Comecei a mexer lentamente nos fios negros sem nem perceber. A face dele estava tão serena, ele estava tão diferente de como sempre é. As sobrancelhas levemente franzidas, os músculos relaxados, a boca era uma linha fina no rosto branco.

Eu cansava de dizer a ele para não cortar o cabelo, seria melhor se ele o mantivesse longo. Ficava muito melhor, enquadrava mais o rosto. Agora, bem, ele continua belo. O cabelo, digo, embora ele também fosse belo. Talvez sempre o fora, pelo menos para mim.

Continuei a mexer. Que sensação maravilhosa, que sentimento de realização ao ver as linhas negras passando pelas minhas mãos pequenas e sem graça. Queria tanto ter coragem de dizer isso a ele, que o admiro, mas isso nunca aconteceria. Então me concentro em mexer nesse cabelo que sempre tive vontade de tocar.

Vi os cílios tremeres um pouco, sinal de que ele deveria estar acordando. Eu queria que ele voltasse a dormir, assim poderia observá-lo mais.

- Hm... – Ele balbuciou em sua semiconsciência, me surpreendendo um pouco, e voltei minha mão para o lado do meu corpo, roçando sem querer em sua bochecha. – Isso é bom, Lorena.

Lorena.

Oh, entendo.

- Fico feliz que tenha gostado, - Falei, e senti o cérebro humano do meu lado vencer a sonolência e reconhecer pouco a pouco a voz. – embora, - Ele deveria estar quase desperto. – eu não seja a Lorena.

Acordado. Eu devia ter calado a boca, mas não aguentei. Eu te admiro a dois anos, chega uma hora em que isso cansa. Já cansou há tempos, e eu queria parar de pensar em você, todavia não consigo.

- Desculpe, - pronunciei quando seus olhos negros me fitaram. – não pude resistir. – Dei um riso nervoso e saí da sala, novamente pedindo desculpas.

Será que algum dia poderei conversar normalmente com você?