rosto. Sei que nunca a vi antes. Significa plenitude, e isso é algo que não alcançamos até termos nos libertado de tudo. Acontece que as pessoas desconhecem a verdadeira liberdade. Ela não é sobre dizer o que pensa ou fazer o que quiser. Liberdade é um estado de espírito. É quando você sente como se não mais estivesse presa ao mundo. Como se passado, presente e futuro não passassem de conceitos, porque o tempo não importa mais. O que importa é o agora.

Como neste agora, em que o mundo continua a girar, mas não mais fazemos parte dele. Somos só ela e eu em nosso pequeno espaço em algum lugar, ou em lugar algum. Não sei ao certo. Não me importo. O onde é irrelevante.

"Este é o Paraíso?", ela pergunta de repente, e seus olhos se abrem, encarando-me com intensidade.

"Não sei", dou de ombros.

Não é a resposta que ela esperava, eu acho, mas isso não parece incomodá-la. Ela apenas sorri — aquele sorriso bonito e brilhante —, e a maneira como me sinto é como se meu coração estivesse vivo, e ainda batendo. Talvez a vida não seja sobre estar vivo, mas ter algo pelo qual se viver. Talvez enquanto eu a tenha, eu sempre estarei viva. Será que isso é a eternidade? Se for, eu gosto.

Então quem sabe este seja mesmo o Paraíso. Ela está comigo, afinal. Se fosse para ter um único momento para o resto de minha existência, então que momento seria melhor do que o que aquele em que a tenho em meus braços?

"Você é meu Paraíso", eu lhe digo.

Ela se afasta, e imediatamente sinto a falta de seu corpo. Ela se vira para mim, seus olhos tão vivos e brilhantes, e ela se inclina em minha direção, nunca desviando o olhar. Quando seus lábios tocam os meus, sei que estou certa. A forma que ela se encaixa em meus braços; o modo como seus lábios parecem ter sido moldados para completarem os meus, o calor que sinto em meu peito e o arrepio que percorre meu corpo.

Não há mais dúvidas em minha alma.

Ela é meu Paraíso.

Cada um de nós é como um livro

Que guarda sua própria história

Com início, meio e fim

Nosso corpo é só uma casa onde a alma habita

E a morte é o último vôo de nossa alma

Que parte por não caber mais nessa casa

Como se quisesse começar uma nova história, um novo livro

Cada minuto que passa pode ser tudo que me resta para viver

Mas eu desperdiço o tempo como se ele fosse infinito

Penso, logo sei que existir é uma circunstância

Que a vida acontece num sopro de Deus

E a chama permanece acesa enquanto estamos vivos

Pedro Cassiano


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Notas finais do capítulo

:)