Contos do Olimpo escrita por Tina Santos


Capítulo 3
Hades e Perséfone


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais chegou, a segunda parte do Conto do casal dark ( mas nem tanto )

Leiam as notas finais, padawans



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Contos do Olimpo

Hades e Perséfone

Segunda parte

~ Ω ~

Hades a conquistou aos poucos, paciente e sincero. Perséfone não diria que estava arrependida por viver aquilo com o deus, pois o que sentia era sufocante beirando ao desespero. Então por esse motivo não se arrependia de ter se envolvido, traído a confiança da mãe e decidido deixá-la de livre e espontânea vontade. Não queria a separação, mas a deusa da colheita não permitiria sua união com o senhor do submundo. E Perséfone não iria deixar que a deusa tomasse essa decisão por si. Amava Hades e ficaria com ele, mesmo que isso desencadeasse uma guerra.

Quando o deus pediu a mão da deusa á Zeus, estava preparado para tudo. Uma guerra, repulsa de seus semelhantes e dos mortais; pois estava preparado para fazer de tudo para ter Perséfone ao seu lado. Nunca ligara para opiniões dos outros; deuses ou mortais. Apenas seguia seus pensamentos, seu instinto. Não seria agora tão próximo de sua realização que começaria a se importar com opiniões desmotivadoras vindas sem seu consentimento. E estava perdendo a calma com o irmão Zeus, conquistara o coração de Perséfone, e ela aceitará ser sua companheira. O que os impedia? A mãe ensandecida? Hades não permitiria.

Indignado Hades andava de um lado á outro em seu cômodo privado. A escuridão ficando densa no aposento a medida que o deus ficava obscuro. Não aceitava o fato de Zeus não ter lhe concedido um misero pedido depois de tanto tempo, seu único desde que passou a ser livre. Perséfone tão pouco aceitava a falta de comprometimento do pai com seu pedido. Ele tentará admitia isso, mas desistira fácil e rápido demais quando vira a persistência de sua mãe. A deusa da colheita estava cada vez mortal, o medo de perder a filha a estava deixando violenta e louca.

Perséfone a amava, mas a ver definhando na loucura e medo a entristecia profundamente. Tentara por vezes convencê-la, mas Deméter não a ouvia.

– Uma vez naquele buraco, nunca voltará! – exclamara chorando e insana cravando as unhas nos braços de Perséfone.

Hades entendia a irmã. Ficaram tempo demais com o pai, de uma maneira que nenhum gostaria de recordar. A solidão e medo foram o que encontraram na prisão que foram obrigados a viver. Deméter tinha medo de voltar a ficar sozinha, Perséfone era a luz que viera de uma noite ruim, um presente para afastar a solidão e uma chama para acabar com o medo. Sua filha, sua vida. Mas Hades também necessitava de uma vida, precisava de Perséfone.

Ambos eram egoístas.

A diferença era que Perséfone era uma parte de Deméter desde sempre. E se tornaria uma parte de Hades para sempre.

Por mais que Deméter tentasse prender a filha a si, a deusa da primavera tinha a alma divina livre e indomável. Hades sabia e a deusa sabia também. Nunca quisera admitir e tentara matar isso pensando que era o melhor para a filha; mas no fundo fazendo isso para seu próprio beneficio. Assim como Hades fizera, mas nunca enganará a si ou Perséfone, deixará claro que a queria para sua realização pessoal. Nunca especificará isso para a deusa, porém ela nunca pedira uma explicação.

Perséfone dava vida.

Hades a morte.

Haveria um meio termo para os dois? Luz e trevas poderiam conviver no cinza?

Teriam que descobrir a resposta juntos. Perséfone não se importava com os objetivos de Hades por quê virá as chamas ardentes nos olhos tão negros quanto obsidianas. Virá a paixão. A mesma que ardia em seu peito e a fazia voltar-se para as sombras atrás dele as noites. A mesma que a levaria a estender-lhe a mão quando fora buscá-la numa colina cercada por narcisos; já em cima da carruagem puxada por cavalos em estado de decomposição com fogo verde queimando olhos, narinas e patas – além dos buracos que revelavam ossos – ele a envolveu com braços fortes e seguros e fez com que os animais abrissem uma nova fenda no chão e sumissem na escuridão.

~ Ω ~

Perséfone acordou numa cama macia com quatro colunas gregas de obsidiana, coberta por lençóis de seda negra e travesseiros de penas. O lugar era iluminado por tochas nas paredes onde um fogo sem cor ardia, frio. Observou o lugar atrás da figura masculina de Hades e a encontrou em frente a um arco que levava a uma sacada de pedra. O deus estava de costas para si e parecia imerso em seus pensamentos. A deusa levantou-se da cama e pisou com pés desnudos no chão de pedra negra e fria, o contato fez sua pele arrepiar-se e desejou voltar para cama. Mas não o fez, ao invés disso caminhou até Hades e encarou a paisagem.

Um rio negro corria calmo, em qual direção Perséfone não saberia dizer. Ao longe uma praia de terra negra vinha e depois um monte negro se erguia, onde deveria ser o céu estalactites apontavam para suas cabeças, uns eram tão grandes que poderia partir o morro. Uma luz pálida no meio do rio chamou a atenção da deusa, era uma ilha larga que brilhava a distancia e Perséfone achou que estava se movendo, mas talvez fosse pelo o movimento da água.

Como Hades dissera, não havia a iluminação do sol ali. Então a única vegetação que Perséfone via era árvores mortas e a única cor era o preto e o cinza. Olhou para Hades e seu olhar parecia perdido, sua expressão serena e calma. Estava imóvel e por um momento a deusa achou que o deus não estivesse respirando.

– Hades? – o chamou baixinho, roçando os dedos na palma da mão dele.

Ele a olhou e seu olhar queimou o dela. Um sorriso brincou nos lábios de Hades, a fazendo recordar quando viu aquela falha sutil na bochecha esquerda pela a primeira vez. Estavam caminhando ao luar e ela lhe contava passeios que fizera as escondidas com Ártemis, Hades era um bom ouvinte e fazia comentários aqui e acolá na narrativa quando achava necessário. Foi durante um comentário que Perséfone gargalhara, solta; quando olhou para o deus com a pele branca como seda brilhando ao luar, os cabelos negros como a noite mais negra balançando com a brisa viu a sombra de um sorriso brincando nos lábios do deus e notou uma pequena falha na bochecha na pele perfeita, nítida.

Perséfone estendeu a mão e com a ponta dos dedos acariciou aquela falha, fazendo o sorriso abrir-se mais, aprofundando a falha na bochecha. A deusa já tocara antes, no segundo beijo. Ela o provocara e permitirá que Hades a tocasse, lembrava-se da voz contida a qual ele fizera o pedido, as mãos de dedos longos; de toques delicados e firmes enlaçaram sua cintura e agarrara seus cabelos. O beijo bruto beirava a delicadeza que o deus insistia que não tinha. Mais que existia. O beijo foi um selamento de que a deusa desde aquele momento pertencia a ele, e o deus a ela.

Hades pegou a mão que acariciava seu rosto e a levou aos lábios, esses que haviam sido o desejo e desespero da deusa por um longo tempo – e continuariam a ser. O deus inclinou-se para ela e Perséfone adiantou-se para o beijo. Beijo esse que seguiu para caricias e suspiros trêmulos. Arrepios instigantes correram pelo o corpo da deusa que agarrara os ombros do deus temendo que suas pernas não suportassem seu peso. Um gemido rouco vibrou na garganta do deus ao abraçar a deusa e esconder seu rosto no pescoço da mesma, inalando o odor que era expelido pela a pele de Perséfone.

Perséfone tentou normalizar sua respiração, mas não havia como quando sentia a respiração quente e descompassada de Hades em sua pele; mordeu os lábios para sufocar um gemido que subia vibrando de seu ser. As mãos de Hades deslizaram e subiram pelo o corpo da deusa, o aquecendo.

Quando Hades voltou a olhar o rosto de Perséfone os olhos da mesma estavam nevoados por um desejo que ele também sentia. Acariciou o rosto dela queixo, lábios, pescoço. Queria muitas coisas naquele momento: paparicar Perséfone, beija-la, levá-la para sua cama e fazer ambas as coisas. Hades riu o que despertou a atenção da deusa.

– O quê..? – Perséfone perguntou não entendo o súbito riso do senhor dos mortos.

– Não sei exatamente o que fazer. – admitiu soltando-a e se afastando da deusa.

Perséfone não sabia se achava graça ou temia pelas dúvidas de Hades. Tentou pensar em algo, qualquer coisa, mas nada vinha a sua cabeça a não ser o corpo do deus novamente colado ao dela. Sentia o frio vindo de alguma parte daquele reino a incomodando.

– Deveria ser simples não? – arriscou-se a dizer ao deus.

Hades olhou-a divertido, os lábios repuxados num meio sorriso provocativo. E aquilo estimulou algo dentro da deusa que mordeu os lábios e fechou as mãos. Se aquilo era um jogo de Hades para provocá-la, ela estava mais que satisfeita em jogar.

– Deveria. – o senhor do submundo concordou a observando.

Perséfone parecia acuada e reprimida. E Hades gostou daquilo, e decidiu-se por esperá-la dizer o que queria dele. Seria algo novo e Hades estava apreciando as novidades. Por isso prosseguiu ainda afastado da deusa.

– Seria normal que eu a levasse para aquela cama, - Hades apontou e Perséfone dirigiu o olhar para cama – e á levasse a loucura.

Perséfone sabia que o deus estava a provocando. Hades sabia que era o que ela queria, e o simples fato de observar a cama meio desarrumada já despertava sua imaginação e o desejo fervia pelo seu corpo.

– O que deseja que eu faça? – a voz da deusa da primavera saiu rouca.

O senhor do submundo sabia que a deusa estava necessitada e sabia o que ela queria. Mas não facilitaria tanto as coisas. Seria muito mais prazeroso que a própria Perséfone lhe disse o que queria. Porém, a deusa resolveu devolver a provocação, não era Afrodite e nunca estivera com um deus antes e ao mesmo tempo não era casta como Ártemis. Se Hades precisava que ela dissesse o que queria ela diria.

– Diga-me. – foi a resposta do senhor dos mortos.

– Leve-me para aquela cama, - Perséfone se aproximou de Hades a voz enrouquecida pelo o prazer, os olhos castanhos mel nevoados pelo desejo – e leve-me ao canto mais profundo que existe da loucura.

Hades não dera uma resposta, mas agarrara Perséfone e a beijara entregando-se ao desejo mais primitivo de seu ser. Puxou uma das pernas de Perséfone encaixando-a em sua cintura e logo a outra. Desceu os beijos para o pescoço da deusa que a inclinou para o lado facilitando a caricia naquela região. Um gemido rouco escapou dos lábios de Perséfone e o deus voltou a selar os lábios de ambos num beijo feroz.

Perséfone não notou que Hades movia-se para a cama até ser colocada nela com o corpo masculino por cima a prendendo ao colchão. A deusa passou os dedos pelos os cabelos negros os puxando quando Hades mordeu seu queixo e experimentou seu pescoço. Quando as mãos do deus começou a deslizar por suas pernas, as chamas que queimava seus ossos se intensificaram. Seu vestido a incomodou e incomodava Hades, que inverteu as posições deixando Perséfone em seu colo, prosseguiu com as caricias de forma mais amena. Quando parou para admira-la, viu as bochechas coradas, ouviu a respiração descompassada e o fogo nos olhos que reluziam na escuridão.

Hades passou as pontas dos dedos pelos braços de Perséfone subindo até alcançar o pescoço, voltou a descer para os ombros onde lentamente desamarrou o vestido que ao invés de cair permaneceu ocultando a deusa, pois a mesma o segurava com os braços. Hades viu o medo passar pela as feições de Perséfone. Ele aproximou-se do ouvido da mesma e sussurrou : - Vou amá-la, de vagar. – Perséfone estremeceu – Não se preocupe querida. – aos poucos Perséfone foi cedendo a medida que os beijos de Hades desciam e subiam pelo os ombros e pescoço – Vou amá-la...

~ Ω ~

O deslizar suave dos dedos em suas costas, a pressão dos lábios em seu ombro. Um sorriso se alargou pelo o rosto da deusa. Agora acordava todas as manhãs assim, com o toque de Hades – e ia dormir do mesmo modo. Se era manhã ou alguma parte da noite, Perséfone já não sabia dizer. Nem sabia quanto tempo havia passado no mundo inferior; não havia diferenciação de dia e noite ali. E parecia mais que eles estavam parados no tempo, apenas parecia. Perséfone sentia os dias passando, ainda era a deusa da primavera e muito mais. Seu ser, seu corpo estava mudado. Já não sentia que pertencia a superfície, embora senti-se saudades; mas seu lugar agora era ao lado de Hades.

Ele a levara para vários lugares, um lago escondido numa caverna onde o teto cintilava com pedras preciosas, havia lhe dado presentes, ela descobrira todos os esconderijos do castelo de obsidiana. Visitara o Elísio, mas Hades não a levara para ver os campos. Na maior parte do tempo o castelo de Hades era silencioso, mas não o cômodo onde eles passavam. Hades se ausentava pouco, e quando o deus a deixava Perséfone se sentia angustiada e ansiosa para o retorno dele. Tudo ali era escuridão mesmo que Perséfone tentasse preencher o pátio de terra estéril com plantas, não conseguia mantê-las por muito tempo, e isso a deixava irritada. Queria trazer cores para aquele lugar, já havia notado o fascínio que Hades sentia pelas cores.

A felicidade do casal não durou tanto. Deméter recusara a tornar o plantio saudável e vivo, e a terra começou a sofrer e por isso Zeus ordenou que Perséfone voltasse a superfície. Hermes não gostou da mensagem quando a recebeu de Zeus e nem da resposta que recebeu de Hades, o ambiente escureceu e esfriou, um arrepio cruzou o ser de Hermes e o deus mensageiro sentiu uma brisa gélida rodear a sala, como se a própria morte estivesse rodeando o deus. O fogo que queimava tranquilo se intensificou.

– Zeus acha que pode dar ordens em meu reino? – o tom divertido e gélido de Hades causou desconforto em Hermes, que se perguntava porque ele tinha que estar sempre na linha de fogo dos outros deuses.

Hermes respirou fundo e dirigiu seu olhar para Perséfone que estava sentada ao lado de Hades, calada. A deusa estava de fato abalada, não imaginava que sua mãe recusaria a abençoar a colheita, algo que a deusa fazia orgulhosamente, apenas para tê-la novamente. Raiva e indignação conflitavam com a saudade e a dor.

– Minha senhora?

A voz do deus mensageiro trouxe a atenção da deusa da primavera de volta. Perséfone olhou para Hades que encarava Hermes com o queixo retesado e fúria contida nos olhos que cintilavam; aquele olhar nem estava dirigido a ela e a deusa estremeceu. A raiva também queimava em Perséfone, que respondeu ao deus:

– Pertenço a Hades agora, não sairei daqui.

O senhor do mundo inferior não soube explicar o alivio que sentiu ao ouvir a deusa falar aquilo. De um modo ou outro Perséfone e Hades estavam casados, Deméter não podia fazer nada contra. E o deus dos mortos demonstrou seu alivio após Hermes se for, no quarto do casal.

– Deméter acabara por aceitar. – Hades sussurrou enquanto acariciava os cabelos de Perséfone que tinha a cabeça deitada no peito do deus.

A deusa gostaria de acreditar naquilo, mas sabia que não seria assim tão fácil. Não era o tempo que faria com que Deméter aceitasse, a deusa da colheita não cederia era determinada demais. Embora fosse algo admirável em excesso se tornava uma doença irritante. E com a inquietação de Perséfone um medo instalou-se em Hades. Até que Hermes retornou ao Olimpo trazendo mais um pedido urgente de Zeus para que Perséfone retornasse para a mãe. Hades mais uma vez foi firme em não aceitar, porém Perséfone tinha um outro plano.

– Hermes, poderia nos dar um tempo? – pediu com a voz firme e desolada.

Quando Hermes saiu, Perséfone levantou-se do trono ao lado de Hades para olhá-lo. O que viu nos olhos de Hades a fez entristecer-se ainda mais. Não podia deixar sua mãe continuar com aquela atitude egoísta e não podia virar as costas para sua tristeza, mesmo que tivesse que deixar Hades; por um curto período de tempo. Não estava disposta a ficar longe dele, independente se conseguisse ou não conversar e convencer a mãe.

– Hades.

– Vai partir? – a dor na voz de Hades foi quase papável e aquilo trouxe agonia ao ser da deusa.

– Por pouco tempo, tenho que tentar convencê-la! Não posso ignorar, sinto a terra morrer... – Perséfone ajoelhou-se perante o deus e segurou suas mãos nas suas as apertando – Eu voltarei por você.

Hades levantou-se e caminhou até uma bandeja onde romãs do submundo estavam dentro de uma bacia de prata. Olhando o calado com os ombros caídos e distante, Perséfone quase voltou atrás porém, não iria conseguir passar a eternidade com Hades sabendo do sofrimento da mãe e consequentemente dos mortais. E com uma possível guerra entre Zeus e Hades. Não havia sido declarada, mas viera oculta na mensagem que Hermes trouxera. Antes que Perséfone dissesse algo Hades virou-se, segurando uma romã rubra na mão.

– Devo concordar com você. – Perséfone sorriu, grata e correu até ele enlaçando seu pescoço e o beijando – Sei que voltará para mim. – o deus acariciou o rosto da deusa e estendeu-lhe a romã – Coma antes.

Perséfone sorriu, Hades nunca havia lhe oferecido aquela fruta antes e pegou-a sem hesitação, quando deu a primeira mordida o suco que jorrou da fruta inundou sua boca, um gosto bom doce meio amargo e frio. Hades beijou sua testa. Quando Perséfone partiu com Hermes, mesmo com um sentimento amargo na boca, tinha a certeza que Perséfone retornaria para ele, de uma maneira ou de outra.

~ Ω ~

A dor da noticia foi pior que qualquer outra coisa que sua mãe pudesse ter lhe dito. Perséfone não quis acreditar, entrara num estado de negação ao qual ficou por dias sentada na relva sendo banhada pelo o sol e a lua. As palavras de sua mãe assim que se viram retumbavam em sua cabeça como agulhas dolorosas.

“O que aquele monstro fizera? Oh minha pobre criança, nenhuma vida jamais será gerada por você...”

O vazio que sentia em seu ser não permitia que a deusa expressasse qualquer coisa além de um olhar perdido e vazio. Sem compreender o que levara Hades a fazer aquilo e sem saber como reagir a noticia que não geraria filhos, buscou algum sentimento qualquer que o fosse, pois o peso em seu peito a deixava sem fôlego. Uma visita inesperada apareceu um dia antes de Perséfone voltar ao submundo.

Nunca chegara a conversar com a deusa da sabedoria. Atena não era uma pessoa que deixasse qualquer um se aproximar e não se aproximava de outro sem uma intenção. Perséfone desconhecia o motivo que levara a filha de Zeus, a favorita visita-la.

– Minha senhora. – a voz sem vida de Perséfone saudou Atena que acenou para ela sem nada a dizer, a deusa da sabedoria a analisou e sentir os olhos tempestuosos de Atena sobre si, causou desconforto a deusa da primavera.

– Devo dizer Perséfone, que esperava encontrá-la de uma outra forma.

O comentário da deusa despertou fúria.

– Esperava encontrar-me aos prantos? Gritando aos quatro ventos minha dor pelo o homem que amo ter feito... feito...

Perséfone não conseguiu pronunciar, ainda não acreditava que o próprio Hades que ansiava por uma família pode ter feito-lhe isso.

– Tenho certeza que Hades tortura-se nesse momento. Não o defendendo, mas creio que ambos possam conseguir ter uma eternidade... Feliz. – a deusa da primavera riu amarga.

– Não estou certa disso... Não sei como perdoá-lo... – desabafou, esperava sinceramente que a deusa da sabedoria que não era persuadida por suas emoções (e acreditava que Atena não tinha tais emoções) pudesse ajuda-la.

– Se servi-lhe de algo, não sabia que uma romã, fruto próprio do submundo pudesse fazer-lhe isso e creio que meu tio também não, uma vez que já o importunei sobre isso. Comer algo do reino de Hades a faz voltar para ele, obrigatoriamente.

– Ele queria tirar-me a liberdade que tanto almejei? – Perséfone perguntei, a fúria contida em suas palavras. Atena mantinha uma expressão serena e um olhar intenso quando a observou.

– Não. – a certeza irradiava de Atena como o vento soprava – Você chamou Hades de ‘homem’, embora ele seja um deus.

– Foi um modo de falar...

– Mas foi à descrição mais certa que fez. A única coisa que nos separa dos mortais é nossa imortalidade. Todos temos medo de perder alguém ou algo, e quando deixamos sermos guiados por medo, tomamos decisões que não podem ser desfeitas e suas consequências é algo que carregaremos por toda nossa vida. Pense nessas palavras, – Atena virou-se para ir embora enquanto falava – sei que tomara uma decisão sábia, mesmo que movida por amor.

Perséfone riu balançando de leve a cabeça e olhou para as costas da deusa da sabedoria.

– Achei que não acreditava no amor.

Atena parou e observou o horizonte.

– Há muito pouco que sabem. Não é que eu não acredite, apenas não o compreendo.

– Então somos duas, minha irmã.

Nunca havia chamado Atena de irmã, mas o sorriso que a deusa lhe dirigiu a fez crer que ela gostara. Antes de descer ao submundo, pensara e repassara as palavras de Atena, mas isso não impediu que uma fúria incontrolável a tomasse assim que pisou no reino de Hades. O seu reino. Quando passou pelas portas negras que dava na sala do trono, explodiu:

– Por quê? Depois de tudo que me disse do que eu lhe disse! Como pôde? Eu voltaria! Por você! Para você!

Quando parou em buscar de ar, arfando e com lagrimas caindo constantes e molhadas por seu rosto notou Hades. Os ombros caídos, os olhos sem vida e o rosto contorcido numa angustia que mais parecia que estava sendo torturado por dentro. Aquilo doeu. Doeu vê-lo daquela forma e Perséfone já não sabia por quem estava sofrendo. Se por seu filho que nunca teria e por si, ou pelo o deus a sua frente. Hades não defendeu-se e baixou sua cabeça aceitando a culpa, enchendo-se de amargura contra si e carregando o peso do filho morto em seus ombros.

Naquele momento Perséfone não estava pronta para perdoa-lo e nem para confortá-lo. Não poderiam fazer nada um pelo o outro. Mas tinham a eternidade para descobrirem como.

~ Ω ~

Hades olhava para a escuridão esperando qualquer coisa. Nunca se sentiu tão miserável, tão morto, tão covarde como naquele momento. Destruíra a vida de Perséfone e o amor dela para consigo. Matara seu futuro, por medo. As palavras de Atena faziam coro na escuridão e ele lamentou-se. Nunca fora de chorar, mas sozinho no quarto envolto por escuridão, chorou. Precisava de alivio e não sabia como consegui-lo; imaginou, com um sorriso amargo que jamais o teria. Não o merecia.

Buscou conselhos. Por isso subiu ao mundo mortal para falar com a sobrinha que havia envelhecido para estar no meio dos mortais, sentada num banco de madeira com um cajado e o rosto meio encoberto pelo o manto encardido.

– Deveria ter dado ouvidos a seu conselho.

Os olhos tempestuosos brilharam no rosto gasto pelo o tempo.

– Se todos os conselhos fossem ouvidos, não haveria lições para serem aprendidas e nem dificuldades a serem superadas. – a voz rouca e gasta pelo o tempo não ocultou o poder da deusa.

Hades esperou. Mas era o máximo que Atena falaria ele percebeu, e aquilo não o agradou precisava de mais, precisava de ajuda. Mas como se o lesse Atena o olhou reprovadora.

– Não posso o ajudar mais. Resolva o que você causou, o que eu pude fazer eu o fiz. Não interferirei mais, isso é tudo. – a velha se levantou, mas antes de ir deixou mais um conselho – Escolha o que verdadeiramente quer de agora em diante, meu tio.

Escolhas.

Ele escolhera dar a romã a Perséfone, por medo de perdê-la. Poderia ter escolhido confiar e esperá-la. Mas não havia mais o que ser feito sobre isso. Deveria escolher agora, e agir. Apenas não sentia que merecia escolher alguma felicidade depois do que fizera.


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Notas finais do capítulo

Pois então, no original estavam 26 páginas, então eu cortei o conto de forma que não afetou o capítulo. E postarei a primeira parte que escrevi desse conto no: https://fanfiction.com.br/historia/370484/FanficDeOnes/

Se por curiosidade vocês quiserem saber sobre essa primeira parte, fiquem a vontade.

Sim, o final terminou assim, mas na frente saberão o porque. :)

Obrigada pela a leitura, uma ótima semana para vcs jovens padawans. Não esqueçam dos comentários.



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