Um

América

Segunda 08:30

As coisas começaram a desmoronar em uma segunda feira. Acho que segundas são os dia universais para desastres. E como a iludida que eu sou, voltei para a escola achando que tudo correria bem, que seria outro semestre incrível. Mas não.

Então quando meu pai, me deixou na porta do internato numa nublada segunda de manhã (como quase todas na Inglaterra), com a promessa de me buscar no fim do semestre, eu estava feliz, minhas melhores amigas estariam ali, e meu namorado Peter, também. E quando cheguei no dormitório, e vi que dessa vez conseguiria dividir o dormitório com as minhas melhores amigas, eu realmente pensei que seria um ano mais que maravilhoso, tanto que nem reclamei de subir até o terceiro andar carregando uma mala enorme, e abri a porto do quarto numero 360 com a maior alegria que pude.

–Está atrasada, como sempre. – Disse Cassie, sem tirar os olhos do livro.

Eu corro até a cama onde elas estava deitada, e pulo em cima dela,a abraçando.

–Eu senti tanto a sua falta! – Digo bagunçando seu longo e encaracolado cabelo ruivo.

–Você me viu na segunda passada! – Ela diz revirando os olhos, e eu consigo ver a sombra de um sorriso em seu rosto, enquanto ela tenta, sem muito sucesso, arrumar o seu red Power. – O que achou do quarto?

Olho para o lugar, era com certeza maior que os nossos quartos do ano passado. O teto era alto, e branco com detalhes de gesso, e um lustre no centro, haviam três janelas enormes, brancas, fazendo contraste com o papel de parede azul claro com florzinhas e o teto de madeira, claro , e em uma dessas janelas, havia um assento de janela, e na outra, uma das camas estava de lado. Havia mais outras três camas, uma na lateral, ao lado do grande closet branco que dividíamos, e mais duas na lateral oposta, e uma escrivaninha marrom, da mesma cor das camas, as garotas haviam deixado para mim, a cama perto da janela, e eu as agradeci mentalmente por isso.

–Beeeem melhor que o meu antigo! – comentei rindo.

–Eu peguei os seus horários. E por favor, tente não fazer muita bagunça no nosso quarto. – Ela disse como a controladora que é. – E temos uma apresentação hoje, uma da tarde, só a mesma baboseira de sempre.

–Sim, senhora! – Digo fazendo uma reverencia e me jogando em minha cama. – Hey, seu irmão já está aqui?

– O idiota do Uriel? Acho que sim, minha mãe disse que a vovó mandaria ele de volta no domingo.

–Você nem foi vê-lo?

–Pra que? Já dividimos a mesma barriga por 9 meses, quanto mais longe ficar dele melhor.

Eu não consigo evitar de rir, que é quando a porta se abre, revelando a figura alta e loira que eu não via a semanas.

–Alaska! – Grito antes de me levantar e correr em sua direção para um abraço caloroso, que ela corresponde feliz, e então ela se afasta e me encara.

– Você está ótima Meri! – Ela diz rindo.

– Você também! – Digo, o que não era mentira, mesmo que ela não acreditasse.

Nós três, não temos nada fisicamente em comum. Eu tenho cabelos castanhos lisos, a pele escura e olhos claros, uma altura normal de 1,65 e um peso normal também. Cassie (de Cassiopeia) é tão branca que qualquer quantidade de sol seria fatal, tem o rosto redondo cheio de sardas, olhos castanhos, um cabelo ruivo enorme e muito cacheado (Ela parece a Merida, de Valente), e um corpo esguio, quase sem gordura, depois de horas de treinos puxados no Kung fu, que compensa a sua altura de 1,56. Já Alaska, tinha a pele dourada de sol, cabelos loiros médios, e grandes e bonitos olhos azuis, contrastando com seu rosto bem desenhado, e com quase 1,80 de altura, ela estava acima do peso, não que isso importasse para alguém além dela, ela continuava sendo uma garota linda.

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–Uriel! – Disse sorrindo e acenando ao ver a figura que saia do dormitório masculino.

Ele me viu e sorriu, enquanto caminhava na direção, eu percebi o quanto senti sua falta, ele continuava o mesmo garoto magro, alto e branco demais, de sempre, usava óculos, que escondiam os olhos castanhos e o cabelo castanho avermelhado, estava uma bagunça como sempre, com cachos desordenados, e as espinhas que pareciam nunca o abandonar. Ele era incrivelmente convidativo para mim, tudo nele gritava casa. E eu queria que ele andasse mais rápido até mim. Mas um par de mãos me pega por trás e me vira, me dando um caloroso abraço, e um beijo.

E antes que possa sequer pensarem Uriel, estou sendo arrastada para longe.

–Peter! – Digo rindo. – Não podemos matar aula já no primeiro dia.

–Relaxa, gata! Ninguém vai reparar se a gente não for na apresentação.

O que não deixava de ser verdade, porque nem os próprios professores iam algumas vezes.

E hora que eu vi, ele havia me levado para bem longe, perto da quadra esportiva, em direção ao vestiário masculino.

–O que você está fazendo Pete? – Pergunto achando estranho.

Ele da de ombros.

–Quero ficar sozinho com você onde não vão nos pegar, e como sou o único com as chaves do vestiário e o treinador esta de férias ainda... – ele diz enquanto abre as grandes portas azuis, e me puxa para dentro.

E eu deixei que ele fizesse isso, tínhamos ficado muito tempo sem nos vermos, e a ideia de ficar um pouco sozinha com ele, onde nem uma das vigias iria nos mandar se afastar, era muito tentador.

–Como foram as férias? – Pergunto, enquanto deixo ele me guiar até um canto escondido e se sentar num banco enquanto me puxa para o seu colo.

–Ótimas, mas eu senti sua falta todos os dias. – Ele diz antes de me beijar.

Eu paro o observando, os ombros altos, o corpo magro e musculoso, ele com certeza era forte. Junto com a pele bronzeada, os cabelos loiros bem cortados, e os olhos verdes, ele era uma visão linda.

–O que você está olhando? – Ele pergunta divertido, antes de começar a dar vários beijos pelo meu pescoço, causando arrepios.

–Eu estava reparando no quão bonito você é.

Ela sorri.

–Você é mais, gata! – E então volta a me beijar, como se para me fazer calar a boca, suas mãos começam a percorrer todo meu corpo, e quando isso começa, eu rapidamente me afasto.

–O que você acha que está fazendo? – Pergunto o olhando um pouco descrente.

–Qual é gata... Tem tanto tempo que a gente não se vê...

–E daí? –pergunto novamente tomando distancia dele.

–É Serio isso Meri? Eu tenho as minhas necessidades. Nos já estamos juntos a quatro meses.

– E você acha que quatro meses é muito tempo? Você tem duas mãos, lide com as suas necessidades sozinho. – Digo revirando os olhos e me afastando dele o mais rápido que posso.

–Depois se alguma coisa e você me culpa... – Ele diz nervoso.

–O que você quer dizer com isso Peter?

–Eu dormi com outra garota nas férias. Não significou nada pra mim, mas veja Meri, se você cuidasse de mim, eu não precisaria ter feito isso.

Eu olho para ele atônita.

–Espero que ainda tenha o numero dela, assim ela pode continuar a cuidar de você. – Digo sem olhar novamente em sua cara, e caminho com toda a dignidade que posso para fora do vestiário, e então começo a correr.

Correr até meu lugar seguro, antes que as lagrimas escapem do meu rosto. Por sorte não tinha muita gente no terreno, então consegui fazer meu trajeto até o banheiro do dormitório feminino antigo sem ser notada, que eles mantinham sabe-se lá por que, e me deixei escorregar no piso gelado, enquanto as lagrimas finalmente caindo.

Azulejos brancos até o teto e o Cheiro de eucalipto... Por que tanto eucalipto tias da limpeza? Praticamente ninguém vem aqui, esse cheiro um dia ainda vai me matar. É tanto branco que meus olhos chegam a doer, e tudo tão limpo, não entendo porque ainda se preocupam em limpar esse lugar, quase ninguém sabe da sua existência.

Sabe o significado de America? Ilusão. Ilusão o continente, Ilusão meu ser. A única America perfeita, é a banda. É por isso que eu me chamo America, embora não tenha dado muito certo. Além do mas, O que você tem na cabeça pra chamar sua filha de America? Não importa se é o nome da sua banda favorita... Eu não chamaria um filho de Whitesnake.

Acho que todos os meus problemas começam com o meu nome.

Um nome idiota. Uma pessoa idiota.

– America? Você está ai? – Reconheço a voz de Uriel antes de vê-lo.

–Você não é uma menina. – Respondo sem tirar o rosto dos meus joelhos, na posição fetal em que me encontrava.

– Eu tenho minhas duvidas. – Ele diz rindo e entrando, enquanto fechava a porta atrás dele.

–Eu não. - murmuro

– Se você precisa de mim, eu posso ser o que você quiser.

–Sua garota misteriosa vai ficar com ciúmes.

– Você é a única garota com quem eu me importo agora. – disse se sentando ao meu lado, então ele me puxa para um abraço, e ficou mexendo no meu cabelo. – O que aconteceu?

–Como me achou?

Ele suspira.

– Algumas meninas disseram que te viram correndo parecendo chateada... resolvi vir ver se você estava bem, e esse foi o primeiro lugar que pensei em procurar. Sua vez.

–Peter... – Digo e escondo a cabeça em seu ombro. –Ele me traiu...

– Que idiota. – Ele diz com raiva. – Quem trairia uma garota como você?

– Aparentemente todos os caras com quem eu namorei.

–Você só namora idiotas. – ele resmunga e eu rio.

– Você está certo! – Então olho dentro dos seus olhos castanhos, tentando não me perder lá dentro. Quer saber de um segredo? Eu amo inutilmente o meu melhor amigo, e por mais patético que seja, e que eu saiba que ele não sente nada por mim, eu continuo amando, e nem um cara com quem eu namoro consegue me fazer superar isso. – Se um dia desistir da sua garota misteriosa, você é MEU, entendido?

Ele fica vermelho e murmura um “Ok”, então eu chuto sua canela.

– Qual é o meu problema Uriel? Eu sou tão ruim assim? - E quando acabo a minha frase autodepreciativa, meu nariz começa a escorrer e mistura aquele monte de catarro e lagrimas no meu rosto, e eu não sei se rio ou choro. Está ai a resposta para a minha pergunta, ele não se interessaria por uma garota que só da trabalho, ele me vê como irmã menor.

Ele pegou a manga da camisa e limpou meus olhos e meu nariz, como se eu fosse uma criança pequena.

–Pare de chorar idiota. Você é perfeita. - Ele ri por um momento e então me oferece seu dedo mindinho. - Se a minha “garota misteriosa” não me quiser, eu sou seu.

Agarro o dedo dele.

– Só diz isso porque é lógico que ela vai te querer...

Ele ri outra vez.

–Está melhor?

Eu sorrio, e sem catarro dessa vez.

– Você sempre me deixamelhor.

Levanto-me e lavo meu rosto, enquanto ele me observa. Evito me olhar no espelho e volto até onde ele está lhe oferecendo a mão para que se levante.

– Vamos sair daqui antes que eu me olhe no espelho.

Ele só balança a cabeça com um sorriso divertido.