Debussy

“Obras de arte fazem regras, mas as regras não fazem obras de arte” – Claude Debussy.

– Os dias viram meses, os meses viram anos, e os anos se passam como o vento que percorre a varanda numa tarde ensolarada de domingo. Enfim, o coração de Gio finalmente soube que essa era a hora certa para soltar as palavras que estavam presas há muito em seu interior – leio, tomando o tempo e a empolgação correta para cada paragrafo –, mas preferiu permanecer no mais simplório silencio. E foi nesse momento, aos braços de Sarah, que ele se sentiu verdadeiramente completo.

As palmas preenchem o salão, e algumas pessoas até aplaudem de pé, me fazendo corar. Nunca achei que meu primeiro livro iria dar em alguma coisa, mas vendo isso, não posso negar em sentir orgulho por isso tudo. No meio das pessoas, vejo Vivaldi, que também aplaude com um sorriso enorme em seu rosto. Ele não estava viajando?

Fazem quatro primaveras desde que começamos a namorar. Quatros longos e bons anos. Claro que tivemos nossas indiferenças e brigas, mas... Como posso explicar isso de um jeito facilmente entendível?

Bom, me disseram uma vez que as únicas vezes em que o amor realmente dá certo são quando uma grande amizade vira um grande amor, ou um grande amor vira uma grande amizade, mas não concordo inteiramente com isso. Acho que no nosso caso, aprendemos a confiar um no outro, e isso fez a nossa amizade se reforçar, assim como aprendemos as fronteiras e pontes do nosso amor, o que também fez ele se fortificar.

Mesmo depois desse tempo, nossos laços continuam atados. Não atingimos a perfeição, assim como nenhum casal algum dia ira a alcançar, mas achamos nosso pequeno ponto de equilíbrio, com brigas e risos, lagrimas e beijos, e estou feliz com isso.

As pessoas começam a se levantar das cadeiras, e alguns me pedem autógrafos. Imagine, eu dando autógrafos? Tento não tremer enquanto assino meu livro, e Vivaldi se embrenha pelas pessoas, querendo chegar até mim.

– Pode me dar um autografo? – pede ele, levantando o livro e uma caneta. Solto uma risada e o abraço com força.

– Você conseguiu vir! – afirmo, e ele dá um sorriso discreto.

– Eu não ia faltar a sua primeira sessão, ia? – brinca ele – Cuida dos seus leitores, a gente se fala daqui a pouco.

– Tudo bem – sorrio, voltando a assinar os livros.

Quinze minutos depois, o encontro sentado num sofá da própria livraria. Ele parece cansado, mas acho que não mais do que o nível normal dele. Desde que ele me contou o sobre a depressão sazonal, eu comecei a reparar melhor, e agora fica um pouco mais fácil saber quando ele está realmente mal e quando ele simplesmente está normal.

– Então, o que você quer fazer? – pergunto.

– Pensei em irmos tomar chá naquela loja que você gosta – ele responde, se levantando e segurando a minha mão.

– Acho uma ótima ideia – sorrio, encostando a minha cabeça em seu ombro. Nossos passos são lentos no caminho até a loja, queremos aproveitar o resto da tarde de primavera.

Algumas coisas nunca mudam, já outras, agem como as estações, adquirindo novas formas com o passar do tempo. Mas em alguns raríssimos casos... As duas coisas convergem. A mudança se alia a estática, desafiando qualquer lei da física.

E foi quando a minha vida se tornou essa convergência que percebi que estava amando de verdade. Foi assim que me senti completo.