O garoto sem nome escrita por Gessikk


Capítulo 4
Carta 4


Notas iniciais do capítulo

De uma forma mágica, eu consigo ter capítulos adiantados nessa fic, então eu pretendia postar mais rápido, mas não consegui por pura insegurança. Apesar dessa carta ser pequena, foi desafiadora na hora de escrever, pois ter que expressar os sentimentos do Stiles de forma tão íntima em uma situação tão dolorosa, é realmente difícil.
Tentei me colocar no lugar dele, sem conseguir explicar os fatos para tentar evitar a dor alucinante, por isso os acontecimentos vão estar descritos de forma breve.
Enfim, espero que gostem e dêem a opinião de vocês!

"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. "William Shakespeare



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Not About Angels- Birdy

"We know full well there's just time

So is it wrong to dance this line?

If your heart was full of love

Could you give it up?

(...)

How unfair it's just our luck

Found something real

That's out of touch

But if you'd search the whole wide world

Would you dare to let it go?

(...)

Don't give me up

(...)

'Cause what about, what about angels

They will come, they will go

And make us special

It's not about, not about angels

Angels"

Era um dia feliz, não como todos os outros. Era melhor, muito melhor.

Meu pai tinha conseguido um aumento no salário e depois de muita insistência, eu finalmente o convenci de chamar Melissa para sair, comemorando a vitória no trabalho. Eu estava confiante que ele ia voltar com um sorriso no rosto e que em pouco tempo, poderia implicar com o Scott, falando que meu pai, galanteador, estava pegando sua mãe.

Aproveitando que estava sozinho em casa, eu tinha comprado algumas garrafas de bebida que dividia somente com Lydia que dançava já bêbada a minha frente. Era uma espécie de festa particular e eu estava amando a forma como seu corpo bonito se remexia com a música imaginária, rebolando e passando a mão pelas curvas.

Os segundos que antecederam a forma mais cruel da dor, se passaram como em câmera lenta. Eu me aproximei de Lydia, passei os dedos por seu quadril, movi meu corpo no ritmo da música imaginária e encostei minha boca na sua, lhe roubando um beijo singelo.

A câmera lenta foi substituída por acontecimentos rápidos demais para eu pudesse entender. A porta da sala foi aberta com tamanha brutalidade, meu susto momentâneo foi de ter sido flagrado beijando uma Lydia bêbada, com os lábios ardentes de álcool, até que virei em direção a porta e vi a expressão do meu pai.

Melissa estava logo atrás do homem de farda e ela gritou, chorando, se agarrando ao ombro do meu pai antes de desabar no chão da sala. Procurei nos olhos claros do xerife o que tinha acontecido, ele chorava.

" Não! Não! Eu preciso dele, eu preciso!" Os gritos de Melissa permanecem até hoje altos em meus ouvidos, rompendo meus tímpanos e minha mente.

Minha primeira reação foi abraçar Lydia, que estava desorientada, confusa, até que finalmente entendi o que levaria Melissa ao desespero.

" O que aconteceu com Scott?" Não sei dizer se minha voz soou desesperada, ou se realmente saiu algum ruído da minha garganta, naquele momento eu já não conseguia ouvir nada além das batidas descompassadas do meu coração, era como se eu pressentisse o vazio que viria a seguir.

Meu pai não respondeu e o silêncio em meio aos berros de uma mãe desesperada, foi a resposta mais cruel que obtive.

Scott morreu.

Até hoje me pergunto se não está faltando algum órgão no meu corpo. Talvez eu não tenha pulmão, já que por mais que sugue o ar, a respiração não vem, ou talvez, eu tenha um problema na coluna vertebral e isso explique o motivo de ser incapaz de mover qualquer parte do meu corpo. Tem que estar falando alguma coisa, algo está errado dentro de mim, pois desde aquele dia, eu sinto nada que não seja dor e silêncio, há um grande buraco em mim, estou preso em uma carcaça vazia, meu corpo está oco, esperando que alguém me arraste até o túmulo que pertenço.

Não consigo, não posso falar sobre a morte, não sobre a dele, do meu melhor amigo. Se eu disser sobre aquele dia, tenho medo de perceber que isso de fato aconteceu, não posso escrever sobre isso e depois ter que reler as palavras, fazendo com que a falta dele se torne tão real.

Conheci Scott aos 6 anos e desde então, ficamos inseparáveis.

Quando lançou o filme do Batman, eu o obriguei a ir no cinema comigo sete vezes e em todas, eu me animava da mesma forma. No início do ensino médio, ele me convenceu a entrar no time de Lacrosse, onde ficamos boa parte do tempo no banco de reservas. No meu aniversário de quinze anos, entramos de penetra em uma festa e dei meu primeiro beijo com uma completa desconhecida, que me agarrou bem na sua frente. Toda semana nós separávamos um dia para jogar, comer besteiras e conversar até de madrugada.

Eu tentei por horas pensar no que escrever, em qual momento falar, mas percebi que cada momento com Scott foi importante e que não conseguia pensar em nenhum momento mais marcante que os outros, por isso falei sobre acontecimentos aleatórios, mas que me fizeram eternamente feliz, enquanto eu ainda o tinha, o meu melhor amigo, o meu irmão.

Teve um dia, que por motivos sobrenaturais, Scott ia se matar no Motel Califórnia, mas eu intervi, disse que ele era meu melhor amigo e que se fosse fazer aquilo, ia ter que me levar com ele. Na noite em que ele de fato morreu, em um acidente devastador, eu queria antes ter tido a oportunidade de implorar para que eu morresse com ele, mas não tive essa chance, só ai percebi que teria sido melhor se eu tivesse morrido com ele naquele motel, pois assim, teria evitado essa dor agonizante.

Nunca pensei muito no que acontecia após a pessoa morrer e de fato, não sei no que acredito, mas sei o que gostaria que acontecesse. Eu desejava que as pessoas boas se transformassem em anjos, que seguissem as pessoas que ama.

Porém, eu sei que isso não se trata de anjos, mesmo com Scott tendo feito uma diferença quase divina em minha vida, fazendo com que me sentisse uma pessoa especial, importante, para então me deixar.

Mesmo sabendo que ele não teve culpa de me abandonar, ainda grito no meu quarto as mesmas palavras que berrei quando vi o corpo do garoto de queixo torto, no necrotério. "Não desista de mim!", é a única coisa que sou capaz de dizer, implorando em meu interior que ele ouvisse e voltasse a vida, com um sorriso torto, dizendo que tudo ficaria bem.

Desculpa, eu simplesmente não suporto pensar nisso e tenho que parar de escrever, Derek está vindo me visitar e eu não paro de chorar.

Preciso tentar me recompor e apagar essas memórias.

Não posso ter como última lembrança o corpo inerte de meu melhor amigo. Eu sempre pensarei em Scott sorrindo, com a expressão travessa, me convidando para uma grande furada.

Scott, se você pode de alguma forma ler essas palavras, saiba que não deixarei você e Allison continuarem a aproveitar o reencontro de vocês, pois logo eu me juntarei ao mundo que está agora, seja lá o que for esse mundo.

O garoto sem nome.


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