Os anjos Amam... escrita por Sandrinha


Capítulo 5
Lost without you


Notas iniciais do capítulo

Mas um cap...



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Marina...

A dor física não é nem perto da outra dor que sinto por ter agido daquela forma com a Clara, fiquei surpresa dela ter vindo até aqui. Confesso que foi corajosa. Mas eu a machuquei com palavras e é a pior forma de agressão. Eu que deveria afastar todo mal, e perigo dela. E agora eu estou sendo o perigo, o mal. E me dói saber que sou eu que a causo tanta dor. Talvez eu apenas fui criada para ficar ali no cantinho, escondida, sem sentimento nenhum só o de protege-la. Estou fazendo muito mal a ela. Sou tão covarde. Não fui criada pra esse mundo.

Enquanto isso o meu corpo não está respondendo aos meus comandos, ele não está se regenerando, sinto tanta dor , meu corpo todo suado e banhado de sangue. Alguma coisa está errada, não deveria haver tanto sangue, tantos machucados ... estou ficando desesperada. Preciso de ajuda. Me sinto fraca e tonta.

_ Pai me ajuda? Não sei o que está acontecendo. Peço ajuda ao Senhor e nada acontece, cadê a luz, meu anel não brilha mais..._ Por favor Pai...sinto que estou morrendo. Isso não pode acontecer eu não sou humana, tenho vida eterna._ Paaaaaiiiiiiii....Me ajuda Pai, me ajudaaaa.

Uma luz um sorriso escapa dos meus lábios, não é o meu Pai é um carro. Meu corpo desaba no chão pelo excesso de sangue que perdi. Pessoas invadem meu lar e me levam, não tenho forças pra protestar._ Ela está com graves ferimentos. Direto pra UTI. Ouço um homem falar.

***

Clara...

Por mais que eu tenha ido embora, não deixaria ela daquele jeito, liguei pra ambulância serviço do SAMU faz uns 20 minutos. Da minha janela escuto a sirene ligada, o carro está voltando, pela rapidez consigo constatar que está em estado grave. Minha preocupação me consome, mas não vou visita-la. Por mais que me doa saber que não tem ninguém lá pra cuidar e levar algo pra ela vestir. Na primeira vez que fui no médico e fiquei internada eu tive pneumonia, não foi tão grave assim, mas eu meu pai levou suquinho pra mim, notebook e meu iPod. Eu me senti bem naquele dia, protegida. Mas ela não vai ter isso, não sei se tem pais, ou se é órfã, ela me parece tão sozinha e estranha. Tudo nela me intriga. Ela não se preocupa com roupas, tudo nela cai bem. Ela não sorri com elogios que os garotos da minha sala falam pra ela, ela não aceita convite, não a vejo comendo no intervalo, não sei se trabalha, ou se tem alguma coisa.

Me deito em minha cama e fico esperando mais um sonho vir, mas um sonho com ela, fico observando a lua lá fora cercada de pontinhos brilhosos. Todos seres tem seus protetores, seus servos, a lua tem as estrelas, será que há alguém me cercando também? Será que meu pai está me cercando? ou será que já estamos mortos com a maioria das estrelas? talvez estamos todos aqui jogados num mar de imensidão, buscando respostas para o nada. Esperando algo realmente fazer sentido. Assim como a minha vida. Sem sentido, sem sonhos, sem esperança. Apenas esperando, e eu continuo esperando...esperando.

***

Não consegui pregar o olho. O domingo amanheceu ensolarado e minha vontade é passar o dia todo na cama, recordando a noite da praia de ontem. Para ser franca, estou simplesmente pensando nela, com um sentimento de culpa terrível. Mas quando lembro de seu rosto, seu olhar, sua voz, o tempo para. Imagino-a diante de mim, como Mulher e como sonho, recordo com precisão cada detalhe. Faço força para mantê-la aqui, mas quando as duas imagens dela se confundem e desfazem, fico indignada comigo: “O que está acontecendo? Estou confundindo tudo.”

No entanto, o fato de pensar em Marina com essa confusão de sentimentos é o que me deixa mais instabilizada. Como posso pensar tanto em Marina quando meu orgulho me faz lembrar que ela me expulsou? Que angústia! Preciso ir à igreja rezar muito, me penitenciar. Agora e depressa! Não encontro explicação para o que estou sentindo. Sei que nunca precisei tanto de um ombro amigo como agora. Por mais que eu tente me enganar, de agora em diante, sei que meu coração e minha razão estarão em eterno confronto. Nas duas vezes em que estive com Ela, minha mente pensou uma coisa e o meu corpo reagiu a outra. Lavo o rosto com água fria. Minha imagem no espelho do banheiro envergonha-se de mim. Visto uma roupa bem discreta, uma blusa bege bem larga com a estampa do Gato Risonho e calça legging preta e corro para cozinha, procuro uma maçã e não encontro. Antes de sair, deixo um bilhete na porta da geladeira:

Maria, eu precisei sair. Estarei em casa antes do almoço. Amo você. Beijos, Clara.

Em dia sem trânsito chego à igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, em menos de meia hora. As poucas pessoas que andam na rua dirigem-se para assistir à missa das sete da manhã. Sento-me no último banco, longe do altar. Meus pensamentos e sentimentos, em conflito, me condenam. Mesmo cercada de pessoas ajoelhadas, não me sinto confortável. Sem perceber, me ponho a admirar a abóboda central, os anjos nos afrescos. Meus olhos varrem os vitrais, as esculturas, e depois voltam-se para as pessoas, concentradas em suas preces. Dez minutos depois ainda as observo, cada vez mais aflita por não conseguir me abstrair da possível presença de Marina aqui. E neste lugar de paz, mais do que em qualquer outro. Ao término da celebração as pessoas se dispersam e a igreja se esvazia lentamente. Espero todos saírem para me aproximar do altar. Tenho apenas uns poucos minutos antes do início da próxima missa. Ajoelho-me contrita diante da cruz e, em posição de oração, peço perdão por meus pensamentos, agradeço por todas as graças.

Deixo a igreja com o coração mais leve, mas não menos culpada. Resolvo caminhar na praia e espairecer um pouco. Sentir o cheiro da maresia me faz bem. Perco a noção das horas contando as ondas que vem e vão enquanto arrasto a areia com os pés. Antes de atravessar a avenida ao encontro do mar, avisto Ju com seu namorado Gustavo, e meus amigos Marcus e Jéssica, no quiosque. Eles estão conversando alegremente e bebendo água de coco. É melhor que não me vejam porque não sou boa companhia para ninguém. Dou meia volta quando ouço uma voz aguda romper o som do tráfego;

― Claraaa! ― exclama Ju com três pulmões. Ela me viu. Tarde demais. Não posso fugir. Me aproximo da mesa deles. ― Oi, gente! ― exclamo disfarçando o mal-estar. ― Deixou a burca em casa, Clara! ― brinca Gustavo. Nos entreolhamos sem nada dizermos. Ninguém se atreveria a rir da piada, mesmo que tivesse graça. Mas Gustavo, cujo radar nunca funcionou direito, esperava outra reação e ainda tentou explicar: ― Finalmente largou o disfarce e resolveu aparecer para os amigos! ― É natural que ela andasse sumida, Gu. O pai dela... ― sussurra Ju ao pé do ouvido dele. Ele dá um tapa na própria face, mas quem reage com interjeições de dor somos nós. ― Ô Clara, eu esqueci completamente... foi mal... como é que você está? ― pergunta ele, super sem graça, arrastando as palavras. ― Estou bem ― digo com um sorriso meio forçado e, reparando nos rostos de interrogação à minha frente, completo: ― É verdade, gente! Eu estou bem! Não quero clima, ok? ― Claro, claro... ― concorda Marcus depressa. ― Ninguém vai fazer clima, Clara ― complementa Jéssica balançando a cabeça.

Conversamos sobre tudo e quando esgotamos o papo de botequim partimos para debates mais sérios como as perspectivas profissionais diante das opções de residência. Meu olhar, no entanto, esteve e está distante, perdido, focando o horizonte por entre os dois casais de namorados que piscam apaixonados e evitam se beijar só por minha causa. Não importa o que eles não façam, posso até ouvir os violinos e „Al di Lá‟ tocando ao fundo. Eu já vi esse filme, „O Candelabro Italiano‟, um marco do romantismo no cinema dos anos 60, mas não estou sintonizada neste canal agora. Meu canal atual é algo como o Discovery Channel e meu programa favorito, algo como o „Caçadores de Tempestades‟. Sintomático, tendo em vista o meu status de solteira. Antes que essa conclusão começasse a me deprimir e os namorados a suspirar, chegou o momento de deixá-los de fininho. Arrasto a cadeira vermelha para trás, começando a levantar. ― Bom, amigos, já vou indo. ― Já vai, amiga? Fica mais! Vamos à Chaika tomar um mega sunday! Vem com a gente... ― pede Ju, quase choramingando. ― Eu vou pedir aquele sabor que a gente sempre divide... ― ela até passa a língua nos lábios cor-de-rosa cintilante. ― Chocolate italiano! Mmmmm!

É difícil não ceder ao apelo de seus grandes olhos verdes e o gostinho do chocolate já derretendo na memória gustativa. ― Italiano... ― digo baixinho engolindo a saliva. ― Desculpa, mas eu tenho mesmo que ir, Ju. Diante dos rostos de frustração dos meus amigos e pensando que lhes devo alguma explicação, encaro-os um por um e faço uma confissão: ― Vocês sabem que minha vida anda complicada. Embora eu não queira falar no assunto e também acho que não é legal encher vocês com essas coisas, quero que saibam que todos são muito importantes pra mim. ― A gente sabe! ― retruca Jéssica. ― É Clara, você não tem que se explicar ― continua Marcus. ― Tem todo o direito de estar distante, de querer um tempo da gente. O porta-voz entendeu tudo errado. ― Não! Mas não é isso, Marcus! Não quero um tempo de vocês, de jeito nenhum. Nosso abraço quíntuplo quase me faz ir às lágrimas. Somos um grupo pequeno, mas muito unido. Não me sinto bem em não lhes contar o que está acontecendo, pois sempre trocamos confidências. É verdade que preciso urgentemente desabafar, mas enquanto eu não tiver a noção exata da dimensão dos meus problemas, o melhor é preservar meus amigos.

***

Chego em casa a noite, acho que não cumpri o prometido no bilhete, mas a Maria vai entender. Me dirijo até a porta da frente da minha casa e ouço Maria falar com alguém _ Ai está ela. Olha pra ver quem está sentada na varanda com Maria e vejo Marina. Pensei que quisesse ficar longe de mim._ Clara! Ela se levanta._ Podemos conversar?

Depois do meu imenso esforço pra não pensar nela o dia todo, tudo foi pro ralo. Agora ela está em pé diante dos meus olhos e mas linda do que nunca, parece que os machucados não afetaram sua pele branca e perfeitamente esculpida a mão, eu disse a mão mesmo, ela não nasceu como todos nos meros mortais, pois ela carrega uma beleza sobrenatural. E ai está ela com seu olhar intenso carregado de energia atrativa, ela só pode ter um ímã, ela dever ter algum poder sobrenatural pra ser tão linda e manter esse corpo. E eu só consigo pensar e pensar, meu corpo está tremendo e eu não consigo parar de olha-la. A mais ela ser estupidamente linda não vai me fazer baixar a guarda, não esqueci das palavras que saíram da sua boca. Ela pode ser louca de vir aqui, mas eu sou orgulhosa e teimosa, ela não vai me vencer com esse sorrisinho sexy não.

Marina...

E mais uma vez meus planos vão por agua abaixo, ela sabe me dominar e me deixar sem armas, estou perdendo feio para ela. Ela não precisa pedir pra mi ceder, ela me tem e a cada dia nesse mundo vago de luz, ela usa todo o seu dom pra mim destruiu pouco a pouco. Tudo bem Clara é só pedir.

Clara...

_ Aqui. Respondi

Vejo Maria sair e nos deixar a sós. _ Obrigada!. Ela respondi pra Maria.

_ Do que quer falar comigo?. Sou fria._Sobre ontem a noite. Você ligou pra Ambulância, se não fosse isso eu teria morrido. _Só quis ajudar. _ E ajudou. _ Só isso?. Demonstro minha magoa. Nesse momento ela se aproxima, só mais um passo e ela me toca. então ela mantém essa distância nada segura entre nós e me observa. _ Talvez se eu tivesse a chance. Mas esse privilégio não me pertence!

E ela saiu do meu campo de visão, de uma forma covarde, ela me deixa aqui parada olhando pro nada. Viro meu rosto lentamente e a vejo saindo, ela está descendo as escadas agora. _Você está bem? Pergunto. _ Não do jeito que eu deveria. Ela responde e a vejo partir em direção a sua casa. Mas uma vez poucas palavras e mais mistérios. Estou cansada de esperar. Mas dessa vez eu vi algo nos olhos dela além de mistério eu vi esperança, ela também espera. Ela também está magoada, ela também sofre. Talvez ela não seja vampira ou E.T , talvez ela seja tão humana quanto eu. Ela só não entende isso.

Marina...

Não posso permitir que ela me trate assim, eu tenho vontade própria não tenho? Não tenho. Somos tão diferentes, Senhor como pode permitir isso? Estou cada vez mais perdendo meu legado. O senhor não me curou, eu quase morri, tive que voltar para outros anjos, se não fosse os humanos aqui na terra eu teria ido sabe lá pra onde. Estou me sentindo cada vez mais diferente. Não consigo conciliar tudo isso é um turbilhão de sentimento. Simplesmente não consigo controlar o desejo de querer estar perto dela

Clara é tão complicada e tão imperfeita, sou fã da imperfeição dela, confesso. Ela é extremamente teimosa e linda, adoro quando ela fica brava, ela sabe demonstrar suas forças, isso é admirável nela.

***

Uma semana inteira se passou e Marina, bom ela não me abordou, ficou lá no seu cantinho, como sempre. Mas sempre com seus olhares sobre mim. Infelizmente o sábado chegou e o tal encontro com o George, estava desejando não existir nesse dia.

Estava lá eu o George naquele maldito shop, pelo menos o filme que decidirmos ver era divertido. Menos mal... George estava feliz na fila pra comprar o ingressos e eu estava comprando milkshake. Ele ficava o tempo todo falando do filme, e eu não conseguia conciliar o que ele tava falando com a musica que ouvia no meu iPod, fingia entender tudo que ele falava. Até avistar umas amigas, e dar um "Oi" pra elas, foi nessa hora que percebo alguém depois da porta de vidro do shopping me encarando. Me viro e vejo" Ela". Digo pro George que vou no banheiro desço a escada rolante correndo e saiu pela porta, tive uma pequena impressão que ela estava triste.

Marina...

Eu vi Clara de mãos dadas com o George, garoto da nossa sala. Aquilo me atingiu em cheio.

Clara...

_ Marina? _ Que? Uma garota responde. Não era Marina. _ Desculpa eu pensei. ..Esquece. Olho todos ao meu redor, ninguém é ela. Ela se foi...

Marina...

De um prédio observo Clara me procurar entre os mortais. Mas dessa vez eu não quero vê-la , não quero observa-la. A imagem dela me causa dor , me machuca. Ela me parece tão bem sem mim, como se eu fosse algo sem vida, sem valor. Ela decidiu assim, ela preferiu outro ser. Ela não se sente bem só comigo. Talvez ela tenha razão, eu não mereço ser humana. Lágrimas agora descem sobre minha face, uma espécie agua salgada como o mar, um mar está transbordando sobre mim. Eu conheço isso, estou chorando eu já vi Clara assim. Minha alma está se rasgando ao meio. Estou ardendo em angústia eu perdi. Em passos lentos deixo Clara sumir do meu campo de visão, não há Clara, não terra, não há vida. E sem rumo voo para o lugar mais isolado do mundo. A onde só eu exista. De todas as coisas que eu aceitei perder em nenhuma delas estava Clara.


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Notas finais do capítulo

Não me matem.



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