Sempre com você escrita por Didilicia
De manhã cedinho Miguel acordou e Lígia ainda dormia. Ele a observou por uns segundos e sentiu o cheiro do cabelo dela. Depois tocou na testa de Joaquim e viu que ele parecia sem febre e ainda dormia. Levantou devagar, foi ao banheiro, trocou de roupa e saiu até à Base.
– Bom dia!
– Alô Miguel! Como está seu filho? A nossa médica já está aqui. – avisou o supervisor.
– Eu vou deixar eles dormindo mais um pouco, obrigado amigo.
– Tudo bem. Porque vc não vem comigo? Já que tenho um oceanógrafo aqui, vou aproveitar para tirar umas dúvidas. – riu.
– Claro.
No quarto, Lígia começava a despertar. A primeira coisa que fez foi verificar como Joaquim estava. Ficou aliviada ao ver que ele estava melhor. Deu um beijo em sua testa. A segunda coisa que ela fez foi procurar por Miguel. Ele não estava ao seu lado e nem estava mais no quarto. Ela levantou e começou a se arrumar.
Na sala de mapas, Miguel estava inclinado sobre a mesa ouvindo atentamente as perguntas e explicações do comandante de um navio que estava lá juntamente com o supervisor da Base.
Estava tudo certo, até Miguel fazer um movimento exagerado e gemer com dores nas costas.
– Tá tudo bem?
Ele disfarçou. – sim, sim. Não se preocupem.
Na verdade ele tinha dormido muito mal. A cama era pequena demais para ele e diante das circunstancias, dormir encolhido entre Lígia e seu filho de 4 anos talvez não tivesse sido a escolha mais apropriada. Ligia havia feito jogo duro a noite toda.
Ela terminou de aprontar Joaquim e foi com ele procurar Miguel.
– Oi. Vc viu o Miguel, o meu marido?
– Não! Ah, vc é a Lígia e esse deve ser o Joaquim.
– Sim. – Ligia estranhou.
E a moça tratou de se apresentar.
– Desculpe! Eu sou Juliana. Sou médica. Me falaram de vcs hj de manhã quando eu cheguei da Vila.
– Nossa que bom! Vc pode dá uma olhadinha nele agora?
As duas foram até a enfermaria. Joaquim foi sentado na maca e examinado sob o olhar atento de Lígia.
– Ele está bem. Mas se vc quiser posso dar um soro pra ele se sentir mais forte logo.
Lígia concordou e segurou a mão do filho enquanto a médica realizava todo o procedimento de colocar agulha e ajeitar o soro. Joaquim não reclamou. Era um menino corajoso e muito esperto pra sua idade.
– Mamãe, cade o papai?
– Não sei meu amor. Já já ele está aqui.
– Quero o papai.
Joaquim tinha uma ligação bastante apegada com Miguel. Por não ter convivido com ele até seus 2 primeiros anos, depois que passou a ter contato exigia a presença quase constante do pai... talvez por insegurança de perde-lo, talvez para tentar suprir algo que não teve antes.
– Quer que eu vá chama-lo?
– Quero.
– Pode ir. Fico aqui com ele. – ofereceu a médica, sorridente.
– Vc vai ficar bem? – Lígia perguntou pertinho do ouvido de Joaquim.
– Quero o papai!
Ela revirou os olhos, sorriu, deu um beijo e um afago em seus cabelos e foi fazer a vontade do filho.
Lígia não encontrou Miguel em canto algum. Em sua procura ela entrou numa sala repleta de objetos, cartões postais e um mural.
Ela chegou perto e passou a vista em todas aquelas coisas deixadas alí. Sua expressão de surpresa se acentuou quando encontrou sua foto... aquela foto antiga com o cachorro deles. Ela nem lembrava mais daquela foto (mas recordava muito bem do dia em que foi tirada). Como ela tinha ido parar naquele mural no meio das geleiras?
– Cada foto, cada pessoa, cada objeto desses tem um significado. – ele foi se aproximando pelas costas dela - E só quem colocou aí é que sabe.
Ela continuou olhando o mural, seus dedos tocaram a foto e tudo começou a fazer sentido. Miguel havia posto alí anos atrás, quando partiu em seu exilio.
– Normalmente são lugares, pessoas, para quem eles querem voltar. – ela se virou e o olhou de frente.
Ele continuou, desta vez mais próximo dela - Vai que não dá sorte na viagem, problemas com o barco, vento, ficar preso no gelo... de qualquer modo fica ai, registrado.
Ele terminou de falar e ela já estava com os olhos cheios de lágrimas.
Não disse nada. Apenas envolveu seus braços em volta do pescoço dele e apertou seu rosto no vão entre seus ombros.
– Eu nunca te deixei porque vc sempre esteve comigo.. até mesmo aqui, em todos os lugares pra onde tentei fugir. Vc sempre esteve.
– Diz que nunca vai me deixar. Diz! Fala!
Ele segurou o rosto dela em suas mãos.
– Nunca vou te deixar. – beijaram-se. – Só existe vc na minha vida, Lígia.
Ela sorriu e o beijou mais profundamente e apaixonada.
– Vamos deixar a foto aí? – ela perguntou depois do beijo.
– Sim. Vamos buscar o Joaquim. Quero acrescentar mais uma coisa neste mural.
Sorriram e foram encontrar Joaquim na enfermaria.
...
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