O garoto sem nome escrita por Gessikk


Capítulo 5
Carta 5


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Demorei um pouco mais para postar essa carta e foi simplesmente porque demorei para corrigir rsrs
Enfim, espero que gostem e quero dizer que estou muito feliz com as pessoas que estão lendo e os comentários que estão mandando :)
Ah! Essa fic vai ter em torno de 10 cartas, não vai se prolongar muito mais do que isso, então espero que estejam aproveitando!

"Me deram um nome e me alienaram de mim" - Clarice Lispector



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Not Alone- Red

"Slowly fading away

You're lost and so afraid

Where is the hope in a world so cold

(...)

You're living in fear that no one will hear your cries

(Can you save me now?)

(...)

Your heart is full of broken dreams Just a fading memory

And everything's gone but the pain carries on Lost in the rain again

When will it ever end

The arms of relief seem so out of reach

But I, I am here

I am with you

I will carry through it all I won't leave you I will catch you

When you feel like letting go

Cause you're not, you're not alone

And I'll be your hope when feel like it's over

And I will pick you up when your whole world shatters

(...)

And I will be your hope

And I will be pick up

And I will be your hope

And I will be your hope"

Apesar de estar escrevendo, não sei muito sobre as regras da escrita, mas, sei que mudamos o parágrafo quando muda o assunto.

As vírgulas dão pequenas pausas, fazem com quem lê, respire durante a frase e pode mudar o sentido do texto. Se, eu, escrever, cada, palavra, entre ,vírgulas, você, vai, parar, em, todas, elas.

Depois de pensar nisso, conclui que se minha vida fosse um livro, ele não teria nenhuma pontuação. Seria apenas um texto corrido, confuso, cruel, sem chances do leitor pausar, respirar e continuar a ler, pois eu nunca tive essa chance. Apesar de tudo o que aconteceu a minha volta, eu não pude sequer respirar, ter uma pequena pausa, não tive pontos para encerrar um trauma e nem sequer vírgulas para descansar.

Eu seria o pior livro de todos, repleto de erros de grafia, que representariam os erros estúpidos da minha vida. Não teria um título, seria apenas uma capa lisa, preta, até porquê, para todos, eu não tenho nome. Eu inventei o "apelido" Stiles, com uma ideia idiota de o tirar de meu próprio sobrenome, Stilinski e fingi que esse era meu nome, somente para esconder o nome real, que nunca tive coragem de contar para ninguém.

Então, apesar de me chamarem de Stiles, eu sou apenas um garoto sem nome, sem identidade.

Depois dos acontecimentos que escrevi na outra carta, por favor não me obrigue a ter que dizer novamente o que aconteceu, eu me afastei muito de todos.

Se passou dois anos e isso não melhorou em nada no que sentia, completei vinte e um anos e ainda me sentia a mesma criança órfã. Eu saía pouco de casa, somente quando era muito necessário, não via Kira, Lydia nem Derek, não falava com ninguém além do meu pai.

Antes, nos primeiros meses sem Scott, foi que me afastei de Lydia. Eu a amava desesperadamente, mas não conseguia conviver com mais nenhuma pessoa, só não sei se ela entendeu isso.

A dona de olhos verdes continuou me ligando por meses seguidos, ficava parada em frente a minha casa, esperando que eu a atendesse, conversou com meu pai, me mandou diversas mensagens, gritou meu nome da rua para que a escutasse do meu quarto. Em nenhuma das vezes eu a ouvi, não conseguia, eu só sentia uma dor insuportável, aquela tortura agoniada que dominou meu corpo.

No dia em que ele morreu e eu fui reconhecer seu corpo no necrotério, tive um ataque de pânico, o pior deles. Primeiro foi o conhecido sufoco, a sensação de estar sendo esmagado, a falta de ar, o mundo girando, minha garganta doendo sem nenhum motivo aparente, para só depois perceber que gritava.

Entrei em completo desespero e meu pai não podia ficar o dia todo comigo, pois precisava resolver as coisas do funeral, então, não sei como fui parar ali, só sei que quando tive consciência, meu pai me ajudava a sentar no sofá do loft de Derek.

Eu não conseguia respirar, falar ou sequer enxergar alguma coisa, ouvir. Só tinha um borrão na minha frente e mãos muito pesadas em meus braços.

Acho que em algum momento, eu fiquei encolhido no chão. Era difícil saber, pois tinha um grito constante, alto demais, rouco demais. Era o meu grito.

Foi nesse momento, em que não tinha mais ninguém, que descobri que podia confiar em Derek. Ele é o tipo de pessoa que parece incapaz de consolar alguém, mas, para minha surpresa, ele sabia exatamente como lidar com alguém de luto.

Quando desabei no chão, Derek não tentou me levantar, mas quando me encolhi como um feto, ele me colocou de volta no sofá. Eu gritei por horas e o lobisomem escutou em silêncio, disse coisas completamente incoerentes e ele concordou com tudo, chorei e abracei o próprio corpo e ele passou um braço por meus ombros. Me lancei de volta ao chão e recusei sair dali, então Derek apenas sentou ao meu lado.

Depois de algumas semanas, já tinha afastado todos os que tentavam ficar próximos a mim e após cerca de oito meses em que Lydia tentava todos os dias, se comunicar comigo, ela pareceu desistir.

No dia de seu aniversário, eu deixei em frente a porta da sua casa uma caixa enorme, repleto de vários presentes que comprei e mesmo sendo ignorada por mim, no meu aniversário tinha uma pequena embalagem na minha porta. Era uma edição ilimitada de um quadrinho do Batman e dentro da revista, tinha uma pequena corrente, o cordão predileto de Lydia, com um pequeno pigente de clave de Sol.

Foi no aniversário da morte de minha mãe, após ter se passado um ano que eu não via nenhum dos meus antigos amigos, que eu simplesmente enlouqueci.

"Eu preciso sair!", lembro de como minha voz soou desesperada quando falei isso para meu pai, que estava no sofá.

Os olhos claros se arregalaram de surpresa, meu pai sabia quanto tempo fazia que eu não saía para me distrair e justo naquele dia, que era difícil para nós dois, em que íamos ao cemitério, nos lamentando pela saudade, eu dizia que ia sair.

Ele não questionou, apenas concordou, eu já tinha liberdade para aquilo, estava na faculdade de direito e tomava minhas próprias decisões.

Coloquei a jaqueta de couro já empoeirada e meu pai jogou um bolo de dinheiro para mim. Estranhei aquilo e ele disse apenas que eu precisava me distrair, só pediu para que eu avisasse que estava bem se fosse demorar.

Naquele dia descobri as vantagens de ter vinte e um anos e o nível do meu desespero por um descanso, por uma distração.

Não sei como achei aquela boate chamativa, só sei que entrei no início da noite e nunca descobri como sai. Tinha muitas luzes piscando, um cheiro forte de bebida por todo lugar, pessoas dançando, mulheres se oferecendo, música alta e drogas em cima das mesas.

Desde o dia da morte de Scott, em que beijei Lydia, eu não tinha ficado com mais ninguém e Malia continuava sendo a única que já tinha dormido comigo. Até aquela noite.

Nunca tinha visto tantas bebidas diferentes e não sabia sequer o nome delas, mas engoli diversos líquidos coloridos e transparentes que incendiavam minha garganta. Um copo atrás do outro, lambendo o sal da borda, espremendo os limões nos lábios e então, despejando o álcool na boca para esquecer que dia era aquele, esquecer a dor que me consumia.

Uma mulher morena veio até mim, ou seria loira? Só lembro que ela tinha seios enormes e um decote imoral, mas isso não importava, ela beijava bem. Eu estava no meio das pessoas que dançavam, sem me mover, apenas bebendo desesperadamente, quando a mulher do decote se aproximou e começou a dançar, se oferecendo, esfregando o corpo contra o meu e se exibindo.

Fiquei parado, olhando e então, ela me beijou. A loira morena, engoliu a minha boca, devorou minha língua, rasgou a pele da minha nuca com unhas compridas e fortes.

Eu odiava esse tipo de garoto, que ficava com qualquer uma só por prazer, mas naquela boate fui exatamente esse tipo de cara. Não perguntei o nome dela, nem ela o meu, mas mesmo assim, fui arrastado até o banheiro feminino, praticamente sendo violentado pela mulher de corpo lindo, claramente mais velha e experiente do que eu. Assim, naquele cubículo, tive o sexo mais estranho de todos, com uma mulher violenta e insaciável.

Sai do banheiro cambaleando, confuso, ajeitando a roupa, quando outra mulher apareceu, essa definitivamente era morena, com pele bronzeada e bem mais baixa do que eu.

Essa mulher, falou algo comigo, algo que eu não ouvi e então ergueu uma espécie de comprimido em minha direção. Eu estava com uma dor latejante na cabeça, tonto, desorientado e mesmo com todas as bebidas, não conseguia esquecer a falta que minha mãe fazia, não doía menos pensar em Malia e como queria que ela ainda estivesse comigo e Scott continuava rondando a minha cabeça. Eu não tinha o que perder, então aceitei aquele comprido e engoli sem pensar.

A mulher sorriu e pude ver através dos olhos embaçados ela se debruçar sobre a mesa a sua frente, onde tinha um pó que ela aspirava. Não sabia o que era, mas eu precisava daquilo.

Imitei a mulher e aproximei o nariz da mesa, deixando o pó entrar no meu corpo.

Bebi mais, beijei a morena baixinha. Fui arrastado novamente para o mesmo banheiro, mas não sei dizer se foi com a morena ou com outra mulher.

A partir daí, só tem um grande apagão em minha mente e eu acordei em um quarto desconhecido, luxuoso e com muito branco. Tinha uma mulher loira ao meu lado, nua.

Não sei como fui capaz de ser tão estúpido em um único dia, mas quando acordei estava muito preocupado em saber onde estava e não tive a noção de que estava drogado e bêbado.

Vomitei por pelo menos uma hora seguida no banheiro desconhecido, a loira acordou e me encontrou naquela situação constrangedora, sem roupa e inclinado sobre a privada. Descobri que seu nome era Tiffany e ela me deu água junto com um comprido, dessa vez era um remédio pra dor.

Estava completamente perdido, assustado e minha única ideia foi ligar para Lydia, aos prantos, pedindo que ela viesse ao endereço que Tiffany me deu.

A dona de olhos verdes apareceu, me encarando fixamente após um ano sem me ver. Ela dirigiu o Jeep, parando diversas vezes para eu vomitar no meio da rua, eu não parava de chorar e ela revezava o olhar entre a pista e o meu estado.

"Eu não tenho mais ninguém, Lydia. Eu quero morrer! “, acho que Lydia não levou tão a sério essa afirmação quanto deveria, mas me levou a sua casa e avisou para meu pai que eu estava ali.

Bolsa de gelo, água morna, remédio, toalha úmida, recebi tudo isso da dona de olhos verdes e sem me dar conta, dormi profundamente na sua cama.

Acordei completamente envergonhado, humilhado. Precisei de sua ajuda para ir no banheiro e tirar as roupas, ela viu meu corpo exposto e imundo, antes de enfim conseguir tomar um banho quente e demorado.

Quando sai do banho, com uma calça de moletom do pai de Lydia, estava um pouco mais sóbrio e o mundo parecia um pouco mais claro, mesmo assim meus olhos estavam muito sensíveis a luz e andei com dificuldade até a cama de Lydia, sentando ao seu lado.

"Não tem ninguém que possa me salvar de mim mesmo.", eu esperava qualquer reação quando disse isso, completamente rouco, menos a reação que ela de fato teve.

A mão pequena e gordinha que tanto amava, se ergueu esticada em minha direção e então, foi em minha direção. Lydia deu um tapa alto e estalado na maçã do meu rosto, minha pele ardeu e ficou subitamente adormecida.

"Você é tão estupido, Stiles! Eu sempre estive aqui, eu sempre estive ao seu lado, mas você se afastou de mim, se afastou de todos e agora tem coragem de dizer que está sozinho! Olhe o que está fazendo com sua própria vida!"

Nunca vi os olhos verdes transbordando de ódio como naquele dia, ela chorou, mas não de tristeza e sim de raiva, frustração. Eu tinha a magoado tanto, a ferido tanto e estava tão ocupado com minha dor que não percebi que destruía uma parte da menina que ainda se importava comigo.

"Você não foi o único que perdeu alguém proximo! Por acaso quando Allison e Aiden morreram eu agi dessa forma? Eu também precisei de um tempo para mim, mas continuei com vocês, eu não te abandonei, Stiles!"

Tentei falar, mas Lydia estava furiosa, ela brigou comigo por um tempo interminável, jogando as verdades em cima de mim. Ela não tinha medo de como eu ia reagir, não tinha medo de me enfrentar mesmo no meu estado precário e só enquanto falava, eu percebi como ela estava.

Não sei como demorei tanto para perceber, Lydia tinha olheiras horrendas embaixo dos olhos e estava magra, muito magra, os ossos saltavam de seus braços de maneira doentia, o rosto sugado, o cabelo não tinha o mesmo brilho, estava ralo e fosco, com grandes fendas na altura da testa, como se estivesse tendo uma queda terrível. Os olhos eram os únicos que permaneciam iguais e eu não tinha a mínima ideia do que ela estava passando para estar daquele jeito.

Lydia ainda brigava, furiosa, quando passei os braços por suas costas e a abracei. Nossos peitos se colidiram, me deixando sem fôlego e as lágrimas presas foram despejadas no cabelo ruivo.

A dona de olhos verdes retribui a atitude, apoiando a cabeça em meu ombro, chorando. Nossos corpos tremiam sem sincronia e nos apertávamos com força desacerbada, ambos com dificuldade para respirar e no entanto, incapazes de desfazer o abraço.

"Eu. Odeio. Você.", lembro de como cada palavra saiu de seus lábios grossos, pausando, falando vagarosamente, com convicção.

"Me perdoa, eu só...Sinto tanta dor, tanta saudade"

"Ainda sente muita falta dele.", não tinha sido uma pergunta e no entanto lembro de responder, me separando minimante de Lydia para que pudesse encarar seu rosto magro e abatido.

"Eu sinto falta de todos eles. Queria que minha mãe estivesse comigo para me abraçar, me ajudar, que Malia nunca partisse e que ainda estivéssemos namorando, ajudando um ao outro, superando tudo. Ainda não consigo acreditar que Scott morreu, todos os dias, a cada segundo eu penso nele, as vezes passo em frente da casa dele, vou visitar Melissa e vejo o quanto está péssima, ela está adoecendo, com um alto grau de depressão e quando vou ao quarto dele, continua exatamente do mesmo jeito e me lembro de estar ali, de viver com Scott. Não sei sobreviver sem meu irmão, ele faz parte de mim, não consigo dormir sabendo que falta uma parte do meu corpo, eu preciso dele, sempre dependi de Scott para tudo, mas ele me deixou sozinho e agora me sinto perdido, sem ninguém para escutar meu choro."

"Stiles, entenda de uma vez por todas. Eu estou aqui, você nunca esteve sozinho, só não deixou que eu me aproximasse. Será que não percebe, que não importa o que aconteça, mesmo se o mundo se despedaçar e você começar a desaparecer do planeta, eu vou estar aqui!"

"Malia também prometeu que nunca me abandonaria."

"Eu não sou ela e não estou prometendo, estou mostrando. Não vou deixar você se auto destruir."

"Não tenho mais esperanças, Lydia, não tenho mais nada. Já desisti de mim mesmo, nem sequer me reconheço, me tornei algo que sempre odiei."

"Eu vou ser a sua esperança."

Lydia, eu não sei para quem mais vou mandar essas cartas, mas tenho certeza que nesse momento você está lendo isso, então só quero que saiba, que apesar de tudo, você realmente foi minha esperança, a única que me restou.

Não espero seu perdão, nem que entenda o porquê tomei essa decisão, só queria que lesse essas cartas para ter a chance de mostrar, explicar o que nunca tive coragem de falar.

Sou um completo covarde, eu sei. Tudo isso foi demais para suportar e mesmo assim, tenho a ousadia de dizer que um dos motivos de estar escrevendo tudo isso é porque não quero ser esquecido, não por você e queria que tivesse a certeza que a amei como nunca ninguém será capaz de ama-la.

Antes, a vi como uma paixão enlouquecedora e depois, como a melhor amiga que poderia ter, mas de todas as formas, você foi a melhor parte que restou em mim. Então, novamente, peço perdão por ter a ferido dessa forma. Você sempre foi uma garota maravilhosa e eu devia ter a poupado de minha presença.

O garoto sem nome.


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