– Abra os olhos! – falei próximo à ela, e ela o fez – Você pode me ver? – ela assentiu – Então não feche os olhos, o socorro está vindo.

– M-Mas... – ela tentava falar.

– Irmã! Pelo pai de todos, fique conosco. – Thor veio para o meu lado, quase chorando. Ela não parecia ter mais forças

– M-Me desculp-pem por atrapa-lhar. – ela disse – Vocês são... Os verdadeiros heróis. – pude ler seus lábios, e ela sorriu de leve.

Então seu corpo pesou em meus braços. Estava completamente coberto de sangue – tanto do dela quanto do meu.

– Por favor, resista. – disse, enquanto Thor a tirou de meus braços, a abraçou e deu um beijo em sua testa.

Enfim o socorro chegou com uma equipe especializada da SHIELD, levando-a ao hospital às pressas.

– Temos que pegar Loki ainda. – Rogers disse.

– Eu vou matar aquele desgraçado... – falei entredentes.

– Pode deixar que eu faço isso. – Thor gritou e voou em direção à torre onde Nat ainda estava.

– Vá com Solaria e nos mantenha informado. – Stark falou e seguiu também.

Eu não tinha saída. Não que eu não quisesse ir, mas mesmo que eu não quisesse, eu tinha que ir. Solaria me salvou várias vezes em apenas um dia e eu devia isso a ela. Além de ela ser um encanto de pessoa e ter um brilho que me fez sentir algo... Estranho. Ela tinha que ficar bem.

–

Horas depois da cirurgia, uma médica da SHIELD veio me informar que ela estava bem, apesar não saber qual dano teria sofrido por seu coração parar de bater durante a cirurgia e por ter sido atacada com aquela coisa maldita que mexe com a cabeça dos outros.

– Sim, isso é tudo. – informei a todos assim que chegaram.

– Pai de todos, cuide de minha pequena irmã. – Thor disse num tom razoavelmente baixo, como se falasse para ele mesmo.

– Ela vai ficar bem. – Rogers falou – É só questão de tempo.

Tempo. O cara que ficou congelado por... não sei, 70 anos? Realmente queria falar sobre tempo. O tempo que ela ficou em cirurgia já fora tortura o suficiente, quem dirá esperar ela resolver acordar!

– O que faremos então? – Nat disse, olhando para todos.

– Loki ficará sob custódia da SHIELD até Solaria se recuperar e poder voltar para Asgard com Thor e o prisioneiro. – Fury disse ao entrar na sala de espera. Já disse quanto eu odeio o nome “sala de espera?”

– Isso pode demorar, levando em conta que ela sofreu muitos danos. – Thor disse novamente, com pesar.

–

Todos nós mal nos ausentávamos do Centro de Recuperação de uma das bases da SHIELD, onde a pequena Solaria dormia seu sono imaculado. Algumas semanas se passaram desde o fim da guerra e ela ainda não acordara.

Thor precisou retornar à Asgard para levar o maldito Loki para um lugar realmente seguro, mas retornou pouco mais de três dias depois.

– Quanto tempo mais você acha que ela dormirá, Clint? – Nat falou de repente, me tirando de meus pensamentos enquanto a olhava.

– Eu não sei. – disse pausadamente. Eu não sabia por quanto tempo mais aguentaria vê-la naquele estado sem poder fazer nada.

– Vou buscar algo pra beber... Refrigerante? – ela disse ao se levantar.

– Aceito. – falei e sorri, e ela saiu.

Olhar Solaria daquela maneira me fazia sentir como quando via aquele maldito bater em meu irmão Barney: eu sabia que era errado, era doloroso, mas não podia fazer nada. Em contrapartida, observá-la inerte em seu sono me trazia uma paz que me atormentava.

Me levantei e me aproximei da maca. Sua face de feições angelicais pareciam inabaladas. A cor branca do jaleco que a cobria fazia sua pele levemente corada querer brilhar. Me apoiei na cama para olhar melhor seu rosto e, sem querer, segurei sua mão.

Olhei para aquela situação e me senti envergonhado por não querer mais soltar a mão dela. Eu queria ficar ali, ao seu lado, até ela acordar. Suspirei e olhei em volta – seria constrangedor alguém me ver assim. E quando fui soltar sua mão... Ela a segurou.

– Solaria! – falei – Você está ai? – continuei olhando-a.

Ela parecia querer acordar e depois cessou, sem soltar minha mão. Nat voltou e se assustou com a cena, indo chamar um dos médicos. Continuei encarando nossas mãos seladas até que ela abriu os olhos.

– Solaria! – disse animado demais.

– O que? – ela disse, rouca. Pareceu se incomodar com os curativos e todos as coisas ligadas a ela – Meu nome é Jennifer. – sua voz ainda rouca ecoou em minha mente.

Merda.

Solaria II: A Sombra da Terra