Goodbye escrita por MihChan


Capítulo 10
Aquela dor.


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo... To chorando TuT
Obrigada a todos que acompanharam e Só sei que Nada sei, que favoritou. Agradeço infinitamente pelos comentários positivos que me deixaram. Espero que não se decepcionem e gostem bastante desse final.
Ah, esse é o final, mas vou fazer algo como um extra, um capítulo especial e espero que vocês gostem de mais um antes do término de fato xD



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– Como foi o encontro? – Gabi chegou gritando no meu quarto no dia seguinte.

Vi todas as outras entrarem logo depois e jogarem todos os livros, que eu estava usando para estudar, de cima da cama no chão e se sentarem ou deitarem. Lidia passou pela porta e deu um sorriso para todas nós.

– Não eram vocês que não estavam nem um pouco interessadas na minha doce história de amor? – tentei parecer magoada, mas ri com a cara de desgosto que fizeram, que deu total contraste com a animação que chegaram.

– Tudo bem. – Mirela se levantou do chão e, descaradamente, continuou: – Então vou embora.

Segurei-a com olhar pidão e começamos a rir.

Contei tudo a elas. De como ele era inteligente e como sabia tanto sobre tudo. Do seu sonho de ser biólogo algum dia, da sua paixão por peixes anjo e que ele já tinha ido várias vezes aquele aquário. Por fim, disse que eu sentia que ele ficaria bem daqui pra frente.

Elas pareceram entusiasmadas, mas percebi Mirela mexer a boca como fazia quando estava nervosa. Não precisei nem perguntar, ela se pronunciou:

– Manu, você sabe que nós te amamos. Vamos está aqui sempre que precisar, tá? – ela sorriu, parecendo triste.

– Claro. – sorri meio desconcertada. Não entendi bem o que ela queria dizer com aquilo e aquela expressão, naquele momento.

Depois eu descobriria que elas tinham tido uma conversa com a minha mãe e que a mesma estava preocupada comigo. Estava com medo de como eu ficaria se algo realmente ruim acontecesse. Mirela parecia prever o que viria depois.

Uma semana depois, Murilo piorou teve que ficar no hospital. Me tranquilizava saber que ele não estava no intensivo, mas me amedrontava ele estar tendo tantas recaídas.

– Mãe! – gritei com a porta já aberta – Eu estou indo.

– Mande um beijo pra ele! – ela apareceu no fim do corredor, da cozinha.

– Pode deixar! – saí de casa.

Era dia doze de janeiro. Logo nós começaríamos o segundo ano escolar do ensino médio. Eu já estava me preparando para entrar em uma faculdade de medicina. Ainda não sabia ao certo em que me especializaria, mas procurava pesquisar bastante sobre isso.

Cheguei ao hospital e a recepcionista me deixou subir depois que eu dei meu nome e disse o do paciente e seu quarto. Miranda me deu um beijo quando me viu chegar e saiu em silêncio para tomar alguma coisa.

Tirei, de uma sacola plástica, o embolado de origamis que todos tinham feito e pendurei em uma espécie de cabideiro que usavam para pendurar bolsas de soro, ao lado da cama.

Murilo observou sorrindo e pegou em uma das minhas mãos assim que terminei, chamando minha atenção. O encarei.

– Obrigada por não ter desistido de mim ainda. – disse.

– Minha mãe te mandou um beijo. – eu sorri tentando manter-me calma – E eu não vou desistir de você nunca. O que há com esse "ainda"? – tentei rir.

Me sentei ao lado da cama e o observei.

Seus cabelos estavam crescendo de novo, sinal que o crescimento era rápido e que os remédios que estavam aplicando já não eram tão fortes.

– Eles pararam com o tratamento há algum tempo. – ele me despertou de meus devaneios.

– Ãhn?

– Falaram que eu estou muito fraco para remédios tão fortes. – sorriu.

Passei a mãos pelos seus cabelos e comecei a fazer pequenas trancinhas, fazendo-o fechar os olhos.

Durante os outros dias, eu lhe trouxe um caderno para que ele escrevesse quando estivesse entediado e, normalmente, ele fazia piadas e enigmas que nunca teriam resposta. Eu sempre ria quando vinha vê-lo e ficava feliz por poder ver seu sorriso nada abalado com tudo aquilo.

Certas vezes, enfermeiras vinham colher sangue ou deixá-lo “de castigo” com bolsa de soro. Murilo fazia careta e fingia chorar para que nós déssemos risada mesmo com aquilo.

Seu sorriso era o mesmo perante qualquer situação, eu constatara.

Os nossos amigos mais próximos sempre vinham visitá-lo e lhe desejar melhoras. Normalmente, quando estava toda a panelinha, a enfermeira do plantão tinha que vim nos alertar para baixar o “volume” da voz ou até mesmo que o horário de visita tinha terminado.

– Você é uma menina de ouro. – José comentou no seu carro enquanto me levava pra casa em um dia chuvoso.

Miranda sempre ficava com Murilo na enfermaria. Eu queria ficar, mas não me deixavam, então eu vinha todos os dias de manhã e ficava até anoitecer.

Era uma noite que parecia de inverno. As aulas já tinham começado há um mês inteiro, o que significava que estávamos no final de março. Eu procurava atualizar Murilo dos assuntos que estavam dando no colégio e levava trabalhos seus para os professores.

– Seu filho que é um garoto muito forte! – eu forcei um sorriso.

– Isso ele é mesmo. – sorriu sem tirar os olhos da estrada – Mas se você não estivesse ao lado dele agora, acho que ele não estaria tão alegre mesmo com essa fase toda.

Comecei a chorar sem querer. Não estava aguentando segurar mais. O homem ao meu lado me olhou, sorriu com compaixão e passou uma das mãos na minha cabeça baixa.

– Eu sei que está sendo difícil pra você também. Não precisa ser forte o tempo todo.

Com isso eu chorei ainda mais.

No começo de abril, Murilo não estava mais forte para recomeçarem o tratamento e os médicos chamavam seus pais frequentemente para conversar a sós.

Eles sempre tentavam disfarçar, mas eu sabia que as conversas não eram boas e Murilo também.

– Posso levá-lo para passear um pouco? – foi a pergunta que eu fiz ao médico Leonardo no dia 26 de abril.

Os pais de Murilo e o mesmo me olharam com expressões de espanto, como se quisessem me internar também, em um manicômio, porque eu só podia estar louca.

O que eu queria era tirá-lo daquele clima hospitalar ao menos um pouco. Dona Miranda já havia me dito que ele escrevia a noite no caderno que eu havia lhe dado pensando em rir comigo no dia seguinte. Em ter assunto. Ela também me disse que ele tinha medo que eu me cansasse daquela rotina, mas depois se repreendeu dizendo que ele disse que a mesma não deveria me contar aquilo. Até seu médico disse, depois que saímos, que eu sempre era o motivo das fugas de Murilo do hospital.

– Nunca pensei que Leo fosse mesmo me deixar sair. – ele riu, se divertindo com aquilo.

– Seu médico é um cara legal. – eu disse.

O garoto me perguntou aonde iríamos, mas eu não disse nada até chegarmos ao aquário. Apesar de já ter ido lá trocentas vezes, o sorriso de criança sempre iluminava o rosto de Murilo quando ele se via no lugar que despertou sua paixão de querer ser biólogo marinho.

Depois que chegamos ao fim do percurso e saímos de lá, andamos por uma pracinha e vimos muitas pessoas passeando com cachorros com caras engraçadas.

Sentados em um banco de pedra, fizemos brincadeiras imaginando o que os cachorros estariam pensando, tiramos fotos nossas e com os cachorros de pessoas que gostavam quando nos aproximávamos e perguntávamos se podíamos acariciar.

Quando percebi que estava esfriando, decidi que era melhor voltarmos. Passei um dos braços em torno da cintura de Murilo e deixei que se apoiasse em mim, como tínhamos feito na vinda.

– He! – ouvi ele rir de forma infantil.

– Qual é a graç-

Fui surpreendida por um beijo quando levantei meu rosto para fitar o seu. Corei o olhando, ele sustentou o olhar.

– Eu sempre vou amar você. – disse.

– O-O que é isso agora? – gaguejei sorrindo.

– Eu só... – ele virou o rosto para o outro lado – Achei que você precisava ter certeza do meu sentimento.

Fiquei imóvel mirando-o. O que ele estaria pensando? O que será que queria dizer com aquilo? Meu coração pareceu querer parar, mas ele virou-se para mim e sorriu, maroto, novamente dando um passo para frente para que voltássemos a andar.

– Eu também sempre vou te amar. – falei, mas não o olhei para ver sua expressão.

Passei dias me repreendendo pela minha falta de coragem para encará-lo daquela vez. Se alguém tivesse me dito o que aconteceria a seguir, eu teria feito diferente?, foi a pergunta que eu fiz a mim durante muito tempo.

No dia seguinte ele não acordou mais. Entrou em uma espécie de coma e os médicos disseram que tentariam reanimá-lo e que ele teria quarenta e oito horas para reagir aos estímulos.

Eu não conseguia acreditar.

– Desculpe! – pedi a Miranda e José, que se abraçavam depois de me contarem tudo – A culpa é minha! – as lágrimas já rolavam descontroladamente.

– O que-

– Eu não devia tê-lo levado para fora ontem! Eu sou tão burra! Tão imprudente! – me sentei em uma das cadeiras do mesmo corredor em que estávamos, minhas pernas tremiam.

– Não foi culpa sua, querida. – José disse e senti um abraço de lado de minha mãe, que estava comigo.

– Ele ficou muito mais feliz depois de ontem, acredite. – Miranda disse e me abraçou junto com minha mãe.

– Por que com ele...? – murmurei.

Andei cambaleando até seu quarto após me recuperar um pouco, e o observei pelo vidro da porta. As lágrimas não tinham parado de rolar e minha mãe não deixou que eu girasse a maçaneta e empurrasse a porta, me puxando de volta para a cadeira com lágrimas nos olhos.

Eu já soluçava alto e atraía olhares de algumas pessoas que estavam por perto. Essas me olhavam como se sentissem por mim, mas nada daquilo me confortava.

Passadas exatamente dezessete horas, os médicos nos avisaram que Murilo não tinha resistido aos remédios. Era arriscado desde o começo, disseram, porque ele não estava forte o suficiente, mas era necessário que tentassem.

Durante a explicação eu já soluçava alto novamente. Eu queria que tudo aquilo fosse mentira, mas até mesmo o médico do meu namorado continha lágrimas nos olhos. Era impressionante como tudo tinha acontecido e como eu me sentia tão incapaz diante daquilo tudo.

Os pais de Murilo deixaram que eu o visse primeiro. Minha mãe quis me acompanhar, mas eu preferi ir sozinha. Entrei no quarto sentindo minhas pernas fraquejarem e me joguei nos pés da cama. As enfermeiras já tinham desligados os aparelhos e ele parecia sorrir enquanto dormia... De um sono que não acordaria mais.

Segurei em sua mão e chorei todas as lágrimas que ainda me restavam. Depois de pensar tudo o que eu queria lhe dizer, saí do quarto e deixei que seus pais entrassem para vê-lo.

Lidia me obrigou a ir para casa e só voltei a ver os pais de Murilo no dia seguinte. Na tarde do enterro.

Não vou especificar nada disso aqui. Não é algo que eu goste de me lembrar. Muita gente compareceu e até os mais próximos de Murilo da nossa classe foram prestar homenagens: minhas amigas, Victor e Guilherme.

Lembro-me bem da sensação de cair num abismo sem fundo no momento que tudo terminou. Lembro-me de querer me jogar junto e trazê-lo de volta. Lembro-me que sem a ajuda dos meus amigos e familiares, eu não conseguiria sair da depressão que quase entrei de verdade.

Hoje em dia penso que eu era muito jovem para compreender aquilo tudo de verdade, mas eu sei perfeitamente que a dor foi muito verdadeira. Era tão real que eu quase podia tocá-la. Tangível.

Eu ainda visitei os pais de Murilo muitas vezes depois que ele falecera. Lembro-me da “bandeira” preta estendida na janela, que representava algo como luto na religião de José. Lembro-me de entrar no quarto de Murilo inúmeras vezes e ficar conversando sozinha ali ou com Miranda. Lembro-me de acender velas em frente um retrato dele na mesinha do meu quarto, que Aki dissera que era uma ótima forma para eu me sentir melhor. Lembro-me de ver as coisas serem empacotadas aos poucos em toda a casa do garoto e da conversa ao redor da mesa quando eles anunciaram que se mudariam. Lembro-me da placa de “vende-se” em frente à casa que eu tanto admirava e da mesma ser tirada dali após um tempo e uma nova família se instalar. Uma família que estava sempre presente lá e que não deixaram o jardim morrer.

Sempre que passo em frente à casa, ainda hoje, não consigo evitar sorrir e lembrar do sorriso do meu querido Murilo.

Alguém que, na minha memória e coração, nunca deixou de existir.

...

– O que você está fazendo, Manoela? – Gabi me despertou do que escrevia.

– Só me lembrando de algumas coisas. – sorri para ela enquanto fechava o caderno sobre a mesa da lanchonete do hospital.

Era madrugada e, por incrível que pareça, o lugar estava bem calmo.

– Aposto que é do Murilo de novo. – ela riu – Não larga desse caderninho nem no trabalho.

– Me desculpe. – ri sem graça.

– Mirela e Lara nos chamaram para ir ver um concerto hoje, lembra? – ela bebericou na minha xícara de café. Fez uma careta ao perceber que estava frio.

– Aki irá tocar seu violino mágico? – ri com uma piada interna que tinha se instalado entre nós.

– Claro! – a ruiva riu também – E Guilherme chorará de emoção pela namorada novamente. – ela fez uma péssima imitação do garoto que ficou conhecido por ser duro na queda, mas tinha chorado na primeira apresentação da namorada.

– Victor também estará lá? – lembrei-me do casamento de Victor e Lara há pouco – Faz tanto tempo que não nos vemos.

– Sim, a lua de mel acabou, finalmente. – a garota murmurou um “ufa” e limpou suor imaginário da testa - Espero que tenham conseguido aproveitar algo, né? - ele arqueou as sobrancelhas e riu da própria piada.

– Eles nunca mudam mesmo... - eu a acompanhei, lembrando-me das briguinhas frequentes dos indivíduos em questão.

Era ótimo como o tempo não nos separou. Mantínhamos a amizade intacta e até mesmo mais forte, com algumas mudanças bem esperadas por todos, convenhamos.

– E a tia Lidia super emagreceu, não é? – ela lembrou-se.

– Uma coroa que entrou na onda fitness. – revirei os olhos fazendo-a rir.

– Soube que seus irmãos estão indo super bem na escola também. – ela mostrou-se espantada – A mãe coruja estava se gabando. – riu.

– Puxaram a irmã! – me gabei também e ela me deu um peteleco.

Ri novamente e acariciei meu caderno na mesa.

Parece que as coisas não mudaram muito, vê?

Gabi pediu que eu a acompanhasse até seu escritório. Levantei da cadeira me apoiando na mesa em que estava viajando para seis anos atrás de novo e a segui como pedira.

Levei o caderno junto ao peito. Amanhã eu escreveria como foi meu dia novamente. Uma carta. Com destinatário certo, mas que nunca seria enviada.

“Eu não vejo a hora de te encontrar de novo! Sei que você está bem e lembrar-me de você só me faz ver o quanto você marcou a minha vida. Ela foi, de certa forma, meio sádica conosco, mas eu sei que no fim da história os mocinhos sempre ficam juntos. Não importa quanto tempo demore, o fio vermelho do destino já está amarrado. Não prometo não chorar pois as lágrimas transbordam do meu peito às vezes, considere, certo? Dizer adeus e tentar sorrir é impossível ao se despedir. Sendo assim... Não direi adeus. Lembra-se do nosso acordo? Eu direi: Até logo.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Agradeço a todos novamente! Podem continuar comentando, certo? xD E me aguardem para o especial! Um beijo *3*