March 25, 2003 - New York

O dia estava ensolarado como todos os outros dias daquele inicio de primavera. Mas o vento soprava forte, as flores já estavam se abrindo, os botões se transformando em belas e estonteantes pétalas coloridas. O ar úmido indicava a chegada de uma chuva, a garoa já acontecia, os pingos caiam por sobre os telhados das casas mais altas.

O bairro não muito movimentado e não muito rico que ficava na zona leste da cidade de Nova York abrigava centenas de famílias que tinham parte de sua renda conquistada pelo artesanato. A área era conhecida por ter os melhores artesãos da cidade e claro, a família Wilston não podia estar fora dessa lista.

Clarissa e Juan casaram-se muito cedo, ambos não tinham 25 anos completos ainda, porém o amor que os conectava era forte demais para esperar e a paixão pela arte os completava de uma forma desumana. Clarissa pintava quadros maravilhosos, principalmente paisagens. Já Juan tinha o dom da cerâmica, suas obras eram conhecidas pela cidade como as mais delicadas, recebia encomendas de muitos empresários.

E havia também Samantha, a mais jovem artista da família. Filha de Clarissa e Juan, fora criada no meio das cores e tintas. Não tinha irmãos e por isso era mimada e recebia todo amor e carinho que precisava. Sam tinha o dom de desenhar desde os 2 anos de idade. Era uma criança maravilhosa, seus cabelos ruivos chamavam a atenção de todos e seus olhos claros conquistavam qualquer um.

Tudo parecia perfeito e bem as ordens, até aquele dia...

Samantha corria pelo jardim florido tropeçando nas pedras como sempre fazia no final de suas tardes. Clarissa observava a filha à porta de sua casa e sorria radiante vendo a pequena de apenas 5 anos se divertindo como deveria ser. Um instante se passou o cinza escuro dominou todo o céu, a garoa havia se transformado em uma forte chuva. Sam parecia não se incomodar e continuava brincando, pegou uma joaninha em suas mãos quando ouviu o grito da mãe.

Ignorando completamente o pedido de voltar pra casa, focou sua atenção no inseto que corria pelo seu braço. Foi quando Sam sentiu um frio subir pela espinha, viu o reflexo de uma sombra passar na sua frente. Assustada deixou a joaninha cair na grama e correu com a intenção de voltar para casa, mas algo a derrubou antes de chegar ao fim do jardim. Ralou os joelhos e quando se deu conta lágrimas rolavam por sua face. A sombra aproximou-se da garotinha e junto trazia um odor fétido. Samantha gritava desesperada pedindo por socorro enquanto a sombra parava aos seus pés, já perto ela pode perceber que não se tratava de uma simples sombra, a criatura tinha mãos e um rosto horrendo, sua expressão de dar arrepios era maligna. Porém antes que a tocassem, mãos fortes a puxaram de volta para a realidade deixando-a momentaneamente tonta. A sombra se dissipou com uma rapidez inacreditável deixando um rastro gosmento verde na grama. Clarissa pegou a filha no colo e levou-a de volta para dentro de casa, enquanto a mesma soluçava nos braços da mãe e com medo e assustada. E então desde aquele dia, Samantha Wilston nunca mais teve uma noite sequer de sono tranqüilo.