May 13, 2012 - Texas

Samantha já estava acostumada às sombras que faziam parte de sua vida, ela não conseguia mais imaginar como seria viver sem a companhia das criaturas que a atormentavam há tanto tempo. Criaturas que arruinaram sua infância, que a fizeram pagar pela morte do próprio irmão. Era tão comum acordar e dar de cara com a sombra flutuante encarando-a pelo estrado do beliche de cima.

Durante uns anos, quando começou a conviver com elas, pesadelos e noites às claras eram constantes, porém com o passar do tempo, Sam percebera que aquelas criaturas não machucavam nem causavam nenhum mal a si própria, só quando algo ruim estava por vir. As sombras ficavam agitadas como se quisessem alertá-la; a primeira vez que isso aconteceu fora no jardim, no mesmo jardim que presenciara a primeira sombra. Ela se movia rapidamente pelo gramado sempre parando perto do portão da garagem. Samantha ignorara aquilo, chamando aquela criatura de “Sombra rebelde”. Entretanto, naquele mesmo dia, seu pai demorou a chegar em casa, tinha ido ao aeroporto buscar um tio que viera de Viena para visitá-los. A demora preocupou sua mãe, e depois de três horas um telefonema informou que um acidente havia ocorrido e que o tio estava morto.

Desde desse dia, a garota passou a observar mais atentamente as sombras, contava aos pais que simplesmente riam, dizendo que Samantha precisava fazer amigos reais e não imaginários. Ela nunca fora uma criança de fácil convívio, sempre isolada na escola. A solução que seus pais encontraram foi o tratamento. Ela vivia de psiquiatra a psiquiatra, até sair o laudo de que sofria de um distúrbio mental. Daí foram mais meses de remédios e internações, mas nada fazia as sombras sumirem.

Então, quando completara dez anos, Samantha ganhou um irmão. Josh, que nasceu saudável e era lindo. As atenções se distanciaram dela e passaram para o garotinho. Para ela fora um alivio, pois podia se sentir livre. Chegara até a mentir aos pais dizendo que as sombras haviam sumido.

A família Wilston parecia feliz e perfeita. Só parecia.

Anos mais tarde, quando Sam já tinha quatorze anos, uma viagem de família para o Texas, terminou numa tragédia que mudara totalmente sua vida.

Era uma noite fria, a neblina tomava conta da estrada que estava deserta. Os passageiros dentro do carro permaneciam em total silêncio. Juan dirigia calmamente, enquanto Clarissa no banco do passageiro lia um de seus catálogos semanais sobre obras de arte. Josh dormia no banco de trás em sua cadeirinha e ao lado, Samatha, que observava as árvores escuras passarem pela janela como um borrão.

Por um instante, a garota fechou os olhos e começou a pensar em como sua vida seria se vivesse em outra família, com outros costumes. Como reagiriam sobre seu comportamento estranho. Percebeu que fazia um tempo desde que não via uma das “Sombras rebeldes”. Isso era um bom sinal, ou não.

De repente, um calafrio percorreu sua espinha, mas ela se negava a abrir os olhos, já sabia o que encontraria. Seus pais conversavam entre sussurros para não acordar Josh, mas ela mal prestava atenção neles. Queria se livrar da sombra que estava a sua espreita. Um odor forte atingiu suas narinas, dando-lhe ânsia.

Abriu os olhos rapidamente, em parte por curiosidade. Visualizou o que tanto temia, uma a criatura pairava sobre ela e seu irmão, estava inquieta se remexendo entre os bancos. Samantha desesperada sabia exatamente o que aquilo queria dizer.

Gritou para os pais, pedindo que parassem o carro. Mas Clarissa a olhou com estranheza e disse que a filha tinha tido um pesadelo. Apelou para o pai que tentava manter o olhar na estrada enquanto discutia com a filha. Josh acordou assustado com os gritos e chorou. Enfezada, sua mãe gritou de volta com Sam chamando-a de louca. A sombra que agora estava sobre Juan, movimentava-se violentamente.

Samantha assustada pulou para o banco da frente na intenção de afastar a criatura de seu pai, porém o mesmo gritou com ela mandando que voltasse para o banco de trás. Mas já era tarde demais. O abismo à frente na estrada se aproximou quando Juan virou para trás para chamar a atenção da filha. E por questão de segundos Samantha visualizou o fim se aproximando, então uma escuridão profunda a atingiu no exato momento em que escutou a mãe gritando de pavor.