Lembro-me como se fosse ontem. Eu, Jennifer Johnson, em plenos 13 anos, ajudava meus pais na loja de nossa família quando uma grande explosão derrubou metade do local. Seres azuis que não pareciam pertencer a nossa raça continuavam a atacar.

Olhei para os lados, a procura de meus pais mas não via nada além de fogo. Não sabia de onde surgira tudo aquilo. Senti o calor me devorando por dentro até que percebi o barulho de uma nova explosão. Mas não era uma explosão qualquer... Era eu.

Quando recobrei a consciência, estava nos braços de um homem loiro, assim como eu. Tinha os olhos mais bonitos que já vira na vida, um tom de azul tão límpido quanto o céu em dias ensolarados. Senti uma paz, que logo foi substituída por um frio de seis invernos.

- Minha querida! Você está a salvo. – o homem disse, me enrolando em sua capa – Agora nós vamos para casa.

Casa? Até onde sabia, lá era minha casa. Meus pais... Eles estavam bem? Olhei em volta, me desesperando, e os vi o olhando enquanto o homem me carregava. Tive uma sensação estranha por ver seus olhares vazios.

Pouco depois, perdi a consciência.

-

Quando acordei, me sentei e olhei ao redor.

Tudo era dourado, com tecidos em tons de amarelo, laranja e vermelho. A cama era enorme, com tecidos finos a envolvendo por cima e, através deles, via uma enorme porta que dava para um terraço altamente iluminado. Em outra parede, enormes janelas fechadas se confundiam com quadros, de tão lindas que eram.

Só então reparei que não estava mais com minha roupa. Levantei assustada, um pouco tonta, e me olhei em um espelho oval que estava próximo a outra porta. Estava com uma camisola branca. Meus longos cabelos louros estavam penteados.

Caminhei até uma das enormes janelas e a abri com certa dificuldade, pois eram muito pesadas. Assim que meus olhos se acostumaram com a claridade, um grito brotou em minha garganta e não hesitou em sair. Eu sabia que não estava mais em Nova Iorque.

- Minha querida, você acordou! – uma elegante mulher adentrou o quarto e me abraçou. Era tão reconfortante quanto um abraço de mãe – Você está bem, minha filha? – ela me olhou com seus enormes olhos azuis.

- Filha? – ela sorriu e me levou até a cama – Quem é você? Onde estou? – a olhava – Você não é minha mãe! – Gritei. Ela me olhou com tanto zelo que me senti envergonhada por ter sido rude.

- Temos muito a conversar, minha querida... – ela afagou desde minha cabeça, parando em minha bochecha – Teremos todo o tempo do mundo.

Então, ela se apresentou como Frigga e me contou que estávamos em Asgard, um dos nove reinos onde a Terra era Midgard, com seu rei Odin ela como sua rainha, sendo pais de Thor, Loki e Solaria. Era muita coisa para eu absorver em tão pouco tempo e com tão pouca idade.

Ela me contou que quando sua filha Solaria nasceu eles estavam em luta contra os Gigantes de Gelo de Jotunheim e tentariam matá-la. Então, para protege-la, a mandaram pra Terra.

- Mas você tem outros dois filhos, não é? – perguntei – Então por que mandar apenas a Solaria? – a dor podia ser vista através de seus olhos.

- Há mais ou menos um milênio houve a grande guerra entre os mundos que resultou na atual divisão e criação da ponte Bifrost. Mas isso só foi possível por causa de um grande guerreiro, Idris, que se tornou o primeiro rei de Asgard. Não contente com isso, Bael, seu companheiro de guerra assim como Teslan, armou um plano para matá-lo e ficar com o trono. Quando Teslan descobriu o plano do amigo, prometeu que protegeria seu rei com sua vida, se necessário. E ele o fez; quando Bael atacou Idris, travou uma batalha contra Teslan, o matando. Bael foi condenado ao exílio em Niflheim. – ela pausou para me analisar – Idril, como forma de agradecer Teslan por proteger-lhe, começou a Profecia da Esperança: toda vez que a paz dos nove mundos estivesse em perigo, Teslan retornaria na forma de uma criança pura.

Após a melódica voz de Frigga cessar, o silencio reinou. Eu me sentia quente novamente. Algo nessa história me assustava.

- Mas o que ela tem a ver com isso? – falei de repente – E o que EU tenho a ver com isso?

- Minha Solaria é a Esperança da profecia. – ela me afagou novamente – E você é minha Solaria.

Um arrepio percorreu todo o meu corpo. E ainda percorre toda vez que me lembro disso. Lágrimas desobedientes começaram a rolar sobre minha face, mas acabavam evaporando. Eu brilhava. Estava quente. Mas só conseguia pensar em uma coisa...

- E meus pais? – perguntei entre soluços.

- Odin, rei de Asgard e Pai de Todos, é seu pai e eu, Frigga, rainha de Asgard e Mãe de Todos, sou sua mãe. Apenas nós somos seus pais. E ninguém mais. – então ela beijou minha testa e... Me esqueci de Jennifer Johnson.