Sorcerers of Merlin escrita por Miss Mayne


Capítulo 1
Parte I - O Começo


Notas iniciais do capítulo

Olá olá. Estou aqui hoje para postar a versão reescrita de uma fic que minha amiga e eu criamos há alguns anos atrás...
Ela é uma short-fic, terá apenas 3 capítulos, tudo bem?
Esperamos que gostem!



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Para aqueles que se sentem perdidos meio aos velhos contos românticos, aqui vai mais um. Numa cidade ensolarada e repleta de árvores, permeada por rios, na velha, velha Bretanha. Antes terras celtas, ontem europeias, hoje sabe-se lá a quem pertencem essas terras... O causo é, pertencentes ou não a Magia, essas terras outrora dominadas por prédios e grandes edificações hoje abrigam pequenas vilas ''autossuficientes'' que relacionam-se entre si dentro de um sistema de trocas de equivalência. Não há moeda de troca, tudo é feito e organizado de acordo com as necessidades primordiais de cada um. Quem precisa de pães os troca pelo que produz e assim por diante, como eram os feudos medievais.

Tudo poderia se resumir numa disputa absurda pelo poder, se pudesse eu aqui apelar para eufemismos e para quem já viveu séculos antes nesta terra diria se tratar da velha vontade do ser humano de se igualar aos deuses. Assim a descoberta da capacidade de alguns de manipular matéria e energia espontaneamente, caiu como um belo manto de esperança para a humanidade. Estava ai declarada a guerra aqueles que destoavam dos demais.

Nada de novo, como disse, se viveu em tempos passados aos meus você apontaria aquelas HQ’s de mutantes e inumanos, sim? Nesse tempo, ironicamente, ficou conhecido simplesmente como magia, como já era apontada há centenas de anos atrás.

Ascendeu então aquele que se nomeou Merlin. Usando a alcunha do velho feiticeiro tutor de rei Arthur o mago propôs a união de seus iguais que viveriam unidos e em paz até o final de seu ciclo.

Em teoria fora um belo plano... Até a aproximação do final do ciclo, sua morte.

Merlin então entregou a um de seus feiticeiros de confiança um pequeno manual do que deveria se suceder para a manutenção da paz nas terras da ex-Bretanha. A união dos humanos capazes e incapazes de manipular a Magia era necessária e deveria ser alcançada numa segunda etapa, para a qual Merlin não estaria presente…

Deveria então ser nomeado um sucessor.

escolherá então alguns jovens, apontou-os como quem escolhe hortaliça em feiras, ainda pequenos, crianças passo

pequenos druidas promissores, que um dia poderiam erguer-se contra a tirania humana prosseguindo em seu processo de paz.

Foram escolhidos 5, crianças únicas, diferentes das demais de seus lares. Agatha, Henrique, Cathie, Andrew e Morgana. Cada qual com suas peculiaridades e estranhezas.

Henrique fora criado no extremo mais frio das terras de Merlin, escolhido dentre seus irmãos por ter sido o primeiro primogênito a apresentar poderes, o jovem merliniano , hoje no auge de seus 20 anos, ainda não sabe exatamente o que busca em sua jornada pelas terras sem lei.

Agatha, a jovem dos longos cabelos azuis-esverdeados viera das planícies úmidas, apoiada pela família a se tornar uma forte feiticeira. Porém não sabemos ainda se é destes caminhos de pedras tortuosas de que vive a pedra mais rara das planícies.

Andrew e Cathie, bom esses são a raridade do grupo, seletos por natureza, gêmeos univitelinos, ou gêmeos idênticos.

Os irmãos, provindos da montanha do norte, procuram nesta jornada a conclusão de um ciclo pessoal. Os anos de treinamento com um dos melhores feiticeiros de sua região. Contratado pelos pais dos gêmeos em troca de quase tudo o que produziam nas terras geladas.

Morgana Le Fay, é uma das últimas seguidoras da linha morganiana, visto pelos habitantes do ''reino'' como um retrocesso ao que fora estabelecido por Merlin. Morganas em geral sempre foram inimigas do ''Estado'' Merliniano, e por simples observação das lendas medievais apenas ter esse nome já causava calafrios, por tanto se denominada Anna a jovem que viera da região marítima.

Juntos os cinco jovens, apresentando quase a mesma idade, partem em busca de sua satisfação. Não era pessoal, deixara de ser no momento em que abandonaram seus lares dias atrás, deixando hábitos e uma vida constituída em nome daquilo que lhes parecia mais sagrado, a sobrevivência de toda a região.

Parte I - O começo.

Anna's pov

Fora longo, muito longo o percurso que faríamos até a grande colina onde se instituiria o legado do novo ''governante'' dessas terras. Não estávamos nem sequer próximos da metade, mas era fácil de dizer que o nervosismo deixara-nos tão silenciosos quanto o bosque que ascendia sob nós.

Olhei para os lados para ver apenas o óbvio, jovens cabisbaixos, casmurros, de lábios cerrados, cada qual dentro de seu próprio único mundo.

- Então... - comecei uma tentativa de assunto -, falta muito?

Agatha e Henrique se entreolharam.

-Não muito, acho - o garoto respondeu. - Só precisamos atravessar o vale, acamparemos nas margens do rio.

Ok, não foi muito prestativa a informação de que procurávamos um rio... Para quem só vê montanha e barrancos a frente...
- Certo... - murmurei.- Bom...só pra não deixar essa fogueira apagar...alguém diz alguma coisa?
- Alguma coisa! - disseram Andrew e sua irmã em uníssono.

Me estapeei mentalmente, era esse o tipo de coisa a se esperar de um bando de jovens destinados a grandeza? Grandeza física, nem mental ou psicológica...talvez só satisfação...

- Satisfação... - saia de forma pesada, desregrada de meus lábios.

Instantaneamente tive a atenção dos gêmeos que me encaravam confusos.

Dei um sorriso de forma a tentar convence-los de que fora apenas um murmúrio bobo.

E assim continuamos.

Agatha's pov

-Eu estou tão cansada de andar - reclamei. - Não podemos parar um pouco?

-Não, não podemos - Henrique respondeu.
-Mas estamos andando a horas! - falei. - Por favor!
-Não podemos, Agatha - ele insistiu.
Olhei então para Andrew, esperando que o garoto ajudasse em algo mas, como era de se esperar, ele estava distraído com a paisagem, alheio a conversa. Então bufei e cruzei os braços, apertando o passo e tomando a frente, ficando um pouco longe do resto do grupo.

- Pelo menos vocês estão falando! - Anna começou num tom mais alegre, bateu palmas freneticamente por alguns segundos com um sorriso no rosto. Após alguns segundos percebendo a falta de interesse dos colegas parou, voltando a face para os pés como se analisasse os próprios passos. - Não sei vocês, mas...
Andrew a interrompeu.
- Não sei quanto a você moça, mas eu já estou acostumado a longas distâncias!

E continuou:

- Gosto das coisas assim, simples, claras e diretas! É assim que o futuro ser supremo...
- Ser supremo? - Anna gargalhou.
- Governante - corrigiu - deve agir, com sabedoria e menos frescura!

Revirei os olhos. A mesma conversa de novo? Eu não merecia isso. Tratei de andar mais rápido. Queria ficar o mais longe possível de assuntos assim.
Foi então que uma ideia me ocorreu. Parei imediatamente, olhando para os lados.
-Caramba, Agatha! Pare, mas avise! - Henrique disse logo depois de bater seu corpo contra o meu.
-Olhe para onde anda, Hick, e isso não acontecerá.

-Por que você parou do nada? - perguntou enquanto passava a mão na cabeça.
-Só espere, não me interrompa!

- Hum... - Anna piscou os olhos lentamente como se ajustasse o foco. - O que houve ai, seres?
Disse ela enquanto cruzava os braços aproximando-se junto com os gêmeos de nós.

Andrew novamente ia abrir a boca, provavelmente mais um sermão, mas decidira se manter quieto até entender toda a situação.

Olhei mais algumas vezes para o lado, tentando apurar minha audição. Comecei então a mexer as mãos, numa sequência de movimentos arduamente praticada por horas na madrugada.
Não demorou muito para que surgisse, então, um fio médio e longo de água, que vinha de algum lugar a noroeste de onde estávamos.
-Isso é... - Henrique começou, e eu assenti.
-Sim, isso é água do rio - sorri. - Vamos? - virei para encarar meus companheiros, que estavam paralisados.

- Ok, isso foi impressionante. - Disse Anna ao fundo do grupo.

-Obrigada! - sorri alegre.

Andrew permanecia atônito, quieto, pasmo. Ok, havia treinando com um dos melhores, mas aparentemente nem um dos melhores o apresentou a manipulação de seu elemento guia... Sabia fazer uma brisinha e só.

- Legal, Legal... - balbuciou.

-Uau, esse é o primeiro elogio que você me dá, em anos! - falei.
-Isso porque você não vê como é quando estamos conversando - Henrique disse.

Cathie deu uma risadinha baixa, como quem consentiu.

- Ah claro, realmente... - disse o jovem enquanto usava suas mãos como quem diz ''Ah claro, como não dizer isso agora, apropriada a hora, certo?''.

- Hum...me desculpem a pergunta, mas a quanto tempo se conhecem exatamente? - Anna disse.

Anna revirou os olhos vendo que sua pergunta fora meio desnecessária, é claro que era o mesmo tempo

que ela os conhecia.

- Ok... Assunto? Alguém?

-Eu tenho! - Henrique se pronunciou. - Nós vamos seguir a trilha bonitinha de água ou não?
-"Trilha bonitinha de água"... - o imitei. - Puff! Se algum dia você conseguir fazer um terremoto, ou um tremorzinho qualquer, me avise!

- Acho que sim, não?

Disse Andrew compenetrado, seu humor parecia ter melhorado um pouquinho após esta fagulha de esperança.

Virei-me para onde a trilha de água ainda flutuava. Olhei para o lugar de onde ela vinha.
Ótimo, é uma descida.
Menos esforço, menos cansaço.
-Vamos então - falei e comecei a andar, fazendo questão de jogar um pouco de água em Henrique, que resmungou algumas coisas baixo.

- Mais uma pergunta! - Morgana disse enquanto pisava devagar a terra fofa e escorregadia. - Desde quando existe esse trio amoroso? - debochou ela.

Parei de andar, me virando para ela, assim como Andrew e Henrique.
-Agatha? Quer fazer as honras? - Henrique perguntou.
-Claro, obrigada - respondi, antes de jogar mais um pouco de água, dessa vez em cima de Anna.

Anna revirou os olhos, quase escorregando de vez.
- Olha, meu mantra de calma e paciência tem limite...

Andrew riu baixo, a cena era relativamente engraçada, pés afundados na lama que se formava, pernas separadas e nitidamente uma cara de insatisfação.
- O que é? - Anna resmungou.
- Nada, nunca achei que diria isso, mas Agatha acertou, acertou belamente o alvo.

Revirei os olhos, jogando água em Andrew.
-Três de três, ganhei! - falei irônica. - Os senhores bem que poderiam ajudar, não? - cruzei os braços, sempre alerta para não quebrar o feitiço que nos fornecia o caminho. - Andrew, seja útil e faça ventar um pouco nesse lugar! Um clima menos abafado seria ótimo agora. Henrique, por que não vai na frente, tirando as pedras do nosso caminho? Temos uma longa descida pela frente, pelo que vejo.

Andrew deu uma risadinha, mas fez o que lhe foi dito, com um suave balançar de dedos uma brisa leve adentrou o bosque trazendo consigo o cheiro conhecido de pinho.

- Que bom que a senhorita ''faça o que eu digo'' está bem compenetrada na missão! - disse Anna

-Eu só quero descansar, não aguento mais isso - fiz bico, descruzando os braços.

- E você acha que eu quero o que? - Anna olhou para Henrique e depois para Agatha. - Olhe a minha situação que deplorável? Estou rezando pra não cair nessa lama que é você e o Henrique!

-"Tire as pedras do caminho..." Sou o que agora? - Henrique resmungava, enquanto fazia o que pedi. - Ei, isso magoou! - virou-se para Anna, soltando um muxoxo.

-Se vocês pararem de reclamar e ajudar, eu poderia muito bem agilizar o processo, e nossa descida - revirei os olhos.

Andrew resolveu intervir.

- É...bom pensem pelo lado positivo, quanto mais rápido descermos isso, mais rápido poderemos desfrutar de um merecido descanso!

- Antes de morrermos... - completou Anna.

-Vocês reclamam mais do que eu - falei antes de mexer as mãos novamente. A água então se multiplicou e formou um longo escorregador, seguindo a parte da montanha que tinha menos pedras e relevos. - Alguém vem? - perguntei.

Anna olhou desconfiada, mas antes que pudesse se pronunciar Andrew passou sua frente saltando no pequeno córrego.
- O ser supremo não toma atalhos, mas eu não sou eeeleeee aindaaaa!

Seguindo seu irmão Cathie saltou

sem esperar por quaisquer aspereza dita por Anna.

Por sua vez a ruiva, incerta do que deveria fazer se sentou em uma das rochas, esperando que os demais descessem.

-Anna, o que foi? - perguntei enquanto me aproximava. - Está tudo bem, o escorregador vai mudando de um jeito que a velocidade não é muito grande... E estou ligada a água, por isso posso evitar caso algo aconteça…

- Água e fogo não combinam muito sabe... - ela sussurrou baixo.

-Sim, eu sei - respondi no mesmo tom. - Prefere ir andando? Não vejo problemas em uma bela caminhada entre amigas - sugeri.

Ela hesitou um pouco, mas para poupar caminho, tudo era valido.

-Posso deixar a água mais quentinha, se quiser - brinquei.

- Está tudo bem. - disse ela antes de se jogar no tobogã improvisado, descendo rapidamente até um pouso suave, já nas gramíneas próximas ao rio.

Desci logo em seguida, encontrando todos bem alegres.
-Não foi tão ruim assim, foi? - perguntei.
-FOI DEMAIS! - Henrique disse.

- Continuo não sendo fã de água nessas condições... Banhos quentes ok, agora isso... Ugh! - Anna protestou.

- Não, não foi ruim, foi ótimo, diria demais, mas já pegaram essa palavra! - disse Andrew encarando o amigo.

-Pelo menos está sequinha, Anna - comentei. - Agora podemos todos descansar, e tomar um belo banho! - mexi a água e logo ela veio em minha direção, num formato que parecia que estava em uma tigela. Parou em minha frente, e então pude lavar meu rosto e minhas mãos.

Todos concordaram e fizeram o mesmo, afinal depois da longa descida é o que mereciam. Descanso, paz…

Anna’s POV

situação tão critica como uma batalha mortal pela vida até que estávamos pouco...compenetrados...cansados talvez.

A luz da lua vinha incidindo diretamente no lago, o que a fazia brilhar ainda mais.

- Tem um ditadinho que dizia que tudo vale a pena se a alma não é pequena...algum autor de livros...bem antigo. - disse puxando assunto.

Não fazia sentido puxar assunto no meio de toda essa confusão, mas que outra opção?

-Ah, nossa adorável rata de biblioteca... - Henrique comentou, deitado alguns metros a minha direita.

- Já te disseram que você é um chato? - murmurei.

-Já te disseram que você precisa se divertir? - rebateu.

- E quem disse que eu não me divirto?

-Agatha, a Anna se diverte? - ele perguntou.
-Não, nunca - a garota respondeu, sentada na beira do rio, brincando com a água.
Henrique me olhou com uma cara de quem diz "Viu? Eu estava certo!"

Revirei os olhos, ok há quanto tempo eu os conhecia para ter tanta intimidade mesmo?

- Ok, senhor ''eu sei o que é diversão'', me mostre então o que devo fazer?

Nessa hora os gêmeos se aproximaram de onde estávamos sentados.

- Soou como um desafio para mim, não acha Agatha? - Perguntou Andrew sentando ao lado dela.

-Não adianta desafiar a Anna, ela não sabe se divertir - a de cabelos azuis-esverdeados disse enquanto brincava com a água por entre os dedos, o queixo apoiado no outro braço.

Eu revirei os olhos cansada, era mesmo sério? Estava fazendo eu uma brincadeira que ninguém havia reconhecido como tal?

- Ok, ok...ok... - me levantei dando passadas curtas de um lado para o outro.

- Nosso objetivo aqui não é diversão...muito pelo contrário! Temos um serviço a fazer... - disse.

- Uma pátria pra honrar, não sei onde estão vendo espaço para diversão!

Andrew parou de enrolar as vinhas nos dedos, ergueu a cabeça ao alto e em bom tom de voz soltou uma gargalhada.

- Moça, você precisa se acalmar, já pensou em namorar depois daqui? Não que eu esteja interessado em você porque sabe, você não é o meu tipo, mas...

Diversão, namoro...as coisas aqui parecem estar perdendo a direção...

Olhei para Agatha, Henrique e Cathie esperando uma boa reação sensata.

-Namoros são perda de tempo - Agatha murmurou, chateada.

- Concordo! - disse de imediato.

Andrew riu baixo e continuou.

- Namorar é perda de tempo quando não se tem a pessoa certa!

-Tanto faz. Não acharei minha pessoa especial mesmo - a garota murmurou. - Hick, pegue - jogou a água para o garoto, numa tentativa de mudar de assunto. Henrique ricocheteou com uma pedra, fazendo com que a água fosse na direção de Andrew, que rebateu com o ar.

A água finalmente alcançou seu destino final, meu rosto, encharcando roupas e cabelo. Depois eu quem não sabe brincar...

Encarei os 3 com cara de quem não estava nem um pouco feliz com aquela situação.

- Quer saber...você tem razão...namoro é desnecessário, olha só vocês dois, Henrique e Andrew...quem em sã consciência aturaria vocês!

Me levantei sem jeito após ter sentado outras inúmeras vezes.

- Cansei, cansei de verdade de vocês! Foquem um pouco... Merlin escolheu elementais, notaram? Por que será? Fogo, água, ar e terra... Os elementos primordiais sob os quais se apoia os princípios de respeito e amor de Merlin. E o que vocês fazem? Tobogã de água, guerrinha! Alguém me viu colocando fogo na floresta? Não...é claro que não.

- Eu acho que - Andrew começou.

- Não você não acha, você e o seu amigo não devem achar nada...

-Você deveria ser menos estressada - Agatha falou raivosa. - Vamos morrer, quem se importa com o que fazemos? E meu escorregador adiantou mais de um dia de caminhada, provavelmente, e nenhum de vocês se deu o trabalho de agradecer, ou de fazer qualquer outra coisa para adiantar nossa chegada até aqui! - disparou. - Quem saber? Quem cansou fui eu - falou e logo saiu de lá.

- Se quiser da próxima eu faço uma escada em chamas pra você descer madame! - gritei.

A única resposta que ela deu foi uma grande bola d'água vindo em minha direção, acertando em cheio meu rosto. Logo depois, ela desapareceu.

Realmente se tratava de vários adolescentes pouco cientes do que se passava.

Me voltei para a borda do lado e me sentei, a noite estava perdida e o clima de luta estabelecido...ao menos até aquele ponto.

Cacei algumas pedras que estavam ali por perto

e comecei a atira-las ao lago.

Parecia ser reconfortante aquele breve momento de silencio entrecortado pelas ondas se formando no lago.

Deixei que o peso da cabeça levasse meu corpo até o chão, onde atraquei de vez.

Aquela noite não poderia estar pior, não poderia ficar pior. Aos poucos as luzes foram sumindo e o tapete de grama fofo se tornou então meu colchão.

Henrique's pov

-Você não deveria ir atrás da Agatha? - perguntei para Andrew, assim que ficamos sozinhos.

- Deveria, mas se algo que a vida com uma irmã fez por mim é saber esperar. Não quero que ela desconte toda a raiva dela, quero que ela se acalme e quando achar que deve, voltar…

-Mas a Agatha não é a Cathie, Andy. Você sabe que ela precisa de alguém com ela.

Andrew deu um longo suspiro antes de continuar.

- Tenho medo, você sabe. Temos tão pouco tempo que...deixar de lado toda a minha vida, minha preparação de lado... Soa egoísta assim, mas eu não sei, não sei...

-Você mesmo disse que temos pouco tempo... Então pra que desperdiçar esse tempo preocupado com isso? Você sabe o que quer, sabe quem quer - dei ênfase no "quem". - Vá atrás, aproveite, ou logo será tarde demais.

Ele revirou os olhos.

- Olha siga seus próprios conselhos antes, porque o que você esta dizendo para eu fazer é… impossível!

-Eu faço se você fizer - sugeri. - E olhe que a Anna não é calma igual a Agatha.

Andrew riu baixo, valeria a cena?

- Olha...não sou eu quem te que querer isso, é você! Eu não sei como dar um primeiro passo, mas... Se você agir não vou querer ficar para trás...

-Tudo bem então, falarei com a Anna... Tudo para poder ver você e a Agatha se resolvendo.

O jovem feiticeiro riu, revirou os olhos e sentou-se um pouco distante de onde a Anna adormecida havia se deitado. Onde é que ele deixou seu caderno de anotações mesmo?

-Anna? - chamou baixo.

Narrador/Anna

A moça continuava deitada na relva, ouvira uns barulhos mais cedo, mas não como a vozinha que a chamava agora, o que era aquilo? Já era de manhã? Certamente não...

-Hmmmm... - disse sem dar muita atenção.

-Anna... Sou eu, Henrique…

Ela bocejou esfregando bem os olhos, levantou-se se apoiando no chão com um dos braços.

- Hum...diga...quer dizer oi? - Ela bocejou novamente

-Eu... Queria conversar... - ele falou sem graça.

- Se for sobre a Agatha...deveria saber que seu amigo instalou um sinalizador GPS nela e na irmã... Bom você sabe...antes disso começar..

-Não, não é sobre isso... Mas isso é interessante - falou surpreso.

Ela riu, como ele não sabia disso?

- Pois é, avisei que era violação de privacidade, mas ele não ligou muito...

Ela esfregou os olhos novamente.

- O que quer dizer?

-Não sabia que ele se importava tanto com ela, para chegar a esse ponto - sorriu fraco. - Mas enfim... Queria pedir desculpas…

- Oh...precisava dizer isso agora? De madrugada? - ela riu baixo - Tudo bem...esta desculpado.

-Desculpe te acordar... Até porque você estava linda dormindo - falou sem pensar, mas logo seus olhos se abriram e ele se arrependeu. - Quer dizer... Eu... Hm…

A moça abriu o olhos, arregalados, a boca parecia imita-los com perfeição.

Piscou varias vezes em busca da compreensão

- Espera um pouco… O Andrew… ele te obrigou a isso.

-O que? Claro que não!

Ela encarou o lorde dos ares sentado a alguns metros de distância. Segurou a face de Henrique de leve enquanto olhava em seus olhos de maneira capciosa. Não poderia ser verdade…

-O que? - ele perguntou com as bochechas achatadas.

- Eu não sei... - Ela disse choramingando, não era muito comum para ela estar diante de um homem naquela circunstância, cabisbaixa ela ergueu um pouco a cabeça a ponto apenas de ver os lábios do rapaz. E por algum motivo animalesco ela realmente sentiu a necessidade de toca-los.

- Obrigada... pelo elogio...

-Imagina - ele sorriu. - Eu só disse a verdade.

Anna piscou mais algumas vezes, o que estava acontecendo? Não era esse o plano! Não, não...suas vozes interiores diziam para que ela se afastasse da fonte de todo o seu desregulamento, mas simplesmente ela não conseguia. Ou não queria.

- Não deveríamos estar...dormindo? - Anna se levantou tentando mudar o assunto que provavelmente se seguiria.

-Você quer voltar a dormir? - ele perguntou. - Tudo bem se quiser…

- Você só veio pedir desculpas não? - arriscou.

-Em teoria... Sim - comentou enquanto olhava em volta. - Mas gosto de conversar com você - olhou nos olhos da garota.

- Conversar? Só brigamos...

A moça parecia mesmo confusa, e a não ser que aquilo fosse uma piada

vinda de Andrew, ela não sabia mais...

-Somos cão e gato - ele riu. - Mas aí é bom, não fica repetitivo.

Ela arqueou uma das sobrancelhas confusa.
- Okay...entendi. Nós brigamos...muito. E isso aparentemente é bom... Tá…

-É e não é, na verdade. Claro que eu preferia ficar sem brigar com você, mas…

E por alguns segundos ela se pegou sorrindo, ali...naquele momento tão...adorável e ao mesmo tempo estranho que nem notara mais que Andrew estava alguns passos mais próximo dos dois.

-Gosto de você também Henrique.... - ela murmurou baixinho.

-Vou saborear esse momento e guardá-lo na memória - ele sorriu fofo.

Anna revirou os olhos novamente. Levantou-se e andou até Andrew o arrastando de volta para onde estava.

- Qual a armação? - ela perguntou seria. O sorriso havia sumido enquanto Andrew se arrependia um pouquinho da decisão.

- Não sei...não sei onde vocês veem graça..

A moça pareceu chateada.

- Anna ninguém fez nada demais, não tem armação... Por favor, minha vida não roda em seu entorno.

- Tem razão, roda em torno de outra moça...

-Por que você insiste em dizer que existe uma armação? - Henrique perguntou.

- Coisas boas não acontecem comigo, nunca, nunca...não quando o nome da sua família define toooodo o resto... - ela murmurou.

- Gente... - Andrew tirou do bolso uma tela fina, onde com os dedos abriu uma janelinha.

- Coisas boas não me acontecem, ou acabam mal! - ela repetiu.

- Gente... - Andrew insistiu.

-O que foi, Andrew? - Henrique perguntou.

- Isso é um receptor GPS...bom parte dele...

Instalei uns meses atrás antes da morte de Merlin... Na Cathie e na Agatha por motivos de... Segurança

- Que soa bem bizarro pra um namorado fazer... - Anna.

Andrew ignorou o comentário.

- O importante é, deveriam ter dois sinais aqui.

-Então quer dizer que... Uma das duas sumiu? - Henrique o olhou.

Anna riu baixo, será que a magia que possuíam realmente ajudava em alguma coisa?

- Bom amores...

A Cathie estava dormindo perto do fogo, se ela não estiver mais lá, temos nossa resposta.

- Mas tem mais uma coisa, o ponto que sobrou, esta voltando para cá...

disse Andrew um pouco alarmado.

- E isso não é...bom? - Anna.

-Até onde eu sei, é - Henrique disse enquanto olhava para os lados.

- Seria se o ponto estivesse numa velocidade de um humano...

isso é um pouco mais rápido

Enquanto os dois homens discutiam as possibilidades Anna se afastou. Foi ate a fogueira e constatou que a irmã de Andrew não estava mais lá. Algo cheirava muito mal...

- Henrique... - Anna disse em bom tom, preocupada ao notar que não somente a moça, mas também suas coisas não estavam mais lá.

Sobre a madeira úmida estava o que aparentava ser um clipe de cabelo

esfarelado, notava-se o metal e fios

que escapavam do aparelho, sendo notório então que se tratava do tal aparelho GPS.

- Isso não pode ser bom... - Andrew se abaixou para pegar o tal aparelho em mãos, antes de aperta-lo, um claro sinal de raiva.

- Eu sei... - Anna aproximou-se do jovem pousando uma de suas mãos sob seus ombros. - Nós vamos...acha-las...

-Hm... Gente? - Henrique chamou os dois. - Eu não sei o que, ou quem é, mas acho que está vindo por ali - apontou para algum lugar ao leste, onde as árvores perto do rio se mexiam violentamente.

Anna revirou os olhos como de costume, será que nada ali poderia ser normal? Pôs-se frente aos jovens onde fez com que se levantasse uma extensa parede de chamas.

-Uou, espera! - Henrique se manifestou. - De acordo com o GPS, não seria a Agatha vindo para cá?

- Eu sei, ela e mais alguma coisa...pois bem senhores...não é uma parede qualquer - abaixou-se e agarrou uma rocha atirando-a através da parede em chamas. Reduzida a pó, as cinzas espalharam-se com o vento.- Só a atravessa... - deu alguns passos a frente esticando seu braço - quem eu quero...e não é a Agatha meu alvo…

-Mas e se for a Agatha quem está vindo? - o garoto continuou. - Mesmo que ela esteja sozinha, e consiga atravessar, sabemos que ela tem um péssimo histórico com fogo!

- Ela se abrira deixando a Agatha passar? Não parece obvio? - bufou.

-Mas... E se não der tempo de ver quem é? E se... - ele ia continuar mas, ao ver o olhar que Anna lhe lançou, desistiu. - Okay, sem mais perguntas.

- Já ouviu falar em DNA? Pateta... - resmungou a moça.

- OK,OK entendi o plano...- disse Andrew finalmente. - A Agatha passa e então seja lá o que estiver vindo vira churrasco?

-Não me fale em churrasco, por favor - o outro garoto pediu. Mexeu as mãos e logo surgiu um monte sólido de terra, onde ele se sentou e ficou esperando.

Anna cruzou os braços, demonstrando total indiferença.

O barulho das árvores foi aumentando, indicando que, seja-lá-o-que-fosse, estava cada vez mais próximo. Os meninos estavam apreensivos, curiosos para saber o que era, enquanto Anna continuava indiferente, preocupada apenas com sua parede de fogo.

E então o barulho parou.

Anna arqueou uma sobrancelha. Aquilo não estava em seus planos. Andrew e Henrique olharam em volta, procurando algum sinal da coisa que, até segundos atrás, estava vindo na direção deles.
Nada.

Ouviram então um barulho alto, vindo de outro lado da floresta. A água do rio começou a se mexer, como se várias pessoas brincassem nela. Henrique deu alguns passos, indo para perto da parede, encarando o rio.
-Mas o que... - franziu o cenho, tentando enxergar através da escuridão.
Então aconteceu: uma enorme onde se formou em uma parte do rio, vindo na direção do acampamento. O garoto abriu os olhos e se afastou, indo para perto dos colegas.

A onda continuou a avançar e, antes que qualquer um deles pudesse pensar em fazer alguma coisa, atravessou a parede de fogo, se dissipando e secando em seguida. Os três olharam para o lugar onde a onda havia entrado, e notaram um corpo caído no chão. Os cabelos azuis-esverdeados impossíveis de confundir.

- Mas hein? - Anna se aproximava do corpo estirado ao chão, ate ser impedida por Andrew que tocando de leve em seus ombros a fez compreender que ele lidaria com a situação de forma mais adequada. Ele então abaixou-se a tomou em seus braços levando-a para uma margem mais seca.

-Ela parece... Desmaiada? - Henrique perguntou confuso. - Será que ela está bem?

- Não faço ideia - disse Andrew baixo - Mas o que quer que tenha feito isso...bom deixou sua marca.

Andrew levantou o antebraço de Agatha por onde um longo corte se estendia, de leve soprando uma leve brisa, Andrew correu os dedos pelo dorso da moça, retirando seus cabelos do caminho onde a deitaria tranquila.

-Deveríamos acordá-la? Ou esperamos que ela acorde?

Ele deu de ombros , talvez depois de uma longa perseguição não fosse a melhor ideia acorda-la então o jovem apenas a ajeitou, colocou sem braços numa posição que considerou mais confortável, dando lhe um rápido beijo no rosto.

- Bom...ao menos ela esta aqui... Mas e minha irmã?

-Bom, nós sabemos que ela está sem o GPS, e... - Henrique parou de falar quando Agatha se mexeu.

Como de costume a outra jovem revirou os olhos para a lerdeza de Henrique.
-Sim gênio, e também sabemos que isso tudo só pode estar ligado a competição.

-O que a competição tem a ver com o atual estado da Agatha? - ele perguntou.

- Bom ou essa montanha tem o habito de se voltar contra exploradores, e eu te garanto que a natureza não seria tão sádica e cruel, ou alguém quer que a competição seja sabotada…

Antes que qualquer um pudesse falar algo, Agatha se mexeu novamente. Sua respiração ficou ofegante, como se estivesse tendo um pesadelo. Seus punhos se fecharam, e começaram a adquirir o brilho azul que normalmente tinham quando ela usava magia. Andrew se aproximou a fim de acalmá-la mas, assim que Agatha sentiu o toque do garoto em seu rosto, abriu os olhos e segurou o braço dele com força.

Assustado o rapaz tentou recuar, mas seu corpo não respondera a tempo.
- V-você está bem?

-Eles estavam na floresta, Andy - ela falou num sussurro. - Eles me acharam, e me acertaram - falou antes de desmaiar novamente, a ferida em seu braço produzia um brilho roxo. Agatha soltou o braço do garoto e colocou a mão sobre a ferida, se contorcendo e gemendo de dor.

Ele a encarou confuso, tais palavras tão sozinhas não faziam tanto sentido. Ora... Eles os cinco aprenderam aquele caminho de pedras único, cada qual o estudou e salvo algumas mudanças na natureza o sabiam razoavelmente bem, pelo menos de forma melhor do que os demais...então a pergunta obvia era...eles quem?

- Eu disse, disse que isso esta cheirando mal! -Anna disse ao fundo.

-Sei que falarão que estou dizendo besteira, como sempre fazem - Henrique começou, olhando para Anna -, mas não seria melhor dar um jeito na ferida da Agatha? Claramente isso está impedindo que ela fique consciente, não?

Andrew concordou com a cabeça, parou alguns segundos para analisar o que acontecia ali. E com um movimento dos dedos uma leve névoa , uma miscelânea de água e ar, fluiu atingindo o fluido arroxeado que se espalhava pela área.

Agatha gemeu de dor, se contorcendo mais.

Cautelosamente Andrew levantou-se e dando um passo para trás refez seus movimentos. Uma névoa mais forte e densa cobriu o corpo de Agatha, enquanto Anna e Henrique observavam distantes, a moça fora envolta num véu espesso que logo se desfez precipitando em forma de gotículas de água.

- Espero que isso resolva… - o rapaz esfregou a nuca ansioso.

Agatha parou de se contorcer e sua respiração se acalmou. Andrew respirou aliviado; pelo jeito estava adiantando. Eles viram então uma linha fina d'água voando do rio até onde Agatha estava, como se seu subconsciente estivesse trabalhando e usando seus poderes para que ela melhorasse logo. A linha se dividiu em duas: uma repousou sobre o corte, a outra foi para a boca da garota. Agatha se engasgou e começou a tossir mas, assim que Andrew pudesse fazer algo para ajudar, ela se mexeu e abriu os olhos.

-O que aconteceu? - ela perguntou, enquanto tentava levantar.

-Íamos te perguntar exatamente a mesma coisa... - disse Anna ao se aproximar com Henrique da jovem.
-Aparentemente algo te perseguiu ate aqui, e te fez isso... - Andrew abaixou novamente tocando de leve o machucado da moça. - V-você por acaso viu minha irmã quando esta lá?

-Cathie? - Agatha perguntou. - Não... Não me lembro ter visto Cathie por lá... - colocou a mão na cabeça, fazendo uma careta de dor. - Como cheguei aqui? Eu só me lembro de estar andando e ouvir alguns barulhos, então vi vários animais prateados vindo na minha direção. Um deles me arranhou, eu comecei a ficar tonta e só me lembro de ter lançado um feitiço de proteção em mim mesma. Depois ficou tudo escuro.

-Você chegou aqui através de uma inundação! Após ter se chocado com o muro de proteção da Anna - explicou Andrew.

-Okay, informações demais de uma vez - a garota falou, confusa. - Uma inundação? Como assim? - olhou para os amigos.

-Bom, aparentemente o feitiço de proteção que você lançou te salvou. Seu subconsciente deve ter usado seus poderes para te trazer de volta pra cá, pois você chegou aqui carregada pela água do rio... Depois disso seu subconsciente usou seus poderes de novo para complementar o feitiço que Andrew lançou para limpar o ferimento que os tais animais te causaram... Ou seja, você pode usar magia mesmo dormindo, ou desmaiada - Henrique explicou, recebendo olhares surpresos dos amigos. - Isso ai, Henrique também é cultura!

Andrew se levantou juntando-se aos amigos.
-Basicamente é isso o que ele disse - confirmou.
-A questão agora é quem fez isso, e se o fez… por qual razão - disse Anna se afastando um pouco do grupo, sua barreira magica ainda ativa fagulhava pelo ainda recente acidente.

-Tudo o que posso dizer é que aqueles animais foram conjurados por magia, e foi magia negra - Agatha contou. - Dava para sentir a floresta mais fria, e meus poderes se manifestaram sozinhos, como um tipo de proteção, assim que a magia negra apareceu ali.

-Bom...se é assim deveríamos nos apressar e tentar alcançar logo nosso destino, quanto mais tempo parados, mais fáceis alvos seriamos -disse Anna.

-Não deveríamos esperar um pouco, para que a Agatha pudesse descansar um pouco? - Henrique perguntou.

-Não precisa, eu estou bem - a garota falou. - Só meus poderes que ainda estão meio descontrolados. Fora isso, estou bem.

Anna olhou para onde o jovem estava, um olhar um pouco cansado e desiludido, será que ela realmente sentira ciúmes naquele simples ato de amizade? De leve ela balançou a cabeça e retirando a sua barraca disse em bom tom:

- Partiremos com a manha então.

Agatha observou enquanto os amigos se separavam e suspirou. Resolveu então sentar perto da fogueira que havia ali e observar as chamas dançando, enquanto brincava com uma linha d'água, passando-a por entre os dedos.

Vendo a cena Andrew aproximou-se da jovem sentando-se ao seu lado.
- Sinto muito..

-Huh? Pelo que? - ela perguntou.

Ele lentamente limpou o suor de sua testa enquanto mantinha sua atenção no fogo.
- Pela discussão e pelo modo como te trato desde que entramos nesse barco furado. Você merece mais respeito que isso, e eu venho faltado com o mesmo…

-Andrew, por favor... Esse assunto de novo não... - ela desviou o olhar.

O rapaz deu de ombros sem tirar a atenção do fogo.
- Eu e minha irmã, você sabe, não falamos muito. A Cathie não é muito uma confidente e acho que de todos aqui, você entende isso... Melhor, eu não sei, só queria dizer que estou feliz por não ter se matado.
Finalmente ele a olhara, saindo de seu estado de transe ele ergueu sua mão a tocando de leve nos ombros.

-Sabe... - Agatha começou a falar, ainda sem olhar para o rapaz. - Por alguns segundos eu realmente achei que morreria... Todos aqueles animais, feitos por magia negra, estavam em cima de mim, tentando me arranhar e me morder. Depois que lancei o feitiço de proteção e vi tudo escurecendo, tive quase certeza de que morreria. Então eu pensei em vocês. Pensei na Anna, no Henrique, em você... - engoliu em seco. - E percebi que tem tantas coisas que eu deixei de falar ou de fazer... - balançou a cabeça, jogando a água sobre o fogo. - Quer saber? Esquece. Só estou delirando. Estou viva e estou bem, isso é o que importa.

Andrew suspirou alto, levantou-se seguindo-a,.
- Você é a segunda pessoa que diz algo nesse nível para mim. Me sinto esfolado por tantas tentativas de que eu me expresse melhor. Não é delírio da sua parte, você, ou melhor vocês estão certos -disse.

-Andy, não me entenda mal... - Agatha o olhou. - Vocês são tudo pra mim, e eu não me perdoaria se perdesse vocês... Ou se morresse sem poder falar tudo o que quero - gotículas de água começaram a voar ao redor da garota, sem que ela percebesse.

O moço cruzou os braços.
-É mais fácil falar do que fazer, nesse momento... - devido a sua proximidade, Andrew sentiu algumas das gotículas de água atingirem seu rosto escorrendo como lagrimas - eu sei o que quero, mas não sei como…

-É exatamente isso o que eu sinto - ela respondeu, as gotículas rodando mais rápidas ao redor deles. - Eu sei o que quero, mas não sei como.

Andrew brevemente encarou-a com todas aquelas gotas dançando ao redor dos dois, milênios se passaram e aparentemente alguns moços ainda tinham seus problemas em se resolverem.

-Bom... - ele disse enquanto dava mais um passo a frente. - Por que não continuamos antes que nos interrompam?

-O que quer dizer com isso? - perguntou curiosa. As gotas dançavam ao seu redor como se estivessem em uma tempestade, mas a moça pareceu não perceber.

Andrew mordeu os lábios, não era assim que era pra ser. Ao menos não agora... Pensou na breve conversa com Henrique e com as claras palavras de Agatha. Talvez fossem mesmo os últimos momentos deles ali, serenos…

-Você... - ele começou tímido, enquanto tirava uma mecha turquesa de cabelo que encobria os lábios da moça. - Desde o dia que entrou aqui, e isso soa piegas, sabia que não poderia machuca-la… Eu… Eu… Contei a Cathie, mas ela explodiu em raiva, disse que eu não poderia jogar tudo ao alto… Tudo o que sacrificamos para ser…

Mais uma vez ele recuou deixando que a mecha escorresse pelos dedos.

-Eu sei o que quero... - murmurou.

Dizem que quando um bruxo bom entra em contato com algum praticante de magia negra, sua magia fica descontrolada. Os alunos de Merlin nunca haviam acreditado naquilo, até porque nenhum deles nunca havia entrado em contato com um bruxo das trevas. Mas ali, olhando para Agatha, Andrew pode comprovar que aquilo era verdade. Toda a área ao redor deles estava cheia de gotas d'água, que se movimentavam cada vez mais rápido, conforme o humor da garota.

Agatha sentia seu coração acelerar e, por isso, as gotas rodavam mais rápido do que anteriormente, ao redor dos dois. A garota engoliu em seco. O que Andrew queria dizer com aquilo?

-E... O que você quer? - ela perguntou num fio de voz.

Com um meio sorriso o feiticeiro aproximou-se mais deitando uma de suas mãos no rosto delicado de Agatha, acariciando sua bochecha.
-Podemos tentar descobrir....
E então inclinando-se ao máximo que seu corpo o permitia o jovem bruxo roçou os lábios com a dama da agua enquanto suas mãos corriam gentilmente pelas costas da mesma, achando-se confortáveis em sua cintura.

Agatha se surpreendeu com aquilo, mas não se afastou quando Andrew aprofundou o beijo. Seu coração batia descompassado e suas mãos suavam de nervosismo. Colocou uma das mãos no pescoço do garoto e as gotas d'água explodiram feito fogos de artifício, fazendo cair um leve sereno sobre eles.

Conforme o beijo se seguia, Andrew tentava formular em sua mente sua vida fora daquele conclave que se tornara. Tinha planos maiores, ao mesmo tempo menos grandiosos para si, porem a visão de sua irmã perdida na floresta o fez hesitar. O beijo tornara-se lento, conforme suas mãos seguiam o rumo de volta ao rosto de Agatha.

-Tudo bem? - ela perguntou quando eles se separaram.

Ele a olhou fixamente em busca de seus olhos, como quem luta pelo oxigênio ao mergulhar profundamente em um oceano.

Segurou sua cabeça firmemente, achando-os.

- Eu amo você... - disse baixo, audível apenas para ela.

Ela abriu mais os olhos, surpresa por ouvir aquilo.
-Eu também te amo - respondeu no mesmo tom de voz.

-Uoooou! - ouviram um grito vindo da barraca de Henrique. Viraram na direção do barulho e viram o garoto saindo da barraca, carregado por uma pequena onda. - Você, mocinha - apontou para Agatha-, pode me explicar agora sobre isso!
Ela o olhou confusa.
-Eu? Mas eu não fiz nada! - respondeu.

-Ah, não? - ele cruzou os braços. - Vai me dizer então que Andrew aprendeu a manipular a água e resolveu me sacanear? - perguntou.
-Mas Hick, eu estou falando a verdade. Eu não fiz nada! - falou assustada.

-Você… Fez essa chuvinha... Talvez… Seu subconsciente seja sensível…

-Eu fiz o que? - ela olhou para Andrew, e então todas as gotas que ainda estavam ali, e a leve garoa, desapareceram.

-Isso - ele riu apontando para uma ultima gotícula antes dela desaparecer no ar.

-Eu fiz isso? - ela perguntou e ele assentiu. - Faz quanto tempo que estou fazendo isso sem perceber?

O barulho do lado de fora aumentara pela discussão, o que acordou Anna, que saiu de sua barraca junto aos primeiros raios de sol.

-O que houve? E… por que está tudo tão... Úmido?

-Aparentemente Agatha está fazendo magia sem perceber... Ou sem querer - Henrique disse.

Anna parecia confusa, mas preferiu não questionar. Começou a desmontar sua barraca e a colocar suas coisas em seus devidos lugares.

-Será que isso não tem a ver com o que Merlin dizia? Que quando um bruxo bom encontra magia negra, seus poderes ficam descontrolados? - Henrique perguntou, recebendo novamente olhares surpresos de seus amigos. - Ah, qual é! Parem de me olhar desse jeito sempre que falo algo inteligente!

-Você não diz algo inteligente, você regurgita... - Anna disse enquanto terminava de arrumar suas coisas.

Andy se sentou próximo ao fogo extinto da lareira, observando seus amigos.

-E agora?

-Parece que alguém terá trabalho hoje - Henrique disse e olhou para Agatha, que estava sentada num canto mais afastado, testando seus poderes. - Tem alguma ideia do que pode ter deixado os poderes dela tão bagunçados a ponto de garoar e aparecer uma onda na minha barraca?

O moço olhou de relance para o amigo negando.

-Só fiz o que você disse para que eu fizesse...

Henrique olhou-o surpreso.
-E isso quer dizer que...?

Andrew deu uma risadinha, sentia-se no papel de um pai ao explicar para filha sobre o que eram beijos. Fez uma espécie de coxinha com ambas as mãos aproximando-as na insinuação de um beijo.

Henrique abriu a boca, prestes a gritar. Andrew tampou a boca do amigo com a mão, impedindo que isso acontecesse.
-Eu não acredito! - Henrique falou baixinho. - Não acredito que vocês realmente se beijaram!

Ele assentiu.
-Sim, até você ser expulso da sua barraca.

-Mas agora isso faz sentido! Agatha está com os poderes descontrolados por causa da magia negra, então seu subconsciente foi demonstrando seus sentimentos em magia. Como elemento dela é a água, teve as gotas, a garoa e a chuva!

Andrew deu um riso baixo enquanto se levantava, indo em direção a sua barraca pouco usada naquela noite.
-O que eu sei é que nessa historia… Você se deu mal... Haha

-Olhe pelo lado bom: pelo menos não fui queimado!

Andrew parou e se virou para seu amigo.
-Isso meu caro, não é problema meu!

E então voltou-se a tarefa de juntar toda a bagunça do acampamento para que pudessem seguir viagem.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Esperamos que tenham gostado!
Até o próximo!



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